Sematologia e tiptologia. (1.)
— A psicografia. (2.)
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Os Espíritos podem comunicar-se conosco por diversos meios. Nós os definimos no “Vocabulário Espírita”. Daremos aqui, sobre cada um, as explicações necessárias à prática.
1. Primitivamente utilizou-se a mesa para este meio de correspondência, unicamente porque é um móvel cômodo, ao redor do qual as pessoas podem colocar-se facilmente e porque foi o primeiro sobre o qual se produziram os movimentos que deram lugar à expressão burlesca de dança das mesas. Mas importa saber que uma mesa não exerce maior influência nesse processo do que um outro móvel ou objeto qualquer. Vamos tomar o fenômeno em seu ponto de vista mais simples.
Se uma pessoa coloca a extremidade dos dedos na borda de um objeto circular, móvel, como uma taça, um prato, um chapéu, um copo, etc., e, nesta situação concentra a vontade sobre esse objeto para fazê-lo mover-se, pode acontecer que ele se agite com um movimento rotatório, a princípio lento, depois cada vez mais rápido, a ponto de ter-se dificuldade em segui-lo. O objeto girará, quer para a direita, quer para a esquerda, conforme a direção indicada pela pessoa, verbal ou mentalmente. Uma vez estabelecida a comunicação fluídica entre a pessoa e o objeto, esta pode produzir o movimento sem contato, atuando apenas pelo pensamento. Dissemos que isto pode acontecer porque, com efeito, não há certeza absoluta de sucesso. Certas pessoas são dotadas, a este respeito, de um poder tal, que o movimento se produz ao cabo de alguns segundos; outras só o obtêm depois de cinco ou dez minutos; outras, enfim, nada obtêm. Afora a experiência, não há diagnóstico que possa fazer reconhecer a aptidão para produzir este fenômeno. A força física nenhuma influência exerce nisto, muitas vezes as pessoas frágeis e delicadas o obtêm com mais frequência do que os homens vigorosos. E um ensaio que cada um pode fazer sem qualquer perigo, embora daí resulte, algumas vezes, uma fadiga muscular bastante intensa e uma espécie de agitação febril.
Se a pessoa é dotada de poder suficiente, será capaz, por si só, de fazer girar uma mesa leve e, algumas vezes, consegue atuar até mesmo sobre uma mesa pesada e maciça. Mas, para isso, é preciso um poder excepcional.
Para operar com mais segurança sobre uma mesa de certo peso, várias pessoas são postas em seu redor. O número é indiferente. Também não é necessário alternar os sexos, nem estabelecer contato entre os dedos dos assistentes. Basta colocar a extremidade dos dedos sobre a borda da mesa, quer horizontalmente, quer na posição de tocar piano; isto pouco importa. Há, ao contrário, outras condições essenciais mais difíceis de preencher, isto é, a concentração do pensamento de todas as pessoas, com vistas a obter movimento num sentido ou noutro, um recolhimento e um silêncio absolutos e, sobretudo, uma grande paciência. Algumas vezes o movimento se produz em cinco ou dez minutos, mas, com frequência, é preciso resignar-se a esperar meia hora ou mais. Se, depois de uma hora, nada se obtém, é inútil continuar.
Devemos acrescentar que certas pessoas são antipáticas a esse fenômeno e que sua influência negativa pode exercer-se apenas pelo fato de sua presença; outras são completamente neutras. Em geral, quanto menos numerosos são os expectadores, melhor é o resultado, seja porque há menos probabilidade de encontrar antipatias, seja porque o silêncio e o recolhimento são mais fáceis.
O fenômeno é sempre provocado por efeito da aptidão especial de algumas pessoas atuantes, cujo poder se multiplica pelo número. Quando o poder é bastante grande, a mesa não se limita a girar; ela se agita, levanta-se, ergue-se sobre um pé, balança-se como um navio e acaba mesmo por afastar-se do solo sem ponto de apoio.
Uma coisa é notável: seja qual for a inclinação da mesa, os objetos que estão sobre ela aí se mantêm e mesmo um candelabro não corre o mínimo risco. Um fato não menos singular é que, estando inclinada e sustentada sobre um único pé, ela pode oferecer tal resistência que o peso de uma pessoa é insuficiente para abaixá-la.
