Roteiro 31
Moral e Ética
Objetivos:
» Explicar a abrangência da Teoria dos valores e sua evolução histórica.
» Analisar o significado de moral e de ética segundo o pensamento filosófico e o espírita.
» Relacionar os resultados da revolução ética e moral, ora em andamento na humanidade terrestre.
IDEIAS PRINCIPAIS
-
A teoria dos valores, ou axiologia, † indica o quanto vale algo ou alguém. Iniciada por Platão quando investigava as manifestações do Bem, essa Teoria sofreu amplo desenvolvimento ao longo dos séculos.
-
Moral, † originada da palavra costumes, é um valor universal, aplicado a todo ser humano, em qualquer parte: é o conjunto de valores, individuais e coletivos, considerados universalmente como norteadores das relações sociais e da conduta humana. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.
-
Ética é a ciência da moral […] responsável pela investigação dos princípios que motivam, disciplinam ou orientam o comportamento humano. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.
-
A revolução ética em andamento no Planeta, fundamentada na moral, extrapola os limites territoriais e culturais das nações, permitindo que as sociedades terrestres se organizem em uma só, na forma de aldeia global, porque a […] Humanidade tornada adulta, tem novas necessidades, aspirações mais vastas e mais elevadas […]. Allan Kardec: A Gênese. Capítulo XVIII, item 14.
-
Somente o progresso moral, poderá assegurar a felicidade na Terra, refreando as paixões más […]. Allan Kardec: A Gênese. Capítulo XVIII, item 19.
-
Será ainda o progresso moral, secundado então pelo progresso da inteligência, que confundirá os homens numa mesma crença fundada nas verdades eternas. Allan Kardec: A Gênese. Capítulo XVIII, item 19.
SUBSÍDIOS
A moral e a ética integram um ramo da filosofia denominado Teoria dos Valores, que tem como objeto estudar a natureza dos valores e os juízos valorativos.
Valor é a importância que se dá a algo ou a alguém.
Diante dos seres (sejam eles coisas inertes, seres vivos ou ideias) somos mobilizados pela nossa afetividade, somos afetados de alguma forma por eles, porque nos atraem ou provocam nossa repulsa. Portanto, algo possui valor quando não permite que permaneçamos indiferentes. É nesse sentido que García Morente diz: “os valores não são, mas valem. Uma coisa é valor e outra coisa é ser. Quando dizemos de algo que vale, não dizemos nada do seu ser, mas dizemos que não é indiferente. A não-indiferença constitui esta variedade ontológica que contrapõe o valor ao ser. A não-indiferença é a essência do valer.”
Assim, a emissão de juízos de valor, favoráveis ou desfavoráveis, indica a importância do que se dá, ou não, a algo ou a alguém.
A Teoria dos Valores é muito antiga, iniciada por Platão (428/427-348/347 a.C.) quando investigava ideias subordinadas à manifestação do Bem. Posteriormente, seu pensamento foi ampliado por Aristóteles (384-322 a.C.), um dos seus discípulos mais famosos, e também pelos filósofos estoicos e pelos epicuristas (veja glossário) que analisaram as diferentes expressões do Supremo Bem (summum bonum). Na Idade Média, os filósofos escolásticos † concordaram que o Summum Bonum representa Deus ou as ações divinas. Tal forma de pensar perdurou no período medieval, na Renascença e na Idade Moderna, quando surgiram outras ideias. Por exemplo, no século XIX a Teoria dos Valores sofre influência da Economia, da Sociologia e da Psicologia, ampliando seu campo conceitual.
No século XX, rebatizada com o nome de Axiologia † (do grego axios, valor ou dignidade), passou a ser considerada, ciência “[…] que não se ocupa dos seres, mas das relações que se estabelecem entre os seres e o sujeito que os aprecia.” (1)
Paradoxalmente,
[…] raros são aqueles que definem axiologia como “ciência dos valores” Tal definição é descartada por sociólogos e filósofos […], sendo o termo considerado insustentável, já que tal ciência não existe concretamente e nem foi sistematizada intelectualmente. A definição mais comum de axiologia é que ela é um ramo da Filosofia que tem por objeto o estudo dos valores. […] Diversos sociólogos dedicaram-se ao estudo dos valores, mas geralmente não utilizaram o termo axiologia, a não ser no sentido de ser sinônimo de “valorativo”. (2)
Há diversos tipos de valores, como os que se seguem, classificados inicialmente pelo filósofo Max Scheler (veja glossário), posteriormente reformulados por José Ortega y Gasset (glossário):
-
Valores Úteis. Exemplos: capaz/incapaz; caro/barato; abundante/escasso.
