Médiuns de efeitos físicos: Médiuns naturais. (2.)
— Médiuns facultativos. (3.)
— Médiuns escreventes ou psicógrafos. (4.)
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1. Toda pessoa que sente, num grau qualquer, a influência dos Espíritos é, por isso mesmo, médium. Essa faculdade é inerente ao homem e, por conseguinte, não é um privilégio exclusivo. Por isso mesmo, raros são os indivíduos que dela não possuem alguns rudimentos. Pode-se, pois, dizer que todos são, mais ou menos, médiuns. Todavia, usualmente, esta qualificação só se aplica àqueles cuja faculdade mediúnica se mostra bem caracterizada e se traduz por efeitos patentes, de certa intensidade, o que depende então de uma organização mais ou menos sensitiva. É de notar-se, além disso, que essa faculdade não se revela em todas as pessoas da mesma maneira. Geralmente os médiuns têm uma aptidão especial para esta ou aquela ordem de fenômenos, donde resulta que formam tantas variedades, quantas são as espécies de manifestações. (V. Médiuns no “Vocabulário Espírita”.) Vamos entrar em alguns detalhes a respeito das que podem prestar-se a considerações essenciais.
Médiuns naturais e médiuns facultativos.
2. Os médiuns de efeitos físicos são aqueles que têm aptidão especial para a produção de fenômenos materiais. É nesta classe que se encontram principalmente os médiuns naturais, aqueles cuja influência se exerce a seu mau grado. Não têm a menor consciência do poder que possuem e, muitas vezes, o que de anormal se passa em volta deles não lhes parece, de modo algum, extraordinário. Isso faz parte deles mesmos, absolutamente como as pessoas dotadas de dupla vista e que não o suspeitam. Esses indivíduos são muito dignos de observação e ninguém deve descurar-se de recolher e estudar os fatos deste gênero que lhe chegarem ao conhecimento. Manifestam-se em todas as idades e, com grande frequência, em crianças ainda muito novas.
Essa faculdade não constitui, em si mesma, indício de um estado patológico, porquanto não é incompatível com uma saúde perfeita. Se sofre aquele que a possui, esse sofrimento é devido a uma causa estranha, razão por que os meios terapêuticos são impotentes para fazê-la cessar. Em alguns casos pode ser consecutiva a uma fraqueza orgânica, porém, nunca é causa eficiente. Do ponto de vista higiênico não seria, pois, razoável preocupar-se com ela. Só poderia acarretar inconveniente se, depois de se haver tornado médium facultativo, abusasse dela, pois que, então, haveria por parte dele emissão demasiadamente abundante de fluido vital e, por conseguinte, enfraquecimento dos órgãos.
É preciso precaver-se sobretudo contra qualquer experimentação física, sempre nociva às organizações sensitivas; aí está o perigo, podendo resultar graves desordens à economia orgânica [leia-se: no organismo]. A razão se revolta à ideia das torturas morais e corporais às quais têm sido submetidos, algumas vezes, seres fracos e delicados, com vistas a assegurar-se de que não cometiam fraudes. Fazer tais provas é brincar com a vida. O experimentador de boa-fé não tem necessidade do emprego desses meios. Aquele que está familiarizado com essas espécies de fenômenos sabe, aliás, que eles pertencem mais à ordem moral do que à ordem física e que inutilmente se procuraria a solução deles em nossas ciências exatas.
Por isso mesmo que esses fenômenos são de ordem moral, deve-se evitar com cuidado não menos escrupuloso tudo o que possa superexcitar a imaginação. Sabe-se de quantos acidentes o medo pode ocasionar e muito menos acidentes se cometeriam se se conhecessem todos os casos de loucura e de epilepsia, que têm sua fonte nos contos de lobisomens e bichos-papões. Que não sucederá, então, se as pessoas se convencerem de que o agente gerador de tais fenômenos é o diabo? Os que acreditam em semelhantes ideias não sabem a responsabilidade que assumem: podem matar. Ora, o perigo não existe apenas para o indivíduo, mas também para os que o cercam e que podem ficar aterrorizados, ao pensarem que a casa onde moram é um covil de demônios. Foi esta crença funesta que causou tantos atos de atrocidade nos tempos de ignorância. Entretanto, com um pouco mais de discernimento, teriam concluído que, queimando corpos supostamente possuídos pelo diabo, não queimavam o diabo. Visto que do diabo é que queriam livrar-se, a ele é que era preciso matassem. Esclarecendo-nos sobre a verdadeira causa de todos esses fenômenos, a Doutrina Espírita lhe dá o golpe de misericórdia. Longe, pois, de fazer nascer esse pensamento, todos devem, e este é um dever de moralidade e de humanidade, combatê-lo onde exista.
