1. — A raça negra é perfectível? Segundo algumas pessoas, esta questão é julgada e resolvida negativamente. Se assim é, e se esta raça é votada por Deus a uma eterna inferioridade, segue-se que é inútil nos preocuparmos com ela e que devemos nos limitar a fazer do negro uma espécie de animal doméstico, preparado para a cultura do açúcar e do algodão. Entretanto a Humanidade, tanto quanto o interesse social, requer um exame mais cuidadoso. É o que tentaremos fazer. Mas como uma conclusão desta gravidade, num ou noutro sentido, não pode ser tomada levianamente e deve apoiar-se em raciocínio sério, pedimos permissão para desenvolver algumas considerações preliminares, que nos servirão para mostrar, mais uma vez, que o Espiritismo é a única chave possível de uma multidão de problemas, insolúveis com o auxílio dos dados atuais da ciência. A frenologia nos servirá de ponto de partida. Exporemos sumariamente as suas bases fundamentais para melhor compreensão do assunto.
2. — Como se sabe, a frenologia † apoia-se no princípio de que o cérebro é o órgão do pensamento, como o coração o é da circulação, o estômago da digestão e o fígado da secreção da bile. Este ponto é admitido por todos, pois ninguém há que possa atribuir o pensamento a outra parte do corpo. Cada um sente que pensa pela cabeça e não pelo braço e pela perna. Mais ainda: sente-se instintivamente que a sede do pensamento está na fronte; é aí, e não no occipício, que se leva a mão para indicar que um pensamento acaba de surgir. Para todo o mundo o desenvolvimento da parte frontal leva a presumir mais inteligência do que quando ela é baixa e deprimida. Por outro lado, as experiências anatômicas e fisiológicas demonstraram claramente o papel especial de certas partes do cérebro nas funções vitais, e a diferença dos fenômenos produzidos pela lesão de tal ou qual parte. As pesquisas da Ciência não podem deixar dúvida a respeito; as do Sr. Flourens, † sobretudo, provaram à evidência a especialidade das funções do cerebelo.
Assim, é admitido como princípio que as diferentes partes do cérebro não exercem as mesmas funções. Além disso, é reconhecido que, originando-se do cérebro, os cordões nervosos, tal como os filamentos de uma raiz, se ramificam em todas as partes do corpo e são afetados de maneira diferente, conforme a sua destinação. É assim que o nervo óptico, que alcança o olho e se abre na retina é afetado pela luz e pelas cores e transmite essas sensações ao cérebro numa porção especial; que o nervo auditivo é afetado pelos sons, os nervos olfativos pelos odores. Se um desses nervos perder a sensibilidade por uma causa qualquer, não haverá mais a sensação: fica-se cego, surdo ou privado do odor. Esses nervos têm, pois, funções distintas e não podem de modo algum se substituir, embora o exame mais minucioso não mostre a mínima diferença na sua contextura.
Partindo desses princípios, a frenologia vai longe: localiza todas as faculdades morais e intelectuais, atribuindo a cada uma um lugar especial no cérebro. É assim que confere a um órgão o instinto de destruição que, levado ao excesso, se torna crueldade e ferocidade; a outro a firmeza, cujo excesso, sem o contrapeso do julgamento, produz a obstinação; a outro o amor da progênie; finalmente, a outros, a memória das localidades, dos números, das formas, do sentimento poético, da harmonia dos sons, das cores, etc., etc. Aqui não é o lugar de fazer a descrição anatômica do cérebro. Diremos apenas que, se fizermos uma secção longitudinal na massa, reconheceremos que da base partem feixes fibrosos,que vão desabrochar na superfície, apresentando mais ou menos o aspecto de um cogumelo cortado na sua altura. Cada feixe corresponde a uma das circunvoluções da superfície externa, de onde se segue que o desenvolvimento da circunvolução corresponde ao desenvolvimento do feixe fibroso. Sendo cada feixe, de acordo com a frenologia, a sede de uma sensação ou de uma faculdade, conclui ela que a energia da sensação ou da faculdade é proporcional ao desenvolvimento do órgão.
No feto a caixa óssea do crânio ainda não se acha formada; inicialmente não passa de uma película, de uma membrana muito flexível, que se modela, conseguintemente, nas partes salientes do cérebro e lhes conserva a impressão, à medida que se endurece pelos depósitos de fosfato de cálcio, que é a base dos ossos. Das saliências do crânio a frenologia conclui o volume do órgão, e do volume do órgão conclui o desenvolvimento da faculdade.
