OS MORTOS SAIRÃO DOS TÚMULOS.
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Povos, escutai!… Uma voz se faz ouvir de um extremo a outro dos mundos: é a do precursor anunciando a vinda do Espírito de Verdade, que vem endireitar os caminhos tortuosos por onde o espírito humano se desgarrava em falsos sofismas. É a trombeta do anjo vindo despertar os mortos para que saiam de seus túmulos.
Muitas vezes tendes lido a revelação de João e vos perguntastes: Mas, que quer ele dizer? Como se cumprirão essas coisas surpreendentes? E, confusa, vossa razão mergulhava num tenebroso labirinto, de onde não podia sair, porque queríeis tomar ao pé da letra o que estava escrito em sentido figurado.
Agora que chegou o tempo em que uma parte dessas predições vai cumprir-se, pouco a pouco aprendereis a ler nesse livro onde o discípulo bem-amado consignou as coisas que lhe tinha sido dado ver. Entretanto, as más traduções e as falsas interpretações ainda vos aborrecerão um pouco, mas com um trabalho perseverante chegareis a compreender o que, até o presente, tinha sido para vós uma carta fechada.
Apenas compreendei que, se Deus permite que os selos sejam levantados mais cedo para alguns, não é para que esse conhecimento fique estéril em suas mãos, mas para que, pioneiros infatigáveis, desbravem as terras incultas; é para que fecundem com o doce orvalho da caridade os corações ressequidos pelo orgulho e impedidos pelos embaraços mundanos, onde a boa semente da palavra de vida não pôde ainda germinar.
Ah! quantos encaram a vida humana como devendo ser uma festa perpétua, em que as distrações e os prazeres se sucedem sem interrupção! Inventam mil nadas para encantar os seus lazeres; cultivam seu espírito, porque é uma das facetas brilhantes que servem para fazer ressaltar sua personalidade; são semelhantes a essas bolhas efêmeras, refletindo as cores do prisma e se balançando no espaço: atraem os olhares por algum tempo, depois as procurais… e elas desapareceram sem deixar traços. Do mesmo modo, essas almas mundanas brilharam com uma luz que não lhes era própria, durante sua curta passagem terrena, e dela nada restou de útil, nem para os seus semelhantes, nem para elas mesmas.
Vós que conheceis o valor do tempo, vós a quem as leis da eterna sabedoria são reveladas pouco a pouco, sede nas mãos do Todo-Poderoso, instrumentos dóceis servindo para levar a luz e a fecundidade a essas almas, das quais é dito: “Têm olhos e não veem, ouvidos e não escutam”, ( † ) porque se tendo desviado do facho da verdade e escutado a voz das paixões, sua luz não passa de trevas, em meio das quais o Espírito não pode reconhecer a estrada que o faz gravitar para Deus.
O espiritismo é essa voz poderosa que já repercute até os confins da Terra; todos a ouvirão. Felizes os que, não tapando voluntariamente os ouvidos, sairão de seu egoísmo, como o fariam os mortos de seus sepulcros, e daí por diante realizarão os atos da vida verdadeira, a do Espírito se desembaraçando dos entraves da matéria, como fez Lázaro de seu sudário, à voz do Salvador.
O Espiritismo marca a hora solene do despertar das inteligências que usaram o seu livre-arbítrio para se demorarem nos atalhos lamacentos, cujos miasmas deletérios infectaram a alma com um veneno lento, que lhe dá as aparências da morte. O Pai celeste tem piedade desses filhos pródigos, caídos tão baixo que nem mesmo pensam na morada paterna e para eles que permite essas manifestações brilhantes, destinadas a convencer que, além deste mundo de formas perecíveis, a alma conserva a lembrança, o poder e a imortalidade.
Possam eles, esses pobres escravos da matéria, sacudir o torpor que os impediu de ver e compreender até hoje; possam estudar com sinceridade, a fim de que a luz divina, penetrando sua alma, dela expulse a dúvida e a incredulidade.
João Evangelista. n
Paris, †
1866.
[1]
[v.
São João Evangelista.]