O que se deve fazer quando semelhante faculdade se desenvolve espontaneamente num indivíduo, é deixar o fenômeno seguir o seu curso natural: a Natureza é mais prudente do que os homens. Por outro lado, a Providência tem seus propósitos, e o mais pequenino dos seres pode servir de instrumento aos mais altos desígnios. Forçoso é convir, no entanto, que por vezes esse fenômeno assume proporções fatigantes e importantes para toda gente. Eis, então, em todos os casos, o que importa fazer. n
Partindo do princípio de que as manifestações físicas espontâneas têm por fim chamar a nossa atenção sobre alguma coisa, é preciso procurar conhecer esse objetivo e, para isto, há que se interrogar o Ser invisível que deseja comunicar-se. A tal respeito já demos uma explicação no capítulo das manifestações. Ele pode querer algo para si mesmo ou para a pessoa por meio da qual se manifesta. Como já dissemos, é provável que o Espírito desista de suas visitas, caso seja atendido. Eis, de resto, outro meio baseado, como o precedente, na observação dos fatos.
Os seres invisíveis, que revelam sua presença por efeitos sensíveis, são, em geral, Espíritos de ordem inferior e que podem ser dominados pelo ascendente moral. É a aquisição deste ascendente que se deve buscar. Longe, pois, de nos mostrarmos submissos a seus caprichos, é preciso opor-lhes a vontade e constrangê-los a obedecer, o que não impede que se condescenda com todos os pedidos justos e legítimos que possam fazer. Aliás, tudo depende da natureza do Espírito que se comunica; ele pode ser inferior, mas benévolo, e vir com boa intenção. É disto que nos devemos certificar, o que se reconhecerá facilmente pela natureza das comunicações. Mas não lhe pergunteis se é um Espírito bom; qualquer que seja, a resposta é certa. Seria como perguntar a um larápio se é um homem honesto.
Para alcançar este ascendente, faz-se necessário que o indivíduo passe do estado de médium natural ao de médium facultativo. Produz-se, então, efeito análogo ao que se dá no sonambulismo. Como se sabe, o sonambulismo natural cessa geralmente, quando substituído pelo sonambulismo magnético. Não se detém a faculdade emancipadora da alma; dá-se-lhe outro rumo. O mesmo acontece com a faculdade mediúnica. Para isso, em vez de entravar os fenômenos, o que raramente se consegue e nem sempre sem perigo, é preciso concitar o médium a produzi-los à sua vontade, impondo-se ao Espírito. Por esse meio consegue o médium controlá-lo e, de um dominador por vezes tirânico, faz um ser submisso e muitas vezes dócil. Fato digno de nota e justificado pela experiência é que, em semelhante caso, uma criança tem tanta e, algumas vezes, mais autoridade do que um adulto, nova prova a favor deste ponto capital da Doutrina, a de que o Espírito só é criança pelo corpo; que tem por si mesmo um desenvolvimento necessariamente anterior à sua encarnação atual, desenvolvimento que lhe pode dar ascendente sobre Espíritos que lhe são inferiores.
3. Os médiuns facultativos são aqueles que têm consciência de seu poder e produzem fenômenos espíritas por ação da vontade. Esta faculdade, se bem que inerente à espécie humana, está longe, como já dissemos, de existir em todos no mesmo grau. Mas, se são poucas as pessoas nas quais ela é praticamente nula, as que são capazes de produzir os grandes efeitos, tais como a suspensão de corpos no espaço, a translação aérea e, sobretudo, as aparições, são ainda mais raras. Os efeitos mais simples são os da rotação de um objeto, os das pancadas vibradas pelo levantamento desse objeto ou em sua própria substância. Sem ligar importância capital a esses fenômenos, concitamos a que não sejam desprezados; eles podem dar lugar a observações interessantes e auxiliar a convicção. n Mas é de notar-se que a faculdade de produzir efeitos materiais raramente existe naqueles que têm meios mais perfeitos de comunicação, por exemplo, a escrita ou a palavra. Geralmente ela diminui em um sentido, à medida que se desenvolve no outro.
4. De todos meios de comunicação, a escrita é o mais simples, o mais cômodo e, sobretudo, o mais completo. Para ela devem convergir todos os esforços, porquanto permite que se estabeleçam com os Espíritos relações tão continuadas e regulares, como as que existem entre nós. A esse processo nos devemos ligar com tanto mais afinco, quanto é por ele que os Espíritos revelam melhor sua natureza e o grau de sua perfeição, ou da sua inferioridade. Pela facilidade que encontram em exprimir-se, eles nos revelam os seus mais íntimos pensamentos e nos põem, assim, em condições de julgá-los e apreciar-lhes o valor. Para o médium, a faculdade de escrever é, além disso, a mais susceptível de desenvolver-se pelo exercício.
