Roteiro 2
Os trabalhadores da vinha
Objetivo: Explicar, sob a ótica espírita, a parábola dos trabalhadores da vinha.
IDEIAS PRINCIPAIS
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Os […] obreiros que chegaram na primeira hora são os profetas, Moisés e todos os iniciadores que marcaram as etapas do progresso, as quais continuaram a ser assinaladas através dos séculos pelos apóstolos, pelos mártires, pelos Pais da Igreja, pelos sábios, pelos filósofos e, finalmente, pelos espíritas. Allan Kardec: O Evangelho segundo o Espiritismo, Capítulo 20, item 3.
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A formosa parábola dos servidores envolve conceitos profundos. Em essência, de- signa o local dos serviços humanos e refere-se ao volume de obrigações que os aprendizes receberam do Mestre Divino. Por enquanto, os homens guardam a ilusão de que o orbe pode ser o tablado de hegemonias raciais ou políticas, mas perceberão em tempo o clamoroso engano, porque todos os filhos da razão, corporificados na Crosta da Terra, trazem consigo a tarefa de contribuir para que se efetue um padrão de vida mais elevado no recanto em que agem transitoriamente. Emmanuel: Pão Nosso, Capítulo 29.
SUBSÍDIOS
1. Texto evangélico
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Porque o Reino dos céus é semelhante a um homem, pai de família, que saiu de madrugada a assalariar trabalhadores para a sua vinha. E, ajustando com os trabalhadores a um dinheiro por dia, mandou-os para a sua vinha. E, saindo perto da hora terceira, viu outros que estavam ociosos na praça. E disse-lhes. Ide vós também para a vinha, e dar-vos-ei o que for justo. E eles foram. Saindo outra vez, perto da hora sexta e nona, fez o mesmo. E, saindo perto da hora undécima, encontrou outros que estavam ociosos e perguntou-lhes: Por que estais ociosos todo o dia? Disseram-lhe eles: Porque ninguém nos assalariou. Diz-lhes ele: Ide vós também para a vinha e recebereis o que for justo. E, aproximando-se a noite, diz o senhor da vinha ao seu mordomo: Chama os trabalhadores, e paga-lhes o salário, começando pelos derradeiros até aos primeiros. E, chegando os que tinham ido perto da hora undécima, receberam um dinheiro cada um; vindo, porém, os primeiros, cuidaram que haviam de receber mais; mas, do mesmo modo, receberam um dinheiro cada um. E, recebendo-o, murmuravam contra o pai de família, dizendo: Estes derradeiros trabalharam só uma hora, e tu os igualaste conosco, que suportamos a fadiga e a calma do dia. Mas ele, respondendo, disse a um deles: Amigo, não te faço injustiça; não ajustaste tu comigo um dinheiro? Toma o que é teu e retira-te; eu quero dar a este derradeiro tanto como a ti. Ou não me é lícito fazer o que quiser do que é meu? Ou é mau o teu olho porque eu sou bom? Assim, os derradeiros serão primeiros, e os primeiros, derradeiros, porque muitos são chamados, mas poucos, escolhidos. Mateus, 20.1-16.
Três ideias básicas são identificadas nessa parábola: o valor do trabalho para o progresso humano, o significado de trabalhador da vinha e o princípio da reencarnação. De maneira geral, tais temas estão desenvolvidos na seguinte mensagem de Henri Heine, ditada em Paris, em 1863.
Os […] os obreiros que chegaram na primeira hora são os profetas, Moisés e todos os iniciadores que marcaram as etapas do progresso, as quais continuaram a ser assinaladas através dos séculos pelos apóstolos, pelos mártires, pelos Pais da Igreja, pelos sábios, pelos filósofos e, finalmente, pelos espíritas. Estes, que por último vieram, foram anunciados e preditos desde a aurora do advento do Messias e receberão a mesma recompensa. […] Últimos chegados, eles aproveitam dos labores intelectuais dos seus predecessores, porque o homem tem de herdar do homem e porque coletivos são os trabalhos humanos […]. Aliás, muitos dentre aqueles revivem hoje, ou reviverão amanhã, para terminarem a obra que começaram outrora. Mais de um patriarca, mais de um profeta, mais de um discípulo do Cristo, mais de um propagador da fé cristã se encontram no meio deles, porém, mais esclarecidos, mais adiantados, trabalhando, não já na base e sim na cumeeira do edifício. Receberão, pois, o salário proporcionado ao valor da obra. (2)
2. Interpretação do texto evangélico
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Porque o Reino dos céus é semelhante a um homem, pai de família, que saiu de madrugada a assalariar trabalhadores para a sua vinha. E, ajustando com os trabalhadores a um dinheiro por dia, mandou-os para a sua vinha. (Mt 20.1,2).
