O panteísmo, ou a encarnação do Espírito na matéria, n da ideia na forma, é o primeiro passo do paganismo para a lei do amor, que foi revelada e pregada por Jesus. A Antiguidade, ávida de prazeres, enamorada da beleza exterior, quase não olhava além do que via; sensual, ardente, ignorava as melancolias que nascem da dúvida inquieta e das ternuras recalcadas; temia os deuses, cuja imagem suavizada colocava nos lares de suas residências; a escravidão e a guerra a roíam por dentro e a esgotavam por fora; em vão a Natureza sonora e magnífica convidava os homens a lhe compreender o esplendor; temiam-na ou a adoravam, como aos deuses. Os bosques sagrados participavam do terror dos oráculos, e nenhum mortal separava os benefícios de sua solidão das ideias religiosas que faziam palpitar a árvore e fremir a pedra.
O panteísmo tem duas faces, sob as quais convém estudá-lo. Primeiro, a separação infinita da natureza divina, fragmentada em todas as partes da Criação e se encontrando nos mais ínfimos detalhes, assim como na sua magnificência, isto é, uma confusão flagrante entre a obra e o obreiro. Em segundo lugar, a assimilação da Humanidade ou, antes, sua absorção na matéria. O panteísmo antigo encarnava as divindades; o moderno panteísmo assimila o homem ao reino animal e faz surgirem as moléculas criadoras da ardente fornalha onde se elabora a vegetação, confundindo, assim, os resultados com o princípio.
Deus é a ordem, que a confusão humana não poderia perturbar. Tudo vem a propósito: a seiva às árvores e o pensamento aos cérebros; nenhuma ideia, filha do tempo, é abandonada ao acaso; ela tem sua fileira, um estreito parentesco que lhe dá a razão de ser, a liga ao passado e a exorta ao futuro. A história das crenças religiosas é a prova dessa verdade absoluta; nenhuma idolatria, nenhum sistema, nenhum fanatismo que não tenha tido sua poderosa e imperiosa razão de existir; todos avançavam para a luz, todos convergiam para o mesmo objetivo e todos virão confundir-se, como as águas dos rios longínquos, no vasto e profundo mar da unidade espírita.
Assim o panteísmo, precursor do catolicismo, trazia em si o germe da universalidade de Deus; inspirava aos homens a fraternidade para com a Natureza, essa fraternidade que Jesus lhes devia ensinar a praticar uns para com os outros; fraternidade sagrada, consolidada hoje pelo Espiritismo, que vitoriosamente estabelece comunicação entre os seres terrestres e o mundo espiritual.
Em verdade vos digo: a lei de amor expõe lentamente, e de maneira contínua, suas aspirais infinitas; é ela que, nos ritos misteriosos das religiões indianas, diviniza o animal, sagrando-o por sua fraqueza e por seus humildes serviços; é ela que povoava de deuses familiares os lares purificados; é ela que, em cada uma das crenças diversas, faz com que as gerações soletrem uma palavra do alfabeto divino. Mas somente a Jesus estava reservado proclamar a ideia universal que as resume todas. O salvador anunciou o amor e o tornou mais forte que a morte. Ele disse aos homens: “Amai-vos uns aos outros; amai-vos na dor, na alegria, no opróbrio; amai a Natureza, vossa primeira iniciadora; amai os animais, vossos humildes companheiros; amai o que começa, amai o que acaba.”
O Verbo do Eterno chama-se amor e abarca, numa inextinguível ternura, a Terra onde passais e os céus onde entrareis, purificados e triunfantes.
Lázaro.
[1] [O grifo é nosso para indicar sentido figurado na expressão, não confundindo-a com o princípio da reencarnação.]