No capítulo em que tratamos das diversas modalidades de comunicação, explicamos as diferentes maneiras pelas quais se obtém a escrita. Vimos que a cesta e a prancheta não passam de apêndices da mão: é um porta-lápis mais comprido, eis tudo. Chegar-se-ia ao mesmo resultado colocando o lápis na ponta de um bastão. Esses aparatos têm a vantagem de oferecer uma escrita mais característica do que a obtida com a mão, mas têm o inconveniente de exigir, quase sempre, a colaboração de uma segunda pessoa, o que pode ser incômodo. Por isso aconselhamos aos interessados a que se apliquem, de preferência, à escrita imediata. O processo é dos mais simples. Consiste unicamente em pegar papel e lápis e pôr-se, sem outra preocupação, na posição de uma pessoa que escreve; mas, para alcançar bom êxito, são indispensáveis várias recomendações.
Como, afinal, é pela influência de um Espírito que se escreve, este Espírito não virá se não for chamado. É, pois, necessário evocá-lo pelo pensamento e pedir-lhe, em nome de Deus, que se digne comunicar-se. Não é necessário empregar-se nenhuma fórmula sacramental. Quem pretenda utilizar-se de uma, corre o risco de ser chamado de charlatão: o pensamento é tudo, a forma nada é. Deve-se chamar um Espírito que seja simpático, e isto por duas razões: uma é que ele virá de bom grado, se nos é afeiçoado; outra porque, em razão dessa afeição, ele estará mais disposto a secundar nossos esforços para comunicar-se conosco. De preferência, portanto, será um parente ou um amigo. Mas pode acontecer que esse parente ou esse amigo esteja numa posição que não possa atender ao nosso apelo ou que não tenha poder suficiente para nos fazer escrever. Eis por que é sempre útil evocar também o seu Espírito familiar, seja ele quem for, sem que seja preciso saber-lhe o nome, uma vez que está sempre conosco; então, de duas uma: ou ele responde, ou vai procurar outro; de qualquer forma, presta seu apoio.
Um aspecto desprezado por quase todos os principiantes diz respeito à pergunta. É evidente que o Espírito evocado não pode responder, se nada lhe perguntam. Poderia, sem dúvida, dizer espontaneamente qualquer coisa, como acontece a todo instante com os médiuns experimentados; mas com o que ainda está começando, o Espírito tem que vencer uma primeira dificuldade mecânica; é preciso, pois, simplificá-lo tanto quanto possível e é este o efeito produzido por uma pergunta que suscita uma resposta precisa. Para começar, cuidar-se-á de formular a pergunta de tal maneira que a resposta seja simplesmente sim ou não. Mais tarde, esta precaução se torna inútil. Não é indiferente a natureza da pergunta; por si mesma, não é preciso que ela tenha uma importância real. Ao contrário, quanto mais simples, melhor. Não se trata, no princípio, senão de estabelecer uma comunicação; o essencial é que ela não seja fútil, que não se reporte a assuntos de interesse privado e, sobretudo, que seja a expressão de um sentimento benevolente e simpático para com o Espírito ao qual nos dirigimos.
Uma coisa não menos essencial é a calma e o recolhimento, aliados ao desejo ardente e à vontade firme de obter a comunicação espiritual. E, por vontade, não entendemos aqui um sentimento efêmero, que atua por espasmos e que é, a cada minuto, interrompido por outras preocupações, mas uma vontade paciente, perseverante, sustentada pela prece que se dirige ao Espírito evocado. O recolhimento é favorecido pela solidão, pelo silêncio e pelo distanciamento de tudo quanto possa causar distrações. Só resta, então, uma coisa a fazer: esperar sem impaciência e repetir diariamente as tentativas, durante dez minutos ou um quarto de hora, no máximo, de cada vez, e isto durante quinze dias, um mês, dois meses e mais, se preciso for. Foi por essa razão que dissemos que era preciso uma vontade paciente e perseverante; também foi por isso que os Espíritos consultados sobre a aptidão de tal ou qual pessoa quase sempre têm dito: “Com vontade conseguireis”. É, pois, possível que se consiga a comunicação da primeira vez, como é possível também que se precise esperar um tempo mais ou menos longo. Mas, em todos os casos, se ao fim de três meses não se obtém absolutamente nada, será quase inútil continuar.
