O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano X — Abril de 1867.

(Idioma francês)

Galileu.

A propósito do Drama do Sr. Ponsard.

(Sumário)


1. — O acontecimento literário do dia é a representação de Galileu - Google Books, drama em versos do Sr. Ponsard. Embora nele não se cogite de Espiritismo, a ele se liga por um lado essencial: o da pluralidade dos mundos habitados e, sob tal ponto de vista, podemos considerá-lo como uma das obras chamadas a favorecer o desenvolvimento da Doutrina, popularizando um de seus princípios fundamentais.

O destino da Humanidade está ligado à organização do Universo, como o do habitante o está à sua habitação. Na ignorância desta organização, o homem deve ter feito sobre o seu passado e o seu futuro ideias em conformidade com o estado de seus conhecimentos. Se tivesse sempre conhecido a estrutura da Terra, jamais teria pensado em situar o inferno em suas entranhas; se tivesse conhecido o infinito do espaço e a multidão de astros que aí se movem, não teria localizado o céu acima do céu das estrelas; não teria feito da Terra o ponto central do Universo, a única habitação dos seres vivos; não teria condenado a crença nos antípodas como uma heresia; se tivesse conhecido a Geologia, jamais teria acreditado na formação da Terra em seis dias e em sua existência desde seis mil anos.

A ideia mesquinha que o homem fazia da Criação devia dar-lhe uma ideia mesquinha da Divindade. Não pôde compreender a grandeza, o poder e a sabedoria infinitos do Criador senão quando seu pensamento pôde abarcar a imensidade do Universo e a sabedoria das leis que o regem, como se julga o gênio de um mecânico pelo conjunto, a harmonia e a precisão de um mecanismo, e não à vista de uma simples engrenagem. Só então suas ideias puderam crescer e elevar-se acima de seu horizonte limitado. Em todos os tempos suas crenças religiosas foram calcadas na ideia que fazia de Deus e de sua obra. O erro de suas crenças sobre a origem e o destino da Humanidade tinha por causa sua ignorância das verdadeiras leis da Natureza; se, desde a origem, tivesse conhecido essas leis, outros teriam sido seus dogmas.

Galileu, um dos primeiros a revelar as leis do mecanismo do Universo, não por hipóteses, mas por uma demonstração irrecusável, abriu caminho a novos progressos. Por isto mesmo devia produzir uma revolução nas crenças, destruindo os fundamentos científicos errôneos sobre os quais elas se apoiavam.

A cada um a sua missão. Nem Moisés, nem o Cristo tinham a de ensinar aos homens as leis da Ciência; o conhecimento dessas leis devia ser o resultado do trabalho e das pesquisas do homem, da atividade e do desenvolvimento de seu próprio espírito, e não de uma revelação a priori, que lhe tivesse dado o saber sem esforço. Eles não deviam nem podiam lhes ter falado senão numa linguagem apropriada ao seu estado intelectual, sem o que não teriam sido compreendidos. Moisés e o Cristo tiveram sua missão moralizadora; a gênios de uma outra ordem são deferidas missões científicas. Ora, como as leis morais e as leis da Ciência são leis divinas, a religião e a filosofia só podem ser verdadeiras pela aliança destas leis.


2. — O Espiritismo baseia-se na existência do princípio espiritual, como elemento constitutivo do Universo; repousa sobre a universalidade e a perpetuidade dos seres inteligentes, sobre seu progresso indefinido, através dos mundos e das gerações; sobre a pluralidade das existências corporais, necessárias ao seu progresso individual; sobre sua cooperação relativa, como encarnados ou desencarnados, na obra geral, na medida do progresso realizado; sobre a solidariedade que une todos os seres de um mesmo mundo e dos mundos entre si. Nesse vasto conjunto, encarnados e desencarnados, cada um tem sua missão, seu papel, deveres a cumprir, desde o mais ínfimo até os anjos, que nada mais são que Espíritos humanos chegados ao estado de Espíritos puros, e aos quais são confiadas as grandes missões, o governo dos mundos, como a generais experimentados. Em vez das solidões desertas do espaço sem limites, por toda parte a vida e a atividade, em parte alguma a ociosidade inútil; por toda parte o emprego dos conhecimentos adquiridos; em toda parte o desejo de progredir ainda e de aumentar a soma de felicidades, pelo emprego útil das faculdades da inteligência. Em vez de uma existência efêmera e única, passada num cantinho da Terra, que decide para sempre de sua sorte futura, impõe limite ao seu progresso e torna estéril, para o futuro, o trabalho a que se entrega para instruir-se, o homem tem por domínio o Universo; nada do que sabe ou do que faz fica perdido: o futuro lhe pertence; em vez do isolamento egoísta, a solidariedade universal; em lugar do nada, segundo alguns, a vida eterna; em lugar da beatitude contemplativa perpétua, segundo outros, que a tornaria de uma inutilidade perpétua, um papel ativo, proporcionado ao mérito adquirido; em vez de castigos irremissíveis por faltas temporárias, a posição que cada um conquista por sua perseverança no bem ou no mal; em vez de uma mancha original, que o torna passível de faltas que não cometeu, a consequência natural de suas próprias imperfeições nativas; em vez das chamas do inferno, a obrigação de reparar o mal que se fez e recomeçar o que se fez mal; em vez de um Deus colérico e vingativo, um Deus justo e bom, que leva em conta todo arrependimento e toda boa vontade.

