“… deixe-o conosco…”
Se é que posso considerar-me espírita, desde os quinze anos tive algum conhecimento do assunto, dadas as circunstâncias que envolveram-me.
Tinha uma amiga e namorada de meu irmão que, naquela época, também contava quinze anos e que por razões sentimentais foi levada ao suicídio.
Em nosso convívio tínhamos afinidades recíprocas muito grande e, naquela mentalidade de criança, fizemos um pacto: aquela que morresse primeiro, viria buscar a outra.
Traumatizada com o seu passamento e devido ao acordo, fiquei atemorizada esperando a morte a qualquer momento. Passado certo tempo, sonhei que ela viera buscar-me. Nessa ocasião namoriscava um rapaz que era espírita. Recebia vários convites de seus pais para que fosse ao Centro Espírita que frequentavam. Algumas vezes acedi ao convite. Isso passou-se três anos após o seu desencarne.
O sonho foi assim:
— “Via-me subindo uma rua, quando percebi que minha amiga descia em minha direção. Delicada, graciosa, muito jeitosa, exatamente como era quando encarnada. Usava a mesma roupa do dia de sua partida.
“Frente a frente, perguntou-me pelo meu irmão. Respondi-lhe que ele estava no consultório de outro irmão. Na realidade ele estava em companhia de sua atual esposa.
— “Você está mentindo. Ele está com outra.”
“Foram as suas palavras. Voltou-se uns dez passos e num gesto apontou-me e continuou:
— “Não vim à procura de seu irmão, vim buscá-la. Não se lembra do nosso pacto? Está na hora, vamos!”
“Eu tremia sem saber o que fazer, apavoradíssima. Nesse momento chegaram a mãe e a irmã do rapaz que eu namorava. A senhora percebeu o que se passava. Sua filha perguntou-lhe porque ela não via a moça e nós sim.
“A mãe carinhosamente, esclareceu-a:
— “Minha filha, isto se dá com pessoas que tem mediunidade da vidência, portanto, quem não têm, não vê. Dirigiu-se depois à minha amiga e explicou-lhe que ali não era seu lugar e sim no alpendre da sua casa. Ela aceitou e começou ir embora, mas, antes queria que eu lhe desse um abraço.”
“ Mais calma, aceitei.
“Quando dirigia-me para abraçá-la, pediu-me que não fizesse, dizendo-me:
— “Não Ediné, não me abrace, eu sou morta!”
“Nisso a senhora levou-me para casa e quando cheguei à porta, via-a acenando para mim.”
Esse sonho preocupou-me muito.
Algum tempo depois, frequentando os trabalhos da Doutrina Espírita, desenvolvi a mediunidade da vidência. Este relato foi apenas para mostrar aos caros leitores como me encontrei na Doutrina. Passado muito tempo, conheci Francisco Cândido Xavier, quando Lúcio Lincoln de Paiva, meu marido, fez-lhe um convite para participar de uma conferência em nossa Assembleia Goiana.
Na oportunidade, numa rápida passagem por nossa casa e para meu registro, exalou um perfume tão suave, acompanhado de éter, que perfumou todo o ambiente de meu lar.
Quando da morte de Lúcio, apesar de ser espírita, desesperei-me chegando mesmo a pensar seriamente em suicídio. Não entendia o porque daquela provação. Achava injusta a passagem de Lúcio.
O tempo passava e eu cada vez mais desesperada. Meu marido era demais apegado à vida. Fiquei imaginando como ele estaria do Outro Lado. Sentia vontade de procurar Chico Xavier, pois tinha certeza de que em sua presença receberia uma mensagem reconfortante.
Certo dia, recebo a visita de Chico em minha residência. Demorou-se mais que da primeira vez. Nessa oportunidade recebi uma mensagem do Dr. Bezerra de Menezes, explicando que o Lúcio ainda não estava em condições de trazer sua mensagem. Cursava a escola do Espaço e que tão-logo se restabelecesse, escreveria.
Apesar desse recado confortador, continuei na expectativa, pois grande era a minha ansiedade. Passei então a visitar o Chico em Uberaba.
Para minha felicidade, na primeira viagem enquanto aguardava o andamento dos trabalhos, vi quando Lúcio adentrou o ambiente. Estava amparado por um senhor que eu desconhecia e que posteriormente foi identificado pela mensagem como Dr. Bezerra de Menezes. Esta identidade, aliás, foi depois confirmada através de uma foto que me veio às mãos.
Já muito emocionada com aquela visão, não aguentei quando Chico recebeu sua mensagem. Chorei muito. O público ali presente ficou impressionado em presenciar a profundidade e o número de páginas psicografadas, totalizando 94 laudas.
Lúcio tinha o dom da oratória e gostava muito de escrever. Acredito que foi o motivo pelo qual o Chico sofreu todo esse tempo de hora e meia, para trazer a mensagem.
Quando ele começou a ler, cada frase, cada vocábulo identificavam fielmente o Lúcio. As palavras “célere” e “burilados” eram-lhe muito familiares. Usava-as com frequência. Outro ponto que emocionou-me ainda mais, foi quando Chico leu: “…o essencial, no entanto, querida é que vim para dizer que ouvi tudo o que o seu carinho me falou diante do retrato que a sua dedicação transformou em altar do nosso encontro quase permanente…” Eu conversava com seu retrato.
Outras impressões mais, como nomes de pessoas, foram tantas que é impossível o Chico ter conhecido todas. Os lugares em que Lúcio andou no curso do seu trabalho, foi tudo relatado. E o Chico não acompanhou-o. Os nomes de todos os nossos filhos, a madre Otávia, que eu e nem Lúcio conhecíamos e o final da mensagem veio exatamente como ele costumava me escrever, sem contar a assinatura que estava perfeitamente igual.
Depois disso, senti-me completamente reabilitada, conformada.
Tive a convicção de que Lúcio estava bem. Criei novas forças. Sei que estamos lutando juntos novamente. No dia da recepção da mensagem, recebi um passe do Chico. No momento da concentração, senti novamente aquele perfume suave, que reanimou-me mais ainda, física e espiritualmente.
Em vista de todos esses acontecimentos, já admirava o Chico pela sua humildade, pela paciência que sempre teve com todos os que o procuram e, essa admiração cresceu para mim, pelo muito que ele me proporcionou.
Para o Chico, devemos simplesmente rogar a Deus: “Deixe-o conosco.”
Após o recebimento da mensagem, meus familiares, apesar de não serem espíritas, nutrem pelo Chico grande respeito pois tiveram a oportunidade de presenciar coisas que não entendiam.
Para finalizar: “Muito obrigado Chico, pelos 50 anos de amor, trabalho e carinho.”
Edinê Almeida Silva de Paiva