É de notar-se que os Espíritos, quando interrogados sobre a questão de saber se uma pessoa é ou não médium, quase sempre respondem afirmativamente, o que não impede que os ensaios mediúnicos sejam, muitas vezes, infrutíferos. Isto se explica naturalmente. Fazendo-se ao Espírito uma pergunta geral, ele responde de maneira geral. Ora, como é sabido, nada é mais elástico do que a faculdade mediúnica, desde que pode apresentar-se sobre as mais variadas formas e graus muito diferentes. Alguém pode ser médium sem disto dar-se conta e num sentido diverso daquele que pensamos. A esta pergunta vaga: Sou médium? o Espírito pode responder sim; a esta outra mais precisa: Sou médium escrevente? ele pode responder não. É preciso levar em conta, também, a natureza do Espírito que se interroga. Há-os tão levianos e ignorantes, que respondem a torto e a direito, como verdadeiros estouvados.
Um meio que geralmente dá bom resultado, quer por ativar o resultado, quer mesmo para fazer uma pessoa escrever, que, sem isto, não o conseguiria, consiste em empregar, como auxiliar momentâneo, um bom médium escrevente ou outro já desenvolvido. Se ele põe a mão ou seus dedos sobre a mão que deve escrever, é raro que esta não o faça imediatamente. Compreende-se o que se passa nesta circunstância: a mão que segura o lápis se torna, de certo modo, um apêndice da mão do médium, como o seriam uma cesta ou uma prancheta; mas isto não impede esse exercício de ser muito útil, quando se pode empregá-lo, pois que, repetido frequente e regularmente, ajuda a superar o obstáculo material e provoca o desenvolvimento da faculdade.
Algumas vezes, basta magnetizar fortemente o braço e a mão da pessoa que quer escrever. Muitas vezes o magnetizador se limita a colocar a mão sobre o ombro do paciente, e vimos este escrever prontamente sob tal influência. O mesmo efeito pode produzir-se também sem contato algum, e apenas pela ação da vontade. Neste caso é preciso secundar os esforços do Espírito, encorajando-o pela palavra. Compreende-se facilmente que a confiança do magnetizador em seu próprio poder deve representar aqui um grande papel, e que um magnetizador incrédulo exerceria pouca ou nenhuma ação.
O poder que permite desenvolver nos outros a faculdade de escrever constitui uma variedade de médiuns a que chamamos médiuns formadores. E, o que talvez pareça estranho, é que essa faculdade existe em pessoas que não escrevem por si mesmas. Seu concurso é, muitas vezes, útil aos principiantes, mesmo em relação àqueles que têm uma aptidão natural. Frequentemente, não se leva em conta pequenas precauções em detrimento da rapidez do progresso realizado, e que um guia experiente faz observar, quer pela disposição material, quer, sobretudo, pela natureza das primeiras perguntas e a maneira de fazê-las. Seu papel é o de um professor, que dispensamos tão logo nos julgamos suficientemente habilitados. n
A fé no aprendiz de médium não é uma condição absoluta. Sem dúvida ela secunda os esforços, mas não é indispensável; bastam o desejo e a boa vontade. Têm-se visto pessoas perfeitamente incrédulas ficarem muito espantadas de escreverem, a seu mau grado, ao passo que crentes sinceros não o conseguem, o que prova que essa faculdade depende de uma disposição orgânica.
Como disposição material recomendamos evitar tudo quanto possa embaraçar o livre movimento da mão. É mesmo preferível que esta não repouse completamente sobre o papel. A ponta do lápis deve apoiar-se suficientemente para escrever, mas não tanto que experimente resistência. Todas essas precauções se tornam inúteis quando se tiver conseguido escrever correntemente, porquanto, então, nenhum obstáculo poderia detê-la; elas são apenas as preliminares do aprendiz.
O primeiro indício de uma disposição para escrever é uma espécie de estremecimento no braço e na mão: pouco a pouco a mão é arrastada por um impulso que não pode dominar. Muitas vezes ela não traça, de início, senão riscos insignificantes; depois os caracteres se desenham cada vez mais claramente e a escrita acaba por adquirir a rapidez da escrita corrente. Em todos os casos, é preciso abandonar a mão a seu movimento natural e não empregar resistência nem propulsão.
