1.
A organização hindu.
1 Dos Espíritos degredados no ambiente da Terra, os que se gruparam em volta do Ganges foram os primeiros a formar os pródromos de uma sociedade organizada, cujos núcleos representariam a grande percentagem de ascendentes das coletividades do porvir.
2 As organizações hindus são de origem anterior à própria civilização egípcia e antecederam de muito os agrupamentos israelitas, de onde sairiam mais tarde personalidades notáveis, como as de Abraão e Moisés.
3 As almas exiladas naquela parte do Oriente muito haviam recebido da misericórdia do Cristo, de cuja palavra de amor e de cuja figura luminosa guardaram as mais comovedoras recordações, traduzidas na beleza dos Vedas † e dos Upanishads. † 4 Foram elas as primeiras vozes da filosofia e da religião no mundo terrestre, como provindo de uma raça de profetas, de mestres e iniciados, em cujas tradições iam beber a verdade os homens e os povos do porvir, salientando-se que também as suas escolas de pensamento guardavam os mistérios iniciáticos, com as mais sagradas tradições de respeito.
1 Era na Índia de então que se reuniam os arianos puros, entre os quais cultivavam-se igualmente as lendas de um mundo perdido, no qual o povo hindu colocava as fontes de sua nobre origem. 2 Alguns acreditavam que se tratasse do antigo continente da Lemúria, † arrasado em parte pelas águas dos Oceanos Pacífico e Índico, e de cujas terras ainda existem porções remanescentes, como a Austrália.
3 A realidade, porém, qual já vimos, é que, como os egípcios, os hindus eram um dos ramos da massa de proscritos da Capela, † exilados no planeta. 4 Delas descendem todos os povos arianos, que floresceram na Europa e hoje atingem um dos mais agudos períodos de transição na sua marcha evolutiva. 5 O pensamento moderno é o descendente legítimo daquela grande raça de pensadores, que se organizou nas margens do Ganges, desde a aurora dos tempos terrestres, tanto que todas as línguas das raças brancas guardam as mais estreitas afinidades com o sânscrito, originário de sua formação e que constituía uma reminiscência da sua existência pregressa, em outros Planos.
1 Muitos séculos antes de qualquer prenúncio de civilização terrestre, os árias espalharam-se pelas planícies hindus, dominando os autóctones, descendentes dos “primatas”, que possuíam uma pele escura e deles se distanciavam pelos mais destacados caracteres físicos e psíquicos. 2 Mais tarde, essa onda expansionista procurou localizar-se ao longo das terras da futura Europa, estabelecendo os primeiros fundamentos da civilização ocidental nos bosques da Grécia, nas costas da Itália e da França, bem como do outro lado do Reno, onde iam ensaiar seus primeiros passos, as forças da sabedoria germânica.
3 As balizas da sociedade dos gregos, dos latinos, dos celtas e dos germanos estavam lançadas.
4 Cada corrente da raça ariana assimilou os elementos encontrados, edificando-se os primórdios da civilização europeia; cada qual baseou-se no princípio da força para o necessário estabelecimento, e, muito cedo, começaram no Velho Mundo os choques de suas famílias e tribos.
1 Da região sagrada do Ganges partiram todos os elementos irresignados com a situação humilhante que o degredo da Terra lhes infligia. 2 As arriscadas aventuras forneceriam uma noção de vida nova e aqueles seres revoltados supunham encontrar o esquecimento de sua posição nas paisagens renovadas dos caminhos; 3 lá ficaram, apenas, as almas resignadas e crentes nos poderes espirituais que as conduziriam de novo às magnificências dos seus paraísos perdidos e distantes.
4 Os cânticos dos Vedas são bem uma glorificação da fé e da esperança, em face da Majestade Suprema do Senhor do Universo. 5 A faculdade de tolerar, e esperar, aflorou no sentimento coletivo das multidões, que suportaram heroicamente todas as dores e aguardaram o momento sublime da redenção. 6 Os “mahatmas” criaram um ambiente de tamanha grandeza espiritual para o seu povo, que, ainda hoje, nenhum estrangeiro visita a terra sagrada da Índia sem de lá trazer as mais profundas impressões acerca de sua atmosfera psíquica. 7 Eles deixaram também, ao mundo, as suas mensagens de amor, de esperança e de estoicismo resignado, salientando-se que quase todos os grandes vultos do passado humano, progenitores do pensamento contemporâneo, deles aprenderam as lições mais sublimes.
