Roteiro 12
Classificação da Inteligência Humana
Objetivos:
» Fornecer as principais características relativas à classificação da inteligência humana.
» Correlacionar conceitos espíritas aos diferentes tipos de inteligência.
IDEIAS PRINCIPAIS
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Durante muito tempo a inteligência humana foi considerada sinônimo de pensamento racional-lógico. Com o progresso, estudos científicos concluíram que há diferentes tipos de inteligência.
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O conceito de múltiplas inteligências surgiu com as pesquisas de Howard Gardner, † na década de 1980, na Universidade de Harvard, Estados Unidos, que classificou a inteligência em: visual-espacial, musical, verbal, lógico-matemática, interpessoal, intrapessoal e corporal-cinestésica. Mais tarde, o pesquisador acrescenta à lista: inteligência naturalista e inteligência existencial.
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Estudos recentes indicam que a inteligência humana possui outras dimensões, que extrapolam a classificação de Gardner, tais como a inteligência emocional e a inteligência espiritual.
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Para o Espiritismo, a inteligência humana não se restringe ao raciocínio, mas apresenta muitos outros aspectos, evidenciados com auxílio dos órgãos corporais, à medida que o Espírito progride: os […] órgãos são os instrumentos da manifestação das faculdades da alma. Essa manifestação se acha subordinada ao desenvolvimento e ao grau de perfeição desses mesmos órgãos, como a excelência de um trabalho está subordinada à qualidade da ferramenta. Allan Kardec: O Livro dos Espíritos, questão 369.
SUBSÍDIOS
Vimos anteriormente que a inteligência humana necessita de implementos corporais, sobretudo os do sistema nervoso central, para se expressar. Não se deve, contudo, confundir função cerebral com inteligência, propriamente dita, que é atributo do Espírito.
Atualmente sabe-se que a inteligência não se constitui de unidade compacta, rígida e indissolúvel, que representa o “altar da razão”, como sempre se imaginou, mas um conjunto de capacidades que extrapolam o raciocínio lógico-matemático, desenvolvidas no ser espiritual por meio de estímulos recebidos ao longo da existência.
Para o Espiritismo, essas capacidades ou inteligências são naturalmente desenvolvidas nas reencarnações sucessivas, de acordo com o planejamento reencarnatório definido para o Espírito.
Para melhor entender o “conglomerado” que integra a inteligência, faz-se necessário acompanhar alguns esclarecimentos obtidos pelos conhecimentos humanos.
1. INTELIGÊNCIA RACIONAL
É a capacidade humana de raciocinar, entendida por Renée Descartes (1596-1650) como a capacidade de pensar (ego cogito ergo sum — “penso, logo existo”). Este filósofo francês desenvolveu um método — conhecido como cartesiano — com a finalidade de comprovar a sua teoria. Tal método exerceu notável influência no pensamento científico, com reflexos nos dias atuais, tendo como base a análise da complexidade do raciocínio, a partir de premissas e conclusões, previamente identificadas como lógicas.
Entretanto, por mais relevantes que tenham sido as contribuições de Descartes e seguidores, apenas um aspecto foi trabalhado: a inteligência racional, conhecida também como inteligência matemática e lógica ou pensamento formal-lógico.
Para compreender a inteligência racional é preciso, primeiramente, saber o significado do raciocínio e quais são as suas implicações.
Raciocínio é uma operação lógica discursiva e mental. Neste, o intelecto humano utiliza uma ou mais proposições, para concluir, através de mecanismos de comparações e abstrações, quais são os dados que levam às respostas verdadeiras, falsas ou prováveis. Das premissas chegamos a conclusões. Foi pelo processo do raciocínio que ocorreu o desenvolvimento do método matemático, este considerado instrumento puramente teórico e dedutivo, que prescinde de dados empíricos. Através da aplicação do raciocínio, as ciências como um todo evoluíram para uma crescente capacidade do intelecto em alavancar o conhecimento. Este é utilizado para isolar questões e desenvolver métodos e resoluções nas mais diversas questões relacionadas à existência e sobrevivência humana. O raciocínio, um mecanismo da inteligência, gerou a convicção nos humanos de que a razão unida à imaginação constituem os instrumentos fundamentais para a compreensão do universo, cuja ordem interna, aliás, tem um caráter racional, portanto, segundo alguns, este processo é a base do racionalismo. Logo, resumidamente, o raciocínio pode ser considerado também um dos integrantes dos mecanismos dos processos cognitivos superiores da formação de conceitos e da solução de problemas, sendo parte do pensamento. (1)
O pensamento racional tem como instrumentos:
Observação: Detecta e relaciona evidências consideradas reais e incontestáveis a respeito do que se pretende estudar.
Análise: Divide os acontecimentos, fatos e fenômenos ao máximo, em unidades ou partes mais simples, estudando-as metódica e detalhadamente. Síntese: agrupa as análises das partes ou unidades analisadas em um todo consistente, a fim de obter visão do conjunto.
Conclusão: Relaciona as deduções e interpretações, com base nas etapas anteriores, mantendo-se em todo o processo uma ordenação lógica e gradual — do simples para o complexo.
A inteligência racional utiliza o raciocínio e a lógica (razão) na tomada de decisões, necessários à resolução de problemas ou desafios. Nesta situação, a mente racional procura encontrar a solução (ou soluções) mais adequada, sem envolvimento ou com reduzida participação das emoções e sentimentos.