-
Valores Vitais: são/doente; enérgico/inerte (lento).
-
Valores Espirituais, subdivididos em: a) Valores Intelectuais (conhecimento/ignorância ou erro; provável ou evidente/improvável; b) Valores Morais: bom/mau; justo/injusto; leal/desleal.
-
Valores Estéticos: belo/feio; harmonioso/desarmonioso.
-
Valores Religiosos: sagrado/profano; divino/demoníaco; milagroso/não milagroso (ou mecânico).
No presente Roteiro vamos focalizar os valores morais e éticos.
1. MORAL †
É palavra derivada dos termos latinos mos, mores, que significam costumes. Este, por sua vez, indica “a maneira de se comportar regulada pelo uso.” (3) Assim, a moral procura explicar que os costumes sociais se expressam através do caráter e dos sentimentos humanos. Todavia, os conceitos de moral e de ética são usualmente considerados sinônimos, como veremos ser equívoco.
Para a filosofia, moral é o “conjunto de valores, individuais e coletivos, considerados universalmente como norteadores das relações sociais e da conduta humana.” (4)
O pensamento espírita não diverge desse conceito, pois afirma: “Moral é a regra de bem proceder, isto é, a distinção entre o bem e o mal. Funda-se na observância da Lei de Deus. O homem procede bem quando faz tudo pelo bem de todos, porque então cumpre a Lei de Deus.” (5)
O famoso filósofo iluminista François-Marie Arouet, mais conhecido pelo pseudônimo Voltaire (1694-1778), amplia o conceito de moral, que extrapola os dogmas religiosos e as superstições:
A moral não está na superstição, não está nas cerimônias, nada tem de comum com os dogmas. Nunca será demais repetir que todos os dogmas são diferentes e que a moral é a mesma em todos os homens que usam da razão. A moral, portanto, vem de Deus, como a luz. Nossas superstições não passam de trevas […] (6)
A moral é, portanto, valor universal, inerente ao homem, independentemente do meio social no qual ele se encontra inserido. A partir deste entendimento, é possível definir, então, regras e prescrições que determinam o comportamento e as condutas, consideradas válidas para um grupo, comunidade social ou para o indivíduo.
À medida que o Espírito evolui, ele aprende a discernir o bem do mal, condição que lhe capacita desenvolver o senso moral. Dessa forma, as orientações morais fornecem subsídios para a construção e aplicação de normas de conduta, coletivas e individuais, subsídios que podem ser utilizados pelo ser humano, independentemente dos seus costumes, religião e tradições.
Por esse motivo, a moral é sempre interpretada como o bem, como tudo que promove a melhoria integral do homem, ajustando-o à realidade da vida. Entretanto, para ser efetivamente bom, o ser humano precisa vivenciar a Lei de Amor, tal como ensina o Espiritismo: “O bem é tudo o que é conforme à Lei de Deus, e o mal é tudo o que dela se afasta. Assim, fazer o bem é proceder de acordo com a Lei de Deus, fazer o mal é infringir essa lei.” (7)
Se o sentido integral ou holístico (ou sistêmico) de moral é adequadamente absorvido pelo indivíduo, este lhe propicia plena realização (física, emocional, psíquica, afetiva, etc.), integrando-o à realidade de forma harmônica, independentemente das suas condições de vida e da comunidade em que esteja inserido.
1.1. Consciência Moral
A consciência moral decorre da estruturação do mundo moral no íntimo do ser, pois o indivíduo moralizado é alguém que considera o sentido da vida dentro de um contexto maior, que não se resume apenas ao atendimento às necessidades de sobrevivência biológica da espécie.