Quando se chegou a produzir um movimento enérgico, o contato das mãos não é mais necessário e podemos afastar-nos da mesa; ela se dirige à direita, à esquerda, para adiante, para trás, para tal pessoa designada, levanta-se sobre um pé ou sobre outro, conforme a ordem que lhe é dada.
Até aí esses fenômenos não têm nenhum caráter essencialmente inteligente; nem por isso deixam de ser menos curiosos de observar, como produto de uma força desconhecida. Eles são, aliás, capazes de persuadir certas pessoas, que não se deixariam convencer apenas por argumentos filosóficos. É o primeiro passo na ciência espírita que, muito naturalmente, nos conduz aos meios de comunicação.
O mais simples de todos esses meios é, como no homem privado da palavra e da escrita, a linguagem dos sinais. Um Espírito pode comunicar seu pensamento pelo movimento de um objeto qualquer. Conhecemos alguém que se entretém com seu Espírito familiar, o de uma pessoa a quem ele muito se afeiçoara, por meio do primeiro objeto que aparece: uma régua, uma espátula, colocados sobre sua escrivaninha. Ele põe os dedos em cima e depois de ter evocado esse Espírito, a régua se move para a direita ou para a esquerda, para dizer sim ou não, conforme o combinado, indica os números, etc. O mesmo resultado se obtém com uma mesa comum ou com uma mesinha de três pés. Colocados os dedos sobre a borda, quer haja uma ou várias pessoas, e evocado o Espírito, se este se apresenta e julga oportuno revelar-se, a mesa se levanta, se abaixa, se agita e, por esses movimentos para a direita ou para a esquerda, ou de oscilação de pêndulo, ela responde afirmativamente ou negativamente. Por suas sapateadas, ela exprime alegria, impaciência e até mesmo cólera. Por vezes, ela tomba violentamente ou se precipita sobre um dos assistentes, como se tivesse sido impelida por mão invisível, reconhecendo-se, nesses movimentos, a expressão de sentimentos de afeição ou de antipatia.
Um dos nossos amigos encontrava-se certa noite em seu salão, ocupado com manifestações deste gênero. Recebe uma carta; enquanto a lê, a mesinha avança em sua direção, aproxima-se da carta, e isto espontaneamente, sem influência de ninguém. Terminada a leitura, ele vai colocar a carta sobre uma mesa na outra extremidade do salão; a mesinha o segue e lança-se sobre a carta. Disto ele deduziu a presença de um Espírito recém-vindo, simpático ao autor da carta e que queria comunicar-se com ele. Tendo-o interrogado por meio da mesinha de centro, teve a confirmação de suas previsões. E a isto que chamamos sematologia ou linguagem dos sinais.
A tiptologia, ou linguagem por pancadas, oferece mais precisão. Pode-se obtê-la por dois processos muito diversos. O primeiro, que chamamos tiptologia por movimento, consiste em pancadas vibradas pela própria mesa com um de seus pés. Tais pancadas podem responder por sim ou não, conforme o número de batidas convencionadas para exprimir um ou outro. Como é de prever-se, as respostas são muito incompletas, sujeitas a enganos e pouco convincentes para os noviços, porque se pode sempre atribuí-las ao acaso.
A tiptologia íntima é produzida de maneira inteiramente diversa. Não é mais a mesa que bate; ela fica completamente imóvel, mas as pancadas ressoam na própria substância da madeira, da pedra ou de qualquer outro corpo, e, muitas vezes, com força suficiente para serem ouvidas no aposento vizinho. Se se aplica o ouvido ou a mão contra uma parte qualquer da mesa, sente-se que ela vibra dos pés à superfície. Este fenômeno é obtido procedendo-se de modo idêntico ao empregado para fazê-la mover-se, mas com esta diferença: o movimento puro e simples pode ocorrer sem evocação, ao passo que, para se obterem as pancadas, quase sempre é preciso apelar-se a um Espírito.
Reconhece-se nessas pancadas a intervenção de uma inteligência, já que obedecem a um pensamento. Assim, conforme o desejo expresso verbal ou mentalmente, elas mudam de lugar, fazem-se ouvir em direção a tal ou qual pessoa designada, dão voltas ao redor da mesa, são desferidas fortemente ou de maneira leve, imitam o eco, o ruído de uma serra, o do martelo, o do tambor, o das descargas de artilharia, marcando o compasso de uma ária determinada, indicam a hora, o número das pessoas presentes, etc., ou então deixam a mesa e vão se fazer ouvir contra a parede ou contra a porta, nos locais convencionados. Enfim, respondem sim ou não às perguntas que lhes são dirigidas.
