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EADE — Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita — Religião à luz do Espiritismo

TOMO II — ENSINOS E PARÁBOLAS DE JESUS — PARTE II
Módulo III — Ensinos por parábolas

Roteiro 4


As parábolas da figueira


 

Objetivo: Explicar, sob a ótica espírita, os ensinamentos morais existentes nas duas parábolas da figueira.



IDEIAS PRINCIPAIS

  • Em diferentes oportunidades, Jesus utiliza o recurso das alegorias para transmitir um ensinamento moral. É o que faz quando identifica os sinais de transformação ocorridos na figueira, em razão da mudança climática, com o processo de renovação espiritual que, cedo ou tarde, alcança o Espírito. No caso desta parábola, […] grandes verdades se ocultam. Há, primeiramente, a predição das calamidades de todo o gênero que assolarão e dizimarão a Humanidade, calamidades decorrentes da luta suprema entre o bem e o mal, entre a fé e a incredulidade, entre as ideias progressistas e as ideias retrógradas. Há, em segundo lugar, a da difusão, por toda a Terra, do Evangelho […]. Allan Kardec: A gênese. Capítulo 17, item 56.

  • A figueira que secou é o símbolo dos que apenas aparentam propensão para o bem, mas que, em realidade, nada de bom produzem […]. Allan Kardec: O Evangelho segundo o Espiritismo, Capítulo 19, item 9.



 

SUBSÍDIOS


1. Texto evangélico

  • E haverá sinais no sol e na lua, e nas estrelas, e, na terra, angústia das nações, em perplexidade pelo bramido do mar e das ondas; homens desmaiando de terror, na expectação das coisas que sobrevirão ao mundo, porquanto os poderes do céu serão abalados. E, então, verão vir o Filho do Homem numa nuvem, com poder e grande glória. Ora, quando essas coisas começarem a acontecer, olhai para cima e levantai a vossa cabeça, porque a vossa redenção está próxima. E disse-lhes uma parábola: Olhai para a figueira e para todas as árvores. Quando já começam a brotar, vós sabeis por vós mesmos, vendo-as, que perto está já o verão. Assim também vós, quando virdes acontecer essas coisas, sabei que o Reino de Deus está perto. Lucas, 21.25-31.

    E, no dia seguinte, quando saíram de Betânia, teve fome. Vendo de longe uma figueira que tinha folhas, foi ver se nela acharia alguma coisa; e, chegando a ela, não achou senão folhas, porque não era tempo de figos. E Jesus, falando, disse à figueira: Nunca mais coma alguém fruto de ti. E os seus discípulos ouviram isso. Marcos, 11.12-14.

Essas duas parábolas da figueira tratam de assuntos distintos, mas há uma relação de causa e efeito entre ambas.

A primeira figueira está na fase de surgimento de novos brotos quando o verão se aproxima. Simboliza os indivíduos que iniciaram o despertamento de valores espirituais. Na segunda parábola a figueira encontra-se noutro período, já coberta de folhagem vistosa, porém destituída de frutos. Trata-se de uma alegoria referente às pessoas que possuem algum entendimento espiritual, explanam sobre eles, mas são incapazes de produzir frutos, isto é, de exemplificarem o que pregam.

A primeira árvore é apenas uma promessa, que pode ou não se concretizar em determinado período de tempo. A segunda é um projeto que se encontra em fase de execução, mas que fracassa em razão de deficiências intrínsecas.

Da mesma forma, o Espírito só produzirá no momento certo, depois de, ter incorporados valores intelectuais e morais. São conquistas que irão produzir frutos do bem, os quais capacita a criatura a transformar-se em auxiliar do Pai, como anuncia Paulo, o apóstolo dos gentios, em sua primeira carta aos coríntios: “Porque nós somos cooperadores de Deus; vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus” (1 Co 3.9).


Asseverando Paulo a sua condição de cooperador de Deus e designando a lavoura e o edifício do Senhor nos seguidores e beneficiários do Evangelho que o cercavam, traçou o quadro espiritual que sempre existirá na Terra em aperfeiçoamento, entre os que conhecem e os que ignoram a verdade divina. […] O serviço é de plantação e edificação, reclamando esforço pessoal e boa vontade para com todos, porquanto, de conformidade com a própria simbologia do apóstolo, o vegetal pede tempo e carinho para desenvolver-se e a casa sólida não se ergue num dia. (11)


2. Interpretação do texto evangélico

  • E haverá sinais no sol e na lua, e nas estrelas, e, na terra, angústia das nações, em perplexidade pelo bramido do mar e das ondas; homens desmaiando de terror, na expectação das coisas que sobrevirão ao mundo, porquanto os poderes do céu serão abalados. E, então, verão vir o Filho do Homem numa nuvem, com poder e grande glória. Ora, quando essas coisas começarem a acontecer, olhai para cima e levantai a vossa cabeça, porque a vossa redenção está próxima. E disse-lhes uma parábola: Olhai para a figueira e para todas as árvores. Quando já começam a brotar, vós sabeis por vós mesmos, vendo-as, que perto está já o verão. Assim também vós, quando virdes acontecer essas coisas, sabei que o Reino de Deus está perto. (Lc 21.25-31).

