Roteiro 10
O poder da fé
Objetivo: Explicar a parábola do poder da fé, à luz da Doutrina Espírita.
IDEIAS PRINCIPAIS
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A parábola analisa duas questões imprescindíveis à melhoria espiritual do ser humano: o valor da fé e o esforço para desenvolvê-la. A fé necessita de uma base, base que é a inteligência perfeita daquilo que se deva crer. E, para crer, não basta ver: é preciso, sobretudo, compreender. Allan Kardec: O Evangelho segundo o Espiritismo, Capítulo 19, item 7.
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Para ser proveitosa, a fé tem de ser ativa: não deve entorpecer-se. Mãe de todas as virtudes que conduzem a Deus, cumpre-lhe velar atentamente pelo desenvolvimento dos filhos que gerou. Allan Kardec: O Evangelho segundo o Espiritismo, Capítulo 19, item 11.
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A fé inoperante é problema credor da melhor atenção, em todos os tempos, a fim de que os discípulos do Evangelho compreendam, com clareza, que o ideal mais nobre, sem trabalho que o materialize, a benefício de todos, será sempre uma soberba paisagem improdutiva. Emmanuel: Fonte viva, Capítulo 39.
SUBSÍDIOS
1. Texto evangélico
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Disseram, então, os apóstolos ao Senhor Acrescenta-nos a fé. E disse o Senhor: Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: Desarraiga-te daqui e planta-te no mar e ela vos obedeceria. E qual de vós terá um servo a lavrar ou a apascentar gado, a quem, voltando ele do campo, diga: Chega-te e assenta-te à mesa? E não lhe diga antes: Prepara-me a ceia, e cinge-te, e serve-me, até que tenha comido e bebido, e depois comerás e beberás tu? Porventura, dá graças ao tal servo, porque fez o que lhe foi mandado? Creio que não. Assim também vós, quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer. Lucas, 17.5-10.
Por estes ensinamentos, Jesus esclarece que a fé possui um poder inimaginável, a ponto de “transportar montanhas”, como consta no registro de Mateus (Mt 17.20), ainda que pequena como um grão de mostarda. Esclarece, igualmente, que a fé se desenvolve através do trabalho incessante no bem. Não é algo que se adquire de uma hora para outra. Exige esforço, dedicação, perseverança.
A pessoa que tem a fé desenvolvida confia em Deus, no seu amor e providência, mas também em si mesma, por conhecer os próprios limites e a própria capacidade de ação. Sabe que a verdadeira fé jamais é confundida com a presunção, mas que esta deve ser conjugada à humildade:
Aquele que a possui deposita mais confiança em Deus do que em si próprio, por saber que, simples instrumento da vontade divina, nada pode sem Deus. Por essa razão é que os bons Espíritos lhe vêm em auxílio. A presunção é menos fé do que orgulho, e o orgulho é sempre castigado, cedo ou tarde, pela decepção e pelos malogros que lhe são infligidos. (3)
Por outro lado, a fé legítima “[…] dá uma espécie de lucidez que permite se veja, em pensamento, a meta que se quer alcançar e os meios de chegar lá, de sorte que aquele que a possui caminha, por assim dizer, com absoluta confiança.” (2)
2. Interpretação do texto evangélico
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Disseram, então, os apóstolos ao Senhor Acrescenta-nos a fé. E disse o Senhor: Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: Desarraiga-te daqui e planta-te no mar e ela vos obedeceria. (Lc 17.5,6).
O discípulo sincero reconhece, humilde, que perante as provações nem sempre é possível demonstrar a fé que gostaria. Da mesma forma, os apóstolos pedem ao Mestre que lhes conceda a fé, como se esta fosse um bem material que pode ser transferido de uma pessoa para outra, como doação ou herança. “Ninguém pode, pois, em sã consciência, transferir, de modo integral, a vibração da fé ao Espírito alheio, porque, realmente, isso é tarefa que compete a cada um.” (10)
Diz-se vulgarmente que a fé não se prescreve, donde resulta alegar muita gente que não lhe cabe a culpa de não ter fé. Sem dúvida, a fé não se prescreve, nem, o que ainda é mais certo, se impõe. Não; ela se adquire e ninguém há que esteja impedido de possuí-la, mesmo entre os mais refratários. Falamos das verdades espirituais básicas e não de tal ou qual crença particular. Não é à fé que compete procurá-los; a eles é que cumpre ir-lhe ao encontro e, se a buscarem sinceramente, não deixarão de achá-la. (5)
Na verdade, o processo de aquisição da fé é trabalho cotidiano e persistente. As pessoas de caráter fraco ou que desanimam perante os obstáculos, demoram mais na construção do edifício da fé no íntimo do ser. Muitos iniciam essa aquisição através da religião, outros pelo controle mental, desenvolvido pela meditação e vontade disciplinada.