Estas experiências constituem antes um objeto de curiosidade, uma vez que não comportam comunicações sérias. Os Espíritos que assim se manifestam são, em geral, de ordem inferior. Os Espíritos sérios também não se prestam a exibições, do mesmo modo que, entre nós, os homens respeitáveis não se prestam aos malabarismos dos saltimbancos. Quando os interrogamos a respeito, eles respondem com esta pergunta: “Entre vós são os homens superiores que fazem dançar os ursos?”
A tiptologia alfabética oferece-nos um meio de correspondência mais fácil e mais completo. Ela consiste na designação das letras do alfabeto por um número de pancadas correspondente à ordem de cada letra, formando-se, desta maneira, palavras e frases. Todavia, este meio, por sua lentidão, tem o grande inconveniente de não se prestar a exposições de certa extensão. Podemos, contudo, abreviá-lo numa porção de casos. Basta, muitas vezes, conhecer as primeiras letras de uma palavra para adivinhar-lhe o fim, e, então não se deixa acabar. Em caso de dúvida, pergunta-se se é a palavra que se supõe, e o Espírito responde sim ou não pelo sinal convencionado.
A tiptologia alfabética pode ser obtida pelos dois meios que acabamos de indicar: as pancadas batidas pela mesa, e as que são ouvidas na substância de um corpo duro. Para as comunicações mais sérias, preferimos o primeiro, por duas razões: uma porque é, de certo modo, mais manejável, estando aptas a ela maior número de pessoas; a outra depende da natureza dos Espíritos. Na tiptologia íntima os Espíritos que se manifestam são, geralmente, os que denominamos batedores: Espíritos levianos, por vezes muito divertidos, mas sempre ignorantes. Podem ser agentes de Espíritos sérios, conforme as circunstâncias, mas atuam na maioria das vezes espontaneamente e por sua própria conta, enquanto a experiência prova que os Espíritos das outras ordens se comunicam de preferência pelo movimento.
Em todo o caso, a tiptologia alfabética é um modo de comunicação de que os Espíritos Superiores se servem a contragosto e somente por falta de melhor recurso. Preferem o que se presta à rapidez do pensamento e, por causa dessa lentidão, que os impacienta, abreviam suas repostas. Eles já acham nossa linguagem lenta demais e, com maior razão, quando o meio aumenta essa lentidão.
2. A ciência espírita progrediu como todas as outras ou mais rapidamente que as outras, pois alguns anos apenas nos separam desses meios primitivos e incompletos, denominados trivialmente mesas falantes, e já nos podemos comunicar com os Espíritos tão fácil e tão rapidamente como os homens o fazem entre si, e isto pelos mesmos meios: a escrita e a palavra. A escrita tem, sobretudo, a vantagem de acusar mais materialmente a intervenção de um poder oculto e deixar traços que se podem conservar, como fazemos com nossa própria correspondência. O primeiro meio empregado foi o das pranchetas ou o das cestas munidas de um lápis; os próprios Espíritos o indicaram. Eis a maneira de proceder.
No começo deste capítulo dissemos que uma pessoa dotada de uma aptidão especial pode imprimir um movimento de rotação a um objeto qualquer. Tomemos, por exemplo, uma cestinha de quinze a vinte centímetros de diâmetro (pouco importa que seja de madeira ou de vime, a substância é indiferente). Se, agora, através do fundo dessa cesta se faz passar um lápis fixado solidamente, com a ponta para fora e para baixo, e se mantém o todo em equilíbrio sobre a ponta do lápis, ele próprio colocado sobre uma folha de papel, ao se pôr os dedos sobre a cesta, esta se moverá. Mas, em vez de girar como um pião, ela fará andar o lápis em diversos sentidos sobre o papel, de maneira a formar, ora traços insignificantes, ora caracteres de escrita. Se é evocado um Espírito e quiser comunicar-se, responderá não mais por sim ou não, mas por palavras e frases completas. Nesta disposição o lápis, chegando à extremidade da linha, não volta sobre si mesmo para começar outra; continua circularmente, de tal sorte que a linha da escrita forma uma espiral e é preciso girar várias vezes o papel para ler o que está escrito. Nem sempre é legível a escrita assim obtida, caso as palavras não estejam separadas; mas o médium, por uma espécie de intuição, a decifra facilmente. Por economia pode-se substituir o papel e o lápis comum por uma ardósia e um lápis do mesmo material. Designaremos esta cesta pelo nome de cesta pião.