Tal é, em breves palavras, o princípio da ciência frenológica.
3. — Embora o nosso objetivo não seja desenvolvê-la aqui, ainda são necessárias algumas palavras quanto ao modo de apreciação. Enganar-se-ia redondamente quem acreditasse poder deduzir o caráter absoluto de uma pessoa pela simples inspeção das saliências do crânio. As faculdades se contrabalançam reciprocamente, se equilibram, se corroboram ou se atenuam umas às outras, de tal sorte que, para julgar um indivíduo, é preciso levar em conta o grau de influência de cada uma, em razão do seu desenvolvimento, depois fazer entrar na balança o temperamento, o meio, os hábitos e a educação.
Suponhamos um homem com o órgão da destruição muito pronunciado, com atrofia dos órgãos das faculdades morais e afetivas: será miseravelmente feroz. Mas se à destruição aliar a benevolência, a afeição, as faculdades intelectuais, a destruição será neutralizada e terá o efeito de lhe dar mais energia; poderá ser um homem muito honrado, ao passo que o observador superficial, que o julgasse apenas pela inspeção do primeiro órgão, o tomaria por um assassino. Concebem-se, assim, todas as modificações de caráter que podem resultar do concurso das outras faculdades, como a astúcia, a circunspeção, a autoestima, a coragem, etc. A só sensação da cor fará o colorista, mas não fará o pintor; só a da forma não fará o desenhista; as duas reunidas apenas farão um bom copista se, ao mesmo tempo, não houver o sentimento da idealidade ou da poesia, e as faculdades reflexivas e comparativas. Basta isto para mostrar que as observações frenológicas práticas apresentam grande dificuldade e repousam sobre considerações filosóficas, que não estão ao alcance de todos. Estabelecidas estas preliminares, encaremos a coisa de outro ponto de vista.
4. — Dois sistemas radicalmente opostos dividiram, desde o início, os frenologistas em materialistas e espiritualistas. Não admitindo nada fora da matéria, dizem os primeiros que o pensamento é um produto da substância cerebral; que o cérebro secreta o pensamento, como as glândulas salivares secretam a saliva, como o fígado secreta a bile. Ora, como a quantidade de secreção geralmente é proporcional ao volume e à qualidade do órgão secretor, dizem que a quantidade de pensamentos é proporcional ao volume e à qualidade do cérebro; que cada parte do cérebro, secretando uma ordem particular de pensamentos, os diversos sentimentos e as diversas aptidões estão na razão direta do órgão que os produz. Não refutaremos esta monstruosa doutrina, que faz do homem uma máquina, sem responsabilidade por seus atos maus, sem méritos pelas suas boas qualidades, e que apenas deve o seu gênio e as suas virtudes ao acaso de sua organização. n Com semelhante sistema toda punição é injusta e todos os crimes são justificados.
Os espiritualistas dizem, ao contrário, que os órgãos não são a causa das faculdades, mas os instrumentos da manifestação das faculdades; que o pensamento é um atributo da alma e não do cérebro; que a alma, possuindo por si mesma aptidões diversas, a predominância de tal ou qual faculdade impele o desenvolvimento do órgão correspondente, como o exercício de um braço induz o desenvolvimento dos músculos desse braço. Daí se segue que o desenvolvimento de um órgão é o efeito, e não a causa.
Assim, um homem não é poeta porque tenha o órgão da poesia: ele tem o órgão da poesia porque é poeta, o que é muito diferente. Mas aqui se apresenta uma outra dificuldade, ante a qual forçosamente tropeçam os frenologistas: se for espiritualista, dirá que o poeta tem o órgão da poesia porque é poeta; mas não nos diz por que ele é poeta, porque o é, em vez de seu irmão, embora educado nas mesmas condições; e, assim, em relação a todas as outras aptidões. Só o Espiritismo o explica.