Esse tipo de entendimento foi amplamente aplicado aos processos educativos tradicionais, no lar e na escola, restringindo, de certa forma, a educação. Jean Piaget (1896-1980) † , considerado o maior expoente do estudo do desenvolvimento cognitivo, apresentou efetivamente conceitos inovadores; contudo, suas ideias ficaram restritas à cognição ou pensamento lógico-matemático. Tais princípios são aceitos como fundamentos da teoria do desenvolvimento, por ele elaborada, conhecida como Epistemologia Genética.
A Epistemologia Genética considera que o indivíduo passa por várias etapas de desenvolvimento cognitivo ao longo da existência, de forma que o equilíbrio entre a assimilação e a acomodação de aprendizados resultam em adaptação do conhecimento. Segundo esta formulação, o ser humano assimila informações (aprendizados) que lhe chegam do mundo exterior, mas por possuir uma estrutura mental que não está “vazia”; precisa acomodar os novos dados a esta estrutura mental pré-existente. A mudança do comportamento ocorre com a acomodação, ou seja, com a capacidade de o indivíduo assimilar novas informações e adaptá-las ao que já conhecia. Por esse esquema, nenhum conhecimento novo entra em conflito com o aprendizado anteriormente adquirido. Em síntese, Epistemologia Genética ensina:
Somos, portanto, conduzidos a supor a existência de três grandes tipos de conhecimentos: a) as formas hereditárias, das quais o instinto é protótipo, e que encerram […] uma lógica, mais cristalizada em uma programação inata e rígida, cujo conteúdo se refere a informações igualmente inatas sobre o meio; b) as formas lógico-matemáticas, progressivamente construídas, como acontece principalmente nos níveis relativamente superiores que caracterizam a inteligência; c) as formas adquiridas em função da experiência (desde a aprendizagem até o conhecimento físico) […] (2)
Tais ideias moldaram processos educacionais (filosofia, currículos, metodologia da educação, e a prática educativa), de tal forma, que outros aspectos e tipos da inteligência humana foram ignorados, ou até desprezados. Sabe-se hoje, contudo (e felizmente), que há outras formas de manifestação da inteligência.
Em recente artigo publicado na Revista Conhecer , o articulista demonstra que o conhecimento racional é importante, mas quantificá-lo na forma de um Quociente de Inteligência (QI) é obsoleto, frente às conquistas das neurociências. Percebe-se, na verdade, que estamos vivendo um momento de reavaliação de certos conceitos na área cognitiva, anteriormente aceitas como definitivas, concluindo-se que a inteligência humana não pode ser restrita apenas ao racional. Ao contrário, revela possuir “[…] múltiplas capacidades que se misturam à genética, à prática e a fenômenos inconscientes […].” (3)
Tais capacidades envolvem a razão, não há dúvida, mas também a emoção, os sentimentos, a memória de aprendizado anterior, a influência do meio, a educação, atos instintivos, e, em determinadas situações, percepções extra-sensoriais, como a intuição e a inspiração.
Os educadores (pais e professores) de linha cognitiva que se mantêm presos aos conceitos cartesianos ou que só consideram o construtivismo de Piaget, apresentam sérias dificuldades para entender e educar a nova geração de Espíritos que reencarna no Planeta que, a despeito de possuir recursos intelectivos mais acentuados, pode revelar comportamentos e atitudes contrárias aos pressupostos educativos preconizados, justamente, pelos defensores da inteligência racional.
A nova geração de Espíritos apresenta habilidade e destreza mental maiores, se comparadas à média da geração anterior. Independentemente da estrutura moral que possuem os Espíritos que ora reencarnam no Planeta, revelam certo grau de similaridade comportamental: a) são mais criativos e mais perceptivos — condição que podem induzi-los a manipular familiares, professores e chefes; b) se aborrecem exaustivamente com longas explanações, como aulas expositivas, ou com assuntos discursivos lineares, visto que não lhes favorecem a participação; c) a cognição não é, a rigor, priorizada em suas atividades educativas; d) revelam-se rebeldes no acatamento de ordens e diante da rigidez de certos processos educativos, ainda que admitam a necessidade da disciplina; e) apreciam padrões morais, mesmo que não sejam capazes de reproduzi-los, e se revelam amorosos e bons companheiros se a estrutura familiar está erguida no amor e respeito mútuo. Obviamente, há outras características da geração nova de Espíritos, algumas diretamente relacionadas aos aspectos culturais do ambiente onde renascem ou do tipo de educação familiar recebida.
Neste contexto, os educadores modernos necessitam estar bem informados a respeito do assunto, reconhecendo que, em princípio, a razão não deve entrar em contradição com emoções e sentimentos, e mais: os conflitos éticos ocorridos são sinal de que algo não vai bem no campo moral. Assim, em qualquer decisão racional deve-se, necessariamente, pesar as consequências morais, conciliando os ditames da razão com os sentimentos e as emoções, para a garantia da paz do Espírito, fator imprescindível à vida.
2. AS MÚLTIPLAS INTELIGÊNCIAS
O estadunidense Howard Gardner (1943-) † , psicólogo cognitivo da Universidade de Harvad, desenvolveu a teoria das inteligências múltiplas, em trabalho conjunto com o colega Nelson Goodman † , a partir de um projeto de pesquisa conhecido como Projeto Zero.
No seu livro mais famoso, Estruturas da Mente, 1983, Gardner descreve sete dimensões da inteligência: inteligência visual ou espacial, inteligência musical, inteligência verbal, inteligência lógico-matemática, inteligência interpessoal, inteligência intrapessoal e inteligência corporal ou cinestésica. Mais tarde, acrescenta à lista a inteligência naturalista e a inteligência existencial.