Tal é, em resumo, o quadro que apresenta o Espiritismo, e que ressalta da situação mesma dos Espíritos que se manifestam; não é mais uma simples teoria, mas resultado da observação. O homem que encara as coisas deste ponto de vista, sente-se crescer; ergue-se aos seus próprios olhos; é estimulado em seus instintos progressivos ao ver um objetivo para os seus trabalhos, para os seus esforços em se melhorar.

Mas, para compreender o Espiritismo em sua essência, na imensidade das coisas que ele abarca, para compreender o objetivo e o destino do homem, não era preciso relegar a Humanidade a um pequeno globo, limitar a existência a alguns anos, rebaixar o Criador e a criatura. Para que o homem pudesse fazer uma ideia justa de seu papel no Universo, era preciso que compreendesse, pela pluralidade dos mundos, o campo aberto às suas explorações futuras e a atividade de seu espírito; para recuar indefinidamente os limites da Criação, para destruir os preconceitos sobre os lugares especiais de recompensa e de punição, sobre os diferentes estágios dos céus, era preciso que penetrasse as profundezas do espaço; que em lugar do cristalino e do empíreo, aí visse circular, em majestosa e perpétua harmonia, os mundos inumeráveis, semelhantes ao seu; que em toda parte seu pensamento encontrasse a criatura inteligente.


3. — A história da Terra se liga à da Humanidade. Para que o homem pudesse desfazer-se de suas mesquinhas e falsas opiniões sobre a época, a duração e o modo de criação do nosso globo, de suas crenças lendárias sobre o dilúvio e sua própria origem; para que consentisse em desalojar do seio da terra o inferno e o império de Satã, era preciso que pudesse ler nas camadas geológicas a história de sua formação e de suas revoluções físicas. A Astronomia e a Geologia, secundadas pelas descobertas da Física e da Química, apoiadas sobre as leis da Mecânica, são as duas poderosas alavancas que atacarão os seus preconceitos sobre a sua origem e o seu destino.

A matéria e o espírito são os dois princípios constitutivos do Universo. Mas o conhecimento das leis que regem a matéria devia preceder o das leis que regem o elemento espiritual; só as primeiras poderiam combater vitoriosamente os preconceitos, pela evidência dos fatos. O Espiritismo, que tem como objetivo especial o conhecimento do elemento espiritual, só podia vir depois; para que pudesse tomar o seu impulso e dar frutos, para que pudesse ser compreendido em seu conjunto, era preciso que encontrasse o terreno preparado, o campo do espírito humano liberto dos preconceitos e das ideias falsas, se não na totalidade, ao menos em grande parte, sem o que só se teria tido um Espiritismo acanhado, bastardo, incompleto e misturado a crenças e práticas absurdas, como ainda hoje o é nos povos atrasados. Se se considerar a situação das nações adiantadas, reconhecer-se-á que ele veio em tempo oportuno, para preencher os vazios que se fazem nas crenças.

Galileu abriu o caminho. Rasgando o véu que ocultava o infinito, alargou o domínio da inteligência e desferiu um golpe fatal nas crenças errôneas; destruiu mais superstições e ideias falsas do que todas as filosofias, porque as sapou pela base, mostrando a realidade. O Espiritismo deve colocá-lo na classe dos grandes gênios que rasgaram a via, diminuindo as barreiras opostas pela ignorância. As perseguições de que foi objeto, e que são o quinhão de quem quer que ataque os preconceitos, fizeram-no grande aos olhos da posteridade, ao mesmo tempo que rebaixaram os perseguidores. Quem é hoje maior: ele ou eles?

