“… ensinamentos que não adquirimos em cursos…”
Com a passagem de meu único filho homem, numa circunstância dolorosa, transtornada, fui assistida por uma médium do Lar do Amor Cristão, entidade que trabalha em prol da criança e dos necessitados, aqui mesmo em São Paulo.
Maria Acácia Maciel Cassanha veio dar-me assistência através de passes, reconfortou-me bastante e recomendou-me que buscasse Chico Xavier, pois lá encontraria sustentação maior para amenizar meu sofrimento. Deu-me muita orientação e explicações, mas eu estava muito confusa.
Era católica e não entendia nada de Espiritismo. Pedi-lhe que me desse uma carta de apresentação ao Chico e explicasse a minha dor. Guardei essa carta para viajar na primeira oportunidade.
Sofria cada vez mais e, numa sexta-feira cedo, desesperada, pedi ao meu marido que me levasse ao Chico Xavier. Que fôssemos naquele instante mesmo. E assim fizemos.
De Uberaba, só sabíamos que ficava em Minas Gerais; assim, acabamos viajando pela Fernão Dias e fomos ter em Belo Horizonte. Lá ficamos sabendo a localização certa. Mas nada importava. Queria chegar em Uberaba.
Chegamos no sábado pela manhã. Realizava-se uma reunião que Chico costumava fazer nesse horário. Não conhecia ninguém, inclusive o Chico. Perguntei a uma pessoa que preparava café, quem era Chico Xavier. Fui até ele com a carta que Acácia me havia dado. Mesmo sem ler, disse.
— “Minha filha, ainda é muito cedo para aquilo que você procura. Mas volte aqui às 7:00 horas da noite que conversaremos.”
Estava tão revoltada que não sai do carro até anoitecer. Não tinha fé, não conhecia o Espiritismo e, na minha grande dor, achava que todas as pessoas que ali estavam, tinham obrigação de conhecer meu sofrimento. As palavras trocadas com ele, não chegaram a me comover.
Na hora marcada entrei no Centro. Não tive a humildade que todos demonstravam, esperando pacientemente, em fila, para conversar com ele.
Sentei e aguardei. Percebia que Chico olhava muito para o meu lado, enquanto atendia humildemente as pessoas. Eu pensava:
“Será que ele está olhando para mim?”
Fiquei prestando atenção e notei que ele continuava olhando. Quis tirar uma prova e mudei de lugar, num ângulo mais difícil de se ver. Observei e percebi então, que me olhava realmente. Comecei a ficar preocupada.
Depois de algum tempo, chamou-me e disse:
— “Apesar de ser um pouco cedo, tenho uma notícia para você. Vou dar-lhe uma prova, pois tenho certeza de que está descrente. Seu filho, em sua casa era chamado pelos familiares todos de Augustinho; mas, você e suas filhas o chamam de Augusto. Não é verdade?”
Desatei a chorar compreendendo toda a verdade, pois aquela particularidade não podia ser do conhecimento do Chico. Desse momento em diante, comecei a me tranquilizar e com muita calma, entendi e dei crédito ao que estava acontecendo. Voltei para São Paulo.
A partir daí e, como todos sabem, nestes momentos nos chegam muitos amigos com palavras e toda espécie de conforto. Sabíamos o valor de todas essas pessoas.
Queria algo que me aproximasse de meu filho. Queria saber onde ele estava.
Para me confortar lia, lia muito. Passei a frequentar o Lar do Amor Cristão com mais assiduidade e a visitar o Chico uma vez por mês.
Creiam todos, para felicidade ou infelicidade minha, fui uma das mães que mais tempo levou para receber uma mensagem de seu filho. Esperei mais de quatro anos.
Recebia muitos recados que me tranquilizavam e me satisfaziam; mas intimamente, desejava mesmo uma mensagem.
Certa vez, Dr. Bezerra de Menezes trouxe-me um recado de dezoito páginas, quase uma mensagem.
Quando recebi a primeira carta de meu filho, estava iniciando na Doutrina Espírita.
Só então tive a lembrança de dizer, por tudo aquilo que havia recebido:
“Obrigado, meu Deus!”
Fiquei plenamente feliz. Identifiquei a assinatura autêntica de meu filho e os assuntos que só nós conhecíamos. Não havia nenhuma dúvida.
Com essa mensagem, minha família tranquilizou-se. O sentimento é uma coisa inevitável.
Apesar de, durante quatro anos de convivência com os trabalhos mediúnicos, ter presenciado muitas mães receberem suas mensagens e de estar preparada da forma que estava, quando Chico disse que a mensagem era minha, chorei mais de quatro horas sem parar. A emoção era tamanha que nem ouvi a leitura.
