O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Obras póstumas — 1ª Parte.

(Idioma francês)

Capítulo 8.


FOTOGRAFIA E TELEGRAFIA DO PENSAMENTO.

A fotografia e a telegrafia do pensamento são questões até agora pouco explanadas. Como todas as que não apresentam ligação com as leis que, por sua essência, devem ser universalmente difundidas, foram relegadas para segundo plano, não obstante serem de capital importância e poderem os elementos que elas contêm concorrer para a elucidação de muitos problemas que ainda se acham sem solução.

Quando um artista de talento executa um quadro, obra magistral a que consagrou todo o gênio que progressivamente adquiriu, dá primeiramente os traços gerais, de sorte que se compreenda, desde o esboço, todo o partido que espera tirar dali. Só depois de haver elaborado minuciosamente o seu plano geral é que entra nas minúcias; e, embora a este último trabalho deva, talvez, dispensar maiores cuidados do que àquele outro, tal não lhe seria possível, se não houvera esboçado antes o seu quadro. O mesmo sucede em Espiritismo. As leis fundamentais, os princípios gerais, cujas raízes existem no espírito de todo ser criado foram elaborados desde a origem. Todas as outras questões, quaisquer que sejam, dependem das primeiras. Por isso é que, durante certo tempo, forçoso se torna pôr de lado o estudo dessas questões.

Com efeito, poder-se-ia logicamente falar de fotografia e de telegrafia do pensamento, antes de estar demonstrada a existência da alma que manobra os elementos fluídicos e a dos fluidos que permitem se estabeleçam relações entre duas almas distintas? Ainda hoje, talvez, mal começamos a estar suficientemente esclarecidos para a elaboração de tão vastos problemas! Entretanto, não se acharão deslocadas aqui algumas considerações de natureza a preparar as bases para um estudo mais completo.

Limitado em suas ideias e aspirações; tendo circunscritos os seus horizontes, o homem precisa concretar todas as coisas e pôr-lhes etiquetas, a fim de guardar delas apreciável lembrança e basear seus futuros estudos nos dados que haja reunido. Pelo sentido da vista foi que lhe vieram as primeiras noções do conhecimento. Foi a imagem de um objeto que lhe ensinou a existência desse objeto. Quando conheceu muitos objetos, tirou deduções das impressões diferentes que eles lhe produziam no íntimo da ser, fixou na inteligência a quintessência deles por meio do fenômeno da memória. Ora, que é a memória, senão um espécie de álbum mais ou menos volumoso, que se folheia para encontrar de novo as ideias apagadas e reconstituir os acontecimentos que se foram? Esse álbum tem marcas nos pontos capitais. De alguns fatos o indivíduo imediatamente se recorda; para recordar-se de outros, é-lhe necessário folhear por longo tempo o álbum.

A memória é como um livro! Aquele em que lemos algumas passagens facilmente no-las apresenta aos olhos; as folhas virgens ou raramente perlustradas têm que ser folheadas uma a uma, para que consigamos reconstituir um fato sobre o qual pouco tenhamos demorado a atenção.

Quando o Espírito encarnado se lembra, sua memória lhe apresenta, de certo modo, a fotografia do fato que ele procura. Em geral, os encarnados que o cercam nada veem; o álbum se acha em lugar inacessível ao olhar deles; mas, os Espíritos o veem e folheiam conosco. Em dadas circunstâncias, podem mesmo, deliberadamente, ajudar a nossa pesquisa, ou perturbá-la.

O que se produz de um encarnado para um desencarnado também se verifica do desencarnado para o vidente. Quando se evoca a lembrança de certos fatos da existência de um Espírito, apresenta-se-lhe a fotografia desses fatos; e o vidente, cuja situação espiritual é análoga à do Espírito livre, vê como ele e, até, em determinadas circunstâncias, vê o que o Espírito não vê por si mesmo, tal como um desencarnado pode folhear a memória de um encarnado, sem que este tenha disso consciência e lembrar-lhe fatos de há muito esquecidos. Quanto aos pensamentos abstratos, por isso mesmo que existem, tomam corpo para impressionar o cérebro; têm de agir naturalmente sobre este e, de certo modo, gravar-se nele. Ainda neste caso, como no primeiro, parece perfeita a semelhança entre os fatos da terra e os do espaço.