A Filosofia ensina que a consciência moral se constitui de um conjunto de exigências e prescrições consideradas válidas para orientar qualquer tipo de escolha que o indivíduo faz. (8) É a consciência moral que discerne o valor ou importância dos nossos atos, em última análise.
O homem seriamente empenhado em se transformar em pessoa melhor, admite que é preciso saber distinguir o bem do mal, a fim de agir com acerto. A respeito, há uma regra de conduta, denominada Regra de Ouro, de aceitação universal, e que se encontra no Evangelho, ensinada por Jesus como sendo guia seguro de efetivação moral dos nossos atos: “Tudo aquilo, portanto, que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles, pois esta é a Lei e os Profetas”. (Mateus, 7.12 - Bíblia de Jerusalém).
Complementando essa sábia instrução, há outra ensinada por Jesus: “Não julgueis para não serdes julgados. Pois, com o julgamento com que julgais sereis julgados, e com a medida com que medis sereis medidos. Por que reparas no cisco que está no olho do teu irmão, quando não percebes a trave que está no teu? […] Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então verás bem para tirar o cisco do olho do teu irmão.” (Mateus, 7.1-3, 5 - Bíblia de Jerusalém).
Por outro lado, o ato moral, resultante das imposições da consciência, pode ser classificado em normativo e fatual.
O normativo são as normas ou regras de ação e os imperativos que anunciam o “dever ser”. O fatual são atos humanos enquanto se realizam efetivamente. Pertencem ao âmbito do normativo regras como: “Cumpra a sua obrigação de estudar”; “Não minta”; “Não mate”. O campo do fatual é a efetivação ou não da norma na experiência vivida. Os dois polos são distintos, mas inseparáveis. A norma só tem sentido se orientada para a prática, e o fatual só adquire contorno moral quando se refere à norma. (9)
Enfim, para que um ato seja considerado efetivamente moral, é necessário que seja voluntário, espontâneo, livre, consciente, intencional, jamais imposto. Revestido dessas características, o ato moral apresenta responsabilidade e compromisso. “Responsável é aquele que responde pelos seus atos, isto é, a pessoa consciente e livre assume a autoria do seu ato, reconhecendo-o como seu e respondendo pelas suas consequências.” (10)
O comportamento moral, por ser consciente, livre e responsável, é também obrigatório, cria um dever. Mas a natureza da obrigatoriedade moral não está na exterioridade; é moral justamente porque deriva do próprio sujeito que se impõe a necessidade de cumprimento da norma. Pode parecer paradoxal, mas a obediência à lei livremente escolhida não é prisão; ao contrário, é liberdade. A consciência moral, como um juízo interno, avalia a situação, consulta as normas estabelecidas, as interioriza como suas ou não, toma decisões e julga os seus próprios atos. (10)
É preciso analisar, contudo, que o desenvolvimento da consciência moral ocorre ao longo das experiências reencarnatórias e nos estágios que o Espírito passa no plano espiritual. São conquistas graduais, tanto maiores quanto mais esforços forem envidados para fazer o bem, pois a “Lei de Deus é a mesma para todos: mas o mal depende principalmente da vontade que se tenha de o praticar. O bem é sempre bem e o mal é sempre o mal, seja qual for a posição do homem: a diferença está no grau de responsabilidade.” (11)
Importa considerar, enfim, que quanto mais esclarecido for o homem, mais possibilidades apresenta de praticar o bem, Contudo, se por algum motivo ele age de forma contrária, as implicações decorrentes dos seus atos serão mais graves, pois, sabendo fazer o bem optou pelo mal. Eis como Allan Kardec analisa o assunto:
As circunstâncias dão relativa gravidade ao bem e ao mal. Muitas vezes o homem comete faltas que, embora decorrentes da posição em que a sociedade o colocou, não são menos repreensíveis. Mas a sua responsabilidade é proporcional aos meios de que ele dispõe para compreender o bem e o mal. É por isso que o homem esclarecido que comete uma simples injustiça é mais culpado aos olhos de Deus do que o selvagem ignorante que se entrega aos seus instintos. (12)
2. ÉTICA †
Segundo o dicionário, “ética é a parte da filosofia responsável pela investigação dos princípios que motivam, disciplinam ou orientam o comportamento humano […].” (13) Especifica também que a ética diz respeito ao “conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa e moral de um indivíduo, de um grupo social ou de uma sociedade.” (13)
Enquanto a moral trata dos valores que devem fundamentar o comportamento coletivo e individual, a ética cuida da sua aplicabilidade, por meio de normas e regras que regulam as relações humanas. Pode-se dizer, então, que se a moral atinge todas as culturas, em qualquer época, por serem princípios universais, e a ética se constitui de regras específicas definidas para uma sociedade ou grupos.
