O primeiro período do Espiritismo, caracterizado pelas mesas girantes, foi o da curiosidade. O segundo foi o período filosófico, marcado pelo aparecimento de O Livro dos Espíritos. A partir deste momento o Espiritismo tomou um caráter completamente diverso. Entreviram-lhe o objetivo e o alcance e nele hauriram fé e consolação, sendo tal a rapidez de seu progresso que nenhuma outra doutrina filosófica ou religiosa oferece exemplo semelhante. Mas, como todas as ideias novas, teve adversários tanto mais obstinados quanto maior era a ideia, porque nenhuma ideia grande pode estabelecer-se sem ferir interesses. É preciso que ocupe um lugar e as pessoas deslocadas não podem vê-la com bons olhos. Depois, ao lado das pessoas interessadas estão os que, por espírito de sistema e sem razões precisas, são adversários natos de tudo quanto é novo.
Nos primeiros anos, muitos duvidaram de sua vitalidade, razão por que lhe deram pouca atenção. Mas quando o viram crescer, a despeito de tudo, propagar-se em todas as fileiras da sociedade e em todas as partes do mundo, tomar o seu lugar entre as crenças e tornar-se uma potência pelo número de seus aderentes, os interessados na manutenção das ideias antigas alarmaram-se seriamente. Então uma verdadeira cruzada foi dirigida contra ele, dando início ao período da luta, de que o auto-de-fé de Barcelona, † de 9 de outubro de 1861, de certo modo foi o sinal. Até então ele tinha sido alvo dos sarcasmos da incredulidade, que ri de tudo, principalmente do que não compreende, mesmo das coisas mais santas, e aos quais nenhuma ideia nova pode escapar: é o seu batismo de fogo. Mas os outros não riem: fitam-no com cólera, sinal evidente e característico da importância do Espiritismo. Desde então os ataques assumiram um caráter de violência inaudita. Foi dada a palavra de ordem: sermões furibundos, pastorais, anátemas, excomunhões, perseguições individuais, livros, brochuras, artigos de jornais, nada foi poupado, nem mesmo a calúnia.
Estamos, pois, em pleno período de luta, mas este não terminou. Vendo a inutilidade dos ataques a céu aberto, vão ensaiar a guerra subterrânea, que se organiza e já começa. Uma calma aparente vai ser sentida, mas é a calma precursora da tempestade; não obstante, à tempestade sucede a bonança.
Espíritas, não vos inquieteis, porque a saída não é duvidosa; a luta é necessária
e o triunfo será mais retumbante. Disse e repito: vejo o fim; sei como
e quando será alcançado. Se vos falo com tal segurança é que para tanto
tenho razões, sobre as quais a prudência manda que me cale, mas vós
as conhecereis um dia. Tudo quanto vos posso dizer é que virão poderosos
auxiliares para fechar a boca de mais de um detrator. Contudo a luta
será viva e se, no conflito, houver algumas vítimas de sua fé, que estas
se rejubilem, como o faziam os primeiros mártires cristãos, dos quais
muitos estão entre vós, para vos encorajar e dar o exemplo; que se lembrem
destas palavras do Cristo: “Bem-aventurados os que sofrem perseguição
por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus. Bem-aventurados
sois vós quando vos injuriarem, e perseguirem, e, mentindo, disserem
todo o mal contra vós, por minha causa. Exultai e alegrai-vos, pois
grande é o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas
que vieram antes de vós.” (São
Mateus, capítulo V, versículos 10, 11 e 12.) n
Estas palavras não parecem ter sido ditas para os espíritas de hoje, como para os apóstolos de então? É que as palavras do Cristo têm isto de particular: são para todos os tempos, porque sua missão era para o futuro, como para o presente.
A luta determinará uma nova fase do Espiritismo e levará ao quarto período, que será o período religioso; depois virá o quinto, período intermediário, consequência natural do precedente, e que mais tarde receberá sua denominação característica. O sexto e último período será o da regeneração social, que abrirá a era do século vinte. Nessa época, todos os obstáculos à nova ordem de coisas determinadas por Deus para a transformação da Terra terão desaparecido. A geração que surge, imbuída das ideias novas, estará em toda a sua força e preparará o caminho da que há de inaugurar o triunfo definitivo da união, da paz e da fraternidade entre os homens, confundidos numa mesma crença, pela prática da lei evangélica. Assim serão confirmadas as palavras do Cristo, já que todas devem ter cumprimento e muitas se realizam neste momento, porque os tempos preditos são chegados. Mas é em vão que, tomando a figura pela realidade, procurais sinais no céu: esses sinais estão ao vosso lado e surgem de todas as partes.
É notável que as comunicações dos Espíritos tenham tido um caráter especial
em cada período: no primeiro eram frívolas e levianas; no segundo foram
graves e instrutivas; a partir do terceiro eles pressentiram a luta
e suas diferentes peripécias. A maior parte das que se obtém hoje nos
diversos centros tem por objetivo prevenir os adeptos contra as intrigas
de seus adversários. Assim, por toda parte são dadas instruções a este
respeito, como por toda parte é anunciado um resultado idêntico. Tal
coincidência, sobre este como sobre muitos outros pontos de vista, não
é um dos fatos menos significativos. A situação se acha completamente
resumida nas duas comunicações seguintes, cuja veracidade já foi reconhecida
por muitos espíritas. [Sobre o período da luta v. A
guerra surda.]
[1] N. do T.: No original francês, por engano, constou o capítulo VI.