5. — Com efeito, se a alma fosse criada ao mesmo tempo que o corpo, a do sábio do Instituto seria tão nova quanto a do selvagem. Então, por que há na Terra selvagens e membros do Instituto? Direis que depende do meio em que vivem. Seja. Dizei, então, por que homens nascidos nos meios mais ingratos e mais refratários tornam-se gênios, ao passo que outros, que recebem a Ciência desde a infância, são imbecis? Os fatos não provam à evidência que há homens instintivamente bons ou maus, inteligentes ou estúpidos? É preciso, pois, que haja na alma um germe. De onde vem ele? Pode dizer-se razoavelmente que Deus os fez de todos os tipos, uns chegando sem esforço e outros nem sequer com um trabalho obstinado? Seria isso justiça e bondade? Evidentemente, não. Uma única solução é possível: a preexistência da alma, sua anterioridade ao nascimento do corpo, o desenvolvimento adquirido conforme o tempo vivido e as várias migrações percorridas. Unindo-se ao corpo, a alma traz, pois, o que adquiriu, suas qualidades boas ou más. Daí as predisposições instintivas, de onde se pode dizer com certeza que aquele que nasceu poeta já cultivou a poesia; que o que nasceu músico cultivou a música; o que nasceu celerado, já foi mais celerado. Tal é a fonte das faculdades inatas que produzem, nos órgãos afetados à sua manifestação, um trabalho interior, molecular, que provoca o seu desenvolvimento.
Isto nos conduz ao exame da importante questão da inferioridade de certas raças e de sua perfectibilidade.
Antes de mais, admitamos como princípio que todas as faculdades, todas as paixões, todos os sentimentos, todas as aptidões estão em a Natureza; que são necessárias à harmonia geral, posto que Deus nada faz de inútil; que o mal resulta do abuso, assim como da falta de contrapeso e de equilíbrio entre as diversas faculdades. Porque as faculdades não se desenvolvem simultaneamente, resulta que o equilíbrio não pode se estabelecer senão com o tempo; que essa falta de equilíbrio produz os homens imperfeitos, nos quais o mal domina momentaneamente.
Tomemos para exemplo o instinto da destruição. Ele é necessário porque na Natureza é preciso que tudo seja destruído para se renovar. Por isso todas as espécies vivas são, ao mesmo tempo, agentes destruidores e reprodutores. Mas o instinto de destruição isolado é um instinto cego e brutal; impera entre os povos primitivos, entre os selvagens cuja alma ainda não adquiriu qualidades reflexivas próprias a regular a destruição em justa medida. Numa única existência, poderá o selvagem adquirir as qualidades que lhe faltam? Seja qual for a educação que lhe derdes desde o berço, dele fareis um São Vicente de Paulo, um sábio, um orador, um artista? Não; é materialmente impossível. E, no entanto, o selvagem tem uma alma. Qual a sorte dessa alma depois da morte? É punida pelos atos bárbaros que ninguém reprimiu? É colocada em igualdade com o homem de bem? Um não é mais racional que o outro. É, então, condenada a ficar eternamente num estado misto, que nem é felicidade, nem infelicidade? Isto não seria justo, porque se ela não é mais perfeita, não dependeu dela. Só podeis sair deste dilema admitindo a possibilidade de progresso. Ora, como pode a alma progredir, a não ser tendo novas existências? Dir-se-á que poderá progredir como Espírito, sem voltar à Terra. Mas, então, por que nós, civilizados, esclarecidos, nascemos na Europa e não na Oceania? † em corpos brancos, ao invés de corpos negros? Por que um ponto de partida tão diferente, se só se progride como Espírito? Por que Deus nos liberou da longa rota percorrida pelos selvagens? Seriam nossas almas de natureza diversa das suas? Por que tentar torná-los cristãos? Se os tornais cristãos, é que os olhais como vosso igual perante Deus. E se é vosso igual perante Deus, por que Deus vos concede privilégios? Por mais que façais, não chegareis a nenhuma solução, a menos que admitais para nós um progresso anterior e para os selvagens um progresso ulterior. Se a alma do selvagem deve progredir posteriormente, é que nos alcançará; se progredimos anteriormente, é que fomos selvagens, pois se for diferente o ponto de partida, não haverá mais justiça, e se Deus não for justo, já não será Deus. Eis, pois, forçosamente, duas existências extremas: a do selvagem e a do homem ultracivilizado; mas, entre esses dois extremos, não haverá nenhum ponto intermediário? Segui a escala dos povos e vereis que é uma corrente ininterrupta, sem solução de continuidade.