Por exemplo, a moral determina que não se deve matar. Trata-se de norma universalmente aceita. A ética médica regula as condições que garantem a vida do ser humano e evitam a morte. Assim, a ética médica é um sistema de princípios que governam a prática médica. Trata-se da relação do médico com seu paciente, família do paciente, colegas de profissão e com a sociedade em geral.
É comum confundir ética com moral, uma vez que ambas têm origem na palavra costumes (ethos = do grego, costumes; mos, mores= do latim, costumes). Como a ética especifica o que é moralmente aceito em uma sociedade, por definição, a ética pode ser concebida como a ciência da moral, ou seja: “[…] a reconstrução intelectual, organizada pela mente humana, acerca da moral.” (14)
Como a ética normatiza os valores morais, estes dependem do nível de compreensão de cada organização social. Assim, os estudos éticos permitem identificar dificuldades ou benefícios absorvidos por grupos ou comunidades, na resolução de problemas e adoção de condutas.
Tradicionalmente, a Filosofia considera que o comportamento ético é aquele que é considerado bom, e, sobre a bondade, os antigos diziam: o que é bom para a leoa, não pode ser bom à gazela. E, o que é bom à gazela, fatalmente não será bom à leoa. Colocado dessa forma, vemos que há um dilema ético, pois, o objeto da ética é justamente determinar o que é bom, para o indivíduo e para a sociedade.
Para evitar, portanto, dilemas semelhantes, a ética procura especificar o que é justo, bom e razoável. Neste contexto, vemos que a ética, inserida no mundo globalizado atual, extrapola os limites dos costumes de um povo ou região, compreendendo que, “[…] por baixo dos comportamentos costumeiros ou culturais, havia algo muito mais importante: moralidade e imoralidade, isto é, bom ou mau agir.” (15) Dessa forma,
[…] o fundamento teórico do estudo ético é a natureza humana, pois é dela que jorra a moralidade, como sua fonte, mas não só isso: a própria natureza à qual o homem está preso, ou na qual está imerso, dita muitas normas de caráter ético. O homem não se pode desentender da sua natureza. De fato, os avanços no conhecimento da natureza humana, em seus aspectos biológicos ou biogenéticos, contribuem muito para a ciência humana. […].” (16)
Tradicionalmente, os códigos de ética foram elaborados especificamente
para grupos ou coletividades, dentro do contexto de mundo não globalizado, nos quais as fronteiras físicas equivalem às fronteiras culturais. Hoje, contudo, na era da informática e da difusão das redes sociais virtuais, as culturas estão se fundindo e se expandindo além dos limites territoriais. Neste sentido, poderosa revolução ética encontra-se em andamento no Planeta.
Os fundamentos dessa revolução se apoiam na natureza moral do ser humano e na sua capacidade de não viver isolado (o homem é um “animal social”): “O homem é um ser do Universo, isto é, do cosmos. Pela explicação aristotélica é uma possibilidade cósmica (“matéria prima”) da Terra […].” (17)
Percebe-se claramente que o processo de comunicação humana, que ocorre de forma intensa no Planeta, está superando as barreiras territoriais (espaço da nações) e culturais, viabilizado pelo progresso tecnológico e pelo intercâmbio maciço entre os povos. Neste sentido, a Terra está se transformando em uma grande aldeia global que, na verdade, representa, apenas, mais um estágio da evolução, determinado pela sabedoria divina.
A aproximação de diferentes pessoas, sobretudo via redes virtuais, tem causado significativo impacto nas relações humanas, de forma que uma cultura está influenciando outra, sutilmente, há algumas décadas, porém mais efetiva nos tempos atuais. No futuro, é possível que ocorra intercâmbio de comunidades planetárias, tal como, agora, acontece entre os povos da Terra.
