“… Por onde eu passar quero agradecer…”
Em meados de setembro de 1973, Chico, em noite de autógrafos no Centro Espírita Perseverança, chegou no momento que mais necessitávamos de conforto.
Pessoa muito amiga e, conhecedora do nosso problema, sugeriu a Áxima, minha filha, que procurássemos Chico Xavier. Ouvia muita coisa boa e bonita a seu respeito. Ela, temerosa, não sabia como nos falar, pois católicos que éramos e sem conhecermos nada de Espiritismo, achou que não aceitaríamos a sugestão. Ao contrário, Jandira, minha esposa, numa ansiedade atroz, queria a todo custo encontrar algo que nos tirasse daquele sofrimento. Havíamos até combinado em por termo à nossa existência. Dentro do meu descontrole, cheguei a dormir dentro do jazigo com meu filho.
À noite desculpava-me com os meus familiares e dizia ir à minha indústria e desviava-me ao cemitério. Ludibriava o vigia e sorrateiramente introduzia-me em sua sepultura, deitando-me na lápide superior. Ficava horas junto dele. Achava que Wadizinho tinha medo de dormir sozinho. Várias vezes fui surpreendido, traído pela fumaça dos cigarros que fumava durante o tempo em que ali ficava. Certa feita até a Rádio Patrulha foi solicitada, quando tive de justificar minha atitude.
No meu sofrimento não admitia e não aceitava nada. Além de que não tinha interesse em dialogar com ninguém. Devido à insistência dos meus familiares, cedi ao convite e fui ao referido centro.
Com a experiência adquirida na minha juventude e no transcorrer de minha vida, em vista de minha mãe ter estado doente por mais de 13 anos, vi-me obrigado a percorrer e procurar tudo que fosse possível para restabelecê-la. Fui a lugares inimagináveis. Coisas absurdas me apareceram.
Frequentei ano e meio o Círculo Esotérico, na comunhão de pensamentos. Fui congregado mariano, por demais devotado, e acima de tudo tenho um espírito muito observador. Quando na presença de Chico, vi naquela criatura a inocência de um ser puro. Tanto é que a impressão de Jandira, era de estar na presença de uma joia muito singela e rara para os nossos dias. Cumprimentou-nos, autografou seu livro e ofereceu um botão de rosa para minha esposa.
Não tivemos tempo para conversar. Compreendi que todos tinham os mesmos desejos de estar em sua presença. Passado algum tempo, nossa vizinha Sra. Esmeralda Cerboncini, em comentários com minha filha, mostrou-lhe a mensagem de seu filho Charles, psicografada por Chico Xavier e publicada
no livro Entre Duas Vidas, edição CEC.
Orientou-nos. Caso fôssemos procurá-lo, não nos preocupássemos em querer notícias no mesmo dia, pois recebeu sua mensagem após inúmeras viagens.
Áxima trouxe-nos a mensagem e despertou-me o desejo de ir a Uberaba em busca de Francisco Cândido Xavier. Fomos em 23.11.1973, leigos totalmente do que se passava, ignorávamos como proceder.
Estranhamos sua maneira de psicografar, nunca havíamos visto. Nesse dia quando fomos ao encerramento dos trabalhos, Chico chamou pelo nome: Áxima, Áxima…
Jandira adiantou-se a todos, respondeu:
— “Sr. Francisco, Áxima é minha filha. Viemos aqui porque perdi meu filho.”
Carinhosamente Chico retrucou:
— Não, a senhora não perdeu o filho. Seu filho é um apóstolo de Jesus.
Mesmo assim, fiquei no firme propósito que nenhum de nós falasse ou comentasse algum ponto sobre o desencarne de Wadizinho, com qualquer pessoa. Muito menos com Chico. Meus familiares, fiz questão de que ficassem junto a mim, para que pudesse fiscalizá-los. No hotel, coloquei o telefone perto da minha cama, sem que percebessem meu intento, pois achava que poderiam telefonar para alguém. Tomei todas as providências para que não houvesse o mínimo contato.
No dia seguinte lá estávamos novamente. Sentamos e aguardamos. Comentava-se o Evangelho. Chico psicografou. Quando terminou e leu a mensagem ficamos muito surpresos. Wadizinho trazia sua mensagem. Seu conteúdo era todo esperança, dissipava a saudade, mostrava-nos a realidade.
Pedia que transmitíssemos seus agradecimentos aos colegas do Colégio e do grupo da Comunidade Unida a Cristo, na qual era coordenador.
Incentivava-nos a construirmos um Natal Feliz, junto às criancinhas, pois sabíamos de sua programação no Orfanato Irmã Albertina.
Na qualidade de pai que sabe o que representa o amor a um filho, o incentivo para a vida me foi devolvido. Chico na sua mediunidade mostrou-me, apesar de toda a experiência e vivência que pensamos ter, que meu filho está entre nós mais do que nunca.
Nas suas mensagens, tenho-o constantemente em meus pensamentos. Busco na leitura satisfazer minha saudade. Converso e tranquilizo-me entendendo. Recebi várias mensagens de meu filho. Surpresas incontidas, alegrias sem conta. Às vezes penso, como é bom meu Deus, uma criatura como Chico; ele precisa ficar em nosso meio. Nós precisamos dele, ele representa a escora, a base sólida que suporta todos os corações em sofrimento. Descarregamos em suas benditas mãos, as necessidades, e de volta recebemos a alegria e a realidade dos ensinamentos e verdades de Deus, a Divina Sabedoria. Chico é e será sempre para aqueles que o compreendem e compreenderam, a luz que caminha a guiar nossos passos e corações, alimentando-os na certeza de que o amanhã virá na paz e alegria de Jesus.
Por onde eu passar quero agradecer sempre ao mestre Jesus e o seu enviado ao Plano terrestre, o nosso irmão Francisco Cândido Xavier.
Wady Abrahão