Vários outros dispositivos foram imaginados para alcançar o mesmo objetivo. O mais cômodo é o que denominaremos cesta de bico, e que consiste em adaptar sobre a cesta uma haste de madeira inclinada, fazendo saliência de 10 a 15 centímetros de lado, na posição do mastro da proa de um navio. Por um orifício praticado na extremidade desta haste, ou do bico, faz-se passar um lápis bastante comprido para que a ponta repouse sobre o papel. Pondo o médium os dedos sobre a cesta, todo o aparato se agita e o lápis escreve como no caso descrito antes, com a diferença de que a escrita é, em geral, mais legível, as palavras separadas, e as linhas não são mais em espiral, mas se seguem como na escrita ordinária, já que o lápis se transporta, por si mesmo, de uma linha para outra. Obtêm-se, assim, dissertações de várias páginas, tão rapidamente como se se escrevesse com a mão.
Muitas vezes a inteligência que se manifesta atua por outros sinais inequívocos. Chegando ao fim da página, o lápis faz espontaneamente um movimento para vira-la. Se deseja reportar-se a uma passagem precedente, na mesma página ou em outra, procura-a com a ponta do lápis, como alguém faria com os olhos, e depois a sublinha. Se, finalmente, o Espírito quer dirigir-se a um dos assistentes, a ponta da haste de madeira se volta para ele. Para abreviar, ele exprime frequentemente as palavras sim e não, empregando os sinais de afirmação e de negação que nós fazemos com a cabeça. De todos os processos empregados, é este o que faculta à escrita maior variedade, conforme o Espírito que se manifesta e, muitas vezes, numa caligrafia semelhante à que ele tinha em vida, se deixou a Terra há pouco tempo.
Em lugar de cesta, algumas pessoas se servem de uma espécie de mesinha, feita a propósito, de 12 a 15 centímetros de comprimento por 5 a 6 de altura, com três pés, um dos quais prende o lápis. Outras se servem simplesmente de uma prancheta sem pés; em uma das bordas há um orifício para pôr o lápis. Colocada para escrever, ela se acha inclinada e se apoia por um de seus lados sobre o papel. Concebe-se, aliás, que essas disposições nada têm de absoluto. A mais cômoda é a melhor.
Com todos esses aparatos é preciso, quase sempre, a presença de duas pessoas; mas não é necessário que a segunda pessoa seja dotada de faculdade mediúnica; ela serve unicamente para manter o equilíbrio e diminuir a fadiga do médium.
Chamamos psicografia indireta à escrita assim obtida, em oposição à psicografia direta ou escrita obtida pela mão do próprio médium. Para compreender este último processo, é preciso dar-se conta do que se passa nessa operação. O Espírito estranho que se comunica atua sobre o médium; este, sob essa influência, dirige maquinalmente a mão e o braço para escrever, sem ter — pelo menos é o caso mais comum — a menor consciência do que escreve. A mão atua sobre a cesta e a cesta sobre o lápis. Assim, não é a cesta que se torna inteligente; é um mero instrumento dirigido por uma inteligência; na verdade, não passa de um porta-lápis, de um apêndice da mão, um intermediário inerte entre a mão e o lápis. Suprimi este intermediário, colocai o lápis na mão e obtereis o mesmo resultado, com um mecanismo muito mais simples, visto que o médium escreve como o faz nas condições normais. Desse modo, qualquer pessoa que escreve com o auxílio da cesta, prancheta ou outro objeto, pode escrever diretamente. De todos os meios de comunicação é este, sem contestação, o mais simples, o mais fácil e o mais cômodo, já que não exige nenhuma preparação e se presta, como a escrita corrente, a desdobramentos mais extensos. A ele voltaremos quanto tratarmos dos médiuns.