A expressão “Reino dos céus” é comum no Evangelho, referindo-se ao estado de plenitude espiritual, que será alcançado de forma ativa, perseverante e corajosa, jamais como concessão ou graça divina. Segundo a Doutrina Espírita, o ser humano atingirá esse estado de perfeição por meio do conhecimento e da transformação moral, obtidos nas inúmeras reencarnações e no plano espiritual.
“O pai de família é Deus; a vinha somos nós, a Humanidade; e o trabalho, a aquisição das virtudes que devem enobrecer nossas almas. Para realizar esse desiderato, uns precisam de menos tempo, outros de mais, conforme cumpram, bem ou mal, os seus deveres. O prêmio, entretanto, é um só: a alegria, o gozo espiritual decorrente da própria evolução alcançada.” (5)
A afirmativa, “sair de madrugada a assalariar trabalhadores para a sua vinha”, indica o supremo dinamismo do trabalho no bem, caracterizado por ser diligente e produtivo, não perde tempo e que começa cedo. Como é prioritário o progresso humano, o Senhor tem enviado ao Planeta Espíritos missionários, desde as eras mais remotas. A evolução espiritual é uma meta divina definida desde que ocorreu o processo de humanização do princípio inteligente, isto é, na “madrugada” da vida humana, quando o Espírito era simples e ignorante.
A vinha é a própria Humanidade, o grande campo de aprendizado que precisa evolver, pelo trabalho subsistência e pelo trabalho espiritual, firmado nos testemunhos, sacrifícios e doações incessantes que assinalam a via de progresso dos povos e de cada indivíduo. Em outras palavras, “[…] designa o local dos serviços humanos e refere-se ao volume de obrigações que os aprendizes receberam do Mestre Divino.” (8)
O texto evangélico esclarece que o pagamento ajustado dos trabalhadores foi de “um dinheiro por dia”. A gerência divina, sempre atenta e atuante, sabe ajustar o trabalho em nível da conscientização e do entendimento do obreiro. Neste contexto, é possível definir o tipo de compromisso que cada um pode oferecer à Vinha, identificado na equação produção versus benefício. Sendo assim, o Pai Celestial, o dono da Vinha, disponibiliza o serviço ao trabalhador, o local onde este deva atuar e, também, a forma e valor da remuneração. O filho ou trabalhador, por outro lado, recebe a oportunidade de progredir, no campo que lhe foi destinado, selecionado em função da experiência que possui.
A parábola nos mostra que há um plano diretor, sábio e inteligente, que define o processo evolutivo da Humanidade. Nada é feito de improviso ou de forma eventual. Implica estudo, planejamento e estratégias seriamente estipulados, a fim de que o sucesso esteja assegurado.
O Planeta não é um barco desgovernado. As coletividades humanas costumam cair em desordem, mas as leis que presidem aos destinos da Casa Terrestre se expressam com absoluta harmonia. Essa verificação nos ajuda a compreender que a Terra é a vinha de Jesus. Aí, vemo-lo trabalhando desde a aurora dos séculos e aí assistimos à transformação das criaturas, que, de experiência a experiência, se lhe integram no divino amor. (8)
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E, saindo perto da hora undécima, encontrou outros que estavam ociosos e perguntou-lhes: Por que estais ociosos todo o dia? Disseram-lhe eles: Porque ninguém nos assalariou. Diz-lhes ele: Ide vós também para a vinha e recebereis o que for justo. E, aproximando-se a noite, diz o senhor da vinha ao seu mordomo: Chama os trabalhadores, e paga-lhes o salário, começando pelos derradeiros até aos primeiros. (Mt 20.3-8).