Lamentamos que a falta de espaço não nos permita citar alguns fragmentos do belo drama do Sr. Ponsard. Fá-lo-emos no próximo número.


[2.º Artigo. Revista de maio.]

4 GALILEU.


FRAGMENTOS DO DRAMA DO SR. PONSARD.

(Ver o número precedente.)

Um século antes de Galileu, Copérnico tinha concebido o sistema astronômico que traz o seu nome. n Com o auxílio do telescópio que havia inventado, e juntando a observação direta à teoria, Galileu completou as ideias de Copérnico e demonstrou sua verdade pelo cálculo. Com seu instrumento, pôde estudar a natureza dos planetas e, de sua similitude com a Terra, concluiu pela sua habitabilidade. Igualmente tinha reconhecido que as estrelas são outros tantos sóis, disseminados nos espaços sem limites, e pensou que cada um devia ser o centro do movimento de um sistema planetário. Acabava de descobrir os quatro satélites de Júpiter e este acontecimento abalou o mundo científico e o mundo religioso. O poeta se dedica a pintar, no seu drama, a diversidade dos sentimentos que excitou, conforme o caráter e os preconceitos dos indivíduos.

Dois estudantes da Universidade se entretêm com a descoberta de Galileu, e como não estão de acordo, buscam a opinião de um professor de renome.


Albert: Nós num ponto, doutor, em desacordo estamos,

Queríamos, pois, saber o que pensais.


Pompeu: Ele aceita pedir conselhos bons, reais – De que se trata, então?


Vivian: Dos satélites vistos.

De Júpiter ao redor nos orbitais previstos.


Pompeu: Não existem, não.


Vivian: Mas…


Pompeu: Não podem existir.


Vivian: Podemos, entretanto, os ver e conferir.


Pompeu: Não, nem mesmo os contar que inexistentes são.


Albert: Tu o ouves, Vivian?


Vivian: E por que mestre, então?


Pompeu:

E porque sustentar que Deus pode ter feito

Quatro globos além dos sete, com efeito

É propósito mau, um tema em fantasia,

Antireligioso e sem filosofia.

(E vendo Galileu seguido por muitos estudantes)

Basbaques, tolos, são! e infame charlatão!


Albert a Vivian: Vês que o doutor Pompeu contra ti se revela.


Vivian: Bem melhor pra Doutrina em que creio e tão bela;

É de toda a verdade a marcha natural,

Contra ela amotinar-se os pedantes do mal.


[Observação de ALLAN KARDEC.] Aí bem está a força do raciocínio de certos negadores das ideias novas: isto não é porque não pode ser. Perguntava-se a um sábio: Que diríeis se vísseis uma mesa erguer-se sem ponto de apoio? – Não acreditaria, respondeu ele, porque sei que isto não pode ser.



UM MONGE,

pregando à multidão:

Escutai o que diz o Apóstolo: Nos céus

Vossos olhos passeais, por que, ó Galileus?

Que ele, assim, de antemão anátema lançava

Contra ti, Galileu, e teu plano atacava.

Nós mesmos vemos, hoje, e muito claramente,

Quanto horror tem o céu a este ensino inciente,

E o Arno transbordado e o gelo nos vinhais,

Do divino furor são dolentes sinais.

Meus irmãos, desdenhai as mentiras grosseiras;

Para a Terra marchar só com pés, sem canseiras?

Pois se a Lua se move é que há um anjo que a guia;

Porque a cada planeta um condutor vigia;

Mas da Terra, seu anjo, onde ele está, nos montes?

Seria visto aí. – No centro? O mal tem fontes.


Lívia, mulher de Galileu, é o tipo de pessoa de mente estreita,

 mais preocupada com a vida material do que com a glória e a verdade.


LÍVIA, a Galileu.

…Por que a mente esquentar,

Novos ensinos tens em vão a divulgar?

Tais novidades são resumíveis num termo,

Invenção do diabo e o mal expresso em ermo.

Pelo modo por que vos olha cada qual,

Se não te guardas bem, isto acabará mal.

Oh! por que não seguir os dignos professores

Que isso dizem citando os seus predecessores?