A escrita é, algumas vezes, muito legível, as palavras e as letras perfeitamente destacadas; mas, com certos médiuns, é difícil de ser decifrada, a não ser pela pessoa que escreve: é preciso adquirir o hábito. De modo geral é constituída por grandes traços; algumas palavras enchem, por vezes, uma página inteira. Os Espíritos não economizam papel. Quando uma palavra ou uma frase é pouco legível, pede-se ao Espírito que recomece, o que ele, geralmente, faz de bom grado. Quando a escrita é ilegível, mesmo para o médium, este consegue, quase sempre, obter outra mais correta por meio de exercícios frequentes e regulares, empregando nisto uma forte vontade e rogando com ardor ao Espírito que seja mais inteligível. Se for nossa intenção conservar as respostas, é bom transcrevê-las imediatamente, assim como as perguntas, enquanto as temos na memória, porque, mais tarde, isso se tornaria praticamente impossível. Alguns Espíritos, antes de começar uma resposta, fazem a mão executar diversas evoluções e traçam uma porção de riscos insignificantes. Dizem que é para se exercitarem, soltarem a mão ou estabelecerem o contato; por vezes são emblemas, alegorias, cuja explicação eles dão em seguida. Muitas vezes adotam sinais convencionais para exprimir certas ideias, que entram em uso nas reuniões habituais. Para demonstrarem que uma pergunta lhes desagrada e que não querem respondê-la, farão, por exemplo, um grande traço ou algo equivalente.
Quando o Espírito acabou o que tinha de dizer, ou não quer mais responder, a mão fica imóvel e o médium, seja qual for seu poder, sua vontade, é incapaz de obter mais uma palavra; é sinal de que o Espírito se retirou. Ao contrário, enquanto este não tiver acabado, o lápis caminha sem que seja possível à mão deter-se. Se ele quer dizer espontaneamente alguma coisa, a mão agarra convulsivamente o lápis sem poder opor-se a isto.
Tais são as explicações mais essenciais que temos a dar no que concerne ao desenvolvimento da psicografia. A experiência fará conhecer com a prática certos detalhes, que seria inútil relatar aqui, e para os quais servirão de guia os princípios gerais. Se muitos experimentarem, quase não se encontrará família que não tenha um médium escrevente entre os seus, mesmo que seja uma criança.
Quem quer que tenha recebido o dom de escrever com facilidade, sob a influência dos Espíritos, possui uma faculdade preciosa, pois se torna o intérprete entre o mundo visível e o mundo invisível; é, muitas vezes, uma missão que recebe para o bem, mas da qual não deve tirar vantagem, porquanto essa faculdade lhe pode ser retirada se dela fizer mau emprego, ou mesmo voltar-se contra ele, passando a escrever coisas más e só tendo à sua disposição Espíritos maus.
Aquele que, a despeito de seus esforços e de sua perseverança, não consegue possuí-la, não deve disso tirar nenhuma conclusão desfavorável contra si mesmo: é que sua organização física não se presta a isso, mas não fica, por esse motivo, deserdado das comunicações espíritas. Se não as recebe diretamente, pode obtê-las, tão belas e tão boas, através de um intermediário. Em compensação, pode, aliás, ter outras faculdades não menos úteis. Quase sempre, a privação de um sentido é compensada por outro sentido mais desenvolvido.
[1] Um dos fatos mais extraordinários desta natureza, pela variedade e singularidade dos fenômenos, é, sem contestação, o que ocorreu em 1852, no Palatinado (Baviera renana), em Bergzabern, perto de Wissembourg. É tanto mais notável porque reúne, no mesmo indivíduo, todos os gêneros de manifestações espontâneas: estrondos de abalar a casa, derribamento dos móveis, arremesso de objetos ao longe por mãos invisíveis, visões e aparições, sonambulismo, êxtase, catalepsia, atração elétrica, gritos e sons aéreos, instrumentos tocando sem contato, comunicações inteligentes, etc. e, o que não é de somenos importância, a comprovação desses fatos, durante quase dois anos, por inúmeras testemunhas oculares dignas de fé por seu saber e posição social. O relato autêntico dos fenômenos foi publicado naquela época em vários jornais alemães, e, especialmente, numa brochura hoje esgotada e raríssima. Na Revista Espírita de 1858 se encontra a tradução completa dessa brochura, com os comentários e explicações necessários. Ao que saibamos, esta é a única publicação francesa que se fez daquela brochura. Além do interesse surpreendente despertado por tais fenômenos, eles são eminentemente instrutivos, do ponto de vista do estudo prático do Espiritismo.
[2] Sua explicação teórica pode ser encontrada na Revista Espírita, números de maio e junho de 1858.
[3] Teremos prazer em dar, pessoalmente e sem qualquer interesse, todas as vezes que isso for possível, conselhos de nossa experiência às pessoas que desejarem se desenvolver como médiuns escreventes, desde que já tenham adquirido, previamente, o conhecimento teórico da ciência espírita, e isto para não termos que lhes ensinar os seus elementos.