As horas de contratação dos trabalhadores equivalem às diferentes convocações de Deus, aos seus filhos, para o cultivo de virtudes. “Uns começam mais cedo a cuidar dos seus espíritos para o bem; outros começam mais tarde. E no entanto, para os bons trabalhadores o salário é o mesmo, não importa a hora em que iniciaram o trabalho de se regenerarem.” (6)
Os trabalhadores da primeira hora são os Espíritos que contam com maior número de encarnações, mas que não souberam aproveitá-las, perdendo oportunidades que lhes foram concedidas para se regenerarem e progredirem. Os trabalhadores contratados posteriormente simbolizam os Espíritos que foram gerados há menos tempo, mas que, fazendo melhor uso do livre-arbítrio, […] lograram em apenas algumas existências o progresso que outros tardaram a realizar. (5)
As oportunidades de melhoria espiritual são diuturnamente oferecidas pelo Criador Supremo, através de Jesus. Existe trabalho para todos porque o progresso é Lei Divina ou Natural. Entretanto, é importante considerar outras características que fazem parte do processo evolutivo humano, claramente identificadas nesta parábola do trabalhador da vinha.
As condições essenciais para os trabalhadores são: a constância, o desinteresse, a boa vontade e o esforço que fazem no trabalho que assumiram. Os bons trabalhadores se distinguem por estes característicos. O mercenário trabalha pelo dinheiro; seu único fito, sua única aspiração é receber o salário. […] Assim é em todas as ramificações dos conhecimentos humanos: há os escravos do dinheiro e há o operário do progresso. Na lavoura, na indústria, como nas Artes e Ciências, destacam-se sempre o operário e o mercenário. O materialismo, a materialidade, a ganância do ouro arranjaram, na época em que nos achamos, mais escravos do que a vinha arranjou mais obreiros. Por isso, grande é a seara e poucos são os trabalhadores! (7)
Merece destaque o conteúdo do versículo oito, assim especificado: “E, aproximando-se a noite, diz o senhor da Vinha ao seu mordomo: Chama os trabalhadores, e paga-lhes o salário, começando pelos derradeiros até aos primeiros”. Trata-se de uma ordenação divina referente ao acerto de contas, à aferição de resultados. É momento em que se verifica se ocorreu efetivo progresso ou melhoria espiritual do trabalhador. Essa aferição é de grande valor, tendo em vista os investimentos posteriores, os próximos planejamentos reencarnatórios. A expressão, “aproximando-se a noite”, não está relacionada ao término de um dia, que acontece após o declínio do sol. Pode indicar tanto o final de uma existência física quanto o fechamento de um ciclo evolutivo.
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E, chegando os que tinham ido perto da hora undécima, receberam um dinheiro cada um; vindo, porém, os primeiros, cuidaram que haviam de receber mais; mas, do mesmo modo, receberam um dinheiro cada um. E, recebendo-o, murmuravam contra o pai de família, dizendo: Estes derradeiros trabalharam só uma hora, e tu os igualaste conosco, que suportamos a fadiga e a calma do dia. Mas ele, respondendo, disse a um deles: Amigo, não te faço injustiça; não ajustaste tu comigo um dinheiro? Toma o que é teu e retira-te; eu quero dar a este derradeiro tanto como a ti. Ou não me é lícito fazer o que quiser do que é meu? Ou é mau o teu olho porque eu sou bom? (Mt 20.9-15).
Percebe-se que na Vinha, o Senhor não faz “[…] questão da quantidade do trabalho, mas sim da qualidade, e ainda mais, da permanência do obreiro até o fim. Os que trabalharam na vinha, desde a manhã até à noite, não mereceram maior salário que os que trabalharam uma única hora, dada a qualidade do trabalho.” (7)
O pagamento que os trabalhadores recebem é o mesmo para todos os obreiros, independentemente do número de horas que tenham trabalhado. Cada hora de labor representa uma encarnação ou período de aprendizado. Há Espíritos que consomem muitas reencarnações para se tornarem criaturas melhores, outros realizam o mesmo processo em poucas existências corporais. Da mesma forma, existem obreiros que despendem muitas horas para realizar uma tarefa que, sendo feita por outros, é executada em breve espaço de tempo.
