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 EPM — Estudo e Prática da Mediunidade

PROGRAMA I — MÓDULO DE ESTUDO Nº II
FUNDAMENTAÇÃO ESPÍRITA — A PRÁTICA MEDIÚNICA

Roteiro 3


Transes Psíquicos


 

Objetivos específicos: Definir transe. — Classificar transe quanto ao grau, duração e tipo.



SUBSÍDIOS


1. DEFINIÇÃO DE TRANSE


A palavra transe é genericamente entendida como qualquer alteração no estado de consciência. Etimologicamente, no entanto, significa momento crítico, crise, lance (Dic. Contemporâneo da Língua Portuguesa, Caldas Aulete.) É um estado especial, entre a vigília e o sono, que de alguma sorte abre as portas da subconsciência […]. (5) O estado de transe não significa a supressão, mas a interiorização da consciência. Mesmo nos estágios mais profundos, “algo” não se extingue e permanece vigilante, à maneira de sistema secundário, mas ainda ativo. (7)


2. GRAUS DO TRANSE


O transe pode ser superficial ou profundo. São dois estados ou graus extremos, devendo haver uma gradação entre um e outro. O transe parcial está situado entre o transe superficial e o profundo. No transe superficial, não há amnésia lacunar, o paciente se recorda de tudo e pode, inclusive, pôr em dúvida o ter permanecido em transe. (8) O transe profundo ou sonambulismo é caracterizado pela extrema sugestibilidade e amnésia lacunar. (8)

Como no transe profundo a pessoa fica, em geral, inconsciente, alguns estudiosos julgam que ela entra em sono magnético ou hipnótico. (4) Nessas condições, o corpo fluídico exterioriza-se, desprende-se do corpo carnal, e a alma fica livre, ou emancipada. Naturalmente, não ocorre a separação absoluta, o que causaria a morte. No entanto, um laço invisível continua a prender a alma ao seu invólucro terrestre. Semelhante ao fio telefônico que assegura a transmissão entre dois pontos, esse laço fluídico permite à alma transmitir suas impressões pelos órgãos do corpo adormecido. (13) Outros estudiosos, porém, entendem que o transe não é um estado de sono, independente de ser superficial ou profundo, natural ou sob ação magnética. A dificuldade em associar o transe ao sono é o fato de a consciência não estar preservada neste último. (6) No transe, há preservação da consciência. Mesmo no transe provocado por hipnose, não há como confundi-lo com o sono, sobretudo se o hipnotizador ordenar ao hipnotizado que haja normalmente, como se estivesse acordado. (7) Acrescentamos que estudos eletroencefalográficos assinalam diferenças entre a atividade elétrica do cérebro na hipnose (transe) e no sono, (7) mostrando, portanto, que são fenômenos distintos, apesar de semelhantes.


3. DURAÇÃO DO TRANSE


(…) Pode ser fugaz e imperceptível para os circunstantes — um súbito mergulho no inconsciente — ou prolongado, com visíveis alterações do estado psíquico. (8)


4. MECANISMOS DO TRANSE


O mecanismo básico do transe consiste, possivelmente, numa onda inibitória que “varre” a superfície cerebral. (9) O transe pode colocar o indivíduo em contato mais íntimo consigo mesmo, com a sua personalidade integral subconsciente. (9) Não é muito fácil compreender o mecanismo básico do transe. Sabe-se, por exemplo, que sob qualquer forma e grau em que se manifeste, há sempre um conteúdo anímico da pessoa que está sob a sua ação. É o que ocorre quando o transe é de origem mediúnica. Mesmo quando o médium entra em transe profundo, não se recordando depois do conteúdo da mensagem espírita que ele transmitiu, percebe- se que o Espírito comunicante retira dos arquivos mentais do seu intermediário encarnado os elementos necessários para produzir a comunicação. A dificuldade está em entender de que forma o Espírito tem acesso aos arquivos da memória. Como tudo ocorre em nível mental, seja do Espírito comunicante, seja do médium, apenas hipóteses podem ser lançadas sobre a ocorrência do fenômeno. Esse acesso que os Espíritos fazem ao inconsciente do médium, naturalmente com permissão deste, é claramente observado nas comunicações mediúnicas em línguas estrangeiras, línguas em que, muitas vezes, o médium não sabe se expressar, na atual encarnação.


