“… o estímulo do trabalho constante…”
Uma pessoa amiga, no momento de minha dor com o desencarne de meu filho Sérgio, emprestou-me um livro espírita “Perda de Entes Queridos,” de Zilda Giunchetti Rosin, e o seu conteúdo trouxe-me um pouco de paz.
No conforto da leitura e das pessoas amigas que me traziam a consolação daqueles momentos de tristeza, comentava-se alguma coisa sobre Francisco Cândido Xavier. Constrangida como estava, sofrida, num desequilíbrio total, onde o calmante é o senhor dos nossos movimentos, fui embora em busca de Chico Xavier, confiante que receberia palavras que me confortariam. Esta viagem a Uberaba foi um presente de meu marido pela passagem de meu aniversário. Estava felicíssima.
Não sabia como fazer, não tinha nenhum conhecimento da Doutrina Espírita, de sua essência. Professava outra religião. Já no Centro e dentro das disciplinas em que se processam as tarefas no atendimento às pessoas, pacientemente aguardei na fila. Nessa viagem foi em nossa companhia a Sra. Brasilina Morello Damasceno, cujo filho desencarnara no mesmo acidente automobilístico. Estavam juntos.
Enquanto esperava, observava o trato que ele dispensava a todos que ali estavam. Percebia que realmente receberia aquilo que fui buscar, as palavras que me confortariam. Ao nos encontrarmos, dispunha de pouco tempo para relatar o que se passara comigo. O número de pessoas para serem atendidas era muito grande. Falei rapidamente. Pediu-me que colocasse o nome de Sérgio e a data do seu desencarne num papel. Depois de algum tempo, chegou um bilhete do Dr. Bezerra de Menezes. Dizia, assim que fosse possível, seria dada a notícia desejada. Fomos embora na sexta-feira mesmo. Um pouco mais consolada, mas desejosa de uma notícia.
Na terceira vez que estive em Uberaba, 18 meses após o desencarne de Sérgio é que recebi sua mensagem. Quando Chico começou a ler e mencionou a data de 10 de janeiro, sobressaltei-me, mas procurei controlar-me. Tinha a certeza de que era para mim.
Aliás, aconteceu um fato interessante. Na Quinta-feira, estando em Jaboticabal nos trabalhos de nosso Centro, recebi através de uma médium amiga, Filomena Verni, a palavra de Dráusio, filho da Sra. Zilda Giunchetti Rosin. Dizia que Sérgio estava bem e frequentava um grupo de jovens na Espiritualidade. Que eu ficasse despreocupada. Assim que fosse possível, daria notícias de meu filho. Agradeceu as preces que eu lhe dirigia e dizia que as recebia como se fossem preces de uma mãe para um filho.
Confortou-me muito, pois só eu sabia das preces. Quando se comunicava, chamava-me de mãezinha, confundindo-me. Pensava que fosse Sérgio, identifiquei-o depois, como Dráusio.
No dia seguinte cedo, recebi telefonema da Sra. Yolanda Cezar convidando-me para irmos a Uberaba. Voltaríamos no domingo. Aceitei muito feliz. Marcamos para que me apanhasse em Ribeirão Preto. Conheci essa senhora na segunda vez que estive em Uberaba. Todas as vezes que lá estive, viajava na sexta-feira e voltava no mesmo dia. Esta foi a primeira vez que fiquei para a reunião de sábado. Foi minha felicidade. Nesse dia Sérgio trouxe a mensagem.
Ainda impressionada com a quinta-feira e, para ter certeza se era mesmo Dráusio que havia estado lá, pedi em preces que mandasse algum recado e escrevesse algumas linhas. Qual não foi a minha surpresa quando percebi que a mensagem era para mim. Sérgio agradecia a gentileza de Dona Yolanda Cezar por ter me convidado e o Dráusio confirmava sua presença através da palavra de Chico. Estava ali ajudando Sérgio a comunicar-se.
Eu nada dissera ao Chico do que acontecera, pediu-me que contasse à dona Zilda sobre o ocorrido.
Realmente, essa mensagem impressionou-me bastante, pois pouca coisa dissera ao Chico sobre meu filho. Tudo ele veio a saber pelo próprio relato de Sérgio.
Depois que o conheci, passei a frequentar em Jaboticabal, o Centro Espírita Dr. João Fernandes. Foi aí que tomei conhecimento dos princípios básicos da Doutrina de Kardec. Posteriormente com minhas viagens a Uberaba, passei a conhecer melhor as dificuldades das pessoas que, como eu, buscavam o lenitivo para seus problemas. Isso ajudou-me a compreender melhor as minhas dificuldades e necessidades. Comecei a encontrar muito conforto. A mensagem solidificou minha crença. Transportou meu filho como se estivesse sempre ao meu lado.
Dentro do meu sentimento, considero que meu filho não morreu, está dando continuidade a trabalhos de maior importância no Plano espiritual que ele mesmo mostrou-me. Estaria estudando e trabalhando cada vez mais para seu aprimoramento e evolução.
Portanto, quando me perguntam quantos filhos tenho, respondo tranquilamente:
— “Dois, uma filha comigo na Terra e um filho na Escola Divina.”
Deus está conosco e nossos filhos também.
Passei a observar o Chico como pessoa humana que é, mas ressalvando que dentro do meu tempo de vida nunca vi uma criatura que nos desse tanto carinho, atenção, considerando a época que atravessamos, cheia de dificuldades, conflitos e desencontros.
Chico representa o estímulo do trabalho constante, incentivando-nos cada vez mais a colocar em prática os ensinamentos por ele recebidos através dos Irmãos Maiores que representam os emissários de Jesus, concitando-nos a cultivar a humildade, a paciência, a renúncia e o amor ao próximo. Nós espíritas e demais familiares, em grande número católicos, agradecemos muito o conforto que recebemos, guardando grande respeito pelo seu trabalho e simpatia por sua pessoa.
Alice Tereza Dias Decenço