O registro de Lucas refere-se às provações que a Humanidade está destinada a passar, durante a transição que antecede a era da regeneração (veja módulo I, roteiro quatro, segundo tomo, desta apostila).


Há, primeiramente, a predição das calamidades […], decorrentes da luta suprema entre o bem e o mal, entre a fé e a incredulidade, entre as ideias progressistas e as ideias retrógradas. Há, em segundo lugar, a difusão, por toda a Terra, do Evangelho restaurado na sua pureza primitiva; depois, há o reinado do bem, que será o da paz e da fraternidade universais, a derivar do código de moral evangélica, posto em prática por todos os povos. (3)


Catástrofes e destruições assinalarão o período de transição. Os Espíritos Orientadores assim se expressam: “[…] Preciso é que tudo se destrua para renascer e se regenerar. Porque, o que chamais destruição não passa de uma transformação, que tem por fim a renovação e a melhoria dos seres vivos.” (7)

Os sinais que definem a era de transição e a de regeneração estão simbolizados nestes versículos: “Olhai para a figueira e para todas as árvores. Quando já começam a brotar, vós sabeis por vós mesmos, vendo-as, que perto está já o verão. Assim também vós, quando virdes acontecer essas coisas, sabei que o Reino de Deus está perto.”

Na época de transição, a destruição abusiva que o homem perpetuou ao longo dos tempos chegará ao ápice. As forças da Natureza reagirão, visto que, ao lado dos agentes de destruição encontram-se também os meios de conservação, concedidos pela sabedoria divina, os quais delimitam os limites do livre arbítrio humano. “É o remédio ao lado mal.” (8)


Isto posto, diremos que o nosso globo, como tudo o que existe, esta submetido à lei do progresso. Ele progride, fisicamente, pela transformação dos elementos que o compõem e, moralmente, pela depuração dos Espíritos encarnados e desencarnados que o povoam. Ambos esses progressos se realizam paralelamente, porquanto o melhoramento da habitação guarda relação com o do habitante. Fisicamente, o globo terráqueo há experimentado transformações que a Ciência tem comprovado e que o tornaram sucessivamente habitável por seres cada vez mais aperfeiçoados. Moralmente, a Humanidade progride pelo desenvolvimento da inteligência, do senso moral e do abrandamento dos costumes. (4)


No período de transição, vivido atualmente pela Humanidade, surgirão não apenas os falsos profetas, mas também pessoas cujas ideias mais perturbam do que auxiliam. São “[…] as utopias, todos os sistemas ocos, todas as doutrinas carente de base sólida.” (1)


São pessoas que […] aparentam propensão para o bem, mas que, em realidade, nada de bom produzem; dos oradores que mais brilho têm do que solidez, cujas palavras trazem superficial verniz, de sorte que agradam aos ouvidos, sem que, entretanto, revelem, quando perscrutadas, algo de substancial para os corações. (2)


As expiações coletivas, relativamente comuns durante a transição, representam recurso divino de reajuste espiritual.


A noção de pessoa, reconhecida pela ordem jurídica, facilita-nos o entendimento das responsabilidades individuais e coletivas. […] Assim, não se torna difícil entender que as expiações coletivas são os resgates de ações anteriores praticadas em conjunto pelo grupo envolvido. […] Ainda se pode acrescentar […] que os grupos se reúnem na Terra para tarefas ou missões comuns, assim como são reunidos, em outras épocas e circunstâncias, para purgar faltas cometidas em conjunto, solidariamente. […] A Providência Divina tem meios e formas para determinar os reencontros, o reinício de tarefas, os resgates, tanto no plano individual quanto no coletivo […]. (10)


É importante permanecer atentos aos sinais que assinalam os momentos de mudança, da mesma forma que os brotos surgidos na figueira anunciam outra estação do ano, o verão. Na transição, “[…] os períodos de renovação moral da Humanidade coincidem, como tudo leva a crer, com as revoluções físicas do globo” […]. (5)

Os benfeitores espirituais orientam que é importante não perder a oportunidade de melhoria, concedido por Jesus, nessa ocasião: “Retire-se cada um dos excessos na satisfação egoística, fuja ao relaxamento do dever, alije as inquietações mesquinhas — e estará preparado à sublime transformação.” (12)

A regeneração, por outro lado, será marcada pela transformação moral, situação em que o Evangelho estabelecerá seu reinado definitivo. “A fraternidade será a pedra angular da nova ordem social; mas, não há fraternidade real, sólida, efetiva, senão assente em base inabalável e essa base é a fé” […]. (6)

  • E, no dia seguinte, quando saíram de Betânia, teve fome. Vendo de longe uma figueira que tinha folhas, foi ver se nela acharia alguma coisa; e, chegando a ela, não achou senão folhas, porque não era tempo de figos. E Jesus, falando, disse à figueira: Nunca mais coma alguém fruto de ti. E os seus discípulos ouviram isso. (Mc 11.12-14).