5. TIPOS DE TRANSE


Para fins do nosso estudo, vamos classificá-lo em três tipos:

a) transe patológico;

b) transe espontâneo;

c) transe provocado.

d) transe químico

No transe patológico, o fator mórbido atua como desencadeante. Traumatismos, particularmente crânio-encefálicos, estado de coma, delírio febril, período pré-agônico são algumas condições [situações] em que, suprimidas ou modificadas as relações normais com o mundo exterior, surge eventualmente o transe […]. (10) O caso mais elementar ocorre no chamado estado crepuscular dos epilépticos e histéricos. O indivíduo tem a crise convulsiva e depois fica longo tempo como que abobado ou desligado, falando coisas sem nexo, sem noção de espaço e tempo. (15) Os transes espontâneos ocorrem em pessoas naturalmente predispostas: médiuns e sonâmbulos. (16) As principais formas do transe provocado são: o hipnótico, o mediúnico, o anímico e o químico.


a) O transe hipnótico é uma variante do processo do sono. É um sono experimental, provocado, conduzido, que caminha e se aprofunda dentro dos mesmos processos do sono normal […]. (17)

A inibição ou bloqueio da atividade cerebral, no hipnotismo, leva a pessoa a dormir. No hipnotismo, usando-se, por exemplo, estímulos luminosos repetidos, os quais cansam a zona cerebral da visão, (17) produz-se uma área de inibição da atividade consciente da pessoa que está sendo hipnotizada e, então, ela entra em transe. (17) Isto tudo dentro da relatividade que existe em todos os fatos da Natureza, porque embora a técnica do sono seja a mais corrente, existe o hipnotismo vígil, em que o “sujet” obedece às sugestões, plenamente acordado — o hipnotizador não pronuncia a palavra sono, ou equivalente, ao levá-lo à hipnose. (11) Na hipnose, o hipnotizador usa da sugestão magnética, com auxílio de objetos (pêndulo, diapasão, focos luminosos, etc.). O paciente é chamado de “sujet” (sujeito, indivíduo, ser.) A sugestão consiste, afinal, em inocular na subconsciência de outrem uma representação, um sentimento, um impulso, que lhe escapa ao crivo racional e se cumpre automaticamente, desde que não se colida com seus princípios morais. Se o indivíduo sugestiona a si próprio, trata-se de autossugestão; se outro lhe sugere algo, dir-se-á hetero-sugestão. (12)

O fenômeno hipnótico é conhecido desde a Antiguidade. O Egito faraônico, através dos seus sacerdotes, que pesquisavam os mais variados fenômenos psíquicos com os recursos de que dispunham, dedicou diversos templos ao sono, nos quais se realizavam as experiências hipnológicas de expressivos resultados. Os taumaturgos caldeus praticavam-no com finalidades terapêuticas […]. Deve-se, porém, a Frederico Antônio Mesmer o grande impulso que o trouxe aos tempos modernos. Todavia, merece considerado que Paracelso, autor do conceito e teoria do fluido, anteriormente já se interessara por experiências magnéticas, que seriam posteriormente desdobradas por Mesmer. Considerava Mesmer o fluido como sendo «o meio de uma influência mútua entre os corpos celestes, a Terra e os astros», afirmando que esse fluido se encontra em toda parte e enche todos os espaços vazios, possuindo a propriedade de «receber, propagar e comunicar todas as impressões do movimento.» (14)

O cirurgião inglês James Braid foi quem introduziu a palavra hipnotismo, em substituição a magnetismo.