Ainda uma vez, todos esses problemas são insolúveis sem a pluralidade das existências. Dizei que os zelandeses † renascerão num povo um pouco menos bárbaro, e assim por diante até a civilização, e tudo se explica; que se, em vez de seguir os degraus da escala os transpuser de um salto e chegar sem transição entre nós, dará o hediondo espetáculo de um Dumollard, que para nós é um monstro e que nada teria apresentado de anormal entre os povos da África central, de onde talvez tenha saído. É assim que, ao nos restringirmos numa existência única, tudo é obscuridade, tudo é problema sem saída, ao passo que com a reencarnação, tudo é claridade, tudo é solução.
6. — Voltemos à frenologia. Ela admite órgãos especiais para cada faculdade e julgamos que esteja certa. Mas vamos mais longe. Vimos que cada órgão cerebral é formado de um feixe de fibras; pensamos que cada fibra corresponda a uma nuança de faculdade. Isto não passa de uma hipótese, é verdade, mas que poderá abrir caminho a novas observações. O nervo auditivo recebe os sons e os transmite ao cérebro. Mas se o nervo é homogêneo, como percebe sons tão variados? É, pois, licito admitir que cada fibra nervosa é afetada por um som diferente, com o qual, de certo modo, vibra em uníssono, como as cordas de uma harpa. Todos os tons estão na Natureza. Imaginemos uma centena deles, do mais agudo ao mais grave. O homem, que possuísse cem fibras correspondentes os perceberia a todos; o que só possuísse a metade, não perceberia senão a metade dos sons, pois os outros lhe escapariam e deles não teria nenhuma consciência. Dá-se o mesmo com as cordas vocais para exprimir os sons, com as fibras ópticas para a percepção das diversas cores, com as fibras olfativas para registrar todos os odores. O mesmo raciocínio pode aplicar-se aos órgãos de todos os gêneros de percepções e de manifestações.
Todos os corpos animados encerram, incontestavelmente, o princípio de todos os órgãos; uns, porém, em certos indivíduos, se acham num estado de tal forma rudimentar que não são susceptíveis de desenvolvimento; é exatamente como se não existissem. Assim, nessas pessoas, não pode haver percepções manifestações correspondentes a esses órgãos; numa palavra elas são, para tais faculdades, como os cegos em relação à luz e os surdos para a música.
O exame frenológico dos povos pouco inteligentes constata a predominância das faculdades instintivas e a atrofia dos órgãos da inteligência. Aquilo que é excepcional nos povos avançados é a regra em certas raças. Por quê? Será uma injusta preferência? Não; é sabedoria. A Natureza é sempre previdente, nada faz de inútil. Ora, seria inútil dar um instrumento completo a quem não tenha os meios para dele se servir. Os Espíritos selvagens são ainda crianças, se assim podemos nos exprimir. Neles muitas faculdades ainda estão latentes. O que faria o Espírito de um hotentote † no corpo de um Arago? Seria como alguém que nada sabe de música diante de um piano excelente. Por uma razão inversa, o que faria o Espírito de Arago no corpo de um hotentote? Seria como Liszt diante de um piano contendo apenas algumas cordas desafinadas, das quais o seu talento não conseguiria jamais tirar sons harmoniosos. Arago entre os selvagens, com todo o seu gênio, será tão inteligente quanto o pode ser um selvagem, e nada mais; jamais será, numa pele negra, membro do Instituto. Seu Espírito induziria o desenvolvimento dos órgãos? Órgãos fracos, sim; órgãos rudimentares, não. n A Natureza, portanto, apropriou os corpos ao grau de desenvolvimento dos Espíritos que neles devem encarnar-se; eis por que os corpos das raças primitivas possuem menos cordas vibrantes que os das raças adiantadas. Há, pois, no homem dois seres bem distintos: o Espírito, ser pensante; o corpo, instrumento das manifestações do pensamento, mais ou menos completo, mais ou menos rico em cordas, conforme as necessidades.
7. — Chegamos agora à perfectibilidade das raças. Por assim dizer, essa questão é resolvida pela precedente: apenas temos que deduzir algumas consequências. Elas são perfectíveis para o Espírito que se desenvolve através de suas várias migrações, em cada uma das quais adquire pouco a pouco as faculdades que lhe faltam; mas, à proporção que essas faculdades se ampliam, necessita de um instrumento apropriado, como uma criança que cresce precisa de roupas maiores. Ora, sendo insuficientes os corpos constituídos para o seu estado primitivo, necessitam encarnar-se em melhores condições, e assim por diante, à medida que progride.
