O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano V — Agosto de 1862.

(Idioma francês)

Sociedade Espírita de Constantina.

(Sumário)

1. Nota. – Falamos da Sociedade que se formou em Constantina,  †  sob o título de Sociedade Africana de Estudos Espíritas, sob os auspícios da Sociedade de Paris. Transcrevemos, a seguir, a comunicação por ela obtida quando de sua instalação:


“Embora os trabalhos até hoje feitos por vossa sociedade não sejam imunes à crítica, não nos queremos deter sobre essas considerações. Levamos mais em conta a intenção que os fatos.

“Antes de tudo compreendei a grandeza da tarefa que empreendestes e fazei o possível para a levardes a bom termo. Só assim podereis esperar ser assistidos pelos Espíritos superiores.

“Entremos agora no assunto e vejamos se não cometestes algumas faltas. Para começar, laborais em grande equívoco em vos servirdes de todos os vossos médiuns para as comunicações particulares. Que é a evocação geral senão o apelo aos bons Espíritos para se comunicarem convosco? Pois bem! que fazeis? Em vez de esperar, depois da evocação geral e de deixar aos bons Espíritos o tempo de se comunicarem por tal ou qual médium, conforme as simpatias que possam existir, passais imediatamente às evocações particulares. Sabei que este não é um bom meio de obter comunicações espontâneas, como estas são recebidas nas outras sociedades. Assim, esperai um momento e recolhei as comunicações gerais, que sempre vos ensinarão algumas verdades. Em seguida podeis passar às evocações particulares; mas, então, para cada uma, não vos sirvais senão de um só médium. Então não sabeis que só os Espíritos realmente superiores estão em condições de se manifestarem por vários médiuns ao mesmo tempo? Fazei com que somente um médium sirva a cada evocação particular e, se tiverdes dúvidas quanto à veracidade das respostas obtidas, procedei a uma nova evocação, num outro dia, empregando outro médium.

“Estais apenas no começo da ciência espírita, e ainda não podeis colher todos os frutos que ela concede aos seus adeptos experimentados. Mas não desanimeis, porque vos serão levados em conta os esforços para vos melhorardes e para propagar a verdade imutável de Deus. Avante, pois, meus amigos; e que o ridículo que encontrareis mais de uma vez no vosso caminho não vos faça desviar da linha de vossas crenças espíritas.”

Jacques.


2. — Tendo os espíritas de Constantina nos pedido que solicitássemos a Santo Agostinho se dignasse aceitar o patrocínio espiritual de sua sociedade, este último nos deu a respeito a seguinte comunicação:


(Sociedade de Paris, 27 de junho de 1862. – Médium: Sr. E. Vézy.)

Dirigindo-se primeiramente aos membros da Sociedade de Paris,  †  diz ele:


“Bem fizeram os nossos filhos da Nova França ligando-se a vós. Fizeram bem em não se separarem do tronco. Ficai sempre unidos e os bons Espíritos estarão convosco.” Em seguida, dirige-se aos espíritas de Constantina:

“Amigos, sinto-me feliz por me haverdes escolhido para vosso guia espiritual. Ligado à Terra pela grande missão que deve regenerá-la, estou satisfeito por poder encorajar mais especialmente um grupo de pensadores que se ocupam com a grande ideia e por presidir aos seus trabalhos. Ponde, pois, o meu nome à frente dos vossos, e os Espíritos da minha ordem virão afastar os maus Espíritos que sempre rondam à porta das assembleias onde se discutem as leis da moral e do progresso. Que a fraternidade e a concórdia reinem sempre entre vós. Lembrai-vos de que todos os homens são irmãos e que o grande objetivo do Espiritismo é reuni-los um dia no mesmo lar e fazer que se sentem à mesa do Pai comum: Deus.

“Como é bela essa missão! Assim, com que alegria vimos a vós para vos fazer compreender os decretos divinos; para vos revelar as maravilhas do além-túmulo! Mas vós, que já sois iniciados nessas sublimes verdades, espalhai a semente em vosso derredor: bela será a vossa recompensa e gozareis na Terra as suas primícias. Que alegria! Marchai sempre na via do ensino, do amor e da caridade!

“Pronunciai meu nome com confiança nas horas de temor e de dúvida e logo os vossos corações serão aliviados da amargura e do fel que podem conter. Não esqueçais que estarei em todos os pontos da Terra onde ouvirdes falar do apostolado evangélico. Eu vos alojarei a todos na minha alma, para um dia vos depositar numa alma mais vasta e mais forte. Estarei sempre convosco, como estou aqui; minha voz terá a doçura que reconheceis, porque não gosto das entoações berrantes nem dos sons agudos. Ouvir-me-eis repetir incessantemente: Amai-vos, amai-vos! Poupai-me de me armar do açoite com o qual se deve castigar o mau; por vezes isto é necessário, mas jamais procureis vos incluir nesse número! Tempo virá em que a Humanidade marchará dócil à voz do bom pastor. Sois vós, filhos, que deveis ajudar-nos nessa regeneração e que deveis ouvir soar a primeira hora; porque eis o rebanho que se reúne e o pastor que chega.