Já tendo sido o fenômeno da fotografia do pensamento objeto de algumas reflexões nossas na Revista, para maior clareza reproduziremos alguns trechos do artigo em que o assunto foi tratado e que completaremos com outras observações novas.

Sendo os fluidos o veículo do pensamento, este atua sobre aqueles como o som atua sobre o ar; eles nos trazem o pensamento como o ar nos traz o som. Pode-se, pois, dizer, com verdade, que há ondas nos fluidos e radiações de pensamento, que se cruzam sem se confundirem, como há, no ar, ondas e radiações sonoras.

Ainda mais; criando imagens fluídicas, o pensamento se reflete no envoltório perispirítico como num espelho, ou, então, como essas imagens de objetos terrestres que se refletem nos vapores do ar, tomando aí um corpo e, de certo modo, fotografando-se. Se um homem, por exemplo, tiver a ideia de matar alguém, embora seu corpo material se conserve impassível, seu corpo fluídico é acionado por essa ideia e a reproduz com todos os matizes. Ele executa fluidicamente o gesto, o ato que o indivíduo premeditou. Seu pensamento cria a imagem da vítima e a cena inteira se desenha, como num quadro, tal qual lhe está na mente.

É assim que os mais secretos movimentos da alma repercutem no invólucro fluídico. É assim que uma alma pode ler noutra alma como num livro e ver o que não é perceptível aos olhos corporais. Estes veem as impressões interiores que se refletem nos traços fisionômicos: a cólera, a alegria, a tristeza; a alma, porém, vê nos traços da alma os pensamentos que não se exteriorizam.

Entretanto, se, vendo a intenção, pode a alma pressentir a execução do ato que lhe será a consequência, não pode, contudo, determinar o momento em que ele será executado, nem lhe precisar os pormenores, nem mesmo afirmar que ele se realize, porque ulteriores circunstâncias podem modificar os planos concebidos e mudar as disposições. Ela não pode ver o que ainda não está no pensamento; o que vê é a preocupação ocasional ou habitual do indivíduo, seus desejos, seus projetos, suas intenções boas ou más. Daí os erros nas previsões de alguns videntes.

Quando um acontecimento está subordinado ao livre-arbítrio de um homem, eles apenas podem pressentir-lhe a probabilidade, de acordo com o pensamento que veem; mas, não podem afirmar que se dará de tal forma, ou em tal momento. A maior ou menor exatidão nas previsões depende, além disso, da extensão e da clareza da vista psíquica. Nalguns indivíduos, desencarnados ou encarnados, limita-se a um ponto ou é difusa, ao passo que noutros é nítida e abrange todo o conjunto dos pensamentos e das vontades que hajam de concorrer para a realização de um fato. Mas, acima de tudo, há sempre a vontade superior que pode, em sua sabedoria, permitir uma revelação ou impedi-la. Neste último caso, um véu impenetrável é lançado sobre a mais perspicaz vista psíquica. (Veja, em A Gênese, o capítulo sobre a Presciência)

A teoria das criações fluídicas e, por conseguinte, da fotografia do pensamento, é uma conquista do moderno Espiritismo e pode, doravante, considerar-se como firmada em princípio, ressalvadas as aplicações de minúcias, que hão de resultar da observação. Este fenômeno é incontestavelmente a origem das visões fantásticas e desempenha grande papel em certos sonhos.

Quem na Terra sabe de que maneira se estabeleceram os primeiros meios de comunicação do pensamento? Como foram inventados ou, antes, descobertos, dado que nada se inventa, pois que tudo existe em estado latente, cabendo aos homens apenas os meios de pôr em ação as forças que a Natureza lhes oferece? Quem sabe quanto tempo foi necessário para que os homens usassem da palavra de modo perfeitamente inteligível?