Assim, as raças são perfectíveis pelo corpo, pelo cruzamento com raças mais aperfeiçoadas, que trazem novos elementos, aí enxertando, por assim dizer, os germes de novos órgãos. Esse cruzamento se faz pelas migrações, as guerras e as conquistas. Sob esse ponto de vista, há raças, como há famílias, que se abastardam, se não misturarem sangues diversos. Então não se pode dizer que haja raça primitiva pura, porquanto, sem cruzamento, essa raça será sempre a mesma, pois seu estado de inferioridade se prende à sua natureza; degenerará, em vez de progredir, o que resultará no seu desaparecimento, ao cabo de certo tempo.
Diz-se a respeito dos negros escravos: “São seres tão brutos, tão pouco inteligentes, que seria trabalho perdido querer instruí-los. São uma raça inferior, incorrigível e profundamente incapaz.” A teoria que acabamos de dar permite encará-los sob outra luz. Na questão do aperfeiçoamento das raças, deve-se sempre levar em conta dois elementos constitutivos do homem: o elemento espiritual e o elemento corporal. É preciso conhecer um e outro, e só o Espiritismo nos pode esclarecer sobre a natureza do elemento espiritual, o mais importante, por ser o que pensa e que sobrevive, enquanto o elemento corporal se destrói.
Assim, como organização física, os negros serão sempre os mesmos; como Espíritos, é sem dúvida uma raça inferior, n isto é, primitiva; são verdadeiras crianças às quais muito pouco se pode ensinar. Mas, por meio de cuidados inteligentes é sempre possível modificar certos hábitos, certas tendências, o que já constitui um progresso que levarão para outra existência e que lhes permitirá, mais tarde, tomar um envoltório em melhores condições. Trabalhando em sua melhoria, trabalha-se menos pelo seu presente que pelo seu futuro e, por pouco que se ganhe, para eles é sempre uma aquisição. Cada progresso é um passo à frente, facilitando novos progressos.
Sob o mesmo envoltório, isto é, com os mesmos instrumentos de manifestação do pensamento, as raças são perfectíveis somente em estreitos limites, pelas razões que desenvolvemos. Eis por que a raça negra, † enquanto raça negra, corporalmente falando, jamais atingirá o nível das raças caucásicas; † mas, na qualidade de Espírito, é outra coisa: pode tornar-se e tornar-se-á aquilo que somos. Apenas necessitará de tempo e de melhores instrumentos. Por isso as raças selvagens, mesmo em contato com a civilização, permanecerão sempre selvagens; porém, à medida que as raças civilizadas se espalham, as selvagens diminuem, até desaparecerem completamente, como aconteceu com a raça dos Caraíbas, † dos Guanches † e outras. Os corpos desapareceram; quanto aos Espíritos, em que se transformaram? Muitos deles, talvez, se encontrem entre nós.
Já dissemos e vamos repetir: o Espiritismo descortina novos horizontes a todas as ciências. Quando os cientistas levarem em consideração o elemento espiritual nos fenômenos da Natureza, ficarão surpresos de ver que as dificuldades contra as quais tropeçam a cada passo são removidas como por encanto. Mas é provável que, para muitos, seja necessário renovar o hábito.
Quando voltarem, terão tido tempo de refletir e trarão novas ideias. Acharão as coisas muito mudadas aqui na Terra; as ideias espíritas, que hoje repelem, terão germinado por toda parte e serão a base de todas as instituições sociais. Eles próprios serão educados e sustentados nessa crença, que abrirá ao seu gênio novo campo para o progresso da ciência. Enquanto esperam, e enquanto aqui ainda se encontram, procuram a solução do problema: Por que a autoridade de seu saber, e suas negativas, não detêm, sequer por um instante, a marcha cada dia mais rápida das ideias novas?
[1] N. do T.: Vide Revista Espírita, julho de 1860: Frenologia e Fisiognomonia.
[2] Vide a Revista Espírita de março de 1861: A cabeça de Garibaldi.
[3] Vide a Revista Espírita de outubro de 1861: Os Cretinos.
[4] N.
do T.: Allan Kardec, por certo, está se referindo aos Espíritos encarnados
nas tribos incultas, selvagens, então existentes em algumas regiões
do planeta e que hoje, em contato com outros pólos de civilização, vêm
evoluindo progressivamente, como sói acontecer com as demais raças,
seja qual for a coloração de sua pele. [v. Nota da Editora em:
Nota explicativa.]