Observação. – O Espírito alude a uma revelação de grande importância, feita pela primeira vez num grupo espírita de uma pequena cidade da África, nos confins do deserto, por um médium completamente analfabeto. Essa revelação, que nos foi transmitida de imediato, chegou quase simultaneamente de diversos pontos da França e do estrangeiro. Desde então numerosos documentos muito característicos e mais circunstanciados vieram dar-lhe uma espécie de consagração. Em momento oportuno trataremos desse assunto. [v. Os messias do Espiritismo.]


“Trabalhai, pois, e tende coragem. Nas vossas assembleias discuti friamente, sem exaltação; pedi a nossa opinião, os nossos conselhos, a fim de não cairdes em erro, em heresia. Sobretudo não formuleis artigos de fé, nem dogmas. Lembrai-vos de que a religião de Deus é a religião do coração; que ela não tem por base senão um princípio: a caridade; por desenvolvimento, o amor à Humanidade.

“Jamais corteis o galho do tronco. A árvore é muito mais verde com todos os seus ramos e estes morrem quando separados do caule que lhes deu origem. Lembrai-vos de que o Cristo julgou necessário que a sua Igreja se assentasse sobre a própria pedra, a fim de ser sólida, assim como ordena não tenha o Espiritismo senão uma raiz, de modo a penetrar com mais força em toda a superfície do solo, por mais árida e ressacada que seja.

“Um Espírito encarnado foi escolhido para vos dirigir, para vos conduzir. Submetei-vos com respeito, não às suas leis, pois ele não ordena, mas aos seus desejos. Por essa submissão provareis aos vossos inimigos que tendes convosco o necessário espírito de disciplina para fazerdes parte da nova cruzada contra o erro e a superstição, o necessário espírito de amor e de obediência para marchardes contra a barbárie. Envolvei-vos, pois, na bandeira da civilização moderna: o Espiritismo sob um só chefe e derrubareis essas ideias pavorosas de frontes chifrudas e de grandes caudas, que é preciso destruir.

“Não direi o nome desse chefe; vós o conheceis. Está na frente; marcha sem temor às dentadas venenosas das serpentes e dos répteis da inveja e do ciúme que o cercam; ficará de pé, porque ungimos seu corpo, para que seja sempre sólido e robusto. Segui-o, então. Mas, em vossa marcha as tempestades rebentarão sobre as vossas cabeças e alguns de vós não encontrarão refúgio para se abrigarem da tormenta! Que estes se resignem com coragem, como os mártires cristãos e pensem que a grande obra pela qual tiverem sofrido é a vida, é o despertar das nações adormecidas e que por isso serão um dia largamente recompensados no reino do Pai.”


Santo Agostinho. n


3. — Extraímos a passagem que se segue de uma carta que nos foi enviada recentemente pelo presidente da Sociedade de Constantina:


“Estamos causando preocupação entre os habitantes europeus e mesmo indígenas. Vários grupos se formaram à nossa volta e por toda parte se ocupam do Espiritismo. A criação de nossa Sociedade terá tido como resultado chamar a atenção para esta nova ciência. Contudo, não deixamos de experimentar algum embaraço, mas somos sustentados pelos Espíritos, que nos exortam à paciência e dizem que são provas das quais a Sociedade sairá vitoriosa e, de certo modo, mais fortalecida. Também temos a oposição externa: de um lado o clero e, do outro, a gente das mesquitas, afirmando, aos berros, que nos encontramos sob a inspiração de Satã e que nossas comunicações procedem do inferno. Temos ainda contra nós os boêmios, aqueles que vivem do sensualismo, sem se preocuparem com a sua alma; materialistas ou cépticos que repelem tudo quanto se refira a essa outra vida, cuja existência não querem admitir. Fecham os olhos e os ouvidos, chamam-nos de charlatães e procuram asfixiar-nos pela zombaria e pelo ridículo. Mas progredimos em meio a todos os espinhos; não nos faltam médiuns e diariamente surgem outros e muito interessantes. Temos comunicações de diversas naturezas e incidentes imprevistos para convencer os mais rebeldes, por exemplo, uma resposta em italiano por uma pessoa que não conhece essa língua; respostas a perguntas sobre a formação do globo, por uma senhora médium que nunca estudou geologia; um outro grupo recebeu comunicações poéticas cheias de encanto, etc.”


Observação. – Como se vê, o diabo também é acusado pelos sacerdotes muçulmanos. É de notar que os padres de todos os cultos lhe dão tanto poder que em verdade não se sabe a parte que reservam a Deus, nem como se deve entender a sua onipotência. Se esta é absoluta, o diabo não pode agir sem a sua vontade; se é apenas parcial, Deus não é Deus. Felizmente a gente tem mais fé na sua bondade infinita do que na sua vingança infinita e o diabo ficou muito desacreditado depois que o obrigaram a representar a comédia em todos os teatros, desde a farsa até a ópera. Assim, seu nome quase não produz mais efeito sobre a população do que as imagens horrorosas que os chineses colocavam nas muralhas para servirem de espantalho aos bárbaros europeus. O progresso incessante do Espiritismo prova que esse meio é ineficaz. Será bom procurar outro.



[1] [v. Santo Agostinho.]


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