O pensamento espírita não só é concordante com essas ideias, como demonstra a existência de uma única humanidade no Universo, como esclarece Allan Kardec: 18)
Uma mesma família humana foi criada na universalidade dos mundos e os laços de uma fraternidade que ainda não sabeis apreciar foram dados a esses mundos. Se esses astros que se harmonizam em seus vastos sistemas são habitados por inteligências, não o são por seres desconhecidos uns dos outros, mas, ao contrário, por seres que trazem marcados na fronte o mesmo destino, que se hão de encontrar temporariamente, segundo as suas funções de vida. e encontrar de novo, segundo suas mútuas simpatias. É a grande família dos Espíritos que povoam as terras celestes; é a grande irradiação do Espírito divino que abrange a extensão dos céus e que permanece como tipo primitivo e final da perfeição espiritual.
Obviamente, a aparência física dos indivíduos reflete as características dos mundos onde vivem. Eis o que Emmanuel tem a dizer a respeito: (19)
Nas expressões físicas, semelhante analogia é impossível, em face das substâncias que regem cada plano evolutivo; mas procuremos entender por humanidade a família espiritual de todas as criaturas de Deus que povoam o Universo e, examinada a questão sob esse prisma, veremos a comunidade terrestre identificada com a coletividade universal.
Nas origens evolutivas, a humanidade terrestre formava pequenos grupos isolados, depois clãs ou tribos, em seguida, cidades e nações. Com o aceleramento do contato social há intensa miscigenação cultural e racial, cujo processo civilizatório resultará na constituição da família planetária, propriamente dita. Mais tarde, a Humanidade terrestre se unirá a outras famílias das comunidades cósmicas para constituir a grande família universal.
É preciso considerar, todavia, que nesse processo ascensional, os valores éticos se ampliam porque o interrelacionamento social só é viabilizado pelas transformações morais, do ser e das coletividades.
Inserimos, em seguida, algumas considerações de Kardec, relativas à transformação moral da Humanidade terrestre que ampliará, por certo, os limites atuais dos códigos de ética, abrangendo todas as áreas do saber humano — por exemplo, os do direito, comércio, política e relações internacionais.
-
A Humanidade, tornada adulta, tem novas necessidades, aspirações mais vastas e mais elevadas […]. É por isso que se despoja das fraldas da infância e se lança, impelida por uma força irresistível, para margens desconhecidas, em busca de novos horizontes menos limitados. (20)
-
É a um desses períodos de transformação, ou, se o preferirem, de crescimento moral, que ora chega a Humanidade. Da adolescência ela passa à idade viril. O passado já não pode bastar às suas novas aspirações, às suas novas necessidades; ela já não pode ser conduzida pelos mesmos métodos […]. (21)
-
A fraternidade deve ser a pedra angular da nova ordem social; mas não há fraternidade real, sólida e efetiva se não se apoiar sobre base inabalável. Essa base é a fé, não a fé em tais ou quais dogmas particulares, que mudam com os tempos e os povos […] anatematizando-se uns aos outros, alimentam o antagonismo, mas a fé nos princípios fundamentais que todos podem aceitar: Deus, a alma, o futuro, o progresso individual indefinido, a perpetuidade das relações entre os seres. (22)
-
O progresso intelectual realizado até o presente, nas mais vastas proporções, constitui um grande passo e marca uma primeira fase no avanço geral da Humanidade, mas que, sozinho, é impotente para regenerá-la […] (23)
-
Somente o progresso moral pode assegurar aos homens a felicidade na Terra, refreando as paixões más; somente esse progresso poderá fazer que reinem entre as criaturas a concórdia, a paz e a fraternidade. Será ele que derrubará as barreiras que separam os povos, que fará que caiam os preconceitos de casta e se calem os antagonismos de seitas, ensinando os homens a se considerarem irmãos e a se auxiliarem mutuamente e não destinados a viver uns à custa dos outros. (24)
-
Será ainda o progresso moral, secundado então pelo progresso da inteligência, que confundirá os homens numa mesma crença fundada nas verdades eternas, não sujeitas a controvérsias e, por isso mesmo, aceitas por todos. (25)
ORIENTAÇÕES AO MONITOR
1. Realizar, no início da reunião, breve explanação sobre a abrangência da Teoria dos valores e sua evolução histórica.
2. Em seguida dividir a turma em dois grupos para leitura atenta, individual e silenciosa, dos textos que integram este Roteiro: um grupo deve ler o item 1 (Moral), e o outro faz leitura do item 2 (Ética).
