A escolha dos bons autores é muito útil e os que exercem seu domínio sobre vós, excitando-vos a imaginação pelas loucas paixões humanas, não fazem senão corromper o coração e o espírito. Com efeito, não é entre os apologistas da orgia, do deboche, da volúpia e dos que preconizam os prazeres materiais que se podem haurir lições de melhoramento moral. Pensai, pois, meus amigos, que se Deus vos deu paixões foi com o objetivo de vos fazer concorrer para os seus desígnios e não para as satisfazer como um animal. Ficai certos de que se consumis a vossa vida em loucos prazeres, que apenas deixam remorsos e o vazio no coração, não agireis segundo os propósitos de Deus. Se vos é dado reproduzir a espécie humana, é que milhares de Espíritos errantes esperam no espaço a formação dos corpos de que têm necessidade para recomeçar suas provas e que, usando as vossas forças em ignóbeis volúpias, ides de encontro aos desígnios de Deus e grande será o vosso castigo. Bani, pois, essas leituras, das quais não tirais nenhum proveito, nem para a vossa inteligência, nem para o vosso aperfeiçoamento moral. Que os escritores sérios de todos os tempos e de todos os países vos façam conhecer o belo e o bem; que elevem vossa alma pelo encanto da poesia, ensinando-vos o emprego útil das faculdades com que o Criador vos dotou.
Felícia.
Filha do médium.
Observação. – Não haverá algo de profundo e de sublime nessa ideia que dá à reprodução do corpo um objetivo tão elevado? Os Espíritos errantes esperam esses corpos, de que necessitam para o seu próprio adiantamento, e que os Espíritos encarnados estão encarregados de reproduzir, como o homem espera a reprodução de certos animais para vestir-se e alimentar-se.
Disso resulta um outro ensinamento, de alta gravidade. Se não se admite que a alma já tenha vivido, é absolutamente necessário que seja criada no momento da formação e para o uso de cada corpo; de onde se segue que a criação da alma por Deus estaria subordinada ao capricho do homem, e na maior parte das vezes é o resultado do deboche. Como! Todas as leis religiosas e morais condenam a depravação dos costumes e Deus se aproveitaria disto para criar almas! Perguntamos a todo homem de bom-senso se é admissível que Deus se contradiga a tal ponto? Não seria glorificar o vício, uma vez que se prestaria à realização dos mais elevados desígnios do Todo-Poderoso: a criação das almas? Que nos digam se tal não seria a consequência da formação simultânea das almas e dos corpos; e seria pior ainda se fosse admitida a opinião dos que pretendem que o homem procria a alma ao mesmo tempo que o corpo. Admiti, ao contrário, a preexistência da alma, e toda contradição desaparece. O homem não procria senão a matéria do corpo; a obra de Deus, a criação da alma imortal, que um dia deve se aproximar d’Ele, não mais está submetida ao capricho do homem. É assim que, fora da reencarnação, surgem dificuldades insolúveis a cada passo e se cai na contradição e no absurdo quando se quer explicá-las. O princípio da unicidade da existência corporal, para decidir sem retorno os destinos futuros do homem, perde terreno e partidários diariamente. Podemos, pois, dizer com segurança que, em. pouco tempo, o princípio contrário será universalmente admitido, como o único lógico, o único conforme à justiça de Deus, e proclamado pelo próprio Cristo, quando disse: Eu vos digo que é necessário nascer várias vezes antes de entrar no reino dos céus. ( † )