1 O povo hindu, todavia, não obstante o seu elevado grau de desenvolvimento nas ciências do Espírito, não aproveitou de modo geral, como devia, o seu acervo de experiências sagradas.
2 Seus condutores conheciam as elevadas finalidades da vida. Lembravam-se vagamente das promessas do Senhor, anteriores à sua reencarnação para os trabalhos do penoso degredo. 3 A prova disso é que eles abraçaram todos os grandes missionários do pretérito, vendo neles os avatares † do seu Redentor. 4 Vyasa † foi instrumento das lições do Cristo, seis mil anos antes do Evangelho, cuja epopeia, em seus mínimos detalhes, foi prevista pelos iniciados hindus, alguns milênios antes da organização da Palestina. 5 Crisna, † Buda † e outros grandes enviados de Jesus ao Plano Material, para exposição de suas verdades salvadoras, foram compreendidos pelo grande povo sobre cuja fronte derramou o Senhor, em todos os tempos, as claridades divinas do seu amor desvelado e compassivo. 6 Mas, como se a questão fosse determinada por um doloroso atavismo psíquico, o povo hindu, embora as suas tradições de espiritualidade, deixou crescer no coração o espinho do orgulho que, aliás, dera motivo ao seu exílio na Terra.
7 Em breve, a organização das castas separava as suas coletividades para sempre. 8 Essas castas não se constituíam num sentido apenas hierárquico, mas com a significação de uma superioridade orgulhosa e absoluta. 9 As fortes raízes de uma vaidade poderosa dividem os espíritos no campo social e religioso. 10 Os filhos legítimos do país dão-se o nome de árias, † designação original de sua raça primitiva, e o seu sistema religioso, de modo geral, chama-se “Ária-Darma”, que eles afirmam trazer de sua longínqua origem, e em cujo seio não existem comunidades especiais ou autoridade centralizadora, senão uma profunda e maravilhosa liberdade de sentimento.
1 Na verdade, esses sistemas avançados de religião e filosofia evocam o fastígio da raça no seu mundo de origem, de onde foi precipitada ao orbe terreno pelo seu orgulho desmedido e infeliz.
2 Os arianos da Índia, porém, não se compadeceram das raças atrasadas que encontraram em seu caminho é cuja evolução devia representar para eles um imperativo de trabalho regenerador na face da Terra; os aborígenes foram considerados como os párias da sociedade, de cujos membros não podiam aproximar-se sem graves punições e severos castigos.
3 Ainda hoje, o espírito iluminado de Gandhi, que é obrigado a agir na esfera da mais atenciosa psicologia dos seus irmãos de raça, não conseguiu eliminar esses absurdos sociais do seio do grande povo de iniciados e profetas. 4 Os párias são a ralé de todos os seres e são obrigados a dar um sinal de alarme quando passam por qualquer caminho, afim de que se afastem os venturosos, do seu contágio infeliz.
5 A realidade, contudo, é que os rajás soberanos, ao influxo da misericórdia do Cristo, voltam às mesmas estradas que transitaram sobre o dorso dos elefantes ajaezados de pedrarias, como mendigos desventurados, resgatando o pretérito em avatares de amargas provações expiatórias. 6 Os que humilharam os infortunados, do alto de seus palácios resplandecentes, volvem aos mesmos caminhos, cheios de chaga cancerosa, exibindo a sua miséria e a sua indigência.
7 E o que é de admirar-se é que nenhum povo da Terra tem mais conhecimentos, acerca da reencarnação, do que o hindu, ciente dessa verdade sagrada desde os primórdios da sua organização neste mundo.
1 Nos bastidores da civilização, somos compelidos a reconhecer que a Índia foi a matriz de todas as filosofias e religiões da Humanidade, inclusive do materialismo, que lá nasceu na escola dos charvacas. †
2 Um pensamento de gratidão nos toma o íntimo, examinando a sua grandeza espiritual e as suas belezas misteriosas, mas, acima dos seus iogues e de seus “mahatmas”, temos de colocar a figura luminosa d’Aquele que é a luz do mundo, e cuja vinda à Terra se verificaria para trazer a palma da concórdia e da fraternidade, para todos os corações e para todos os povos, arrasando as fronteiras que separam os espíritos e eliminando os laços ferrenhos das castas sociais, para que o amor das almas substituísse o preconceito de raça no seu reinado sem-fim.
Emmanuel