3. Concluída essa parte da reunião, verificar se ocorreu correta compreensão das ideias.
4. Em seguida, entregar a cada grupo um questionário que deverá ser respondido pelo consenso dos integrantes de cada equipe. (Veja Anexos 1 e 2).
5. Projetar, uma a uma, cada questão do questionário e ouvir a resposta elaborada pelo respectivo grupo.
6. Realizar esclarecimentos relativos às apresentações dos grupos.
7. Apresentar, ao final, o significado das seguintes orientações de Jesus, correlacionando-as ao assunto estudado:
-
“Tudo aquilo, portanto, que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles, pois esta é a Lei e os Profetas.” (Mateus, 7.12 - Bíblia de Jerusalém). [v. Regra áurea]
-
“Não julgueis para não serdes julgados. Pois, com o julgamento com que julgais sereis julgados, e com a medida com que medis sereis medidos. Por que reparas no cisco que está no olho do teu irmão, quando não percebes a trave que está no teu? […] Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então verás bem para tirar o cisco do olho do teu irmão.” (Mateus, 7.1-3, 5 - Bíblia de Jerusalém)
OBSERVAÇÃO: Se necessário, dividir o estudo em duas reuniões.
MINIGLOSSÁRIO (Pela ordem de surgimento no texto)
-
Manuel García Morente: † 1886-1942. Filósofo e tradutor espanhol, famoso pelos estudos realizados a respeito do pensamento do notável filósofo prussiano Immamuel Kant ( 1724-1804) e Henri Bergson ( 1859-1941, admirável filósofo francês.
-
Filósofos estoicos: † São seguidores do estoicismo, que é uma doutrina filosófica fundada por Zenão de Cítio, que afirmava: o Universo é corpóreo e governado por um Logos divino (noção que os estoicos tomam de Heráclito e desenvolvem). A alma está identificada com este princípio divino, como parte de um todo ao qual pertence. Esse Logos (ou razão universal) ordena todas as coisas: tudo surge a partir dele e de acordo com ele, graças a ele o mundo é um cosmos (termo que em grego significa “harmonia”). O estoicismo propõe viver de acordo com a lei racional da natureza e aconselha a indiferença (apathea) em relação a tudo que é externo ao ser. O homem sábio obedece à lei natural, reconhecendo-se como uma peça na grande ordem e propósito do Universo, devendo assim manter a serenidade perante as tragédias e coisas boas.
-
Filósofos epicuristas: † São praticantes do epicurismo, sistema filosófico ensinado por Epicuro de Samos, filósofo ateniense do século IV a.C. Epicuro acreditava que o maior bem era a procura de prazeres modestos a fim de atingir um estado de tranquilidade (ataraxia) e de libertação do medo, assim como a ausência de sofrimento corporal (aponia) através do conhecimento do funcionamento do mundo e da limitação dos desejos. A combinação desses dois estados constituiria a felicidade na sua forma mais elevada. Embora o epicurismo seja doutrina muitas vezes confundida com o hedonismo (já que declara o prazer como o único valor intrínseco), sua concepção da ausência de dor como o maior prazer e sua apologia da vida simples tornam-no diferente do que vulgarmente se chama “hedonismo”. A finalidade da filosofia de Epicuro não era teórica, mas sim bastante prática. Buscava, sobretudo, encontrar o sossego necessário para uma vida feliz e aprazível, na qual os temores perante o destino, os deuses ou a morte estavam definitivamente eliminados. Para isso, fundamentava-se em uma teoria do conhecimento empirista, em uma física atomista e na ética.
