1 Dos casos que tenho visto,
O de Antonico Vicente
É uma história como tantas
Para educar muita gente.
2 Dono de imensa fortuna,
Era um sovina acabado,
Quem lhe pedisse um favor
Saía desanimado.
3 A mendigo que rogasse
A esmola de algum vintém,
Sarcástico, respondia:
— “Espera o ano que vem.”
4 Um dia, chegou, no entanto,
Em que Antonico mudado,
Apareceu, de repente,
Plenamente obsedado.
5 Cantava, chorava e ria,
Falava em estranhas crises,
Transformara-se num pouso
De Espíritos infelizes.
6 Conduzido a um centro amigo,
A fim de obter socorro,
Ele chegou a clamar:
— “Não aguento!… Sei que morro!”
7 Depois de preces e passes,
Veio o Guia acalentá-lo…
Antonico, de improviso,
Melhorou quase de estalo.
8 Por quatro meses de bênção,
Voltou a ser folgazão,
Largou as más influências,
Curou-se da obsessão.
9 Era, porém, sempre o mesmo…
Nada de agir para o bem
Fosse qual fosse o pedido,
Não amparava a ninguém.
10 Findos dez meses de paz,
Disse-lhe o guia: “Antonico,
Não deixe de trabalhar,
Recorda que és forte e rico.”
11 — “Que fazer?” — perguntou ele…
Disse o Guia — alma sincera —
“Socorre aos necessitados
A caridade te espera.
12 Abandona a sovinice!…
Meu amigo, escuta e pensa.
Auxilia as boas obras
Sem aguardar recompensa.
13 O tempo segue e não para!…
Atende, meu companheiro,
Distribui na caridade
Um tanto de teu dinheiro!…”
14 Mas, ouvindo esses conselhos,
Antonico, sem razão,
Xingou a beneficência
E entrou em perturbação.
15 Por muitos anos, bradou:
— “A ninguém darei meu cobre…”
Antonico alimentava
O medo de ficar pobre.
16 E gritou até morrer
No Sítio de João do Zorro,
Comendo barro e clamando:
— “Não aguento! Sei que eu morro!…”
Jair Presente
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