O resultado de suas pesquisas encontra-se no livro Multiple intelligences — The theory in practice, publicado em 1993, nos Estados Unidos. Esta obra, de leitura imprescindível, foi traduzida para o português com o título Inteligências Múltiplas — A teoria na prática - Google Books , publicada pela editora Artes Médicas.
Em relação ao conceito de inteligência, propriamente dito, Howard Gardner afirma:
[…] Numa visão tradicional, a inteligência é definida operacionalmente como capacidade de responder a itens de inteligência. A inferência, a partir dos resultados dos testes, de alguma capacidade subjacente é apoiada por técnicas estatísticas que comparam respostas de sujeitos em diferentes idades; a aparente correlação desses resultados de testes através das idades e através dos diferentes testes corrobora a noção de que a faculdade geral da inteligência, não muda muito com a idade ou com treinamento ou experiência. Ela é uma faculdade inata. A teoria das inteligências múltiplas, por outro lado, pluraliza o conceito tradicional. Uma inteligência implica na capacidade de resolver problemas ou elaborar produtos que são importantes num determinado ambiente ou comunidade social. A capacidade de resolver problemas permite à pessoa abordar a situação em que um objetivo deve ser atingido e localizar a rota adequada a este objetivo. A criação de um produto cultural é crucial nessa função, na medida em que captura e transmite o conhecimento ou expressa as opiniões ou os sentimentos da pessoa […]. (4)
A teoria das inteligências múltiplas não desconhece os efeitos da ação biológica (carga genética) na resolução de problemas, nem ignora a tendência cultural humana para a solução de problemas. Por exemplo, esclarece Gardner: “a linguagem, uma capacidade universal, pode manifestar-se particularmente como escrita em uma cultura, como oratória em outra, e como linguagem secreta dos anagramas numa terceira.” (4)
O universo da pesquisa de Gardner (5) foi amplo: avaliou indivíduos comuns e intelectuais, ambos provenientes de distintos extratos sociais. Mas também estudou:
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Desenvolvimento de diferentes habilidades em crianças de mediana inteligência e em crianças superdotadas.
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Adultos com lesões cerebrais, investigando se perdiam, com a enfermidade, a intensidade da produção intelectual e algumas habilidades relacionadas.
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Populações ditas excepcionais, como autistas.
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A história do desenvolvimento cognitivo através dos milênios.
Psicólogo construtivista muito influenciado por Piaget, Gardner distingue-se de seu colega de Genebra na medida em que Piaget acreditava que todos os aspectos da simbolização partem de uma mesma função semiótica, enquanto que ele acredita que processos psicológicos independentes são empregados quando o indivíduo lida com símbolos linguísticos, numéricos, gestuais ou outros. Segundo Gardner uma criança pode ter um desempenho precoce em uma área (o que Piaget chamaria de pensamento formal) e estar na média ou mesmo abaixo da média em outra (o equivalente, por exemplo, ao estágio sensório-motor). (5)
2.1 Classificação das inteligências múltiplas (5), (6), (7)
Inteligência verbal ou linguística
Manifesta-se através da linguagem, escrita ou falada. O indivíduo gosta de ler, escrever, ouvir, trocar ideias; tem boa memória para nomes, lugares, datas e trivialidades; geralmente é bom contador de histórias e de anedotas; gosta de ler livros e escrever/contar histórias; tem vocabulário rico e se expressa com fluência; gosta de fazer palavras-cruzadas e jogos com palavras.
Os componentes centrais da inteligência linguística são uma sensibilidade para os sons, ritmos e significados das palavras, além de especial percepção das diferentes funções da linguagem, em geral usada para convencer, agradar, estimular ou transmitir ideias.
Nas crianças, esta habilidade se manifesta espontaneamente pela capacidade de contar/reproduzir histórias, ou para relatar, com precisão, experiências vividas. Podemos encontrar essa inteligência bem desenvolvida em redatores, contadores de história, poetas, novelistas, teatrólogos, escritores e oradores.
Inteligência musical
É a habilidade de reproduzir, compor e apreciar a musicalidade com discriminação de sons, e percepção de suas variações. É a inteligência que primeiro se manifesta. Cada indivíduo tem certo nível de habilidade musical, mesmo aqueles considerados “amusicais”. A inteligência musical trabalha a variedade de sons; a habilidade para perceber temas musicais; a sensibilidade para ritmos, texturas e timbre; e a habilidade para produzir e/ou reproduzir música.
As pessoas que possuem essa habilidade normalmente são sensíveis a ritmos e batidas dos sons do ambiente; tocam instrumentos ou gostam bastante de música; lembram facilmente das melodias e das canções, identificando notas musicais desafinadas; preferem estudar e trabalhar ouvindo música; colecionam discos; gostam de cantar e dedicam tempo à música. A criança com habilidade musical desenvolvida percebe, desde cedo, diferentes sons no seu ambiente e, frequentemente, canta para si mesma. Podemos encontrar essa inteligência ampliada em cantores, músicos, compositores e maestros.
Inteligência lógico-matemática
Os componentes centrais desta inteligência são descritos como uma sensibilidade para padrões, ordem e sistematização. A pessoa é capaz de identificar conexões entre peças separadas ou distintas, e a raciocinar sobre problemas matemáticos. Demonstra também capacidade para: manejar habilmente longas cadeias de raciocínio; conhecer problemas e levá-los adiante; explorar padrões, categorias e relações; resolver problemas aritméticos ou lógicos rapidamente; usar computação; apreciar jogos estratégicos e enigmas, como xadrez e damas; fazer experimentos, testando o que não se entende facilmente. Tal inteligência possui uma natureza não-verbal, de modo que a solução de um problema é, em geral, construída mentalmente antes de ser articulada ou escrita.
