Com base no que dizem os próprios Espíritos, quer da tendência deles a apropriar a linguagem às pessoas a quem se dirigem, quer da influência do meio sobre a natureza das comunicações, poder-se-ia perguntar se este livro não é o reflexo do pensamento daquele que o escreveu sob ditado. Algumas palavras responderão a esta questão.
Durante muito tempo o autor foi incrédulo no tocante às comunicações espíritas; teve, porém, que ceder diante da evidência dos fatos. Em segundo lugar, e antes de escrever este livro, ele tinha, sobre numerosos pontos importantes, opiniões diametralmente opostas às que nele se acham expostas, não havendo modificado suas convicções senão em face do ensino que lhe deram os Espíritos. Esse ensino lhe foi ministrado por meio de vários médiuns escreventes e falantes, que diferiam bastante entre si quanto ao caráter e cujos conhecimentos, a respeito de muitas questões, não lhes permitiam ter uma opinião preconcebida. A despeito disso, houve sempre perfeita identidade na teoria que eles transmitiram, completando um deles, muitas vezes e com vários meses de intervalo, a ideia expressa por outro.
Aquilo em que o autor pôde exercer real influência foi o desejo e a vontade de esclarecer-se, a ordem e a sequência metódicas que imprimiu ao trabalho, permitindo assim que os Espíritos lhe dessem um ensinamento completo e regular, como o faria um professor a ensinar uma ciência, seguindo o encadeamento das ideias. Com efeito, são verdadeiras lições que os Espíritos lhe deram durante quase dois anos, marcando-lhe, eles mesmos, dias e horas para as entrevistas. Sobretudo nas comunicações íntimas e seguidas é que se evidenciam a inteligência e a força oculta que se manifesta, sua individualidade, sua superioridade ou inferioridade.
Vários Espíritos concorreram simultaneamente para estas instruções, às quais assistiam, tomando alternadamente a palavra, falando um em nome de todos. Entre os que animaram personagens conhecidas, citaremos: João Evangelista, Sócrates, Fénelon, São Vicente de Paulo, Hahnemann, Franklin, Swedenborg, Napoleão I; outros habitam Esferas mais elevadas e, ou nunca viveram na Terra, ou aqui só apareceram em tempos imemoriais. Concebe-se que de tal reunião só podiam sair palavras graves, cheias de sabedoria; e esta sabedoria jamais se desmentiu um só momento, e nunca uma palavra equívoca e inconveniente lhe maculou a pureza.
ALLAN KARDEC