A pneumatografia é a escrita direta dos Espíritos. Quando esse fenômeno surgiu pela primeira vez — ao menos em nosso tempo, pois nada prova que não fosse conhecido na Antiguidade e na Idade Média, como todos os outros gêneros de manifestações - suscitou dúvidas muito naturais. Hoje, contudo, é um fato incontestável. Alguém muito digno de fé nos contou que um cônego amigo de seus pais, de combinação com o abade Faria, obtinha esse gênero de escrita em Paris desde o ano de 1804. O Sr. barão de Guldenstubbé acaba de publicar sobre esse assunto uma obra muito interessante, acompanhada de numerosos autógrafos nesta escrita. De certo modo foi ele quem a pôs em evidência e muitas outras pessoas, segundo afirma, obtiveram os mesmos resultados. Inicialmente colocava-se uma folha de papel e um lápis sobre um túmulo, ao pé de uma estátua ou ao lado do retrato de uma personagem qualquer, e, no dia seguinte, por vezes algumas horas depois, achava-se inscrito sobre o papel um nome, uma sentença, algumas vezes sinais ininteligíveis. É evidente que nem o túmulo, nem a estátua exerciam qualquer influência por si mesmos; eram, simplesmente, um meio de evocação pelo pensamento. Agora, contentamo-nos em pôr o papel, com ou sem lápis, numa gaveta ou numa caixa, que se pode fechar à chave, tomando todas as precauções necessárias para evitar qualquer embuste, e obtém-se o mesmo resultado evocando o Espírito.
Este fenômeno é, sem sombra de dúvida, um dos mais extraordinários entre os apresentados pelas manifestações espíritas, e um dos que atestam de maneira peremptória a intervenção de uma inteligência oculta, mas não pode substituir a psicografia, pelo menos até agora, em virtude dos desenvolvimentos que comportam certos assuntos. Obtém-se, assim, a expressão de um pensamento espontâneo, mas parece prestar-se dificilmente às conversações e à rápida troca de ideias que comporta a outra maneira. Este modo é, aliás, de obtenção mais rara, ao passo que os médiuns escreventes são muito numerosos.
À primeira vista parece difícil dar-se conta de um fato tão anormal. Não está em nossos planos desenvolvê-lo aqui, porquanto, para isto, fora preciso remontar à fonte de outros fenômenos de que ele é consequência. Sua explicação completa se encontra na Revista Espírita, podendo-se chegar, por deduções lógicas, a um resultado muito natural.
Finalmente os Espíritos nos transmitem seu pensamento pela voz de certos médiuns, dotados, para esse fim, de uma faculdade especial. É o que chamamos psicofonia. Esse meio tem todas as vantagens da psicografia pela rapidez e extensão dos assuntos tratados. Agrada sobremodo aos Espíritos Superiores, mas, talvez tenha, para as pessoas que duvidam, o inconveniente de não acusar, de maneira bastante evidente, a intervenção de uma inteligência estranha. Convém, sobretudo, àqueles que, já suficientemente edificados quanto à realidade dos fatos espíritas, deles se servem para a complementação de seus estudos e não necessitam mais aumentar a sua convicção.
Acabamos de esboçar os diferentes meios de comunicação direta com os Espíritos; designamo-los por nomes característicos que abrangem todas as variedades e mesmo todos as nuanças, permitindo assim que entendamos melhor do que com perífrases, que nada têm de definitivo nem de metódico. No início das manifestações, quando se tinha a respeito ideias menos precisas, foram publicados vários escritos com esta designação: Comunicações obtidas por uma cesta, por uma prancheta, por mesas falantes, etc.
Hoje se compreende o quanto todas essas expressões têm de insuficiente ou de errôneo, abstração feita de seu caráter pouco sério. Efetivamente, como acabamos de ver, as mesas, pranchetas e cestas não passam de instrumentos inertes que nada podem comunicar por si mesmos; é como tomar o efeito pela causa, o instrumento pelo princípio; equivaleria a pôr o autor no título de sua obra, que ele a escreveu com uma pena metálica ou com uma pena de ganso. Esses instrumentos, aliás, não são exclusivos. Conhecemos uma pessoa que, em lugar da cesta-pião que descrevemos, servia-se de um funil, no gargalo do qual passava o lápis. Poderíamos obter, então, comunicações de um funil, bem como de uma caçarola ou de uma saladeira. Se elas se dão por meio de pancadas e essas pancadas são batidas por uma cadeira ou por um bastão, não se trata mais de uma mesa falante, mas de uma cadeira ou de um bastão falante. O que importa conhecer não é a natureza do instrumento, mas o modo de obtenção. Se a comunicação se dá pela escrita, seja qual for o porta-lápis, para nós se trata de psicografia; se através de pancadas, trata-se de tiptologia. Tomando o Espiritismo as proporções de uma ciência, ele necessita de uma linguagem científica.