A criança com especial aptidão para essa inteligência demonstra facilidade para lidar com números, fazer cálculos matemáticos e apresentar notações práticas do seu raciocínio. Encontramos esse tipo de inteligência em programadores de computação, analistas de sistema, engenheiros, matemáticos, banqueiros, contadores, advogados e cientistas.
Inteligência espacial
É a capacidade de criar mapas mentais, de pensar por meio de imagens; de visualizar imagens mentais claras, de ler facilmente mapas e diagramas; de desenhar (mentalmente) representações precisas de pessoas ou coisas. O indivíduo que tem desenvolvida essa inteligência gosta de participar de atividades artísticas, de ver projeções (filmes, slides ou fotos), ou de montar quebra-cabeças.
Nas crianças pequenas o potencial especial dessa inteligência é percebido através da habilidade para resolver quebra-cabeças e outros jogos espaciais, com atenção para detalhes visuais. Encontramos essa inteligência em arquitetos, artistas gráficos, cartógrafos, desenhistas de produtos industriais, pintores e escultores, e também, em cirurgiões, os quais, previamente, visualizam na mente o órgão do corpo físico e a intervenção cirúrgica que irá realizar.
Inteligência cinestésica ou corporal-cinestésica
Esta inteligência está relacionada ao movimento do corpo físico e à habilidade de usar o corpo para expressar uma emoção, sentimento, ou transmitir uma mensagem (história), ou, ainda, para praticar um esporte. O indivíduo aprende melhor movimentando-se. Processa conhecimentos através de expressões corporais, daí envolver-se em atividades motoras, esportivas ou de dança. Possui habilidade para usar a coordenação grossa ou fina em esportes, artes cênicas ou plásticas, sabendo controlar movimentos do corpo, e, igualmente, manipular instrumentos que exigem destreza manual.
As pessoas dotadas deste tipo de inteligência têm um senso e controle natural do corpo, mesmo sem treinamento prévio. Também está incluída a destreza na manipulação de objetos. A criança especialmente dotada de inteligência cinestésica se move com graça e expressão, a partir de estímulos musicais ou verbais; demonstra grande habilidade atlética ou coordenação motora apurada. A inteligência corporal-cinestésica pode ser melhor observada em desportistas, atores, mímicos, artistas circenses, dançarinos profissionais ou em pessoas que habilmente sabem manipular instrumentos e equipamentos.
Inteligência interpessoal
É a habilidade de interagir com pessoas, entendê-las e interpretar seus comportamentos. O indivíduo que tem desenvolvido esse tipo de inteligência está sempre cercado de várias pessoas; gosta de se comunicar, ainda que, às vezes, utilize a habilidade para manipular pessoas; aprecia atividades em grupo; serve como mediador em discussões e tem capacidade para ler situações ou acontecimentos com precisão. Esse tipo de inteligência não depende da linguagem, portanto, um indivíduo pode possuí-la mesmo sem demonstrar qualquer habilidade linguística apurada.
A inteligência interpessoal se manifesta em crianças pequenas como a habilidade para distinguir pessoas. No adulto, e em algumas crianças, essa inteligência pode evoluir para a apurada percepção de intenções e desejos de outras pessoas, permitindo-lhes reagir apropriadamente a partir dessa percepção. Crianças especialmente dotadas demonstram, muito cedo, habilidade para liderar outras crianças, uma vez que são extremamente sensíveis às necessidades e sentimentos de outros. A inteligência interpessoal pode ser melhor observada em líderes religiosos, políticos, professores e terapeutas.
Inteligência intrapessoal
A pessoa com essa inteligência aperfeiçoada possui capacidade para manter a mente em total concentração, sabendo distinguir, nitidamente, sentimentos, emoções e expressões do raciocínio. Demonstra independência, força de vontade e autodireção em tudo que faz. Revela certo grau de autoconfiança, sabendo reagir positivamente no transcurso de discussões controvertidas, nas quais predominam opiniões fortes. Como norma de conduta, gosta de abstrair-se e viver no mundo particular, preferindo isolar-se para produzir algo, desenvolver um projeto ou hobby pessoal.
Tal inteligência é o correlativo interno da inteligência interpessoal, pois o indivíduo tem desenvolvida habilidade para acessar os próprios sentimentos, sonhos e ideias, discriminá-los e utilizá-los na solução de problemas pessoais. É o reconhecimento de habilidades, necessidades, desejos e inteligências próprias, a capacidade para formular uma imagem precisa de si próprio e a habilidade para usar essa imagem de forma efetiva.
Nas crianças, a inteligência intrapessoal desenvolvida, se observa pela capacidade que demonstram diante de fatos e acontecimentos. Em geral tendem para a introspecção, são mais caladas e reservadas, condições que podem ser confundidas com timidez. Encontramos esse tipo de inteligência em filósofos, psiquiatras, aconselhadores e pesquisadores.
Inteligência naturalista
Consiste na habilidade de identificar e classificar padrões da natureza. É também conhecida como inteligência biológica ou ecológica. A pessoa tem capacidade para perceber a natureza de maneira integral e demonstra acentuada empatia com animais e plantas — uma afinidade que pode ser vista como sentimento ecológico, percepção avançada dos ecossistemas e dos habitats.
A criança demonstra precoce necessidade de viver em contato com a Natureza, ao ar livre, a cuidar e proteger animais. Manifesta-se geralmente em biólogos, jardineiros, paisagistas, ecologistas e amantes da natureza.