-
Max Scheler: † (1874-1928), filósofo alemão fenomenologista, preocupado especialmente com a filosofia dos valores, exercendo grande influência no pensamento filosófico contemporâneo.
-
Fenomenologia: † Estudo descritivo dos fenômenos sem o uso de teorias que os expliquem. Doutrina sistematizada por Edmund Husserl, que se baseia na experiência intuitiva do fenômeno, e tem como premissa que a realidade consiste de objetos e eventos, perceptíveis conscientemente pelos seres humanos.
-
José Ortega y Gasset † (1883-1955), filósofo espanhol, ativista político e jornalista. Autor da famosa frase: “Debaixo de toda vida contemporânea se encontra latente uma injustiça.” Viveu exilado na Argentina por muitos anos, por ter-se posicionado contrário à ditadura na Espanha. Para o sociólogo brasileiro Hélio Jaguaribe, † Ortega y Gasset foi uma espécie de educador do seu povo, a partir de uma profunda convicção de que o que importa, antes de tudo, é a lucidez e a compreensão do mundo para operar nele.
ANEXO 1- QUESTIONÁRIO SOBRE MORAL
O que é moral, segundo a Filosofia e o Espiritismo?
Quais são as implicações espíritas e sociais da moral? Como a consciência moral se estrutura?
Qual a relação existente entre responsabilidade, dever, liberdade e compromisso e ato moral? Apresentar ideias espíritas e não espíritas.
Como reflexão, e considerando o texto lido e a troca de ideias, explique esta frase d e Kard ec: “As circunstâncias dão relativa gravidade ao bem e ao mal.”
ANEXO 2- QUESTIONÁRIO SOBRE ÉTICA
Quais são as ideias espíritas e não espíritas que conceituam ética?
Qual a diferença entre ética e moral?
O que é revolução ética?
Quais são as consequências imediatas da revolução ética?
Quais são os pontos principais da transformação moral que marcará a humanidade terrestre, segundo o Espiritismo?
REFERÊNCIAS
1. ARANHA, Maria Lúcia e MARTINS, Maria Helena. Filosofando. Introdução à filosofia - Google Books. 3. edição revista. São Paulo; Moderna, 2003. Capítulo 23, p. 300.
2. Axiologia. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Axiologia
3. ARANHA, Maria Lúcia e MARTINS, Maria Helena. Filosofando - introdução à filosofia. Op. Cit. Capítulo 23, p. 301.
4. HOUAISS, Antônio e VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da língua portuguesa - Google Books. 1ª ed. - com nova ortografia da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009, p. 1316.
5. KARDEC, Allan. Livro dos espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio de Janeiro, FEB, 2010, questão 629, p. 407.
6. VOLTAIRE. Dicionário filosófico - Google Books. Tradução de Ciro Mioranza e Antonio Geraldo da Silva. São Paulo: Editora Escala, 2008, p. 403.
7. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Op. Cit. Questão 630, p. 408.
8. ARANHA, Maria Lúcia e MARTINS, Maria Helena. Filosofando - introdução à filosofia. Op. Cit. Capítulo 23, p. 303.
9. Idem ibidem: p. 303-304.
10. Idem ibidem: p. 304.
11. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Op. Cit. Questão 636, p. 409-410.
12. Idem: Questão 637, p. 410.
13. HOUAISS, Antônio e VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Op. Cit, p. 847.
14. COIMBRA, José de Ávila (organizador). Fronteiras da ética - Google Books. São Paulo: Editora Senac-São Paulo, 2002, p. 75.
15. Idem ibidem: p. 76.
16. Idem ibidem: p. 76-77.
17. Idem ibidem: p. 78.
18. KARDEC, Allan. A Gênese. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 1ª ed. Rio de Janeiro, FEB, 2009. Capítulo VI, item 56, p. 173.
19. XAVIER, Francisco Cândido. O consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 28 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008, questão 73, p. 65.
20. KARDEC, Allan. A Gênese. Op. Cit. Capítulo XVIII, item 14, p. 525-526.
21. Idem ibidem: p. 526.
22. Idem: Item 17, p. 528.
23. Idem: Item 18, p. 529.
24. Idem: Item 19, p. 529.
25. Idem ibidem: p. 529-530.