b) O transe mediúnico, provocado por um Espírito, oferece gradações, ora relacionadas ao gênero da mediunidade (na sonambúlica e na materialização, por exemplo, o transe é mais profundo), ora em decorrência da ação espiritual, isto é, há Espíritos cuja manifestação induz a transes mais profundos ou, ao contrário, mais superficiais. Na categoria de médiuns escreventes, por exemplo, há os médiuns mecânicos. O que caracteriza esse fenômeno é que o médium não tem a menor consciência do que escreve. (1) Os médiuns intuitivos têm consciência do que escreve, embora não exprima o seu próprio pensamento. (2) E existe, também, o médium semimecânico que participa de ambos os gêneros. Sente que à sua mão uma impulsão é dada, mau grado seu, mas, ao mesmo tempo, tem consciência do que escreve, à medida que as palavras se formam. No primeiro o pensamento vem depois do ato da escrita; no segundo, precede-o; no terceiro, acompanha-o. (3)


c) O transe anímico, ou sonambúlico, é provocado pela própria pessoa ao se desligar parcialmente do corpo físico. Este tipo de transe favorece a manifestação dos fenômenos de emancipação da alma, tais como: bicorporeidade, dupla vista, êxtase, catalepsia, letargia, sonambulismo, transfiguração etc.


d) O transe químico é o produzido pela ação de substâncias químicas.

Desde a Antiguidade recorreu-se ao uso de certas drogas, durante os rituais religiosos. No Brasil, o álcool é usado, associado ao transe, em alguns cultos africanistas, cultos esses que fazem parte do «continuum mediúnico.» Os mexicanos usavam o cactus sagrado, o mescal.  †  Os indianos consumiam o «soma», bebida inebriante. […] (18) Há, ainda, o transe provocado por narcóticos, psicotrópicos, excitantes, que levam a pessoa a estados de transe, conforme a dosagem e o tipo de substância utilizada. [Vide também a bebida Ayahuasca  †  utilizado nos cultos do Santo Daime]  † 


O quadro, a seguir, apresenta uma sinopse deste assunto:


 TRANSE 


CONCEITO

Estado psicofisiológico do médium sob ação de um Espírito

Estado de alteração da consciência com imersão no subconsciente

Estado situado entre a vigília e o sono

GRAU

Superficial — Breve ou prolongado

Profundo — Breve ou prolongado

Parcial — Intermediário

CLASSIFICAÇÃO

Patológico — Por doenças físicas e/ou psicológicas

Natural

Mediúnico ou anímico — Predisposição hereditária/congênita

Induzido — Por hipnose e/ou substâncias químicas

Provocado




GLOSSÁRIO

Aideico (ou Anideísmo) — Incapacidade de associar ideias, em virtude de perturbações da memória e da atenção.

Amnésia lacunar — Lacunas limitadas da memória. Estas limitações podem referir-se a fatos, situações ou acontecimentos vividos, ou a um lapso de tempo (a pessoa perderia a noção de tempo, hora ou períodos específicos). Perda da memória para eventos temporários. (*)  † 

Congênito — Diz respeito a uma marca, sinal ou defeito existente no indivíduo desde o seu nascimento. Pode ser herdado, ou não, dos pais ou ascendentes. É importante assinalar que o médium traz disposição orgânica congênita para o exercício mediúnico.

Consciência — Ou consciente, representa o psiquismo de superfície com as costumeiras ações intelectivas do nosso dia a dia (Jorge Andréa - Visão Espírita das Distonias Mentais). Parte moral e autocrítica de si mesmo, onde existem os padrões de conduta e juízos de realizações e valor.  † 

Estado crepuscular — Refere-se a um estreitamento transitório da consciência, seguido ou não de alucinações. A pessoa pode praticar atos não habituais, incompreensíveis, agressivos ou não; pode perambular ao léu, sem se dar conta. É um estado que pode ser breve ou durar dias, mas seguido de amnésia. É comum nos epilépticos e histéricos. O estado crepuscular pode também ser entendido como o de semi-inconsciência, que precede o sono. (*)

Excitantes — Substância, medicamentos que têm ação estimulante, isto é, que agem no organismo produzindo exacerbação das funções vitais. Por exemplo: taquicardia (aumento do ritmo cardíaco). Agente que estimula a atividade de um órgão.