Inteligência existencialista
Essa nona inteligência, que ainda se encontra em estudo, relaciona-se á capacidade de considerar questões mais profundas da existência, de fazer reflexões sobre quem somos, de onde viemos e por que morremos (para onde vamos). Gardner ainda reluta em aceitar esta inteligência, justificando que os cientistas ainda não provaram que ela atua/requer áreas específicas do cérebro.
Figura 1 (7)
3. INTELIGÊNCIA EMOCIONAL
A Inteligência Emocional envolve habilidades para perceber, entender e influenciar as emoções. Foi introduzida e definida por John D. Mayer, † psicólogo e professor da Universidade de New-Hampshire-USA, e por Peter Salovey, † professor de Epidemiologia e Saúde Pública na Universidade de Yale.
Salovey e Mayer (8) definiram inteligência emocional como: “[…] a capacidade de perceber e exprimir a emoção, assimilá-la ao pensamento, compreender e raciocinar com ela, e saber regulá-la em si próprio e nos outros.” (8) Dividiram-na em quatro domínios: (8)
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Percepção das emoções — inclui habilidades envolvidas na identificação de sentimentos por estímulos, como a voz ou a expressão facial, por exemplo. A pessoa que possui essa habilidade identifica a variação e mudança no estado emocional de outra.
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Uso das emoções — implica na capacidade de usar as informações de forma emocional para facilitar o pensamento e o raciocínio.
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Entender emoções — é a habilidade de captar variações emocionais nem sempre evidentes.
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Controle (e transformação) da emoção — constitui o aspecto mais facilmente reconhecido da inteligência emocional — e a aptidão para lidar com os próprios sentimentos.
Genericamente, a Psicologia entende que a inteligência emocional é a capacidade de reconhecer os sentimentos próprios e os dos outros, sabendo lidar com eles.
O conceito de inteligência emocional foi popularizado pelo jornalista e psicólogo estadunidense Daniel Goleman, † em 1995, esclarecendo que esse tipo de inteligência pode ser visualizado nas inteligências intrapessoal e interpessoal propostas por Gardner. Contudo, ao analisar o trabalho desse pesquisador, que muito tem contribuído para desvendar a inteligência humana, Goleman considera que ainda há um vasto campo de estudo a ser pesquisado:
As teorizações de Gardner contêm uma dimensão da inteligência pessoal [intra e interpessoal] que é amplamente apontada, mas pouco explorada: o papel das emoções. Talvez isso se dê porque, como me sugeriu ele próprio, seu trabalho é fortemente informado por modelo mental da ciência cognitiva. Assim, sua visão dessas inteligências enfatiza a percepção — a compreensão de si e dos outros nas motivações, nos hábitos de trabalho e no uso dessa intuição na própria vida e na de relação com outros. Mas […] o campo das emoções também se estende além do alcance da linguagem e da cognição. (9)
Outro ponto, não menos importante, também destacado por Goleman, é que embora “[…] haja amplo espaço nas suas descrições das inteligências pessoais para a intuição no jogo das emoções e no domínio do controle, Gardner e os que com ele trabalham não investigaram com muitos detalhes o papel do sentimento nessas inteligências, concentrando-se na cognição sobre o sentimento.” (9)
Goleman não deixa de ter razão quando assinala que, ainda que não intencionalmente, os estudos sobre inteligências múltiplas “[…] deixa inexplorado o rico mar de emoções que torna a vida interior e os relacionamentos tão complexos, tão absorventes, e muitas vezes desconcertantes. E deixa por sondar tanto o sentido em que há inteligência nas emoções quanto o sentido em que se pode transmitir inteligência às emoções.” (9)
Mas, afinal, qual é o significado de emoção para Goleman? Trata-se de um conceito, como ele mesmo enfatiza, que tem várias interpretações, como sentimento, paixão, agitação ou excitação mental, entre outras. Para o pesquisador, emoção “[…] se refere a um sentimento e seus pensamentos distintos, estados psicológicos e biológicos, e uma gama de tendências para agir.” (10) Mas concorda que o conceito é limitante, pois a gama de emoções do ser humano é infinita. Prefere não entrar nas discussões teóricas sobre a classificação das emoções em primárias e secundárias, sugerindo, contudo, que algumas emoções, por serem tão evidentes, podem ser agrupadas, desde que não se perca a visão de que cada tipo de emoção pode gerar subtipos, isoladamente, ou atuar em conjunto com outras emoções.
Sua classificação básica das emoções — por ele considerada incompleta, e que pode ser visualizada por meio de expressões faciais e/ou corporais — propõe o agrupamento de sentimentos semelhantes cuja manifestação apresenta uma escala gradativa: (11)
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Ira — fúria, revolta, ressentimento, raiva, exasperação […], irritabilidade, hostilidade, e talvez no extremo, ódio e violência patológicos.
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Tristeza — sofrimento, mágoa, desânimo, melancolia, autopiedade, solidão, desamparo, desespero, e, quando patológica, severa depressão.
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Medo — ansiedade, apreensão, nervosismo, preocupação, […] cautela, inquietação, pavor, terror; e como psicopatologia, fobia e pânico.
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Prazer — felicidade, alegria, contentamento, deleite, orgulho […], diversão, gratificação, satisfação, bom humor, euforia, êxtase e, no extremo, mania.
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Amor — aceitação, amizade, confiança, afinidade, dedicação, adoração, paixão, ágape [afeição entre os antigos cristãos, afeto].
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Surpresa — choque, espanto, pasmo, maravilha.