Eis pessoas em quem reina sempre o bom-senso;

Ensinam sem questão no que esperam consenso,

E sem se desgastar em público abatido

Se a Aristóteles ou Copérnico haver crido,

Sustentam com saber que a certa opinião

Aquela deve ser por qual se paga então,

Se a Aristóteles cabe o cofre-forte abrir,

Aristóteles faz Copérnico sair.

Não se fazem assim dissentir com ninguém;

Mas embolsam em paz os florins que lhes vêm;

Prosperam; moram bem; e sempre bem nutridos;

As filhas dotes têm com que encontram maridos;

Seu auditório é suave e nunca atormentado;

Retornam sempre ao lar para o caldo esperado;

Mas vós, vós fazeis raiva, e alguém vos aplaudia

E nesse meio tempo, eis que o jantar esfria.


Fragmentos do monólogo de Galileu no começo do segundo ato:


Não mais o tempo em que, no reino solidão,

A Terra no seu trono era imóvel então;

Não, o carro veloz, levando o astro do dia

Do nascer até se pôr não mais seu rumo guia;

Pois já do firmamento a curva cristalina

Que, como um teto azul, de lustres se ilumina;

Não é só para nós que Deus fez Universo;

Mas antes de nos ter, fomos no orgulho imersos!

Pois se abdicamos nós uma realeza falsa,

Porquanto da verdade a Ciência nos exalça;

 Faz-se o corpo menor, mais o Espírito cresce;

Nossa nobreza crê ou nossa fé decresce.

Para o homem é mais belo, ínfima criatura,

Os intricados véus ele abrir da Natura,

E de ousar abraçar em sua concepção

A lei universal da própria criação,

Como nos dias ser, de vaidosa mentira

Rei de certa ilusão que num sonho se mira,

Centro inculto de um todo e do qual crê-se autor,

E só por ter pensado, hoje acha-se senhor.

O Sol, globo de fogo, gigantesca fornalha,

Um caos incandescente e de onde a vida espalha,

Tempestivo oceano onde oscilam perdidos

Rochas que se diluem e alguns metais fundidos,

Batendo e misturando, as vagas inflamadas

São negras explosões de fumo carregadas,

Uma ilhota vermelha exsurge do crisol,

Tolda pela manhã, hoje a face do Sol;

Almeja em torno a ti, ó incêndio fecundo,

A Terra, nossa mãe, um resfriar profundo,

E, resfriados como ela, e, que vivem como ela;

Marte sempre sangrento e Vênus de luz bela;

Junto ao teu esplendor, Mercúrio vive assim,

E desse reino teu Saturno no confim,

E por Deus, para mim, e com venturas suas

A Júpiter coroa um quádruplo de luas.

Mas, astro soberano e centro desses mundos

Para além desse império os limites profundos,

Os milhares de sóis numerosos e densos,

Que ninguém contar pode em seus grupos imensos.

Prolongam, como tu, suas vastas crateras,

Movendo, como tu, planetárias esferas,

Que lhes giram em torno, o seu curso a compor,

E colhem de seu rei claridade e calor.

Oh! sim, sois vós melhor que as lâmpadas noturnas,

Que dariam mais luz que as chamas taciturnas,

Inúmeros clarões, estrelas que empoeirais,

De vossa areia de ouro as sendas azulais,

Em casa vos palpita a vida universal,

Mais não vemos senão uma centelha astral.


E em toda a parte ação, o movimento e a alma!

Rolando, aqui e ali, em seus centros sem calma,

Globos de habitação, cujos homens pressinto,

Viverem meu viver, sentirem como eu sinto,

Uns rebaixados mais, enquanto outros talvez

Em mais altos degraus na ordem de sua vez!

Quão grande! Como é belo! Em que culto profundo!

O Espírito em torpor, se perde em abismo fundo!

Copiosíssimo autor, que tua onipotência

Aí se mostra em glória e em tal magnificência!

Que a vida a se expandir em ondas no infinito,

Vastamente proclama o teu nome bendito!

Perseguidores, ide! Anátemas lançai!

Tenho mais fé que vós, sabendo pois ficai.

Deus, que vós invocais, melhor que vós imerso

Nele vejo: só lama, e pra vós é o Universo;

Para mim sobretudo a obra divina brilha;

Vós a fazeis estreita, e eu lhe redobro a trilha;

Como se dava aos reis carro triunfador,

Universos coloco aos pés do Criador.


