Em vossa margem recém-nato
Uma mulher vi com recato
Dizer ao ver meu despertar:
Seu doce sono não turbar,
Ele sonha; e eu nascia apenas!
Mais tarde, nas planícies plenas
Florido trevo desfolhava,
A dizer que Méry sonhava;
E quando a pobre mãe se estanca
A me assentar na pedra branca
Que guarda a borda do riacho,
Ela dizia ainda, eu acho:
Meu filho sonha. No colégio,
Por ódio ou por desprezo régio!
Amigos foram para longe,
Deixando-me só como um monge,
A sonhar. E quando a inquietude
Do mal manchou-me a juventude,
A turba me apontava o dedo
Dizendo: É Méry deve cedo
Sonhar ainda. E então, prudente,
Quase a meio caminho rente
Fui julgado como escritor,
É em vão, diziam com humor,
Que ele evoca a poesia
Em seus versos, é a fantasia
Que em seu apelo vem. Méry
Que quer que faça, é só Méry
E quando a derradeira prece
Benzesse o que pó se fizesse,
Atento em meu sepulcro, ouvi
Um termo só, repito-o aqui:
Sonhador! Ah, sim, sobre a terra
Sonhei; que algum mal isto encerra?
Um sonho que não terminou,
E ao qual, aqui, reinício dou.
J. Méry. n |