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Nojo — desprezo, desdém, antipatia, aversão, repugnância, repulsa.
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Vergonha — culpa, vexame, mágoa, remorso, humilhação, arrependimento, mortificação e contrição.
O Espírito Meimei, esclarece, a propósito:
O raciocínio erguido às culminâncias da cultura, mas sem a compreensão e sem a bondade que fluem do entendimento fraterno, pode ser um espetáculo de grandeza, mas estará distante do progresso e povoado pelos monstros das indagações esterilizantes ou inúteis. Enriqueçamo-lo, porém, com o manancial do sentimento puro e a inteligência converter-se-á, para nós e para os outros, num templo de sublimação e paz, consolo e esperança. Cultivemos o cérebro sem olvidar o coração. Sentir, para saber com amor; e saber, para sentir com sabedoria, porque o amor e a sabedoria são as asas dos anjos que já comungam a glória de Deus. (12)
4. INTELIGÊNCIA ESPIRITUAL
Há atualmente uma polêmica entre Howard Gardner, † da Universidade de Harvard, psiconeurologista especializado no estudo da inteligência humana e Robert Emmons, † da Universidade da Califórnia, neuropsicólogo interessado na investigação da religiosidade humana. O primeiro se tornou mundialmente famoso pela teoria das inteligências múltiplas. Emmons, por sua vez, tornou-se conhecido por suas investigações sobre psiconeurologia e religião. (13)
“Tomando as ideias e critérios de Gardner como ponto de partida de um discutido ensaio, ele [Emmons] tentou provar que se pode postular a existência de uma inteligência que ele, sem meias palavras, chama de “inteligência espiritual.” (13) Entretanto, para Emmons, Gardner não apresenta respostas convincentes a respeito da Inteligência Existencial ou Espiritual, analisada, igualmente, por outros estudiosos.
Emmons defende, com cerrada argumentação, que a inteligência tem uma faceta espiritual, que pode e obedece a todos os critérios indicados por Gardner deve para ser assumida no espectro das inteligências múltiplas. […] Trata-se de um envolvimento existencial denso de sentido e de valor […]. É uma forma inteligente de se posicionar e de se relacionar, teórica e praticamente, com esse Princípio Supremo. Para Emmons essa forma de inteligência possibilita ao ser humano estabelecer um contato íntimo não só com o que as religiões chamam de “o divino”, mas consigo mesmo e com o mundo e os fatos da vida, encontrando nisto uma forma de realização cognitiva que merece o adjetivo de “espiritual”. (14)
Para esse pesquisador, a Inteligência Espiritual (existencial ou religiosa) apresenta dois aspectos: “[…] Um conjunto de habilidades e capacidades associadas à espiritualidade de grande relevância nas operações da mente humana; outro que considera as diferenças individuais dessas habilidades como sendo elementos centrais na constituição e na dinâmica da personalidade”. (15) Em outras palavras, há indivíduos que, para se adaptarem e integrarem no meio em que vivem, necessitam estar inseridos em um clima que prioriza a espiritualidade, que pode ser manifestada na forma de práticas religiosas ou de conduta moral edificante.
Alguns cientistas europeus, como o austríaco Viktor Frankl, † têm oferecido contribuições relevantes, denominando inteligência espiritual de noética, † cujas ideias podem ser assim resumidas pelos professores Achilles Gonçalves Coelho Júnior e Miguel Mahfoud, da Universidade Federal de Minas Gerais:
Homem e animais são constituídos por uma dimensão biológica, uma dimensão psicológica e uma dimensão social, contudo, o homem se difere deles porque faz parte de seu ser a dimensão noética. Em nenhum momento o homem deixa as demais dimensões, mas a essência de sua existência está na dimensão espiritual. Assim, a existência propriamente humana é existência espiritual. Neste sentido, a dimensão noética é considerada superior às demais, sendo também mais compreensiva porque inclui as dimensões inferiores, sem negá-las — o que garante a totalidade do homem (Frankl, 1989a). A dimensão espiritual mostra-se, essencialmente, como a dimensão da vivência da liberdade e da responsabilidade. Responsabilidade nada se identifica com um caráter moralista pelo qual o indivíduo se obrigaria a agir de acordo com normas introjetadas, mas caracteriza-se justamente pela capacidade de responder, isto é, pela liberdade atuante no momento em que o homem responde ou se posiciona diante das circunstâncias presentes. Pressupõe “liberdade para” efetivar seu posicionamento no mundo […], manifestando, então, a “irrepetibilidade e caráter de algo único” constituinte de cada homem (Frankl, Falar de existência), na sua dimensão espiritual, é falar sobretudo do “ser-responsável” e do “ser humano consciente de sua responsabilidade” (Frankl, 1993). Trata-se não da liberdade de condições biológicas, psicológicas e sociais — a que todo homem está submetido — mas da liberdade para uma tomada de posição diante de todas as circunstâncias, cotidianas ou excepcionais. (16)
Recentemente, a física e filósofa estadunidense Danah Zohar juntamente com o marido, que é psiquiatra, propõem a adoção de um quociente para a inteligência espiritual (ou QS: do inglês Spiritual Quotient), † no livro do mesmo nome que ambos escreveram. Na obra, os autores demonstram que o ser humano possui no cérebro um ponto — “Ponto de Deus” — , uma área que seria responsável pela necessidade de experiências espirituais.