Nela estava contido tudo o que aconteceu após seu desencarne. Minhas conversas, minhas indagações, minhas rogativas… Quando ainda encarnado, costumávamos sentar no sofá, um defronte ao outro, mantínhamos um diálogo aberto e franco; trocávamos muitas ideias, pois tinha muita afinidade com meu filho, apesar de minhas três filhas serem maravilhosas.
Após sua partida, mantive aquele hábito. Sentava-me no mesmo lugar querendo vê-lo. Eu falava, chorava, forçava minha mente à sua procura. Não entendia como aquilo havia acontecido. Ficava relembrando o tempo todo. De tudo isso ele falou na mensagem.
Pelo relacionamento que temos em Vila Nova Conceição, pois nascemos todos naquele bairro, desde meu marido até meu filho, minha casa ficava cheia de amigos o tempo todo. Amigos formidáveis nos visitavam. Terminadas as reuniões, ia para o quarto do Augusto e chorava muito. Queria vê-lo, senti-lo. Quantas vezes fiz isto. Ninguém em minha família sabia. Tinham seus afazeres. Não queria incomodá-los.
Não podia crer. Augusto que nadava tão bem, vivia dentro dos clubes da cidade, disputava troféus de natação; saia suando dos campos de futebol. Nunca soube que tivesse sofrido uma dor de cabeça. Não podia calcular e pensar que este filho fosse morrer afogado a poucos metros da praia.
Quando telefonaram da Praia Grande para que a família se dirigisse a Santos, pois que Augusto sofrera um acidente, pensei ter sido de carro.
Ele esteve a noite toda acordado e saiu cansado do baile. Nunca podia imaginar que fosse afogamento.
Voltando com o seu corpo, víamos os carnavalescos cantando, pulando, chegando mesmo a debruçarem-se sobre o veículo. Aquilo me atingira tanto, que por um bom tempo não podia ouvir música de carnaval. Mais tarde pelo Chico, vim a saber que ele teve um problema cardíaco.
Acredito talvez, por causa do banho de sol, dormiu várias horas de bruço na praia.
Graças a Deus estou conformada, pois sei que meu filho está vivo e em contínuo trabalho na Espiritualidade. E eu encontrei-me no trabalho espírita.
Ele já enviou várias mensagens. Apesar de tardar a primeira, as outras vieram com mais constância. Creio mesmo, que muitas contém ensinamentos doutrinários. Quem sabe o tempo lhe tenha concedido a renovação espiritual necessária para que pudesse trazer essas mensagens. Algumas estão publicadas em livros.
Se eu contasse o que tenho presenciado em Uberaba, nos trabalhos de Chico estes anos todos que lá frequento, o meu testemunho levaria muitas páginas. Coloquei Uberaba como roteiro de minha vida.
Algumas pessoas que eventualmente nos acompanham, recebem suas mensagens na primeira vez que lá comparecem, sem a oportunidade de trocar uma palavra com o Chico.
Isso nos dá o testemunho real, tornando a sua autenticidade indiscutível.
Outras chegam pedindo informações de como proceder. E no final da noite chegam-lhes as mensagens; mas quando procuradas, às vezes se foram, por problemas de horário ou outros motivos que desconhecemos. Fica gravado o carinho, o desprendimento de que o mais necessitado e merecedor é atendido.
E o ensinamento que recebemos toda vez que Chico fala. Das últimas vezes, ele em conversa conosco disse estar muito contente.
Chegou ao ano 50 de sua mediunidade e adoeceu o órgão que mais usou na vida — o coração.
Sofreu junto das mães que perderam seus filhos, de esposas que perderam seus esposos, de esposos que perderam suas esposas, de filhos que perderam seus pais. Assim, podemos dizer que o Chico sofreu conosco todos esses anos.
Não tive oportunidade de acompanhá-lo por todo esse tempo. Mas nos nove anos que frequento seu trabalho, suas reuniões, tive provas maravilhosas, ensinamentos que não adquirimos em cursos e que não constam em livros, transmitidos através do exemplo.
São palavras do meu coração. Este é o meu testemunho que constará do livro comemorativo que, sem dúvida, marcará para a posteridade a passagem do cinquentenário de sua mediunidade a serviço do trabalho edificante e do amor ao semelhante.
Não queremos elogiá-lo, pois sabemos que o elogio vai contra os seus princípios. Mas precisamos dizer à humanidade, o que Chico representa: o exemplo, a moral, a humildade, o amor e tudo de bom e belo que se possa pensar.
Quando se quer encontrar a melhora no caminho para Jesus, busquemos dentro do seu trabalho e das maravilhas que fluem das mensagens e dos livros trazidos pelos nossos Irmãos Maiores, que nos abrem a consciência convidando-nos a buscar Jesus.
Isso é trabalho, é amor, é carinho. É Francisco Cândido Xavier.
Yolanda Cezar