Há operários diligentes, de boa vontade, que, devotando-se de corpo e alma às tarefas que lhe são confiadas, produzem mais e melhor, em menos tempo que o comum, assim como há os mercenários, os que não têm amor ao trabalho, os que se mexem somente quando são vigiados, os que estão de olhos pegados no relógio, pressurosos de que passe o dia, cuja produção, evidentemente, é muito menor que a dos primeiros. Uma vez, pois que o mérito de cada obreiro seja aferido, não pelas horas de serviço, mas pela produção, que interessa ao dono do negócio saber se, para dar o mesmo rendimento, um precisa de doze horas, outro de nove, outro de seis, outro de três e outro de uma? (4)
A reencarnação deve ser vista como a manifestação da justiça divina. É significativa oportunidade para o Espírito reparar o passado de erros, reajustando-se perante a Lei de Deus, e, ao mesmo tempo, ensejo de progresso pelo desenvolvimento dos valores morais e intelectuais.
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Assim, os derradeiros serão primeiros, e os primeiros, derradeiros, porque muitos são chamados, mas poucos, escolhidos. (Mt 20.16).
Os indivíduos escolhidos serão os primeiros no Reino dos céus porque souberam aproveitar, integralmente, os trabalhos na Vinha do Senhor, ao longo das sucessivas reencarnações. Não temeram as lutas nem os desafios impostos pelas provações, sempre agindo como alunos aplicados. Estes são os trabalhadores de última hora.
O obreiro da última hora tem direito ao salário, mas é preciso que a sua boa vontade o haja conservado à disposição daquele que o tinha de empregar e que o seu retardamento não seja fruto da preguiça ou da má vontade. Tem ele direito ao salário, porque desde a alvorada esperava com impaciência aquele que por fim o chamaria para o trabalho. Laborioso, apenas lhe faltava o labor. (1)
A parábola dos trabalhadores da vinha deve calar fundo aos espíritas, em razão do conhecimento que possuem a respeito da realidade espiritual e da necessidade da prática da caridade, base da transformação moral. Neste sentido, é sempre útil lembrar estas recomendações de O Espírito de Verdade:
Aproxima-se o tempo em que se cumprirão as coisas anunciadas para a transformação da Humanidade. Ditosos serão os que houverem trabalhado no campo do Senhor, com desinteresse e sem outro móvel, senão a caridade! […] Ditosos os que hajam dito a seus irmãos: “Trabalhemos juntos e unamos os nossos esforços, a fim de que o Senhor, ao chegar, encontre acabada a obra”, porquanto o Senhor lhes dirá: “Vinde a mim, vós que sois bons servidores, vós que soubestes impor silêncio aos vossos ciúmes e às vossas discórdias, a fim de que daí não viesse dano para a obra!” […] Deus procede, neste momento, ao censo dos seus servidores fiéis e já marcou com o dedo aqueles cujo devotamento é apenas aparente, a fim de que não usurpem o salário dos servidores animosos, pois aos que não recuarem diante de suas tarefas é que ele vai confiar os postos mais difíceis na grande obra da regeneração pelo Espiritismo. Cumprir-se-ão estas palavras: “Os primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros no reino dos céus.” (3)
ANEXO
ORIENTAÇÕES AO MONITOR: Pedir à turma que faça leitura silenciosa do texto evangélico (Mateus, 20.1-16), assinalando os pontos que considerem mais significativos. Realizar, em seguida, breve explanação sobre as principais ideias desenvolvidas neste Roteiro, debatendo-as com os integrantes da reunião. Ao final, entregar aos participantes uma cópia da mensagem “Os obreiros do Senhor”, de autoria de o Espírito de Verdade, constante em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo vinte, para leitura e correlação com a parábola estudada.
Referências:
1. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 127. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 20, item 2, p. 350-351.
2. Idem - Item 3, p. 352.
3. Idem - Item 5, p. 356-357.
4. CALLIGARIS, Rodolfo. Parábolas evangélicas. 9. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Item: Parábola dos trabalhadores e da diversas horas do dia, p. 34.
5. Idem, ibidem - p. 35.
6. RIGONATTI, Eliseu. O evangelho dos humildes. 15. ed. São Paulo: Pensamento, 2003. Capítulo XX (A parábola dos trabalhadores e das diversas horas do trabalho), p. 181.
7. SCHUTEL, Cairbar. Parábolas e ensinos de Jesus. 20. ed. Matão: O Clarim, 2004. Item: Parábola dos trabalhadores da vinha, p. 54.
8. XAVIER, Francisco Cândido. Pão nosso. Pelo Espírito Emmanuel. 29. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Capítulo 29 (A vinha), p. 73.