Cientistas de renome como Francis S. Collins, † idealizador do Projeto Genoma Humano, e seu diretor por dez anos, ou Bruce H. Lipton, † internacionalmente conhecido na área de biologia celular, apontam para a possibilidade de geneticamente estarmos programados para desenvolver a inteligência espiritual. Ou seja, em determinado momento da caminhada evolutiva, o homem se voltará para a ideia de Deus.
Por outro lado, frente a um mundo de mudanças contínuas e rápidas, no qual estamos inseridos, é preciso admitir que uma série de esclarecimentos nos são transmitidos por cientistas e tecnólogos, com a finalidade de auxiliar o homem no conhecimento da Natureza, do mundo no qual está inserido e, também, de si mesmo. Neste sentido, Stanislav Grof, † um dos fundadores da psicologia transpessoal, considera em seu livro Psicologia do Futuro que a “[…] psicologia e a psiquiatria requerem uma revisão radical baseada na investigação intensiva e sistemática dos estados invulgares da consciência.” (17)
Quer isso dizer que, além dos processos já considerados comuns ou já absorvidos pelo conhecimento, como as contribuições de Gardner † e as de Goleman † , é preciso estarmos atentos a outros aspectos, registrados na forma de percepções, que estão surgindo mais intensamente na nova geração de reencarnados.
O significado de percepção, aqui apresentado, relaciona-se à faculdade de apreender algo, de ter consciência a respeito de uma impressão sensitiva que foi transmitida por órgãos específicos, ou por meio de associação ideacional, de natureza mental. Para o Espiritismo, todas “[…] as percepções são atributos do Espírito e fazem parte de seu ser. Quando está revestido de um corpo material, elas só lhe chegam pelo conduto dos órgãos; mas, no estado de liberdade, deixam de estar localizadas.” (18)
Ao lado das percepções comuns surgem, vez ou outra, as percepções inusitadas. O estudo das percepções inusitadas apenas iniciou, revelando-se como de natureza bem abrangente. Por exemplo, há um tipo de percepção, incomum ou inusitada, que tem merecido especial atenção da Ciência. Trata-se da sinestesia, cujo conceito se resume na “sensação subjetiva de um sentido que não é o que está sendo estimulado.” (19) Diz respeito à associação de planos sensoriais diferentes. Por exemplo, há pessoas que associam um som ou uma composição musical a determinada cor ou aroma. Outros unem uma cor específica a um número específico, assim como existem os que percebem sabor nas palavras. Este tipo de percepção, no passado, poderia ser considerada uma anomalia mental. Hoje não.
O cientista estadunidense Richard Feynman (1918-1988) † , Nobel de Física em 1965, afirmava: “Quando escrevo uma equação na lousa vejo os números e as letras de cores diferentes. E me pergunto: que diabos meus alunos veem?” (20)
Os Espíritos Orientadores da Codificação Espírita ensinam que os “[…] órgãos são os instrumentos da manifestação das faculdades da alma. Essa manifestação se acha subordinada ao desenvolvimento e ao grau de perfeição desses mesmos órgãos, como a excelência de um trabalho está subordinada à qualidade da ferramenta.” (21) Ou seja, as aquisições evolutivas do Espírito imprimem alterações no seu perispírito, construindo, em consequência, um corpo físico contendo órgãos aperfeiçoados, muito mais suscetíveis à ação da mente espiritual.
Ao encarnar, o Espírito traz certas predisposições. Admitindo-se para cada uma delas um órgão correspondente no cérebro, o desenvolvimento desses órgãos será efeito e não causa. […] Admita-se […] que os órgãos especiais, se é que existem, são consequentes e se desenvolvem pelo exercício da faculdade, como os músculos por efeito do movimento, e nada tereis de irracional. Tomemos uma comparação trivial, à força de ser verdadeira. Por alguns sinais fisionômicos reconhecereis o homem que se entrega à bebida. Serão esses sinais que fazem dele um bêbado, ou será a embriaguez que nele imprime aqueles sinais? Pode-se dizer que os órgãos recebem o cunho das faculdades. (22)
Por outro lado, esclarece Joanna de Ângelis, com muita propriedade:
A descoberta e a constatação da inteligência espiritual (QS), neste momento, faculta a compreensão da complexidade da alma humana, analisando os dados fornecidos pelo pensamento e elaborando os programas mais compatíveis com as suas necessidades e aspirações no complexo movimento da busca da plenitude. Perfeitamente identificáveis as áreas nas quais se exteriorizam as diferentes inteligências, há, no entanto, em destaque um ponto-luz que expressa no cérebro a existência daquela de natureza espiritual, impulsionando o ser à compreensão da sua transcendência e da sua destinação rumo do infinito. Esse ponto-luz ou divino está situado entre as conexões dos neurónios nos lobos temporais do cérebro. As pesquisas realizadas mediante a utilização de pósitrons, permitem constatar-se que, nas discussões de natureza religiosa ou espiritual, toda vez que o tema versa a respeito de Deus e do Espírito, da vida transcendental e dos valores da alma, de imediato se produz uma iluminação no campo referido, demonstrando ser aí que sedia a Inteligência Espiritual. É, portanto, essa inteligência que conduz ao cerne das coisas e facilita a compreensão do abstrato, particularmente quando se refere aos valores da imortalidade da alma, da fé religiosa, da Causalidade universal, do bem, do amor… (23)
Os dias futuros nos reservam surpresas na área do conhecimento das faculdades humanas, e, acreditamos, estamos apenas iniciando uma era de estudos mais significativos sobre a inteligência, de algum modo já antecipada pela Doutrina Espírita, como consta nesta informação de Léon Denis:
A alma contém, no estado virtual, todos os germens dos seus desenvolvimentos futuros. Ë destinada a conhecer, adquirir e possuir tudo. […] Para realizar os seus fins, tem de percorrer, no tempo e no espaço, um campo sem limites. […] Pouco a pouco a alma se eleva e, conforme vai subindo, nela se vai acumulando uma soma sempre crescente de saber e virtude; sente-se mais estreitamente ligada aos seus semelhantes; comunica mais intimamente com o seu meio social e planetário. Elevando-se cada vez mais, não tarda a ligar-se por laços pujantes às sociedades do espaço e depois ao Ser Universal. Assim, a vida do ser consciente é uma vida de solidariedade e liberdade. Livre dentro dos limites que lhe assinalam as leis eternas, faz-se o arquiteto do seu destino. O seu adiantamento é obra sua. […] (24)