Estas anotações do evangelista indicam que a figueira estéril é o símbolo das pessoas inclinadas ao bem, à aquisição de valores espirituais, mas ainda incapaz de praticá-los. “Simboliza também todos aqueles que, tendo meios de ser úteis, não o são” […]. (1)


O que as mais das vezes falta é a verdadeira fé, a fé produtiva, a fé que abala as fibras do coração, a fé, numa palavra, que transporta montanhas. São árvores cobertas de folhas, porém, baldas de frutos. Por isso é que Jesus as condena à esterilidade, porquanto dia virá em que se acharão secas até à raiz. Quer dizer que todos os sistemas, todas as doutrinas que nenhum bem para a Humanidade houverem produzido, cairão reduzidas a nada; que todos os homens deliberadamente inúteis, por não terem posto em ação os recursos que traziam consigo, serão tratados como a figueira que secou. (1)


É necessário, contudo, fazer reflexão sobre o conteúdo do versículo treze, do texto de Marcos: “Vendo de longe uma figueira que tinha folhas, foi ver se nela acharia alguma coisa; e, chegando a ela, não achou senão folhas, porque não era tempo de figos.” No primeiro momento, parece existir contradição nas ideias expressas, uma vez que, se não “era tempo de figos”, Jesus só poderia encontrar na figueira apenas as folhas. Faz-se necessário explicar o significado do simbolismo para que não se julgue, equivocadamente, a ação seguinte, assim expressa pelo Cristo: “Nunca mais coma alguém fruto de ti.” (versículo 14)

A figueira cheia de folhas assemelha-se aos indivíduos que receberam oportunidades de se transformar para melhor; conseguem discernir entre o falso e verdadeiro e são portadores de razoável conhecimento. Falam bem, atraindo pessoas, até multidões, em razão das habilidades pessoais que possuem. São, porém, incapazes de praticar o que recomenda porque não possuem, ainda, moralidade elevada nem domínio dos assuntos que ensina.

Em geral, são pessoas portadoras de algumas virtudes, mas que gostam de impor a própria opinião. São personalistas e não se animam a considerar outras opiniões, por se julgarem “donos da verdade”. Os que se aproximam deles afastam, em seguida, decepcionados, por não encontrarem nem a fé pregada nem a consistência dos ensinamentos divulgados.


A figueira não dava fruto porque sua organização celular era insuficiente ou deficiente, e Jesus, conhecendo esse mal, quis dar uma lição aos seus discípulos, não só para lhes ensinarem a terem fé, mas também para lhes fazer ver que os homens e as instituições infrutíferas, como aquela árvore, sofreriam as mesmas consequências. Pelo lado filosófico, realça da parábola a necessidade indispensável da prática das boas obras, não só pelas instituições, como pelos homens. Um individuo, por mais bem vestido e mais rico que seja, encaramujado no seu egoísmo, é semelhante a uma figueira, da qual, em nos aproximando, não vemos mais do que folhas. […] O que precisamos da árvore são os frutos. O que precisamos da religião são as boas obras. […] A religião do Cristo não é religião das “folhas”, mas, sim, a dos frutos! (9)


O Espiritismo nos orienta como proceder nestes tempos de transformação, em que o homem se revela demasiadamente preocupado com as dificuldades da vida material, em detrimento da aquisição de valores espirituais. Apoia-nos na fase de transição, em curso no Planeta, concedendo-nos os recursos necessários para que possamos integrara Humanidade regenerada do futuro.



ORIENTAÇÕES AO MONITOR: Fazer uma breve explanação no início da aula, destacando os pontos principais que são desenvolvidos neste Roteiro. Em seguida, dividir a turma em dois grupos, cabendo, a cada um, o estudo de uma das parábolas da figueira; elaboração de uma síntese das ideias expressas por Jesus no texto evangélico e apresentação das conclusões do trabalho em grupo, em plenária. Ouvir os relatos, contextualizando os assuntos estudados no cotidiano da vida atual.



Referências:

1. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 127. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 19, item 9, p. 345.

2. Idem, ibidem - p. 344-345.

3. Idem - A gênese. Tradução de Guillon Ribeiro. 52 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Capítulo 17, item 56, p. 449.

4. Idem - Capítulo 18, item 2, p. 458.

5. Idem - Item 10, p. 466.

6. Idem - Item 17, p.470.

7.  Idem - O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 91. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007, questão 728, p. 389.

8. Idem, ibidem - Questão 731, p. 390.

9. SCHUTEL, Cairbar. Parábolas e ensinos de Jesus. 20. ed. Matão: O Clarim, 2004. Item: Parábola da figueira estéril, p.57.

10. SOUZA. Juvanir Borges. Tempo de transição. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002. Capítulo 14 (Expiações coletivas), p. 122-123.

11. XAVIER, Francisco Cândido. Fonte viva. Pelo Espírito Emmanuel. 36. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Capítulo 68 (Sementeira e construção), p. 177-178.

12. Idem - Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. 26. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Capítulo 23 (E olhai por vós), p. 66.


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