Hereditário — Diz respeito à herança de caracteres que os filhos ou os descendentes herdam de seus pais ou ascendentes. A herança genética pode ou não se manifestar congenitamente. Há uma certa tendência hereditária para a manifestação da faculdade mediúnica. Psicógrafos, por exemplo, são comuns numa mesma família.

Inconsciente — Ou subconsciente, é a parte da mente, ou da personalidade, fora do campo imediato da consciência. Em psiquiatria, corresponde à conduta ou às experiências não governadas pelo ego consciente. É a zona da mente espiritual onde se encontram os arquivos e as potencialidades totais do ser. (Jorge Andréa - Visão Espírita nas Distonias Mentais).  † 

Mórbido — Que causa doença; relativo à doença. O fator mórbido é a causa ou o agente da doença. Mórbido pode ser entendido também como fator patológico, anormal ou insalubre.

MetagnomoMeta: além, acima; gnome: conhecimento, inteligência. Diz-se de pessoas que possuem a capacidade de apossar-se de conhecimento fora do alcance da sua inteligência. São os médiuns ou indivíduos paranormais, que captam as ideias dos Espíritos, em nível acima do seu conhecimento consciente.

Narcóticos — Substâncias que provocam a narcose; que fazem dormir. Qualquer droga que entorpece os sentidos induz ao sono, reduz a sensibilidade, combate a dor e pode levar à dependência.  † 

Psicotrópicos — Substâncias medicamentosas que agem sobre o psiquismo, produzindo efeito calmante ou estimulante.  † 

Taumaturgos — Diz-se de pessoas que fazem milagres, ou fatos considerados excepcionais, maravilhosos, fora do comum, sobrenaturais. Os médiuns e os magnetizadores (hipnotizadores) já foram chamados de taumaturgos.

Vígil / vigília — Que vela; que está acordado; vigilante; consciente, em estado alerta.

(*) Dicionário Médico BLAKISTON. Organização André Editora Ltda. São Paulo, SP.



Referências Bibliográficas:

1. KARDEC, Allan. Médiuns Mecânicos. O Livro dos Médiuns. Tradução de Guillon Ribeiro. 73. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Capítulo XV, item 179, p.222.

2. Idem, ibidem - Item 180, p. 222-223.

3. Idem, ibidem - Item 181, p. 223-224.

4. AKSAKOF, Alexandre. Um Caso de Desmaterialização. Tradução de João Lourenço de Souza. 4. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1994. Capítulo V (História das Aparições de Katie King), item: Primeiras aparições de Katie King, p. 112.

5. CERVIÑO, Jayme. Além do Inconsciente. 4. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1996, p. 17 (O Transe).

6. Idem, ibidem - p. 19.

7. Idem, ibidem - p. 20.

8. Idem, ibidem - p. 21.

9. Idem, ibidem - p. 22-23.

10. Idem, ibidem - p. 23.

11. Idem, ibidem - p. 24.

12. Idem, ibidem - p. 25.

13. DENIS, Léon. No Invisível. Tradução de Leopoldo Cirne. 22. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Segunda parte (O Espiritismo Experimental: os fatos), Capítulo XIX (Transes e incorporações). p. 249.

14. FRANCO, Divaldo Pereira. Nos Bastidores da Obsessão. Pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda. 10. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Capítulo 4 (Estudando o hipnotismo), p. 89.

15. LEX, Ary. Do Sistema Nervoso à Mediunidade. São Paulo: FEESP, 1993, p. 77-78 (Formas de transe).

16. Idem, ibidem - p. 78.

17. Idem, ibidem - p. 79.

18. Idem, ibidem - p. 81.


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