ORIENTAÇÕES AO MONITOR
1. Sugerimos que o conteúdo deste roteiro seja desenvolvido em duas reuniões de estudo, para facilitar a assimilação.
2. Em ambas as reuniões, realizar exposição introdutória do assunto que se pretende desenvolver, dando destaque à classificação científica da inteligência humana.
3. Na primeira reunião, sugerimos que os itens 1 (Inteligência racional) e o 2 (As múltiplas inteligências) sejam analisados e debatidos, em atividades grupais e/ou plenárias. Na segunda reunião, os demais itens (Inteligência emocional e Inteligência espiritual), devem ser estudados reflexivamente.
4. Após a realização do trabalho em grupo e das atividades plenárias, em ambas as reuniões, fazer o fechamento do estudo, dando ênfase às ideias espíritas presentes no Roteiro.
REFERÊNCIAS
1. Raciocínio: Disponível em: Wikipedia.org
2. PIAGET, Jean. Biologia e conhecimento - Google Books . 2. ed. Petrópolis (RJ): Vozes, 1996. Capítulo V p. 305.
3. NOGUEIRA, Salvador. Revista Conhecer . São Paulo: Duetto. Outubro de 2010. Artigo: Sua cabeça é mais do que você pensa, p. 18.
4. GARDNER, Howard. [Estruturas da mente: A teoria das inteligências múltiplas - Google Books] Inteligências múltiplas — a teoria na prática. Tradução de Maria Adriana Veríssimo Veronese. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. Parte I, Capítulo 1, p. 21.
5. GAMA, Maria Clara Salgado. A teoria das inteligências múltiplas e suas implicações para educação. Disponível em: http://www.homemdemello.com.br/psicologia/intelmult.html
6. GARDNER, Howard. Inteligências múltiplas — a teoria na prática. Op. Cit, p. 22-29.
7. CARVALHO, Rebeca. Howard Gardner e as inteligências múltiplas. Disponível em: http://www.appai.org.br [Figura 1 - Origem: http://amagiadeeducar.spaceblog.com.br]
8. Inteligência Emocional. Disponível em: Wikipedia.org.
9. GOLEMAN, Daniel. Inteligência emocional - Google Books . Tradução de Marcos Santarrita. Rio de Janeiro: Objetiva, 1996. Capítulo 3, p. 52.
10. Idem - Apêndice A (O que é emoção?), p. 305.
11. Idem ibidem - p. 305-306.
12. XAVIER, Francisco Cândido. Instruções psicofônicas. Por diversos Espíritos. 9 ed. Rio de Janeiro: FEB. Capítulo 30 (mensagem do Espírito Meimei), p. 144.
13. SILVA, Leonice M. Kaminski. Existe uma inteligência existencial/espiritual? O debate entre H. Gardner e R. A. Emmons. São Paulo: Revista de Estudos da Religião, PUC-SP 2001. Nº 3, p. 47. Também disponível em: http://www4.pucsp.br/rever/rv3_2001/p_silva.pdf
14. Idem ibidem - p. 48.
15. Idem ibidem - p. 50. As dimensões espiritual e religiosa da experiência humana: distinções e interrelações na obra de Viktor Frankl. Psicol. USP.
16. JÚNIOR, Achilles Gonçalves Coelho e MAHFOUD, Miguel. [online]. 2001, vol. 12, nº 2 [citado 02 Febrero 2006], p. 95-103. Disponível em: http://www.robertexto.com/archivo13/as_dimensoes.htm
17. GROF, Stanislav. Psicologia do futuro - Google Books . Tradução de Selena Cruz. 1ª ed. Porto [Portugal]: Via Óptima, 2007, contracapa.
18. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 2 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2010, questão 249-a, p. 186.
19. THOMAS, Clayton. Dicionário médico enciclopédico Taber [ Taber’s Cyclopedic Medical Dictionary - Google Books by Clarence Wilbur Taber] † . Tradução de Fernando Gomes do Nascimento. 17 ed. São Paulo: Manole, p. 1334.
20. BARBERI, Massimo. Mente e cérebro. Edição especial, nº 12. São Paulo: Duetto-Scientific American Brasil, 2008. Reportagem: Confusão das sensações, p. 10.
21. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Op. cit, questão 369, p. 232.
22. Idem ibidem - Questão 370-a (comentário), p. 233.
23. FRANCO, Divaldo Pereira. Triunfo pessoal. Pelo espírito Joanna de Ângelis. Salvador [BA]: Livraria espírita Alvorada, 2002. Capítulo: O ser pensante, item: inteligência, p. 34-35.
24. DENIS, Léon. O problema do ser, do destino e da dor. 1ª edição (especial). Rio de Janeiro: FEB, 2008. Primeira parte (O problema do ser), Capítulo IX (Evolução e finalidade da alma), p. 161-163.