I. — Os bons Espíritos aprovam aquilo que acham bom, mas não fazem elogios exagerados. Estes, como tudo que denota lisonja, são sinais de inferioridade da parte dos Espíritos.
II. — Os bons Espíritos não lisonjeiam os preconceitos de nenhuma espécie, nem políticos, nem religiosos; podem não os atacar bruscamente, porque sabem que isso seria aumentar a resistência. Entretanto, há uma grande diferença entre essas atitudes, que poderíamos chamar de precauções oratórias, e a aprovação absoluta das mais falsas ideias, de que os Espíritos obsessores muitas vezes se servem para captar a confiança daqueles a quem querem subjugar, explorando-lhes o ponto fraco.
III. — Há pessoas que têm uma mania singular; encontram uma ideia completamente elaborada por outrem; esta lhes parece boa e, sobretudo, proveitosa; dela se apropriam, dão-na como própria e acabam iludidos a ponto de se crerem realmente seus autores, assegurando que lhes foi roubada.
IV. — Certo dia um homem viu ser feita uma experiência de eletricidade e tentou reproduzi-la. Porque não tivesse os conhecimentos requeridos, nem os instrumentos necessários, fracassou. Então, sem ir mais longe e sem procurar saber se a causa do insucesso não estaria nele mesmo, declarou que a eletricidade não existia e que ia escrever para o demonstrar.
Que pensaríeis da lógica de quem assim raciocinasse? Não se assemelharia a um cego que, não podendo ver, se pusesse a escrever contra a luz e a faculdade da visão? Entretanto, é este o raciocínio que ouvimos a propósito dos Espíritos, por homem que passa por espirituoso; que tenha espírito, sim; mas capacidade para julgar é outra coisa. Procura escrever como médium e, porque não o consegue, conclui que a mediunidade não existe. Ora, segundo ele, se a mediunidade é uma faculdade ilusória, os Espíritos não podem existir senão nos cérebros doentios. Que sagacidade!
Allan Kardec.
Nota – Com o número do mês de janeiro de 1860, a Revista Espírita começará o seu terceiro ano.
Imprimerie de H. CARION, rue Bonaparte, 64. †