“… a família espírita…”
Buscando algum consolo pelo desencarne de meu filho José Roberto — o Beto — e, tendo em várias oportunidades ouvido falar da mediunidade de Francisco Cândido Xavier, na época, duvidosa, angustiada e ferida na minha dor, achei que poderia encontrar algum conforto em suas palavras, apesar de católica fervorosa.
Não tinha conhecimento algum da Doutrina Espírita, visto que não nos interessava praticar e professar outra religião.
Os comentários que ouvia sobre Espiritismo não eram muito felizes, o que nos afastava ainda mais dessa Doutrina. Hoje, felizmente, temos um conceito certo sobre o assunto.
Um dia, passou-me pelas mãos uma mensagem psicografada pelo Chico Xavier, do Augusto Cezar, filho da Sra. Yolanda Cezar, senhora que conheci através de apresentação de uma amiga.
Tive grande vontade de conhecer Francisco Cândido Xavier. Realizava-se nessa ocasião uma tarde de autógrafos com Chico no Palácio Mauá, em São Paulo.
Creio que intuída por Amigos Espirituais fui até lá. Fiquei emocionada vendo tanto amor e humildade naquela criatura.
Aguardei minha vez para cumprimentá-lo e dizer da minha dor. Saí bastante confortada.
Em 10 de maio de 1973, “Dia das Mães”, por um gentil convite da Sra. Yolanda Cezar, estávamos a caminho de Uberaba.
Nessa viagem, meu marido fez questão de me acompanhar.
Não conhecia nada. Para mim tudo era expectativa, ansiedade e o desejo enorme de uma palavra alentadora. Recebi-a através do Chico pelo Espírito do Dr. Bezerra de Menezes, informava que meu filho estava muito bem e que tão-logo pudesse mandaria alguma notícia. Reconfortou-me e deixou-me feliz.
Aproximadamente quinze meses após a partida de meu filho, na terceira viagem, recebi a primeira mensagem do Beto.
Quando Chico iniciou sua leitura, percebi tratar-se dele. Chorei desesperadamente.
Ele pronunciava o nome de Sandra, minha filha. Nunca havia tocado em seu nome com o Chico. Outras citações seguiram e, cada vez mais, faziam-me acreditar no que estava ouvindo.
Falou em meus avós, o vovô Yanez e o vovô Leite, desencarnados.
Fez referência à Gruta de Maquiné onde fora com meu filho, quando criança, e que hoje é atração turística.
Citou o padre João de Santo Antônio.
Estranhei.
Não o conhecia e, curiosa, ao voltar para São Paulo, fui saber quem era por meio de meus familiares. Tratava-se de um grande amigo da família. Batizou inclusive meu tio Elcenor Leite, ainda vivo, contando atualmente com 80 anos.
Outra lembrança foi a do seu aniversário em 06 de agosto. Após a leitura fiquei muito emocionada com os fatos tão reais, que por umas duas horas não consegui falar.
Aquela mensagem foi como se meu filho estivesse sempre presente, a conversar comigo.
Fui mudando, tentando encarar as coisas com muita serenidade.
Procurei ampliar meu relacionamento com as pessoas que me ajudaram e continuam me ajudando, dentro da Doutrina Espírita.
Passamos a frequentar o Lar do Amor Cristão. Reencontrei o equilíbrio que havia perdido, encorajando-me para as dificuldades a enfrentar.
Daí para a frente, graças a Deus, recebi cinco mensagens do Beto. Todas elas trouxeram sempre pontos que muito nos surpreenderam, pois cada uma com citações comprovadoras para nós, de pessoas e casos que até então desconhecíamos.
Aproveitando a oportunidade de trazer a público meu testemunho, gostaria que meu marido pudesse dizer algumas palavras.
Nery, por favor, continue.
Como Lucy explicou no início deste testemunho, professávamos outra religião com certo fervor. Antes da perda de meu filho, ouvira falar de Chico, mas não despertava-me qualquer interesse.
Quando cheguei em São Paulo vindo de Abaíra, minha terra natal, no interior da Bahia, ainda moço, trazia comigo um sentimento triste, havia presenciado muito sofrimento e miséria.
Crianças morriam por falta de recursos médicos e, quando Beto em tempo escolar, deixava transparecer certas tendências para a medicina, por várias vezes conversamos, dizia-lhe que gostaria muito quando fosse um médico, se possível construirmos uma casa de saúde para os doentes sem recursos. Acalentava este desejo. Quando da mensagem de José Roberto, deixou-me muito surpreso e mostrou-me sua autenticidade, me fez recuar no tempo em que dialogávamos.
Qual não foi a minha surpresa, quando Beto, na mensagem assim se expressa: “…lembro-me que ele me pediu dar toda a atenção aos estudos, enquanto ele sonhava com um hospital em que a medicina me aguardasse para cumprir encargos de amor aos pés dos doentes.”
Continuando com outra expressão: “…O senhor queria que eu ficasse aí para realizar os seus ideais; no entanto, eu não estou morto, meu pai! Estou vivo! E trabalharei com suas mãos. Recordo as suas palavras, lembrando os dias de sua infância. Você queria seu filho num hospital para atender as crianças necessitadas e satisfazer as necessidades dos enfermos sem maiores recursos…”
Outro pormenor que acho importante: no final do trabalho, o Chico chamou minha esposa e perguntou-lhe quem eram os senhores Afonso Leite e José Leite, dizendo que o Beto estava ali mencionando seus nomes.
Peço à Lucy que continue descrevendo:
— Aquilo me surpreendeu.
De modo algum estava pensando em meus parentes. Estava tão emocionada que o Beto não saía do meu pensamento.
Disse ao Chico que um deles eu desconhecia, mas o outro, o Afonso Leite, fora o meu tio-avô. Regressando de Uberaba e consultando minha mãe, quis saber quem era José Leite. Informou-me tratar-se de um seu primo.
Posso, com a tranquilidade, a segurança e o equilíbrio que a Doutrina está nos trazendo, fotografar a imagem de Chico, alojando-a em nossos corações na mensagem de trabalho, humildade e na união de todos os seus seguidores e, num gesto muito simples, dizer: “A família espírita lhe deve muito Francisco Cândido Xavier.”
Lucy Yanez Silva