Fragmentos do diálogo entre o inquisidor e Galileu:


O INQUISIDOR.

Verdadeiro não é qual o das Escrituras;

Erro é tudo o que resta, e visões, e imposturas;

Quem no contrário crê em seu ensinamento

Não é esclarecido, é um cego desatento.


GALILEU.

Sim, a fé do cristão tem a norma que a guia;

Seu único poder reina na teologia,

E deve a adoração curvar nossos esp’ritos

Aos dogmas divinais em que aí são inscritos;

Mas da matéria o mundo escapa à força insana;

Deus o entrega inteiro à discussão humana;

Por de coisas tratar que caem sob os sentidos,

Sentidos e razão se mostram combalidos;

A autoridade cala; e nula a ordem se faz

Bem no centro da esfera os raios desiguais,

De heresia se anula acusar-se o compasso,

Nem aos corpos impor que não girem no espaço.

Enfim, o olho é juiz do Universo visível.

Se o imutável dogma é na Bíblia intangível,

A Ciência repele essa imobilidade,

E nos ferros morrendo alcança a liberdade.


O INQUISIDOR.

Ora, não vês então que teu novo sistema

Turvando a astronomia à fé deixa em dilema?

O erro material em certo ponto aceito,

Em todo o Testamento o exame faz suspeito;

Quem uma vez falhou não é mais infalível;

A dúvida se aceita, o exame é ato possível,

E logo há conclusão, se alguém ousa julgar,

Da física inexata o dogma se enganar.


GALILEU.

Eu a fé destruir, quando engrandeço o culto!

Em sua obra ver Deus é Lhe fazer insulto?

Ah! senti-la melhor, é melhor adorá-la,

E entanto, honrá-la mal é que é desfigurá-la.

Os céus conforme a Bíblia em que devemos crer,

Os céus de seu Autor glória nos fazem ver;

Bem melhor que ninguém Lhe escuto a narração,

E tenho repetido o que a dizer estão.


….De uma.verdade nova há quem lhe barre o fio?

Uma gota deter, será deter um rio?

Crede-me, respeitai estas aspirações,

Elas têm muito impulso e muitas expansões

Pra deixar-se reter nas grades da prisão;

Deixai-lhes livre o campo ou morte ao barreirão!

- Ah! Roma ao ver um dia os teus cultos proscritos,

Dizias nada opor senão do gládio aos ritos;

Só triunfaste, então, ao mudar de papel

E opondo ao próprio gládio a palavra em laurel.


Antônia, filha de Galileu, vendo proscrito o pai, lhe diz:


Tua filha, eis-me aqui. Sim, meu piedoso amor

Seguirá o proscrito, e dos céus vencedor.

Levando, vale a vale, o teu bastão assim,

Direi: “De Galileu o pão trazei-mo a mim,

Para aquele que um lar negaram-lhe os cristãos,

E altar teria tido entre os povos pagãos.”


Galileu sondou as profundezas dos céus e revelou a pluralidade dos mundos materiais. Como dissemos, foi toda uma revelação nas ideias; um novo campo de exploração foi aberto à Ciência. O Espiritismo vem operar outra não menor, revelando a existência do mundo espiritual que nos rodeia; graças a ele o homem conhece seu passado e seu verdadeiro destino. Galileu derrubou as barreiras que circunscreviam o Universo: o Espiritismo o povoa e enche o vazio dos espaços infinitos. Embora mais de dois séculos nos separem das descobertas de Galileu, muitos preconceitos ainda estão vivos; a nova doutrina emancipadora encontra os mesmos obstáculos; atacam-na com as mesmas armas, opõem-lhe os mesmos argumentos. Lendo o drama do Sr. Ponsard, poder-se-ia dar nomes próprios modernos a cada um de seus personagens. Entretanto, a má vontade e a perseguição não impediram que a doutrina de Galileu triunfasse, porque era a verdade. Dar-se-á o mesmo com o Espiritismo, porque é, também, uma verdade. Seus detratores serão olhados pela geração futura com os mesmos olhos com que olhamos os de Galileu.



[1] Copérnico, astrônomo polonês, nascido em Thorn  †  (Estados prussianos) em 1473, morto em 1543. – Galileu, nascido em Florença em 1564, condenado em 1633, morto em 1644, cego. O sistema de Copérnico já era condenado pela Igreja.


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