Aquele que soltou o primeiro grito inarticulado tinha sem dúvida uma certa consciência do que queria exprimir, mas os a quem ele se dirigiu nada a princípio compreenderam. Só ao cabo de longo lapso de tempo se verificou a existência de palavras convencionadas, depois a de frases abreviadas e, por fim, discursos inteiros. Quantos milhares de anos não foram necessários para que a Humanidade chegasse ao ponto em que hoje se encontra! Cada progresso nos modos de comunicação, nas relações entre os homens, foi sempre assinalado por uma melhora no estado social dos seres. À medida que as relações de indivíduo a indivíduo se tornam mais estreitas, mais regulares, a necessidade se faz sentir de uma nova e mais rápida forma de linguagem, mais apropriada a pôr os homens em comunicação instantânea e universalmente uns com os outros. Por que não teria cabimento no mundo moral, de encarnado a encarnado, por meio da telegrafia humana o que ocorre no mundo físico, por meio da telegrafia elétrica? Por que as relações ocultas que ligam, de maneira mais ou menos consciente, os pensamentos dos homens e dos Espíritos, por meio da telegrafia espiritual, não se generalizariam entre os homens, de modo consciente?

A telegrafia humana! Aí está uma coisa de molde certamente a provocar o riso dos que se negam a admitir o que não caia sob os sentidos materiais. Mas, que importam as zombarias dos presunçosos? As suas negações, por mais que eles as multipliquem, não obstarão a que as leis naturais sigam seu curso, nem a que se encontrem novas aplicações dessas leis, à medida que a inteligência humana se ache em estado de lhes experimentar os efeitos.

O homem exerce ação direta sobre as coisas, assim como sobre as pessoas que o cercam. Frequentemente, uma pessoa de quem se faz pouco caso a exerce decisiva sobre outras de reputação muito superior. Isto decorre de que na Terra se veem muito mais máscaras do que semblantes e de que aí o olhar tem a obscurecê-lo a vaidade, o interesse pessoal e todas as paixões más. A experiência demonstra que se pode atuar sobre o espírito dos homens, à revelia deles. Um pensamento superior, fortemente pensado, permita-se-nos a expressão, pode, pois, conforme a sua força e a sua elevação, tocar de perto ou de longe homens que nenhuma ideia fazem da maneira por que ele lhes chega, do mesmo modo que muitas vezes aquele que o emite não faz ideia do efeito produzido pela sua emissão. É esse um jogo constante das inteligências humanas e da ação recíproca de umas sobre as outras. Juntai-lhe a das inteligências dos desencarnados e imaginai, se o conseguirdes, o poder incalculável dessa força composta de tantas forças reunidas.

Se se pudesse suspeitar do imenso mecanismo que o pensamento aciona e dos efeitos que ele produz de um indivíduo a outro, de um grupo de seres a outro grupo e, afinal, da ação universal dos pensamentos das criaturas umas sobre as outras, o homem ficaria assombrado! Sentir-se-ia aniquilado diante dessa infinidade de pormenores, diante dessas inúmeras redes ligadas entre si por uma potente vontade e atuando harmonicamente para alcançar um único objetivo: o progresso universal.

Pela telegrafia do pensamento, ele apreciará em todo o seu valor a lei da solidariedade, ponderando que não há um pensamento, seja criminoso, seja virtuoso, ou de outro gênero, que não tenha ação real sobre o conjunto dos pensamentos humanos e sobre cada um deles. Se o egoísmo o levava a desconhecer as consequências, para outrem, de um pensamento perverso, pessoalmente seu, por esse mesmo egoísmo ele se verá induzido a ter bons pensamentos, para elevar o nível moral da generalidade das criaturas, atentando nas consequências que sobre si mesmo produziria um mau pensamento de outrem.

Que serão, senão consequência da telegrafia do pensamento, esses choques misteriosos que nos advertem da alegria ou do sofrimento de um ente caro, que se acha longe de nós? Não é a um fenômeno do mesmo gênero que devemos os sentimentos de simpatia ou de repulsão que nos arrastam para certos Espíritos e nos afastam de outros?


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