Do ponto de vista religioso, a fé consiste na crença em dogmas especiais, que constituem as diferentes religiões. Todas elas têm seus artigos de fé. Sob esse aspecto, pode a fé ser raciocinada ou cega. Nada examinando, a fé cega aceita, sem verificação, assim o verdadeiro como o falso, e a cada passo se choca com a evidência e a razão. Levada ao excesso, produz o fanatismo. Em assentando no erro, cedo ou tarde desmorona; somente a fé que se baseia na verdade garante o futuro, porque nada tem a temer do progresso das luzes, dado que o que é verdadeiro na obscuridade, também o é à luz meridiana. (4)
É importante considerar que outras situações podem oferecer oportunidade de despertamento da fé. O seu desenvolvimento, porém, é outra história.
Curiosidade ou sofrimento oferecem portas à fé, mas não representam o vaso divino destinado à sua manutenção. Em todos os lugares, observamos pessoas que, em seguida a grandes calamidades da sorte, correm pressurosas aos templos ou aos oráculos novos, manifestando esperança no remédio das palavras. O fenômeno, entretanto, muitas vezes, é apenas verbal. O que lhes vibra no coração é o capricho insatisfeito ou ferido pelos azorragues de experiências cruéis… […] É imprescindível guardar a fé e a crença em sentimentos puros. Sem isso, o homem oscilará, na intranquilidade, pela insegurança do mundo Intimo. […] O divino mistério da fé viva é problema de consciência cristalina. Trabalhemos, portanto, por apresentarmos ao Pai a retidão e a pureza dos pensamentos. (11)
Para a Doutrina Espírita a “[…] fé necessita de uma base, base que é a inteligência perfeita daquilo em que se deve crer […]. Fé inabalável só o é a que pode encarar de frente a razão, em todas as épocas da Humanidade.” (6)
Por não ignorar que a aquisição da fé é, em muitos casos, obra dos séculos, foi que Jesus optou por exaltar-lhe o poder, em resposta ao pedido que lhe dirigiram os apóstolos. Entretanto, a fé não precisa ser grandiosa, algo fora do comum, basta que seja verdadeira. Ainda que seja do tamanho de um grão de mostarda, uma semente tão pequena, se ela for exercitada, plantada no terreno da vida, ela crescerá e será capaz de trazer grande providência, ou seja, de realizar coisas prodigiosas: deslocando montanhas (Mt 17.20) ou fazendo uma amoreira desenraizar-se e ser transportada até o mar (Lc 17.6).
A árvore da fé viva não cresce no coração, miraculosamente. Qual acontece na vida comum, o Criador dá tudo, mas não prescinde do esforço da criatura. […] A maioria das pessoas admite que a fé constitua milagrosa auréola doada a alguns espíritos privilegiados pelo favor divino. Isso, contudo, é um equívoco de lamentáveis consequências. A sublime virtude é construção do mundo interior, em cujo desdobramento cada aprendiz funciona como orientador, engenheiro e operário de si mesmo. (9)
Transportar montanhas e árvores, por ação da fé, são simbolismos usualmente utilizados por Jesus com o intuito de fixar um ensinamento. Não devem, pois, serem considerados literalmente.
As montanhas que a fé desloca são as dificuldades, as resistências, a má vontade, em suma, com que se depara da parte dos homens, ainda quando se trate das melhores coisas. Os preconceitos da rotina, o interesse material, o egoísmo, a cegueira do fanatismo e as paixões orgulhosas são outras tantas montanhas que barram o caminho a quem trabalha pelo progresso da Humanidade. A fé robusta dá a perseverança, a energia e os recursos que fazem se vençam os obstáculos, assim nas pequenas coisas, que nas grandes. Da fé vacilante resultam a incerteza e a hesitação de que se aproveitam os adversários que se têm de combater; essa fé não procura os meios de vencer, porque não acredita que possa vencer. (1)
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E qual de vós terá um servo a lavrar ou a apascentar gado, a quem, voltando ele do campo, diga: Chega-te e assenta-te à mesa? E não lhe diga antes: Prepara-me a ceia, e cinge-te, e serve-me, até que tenha comido e bebido, e depois comerás e beberás tu? Porventura, dá graças ao tal servo, porque fez o que lhe foi mandado? Creio que não. Assim também vós, quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer. (Lc 17.7-10).
A fé estacionária não é produtiva, e se abala às menores contrariedades ou provações. Está claramente representada na alegoria dos “servos inúteis”, isto é, dos servidores que nada mais fazem do que a própria obrigação, que agem de forma mecânica ou rotineira. Depois de exaltar o poder da fé, Jesus faz os apóstolos compreenderem “[…] que, para ser fortalecida, a fé tem que se apoiar em atos de benemerência, em devotamento ao próximo, em renúncia pessoal a benefício dos semelhantes.” (7)
Os bons obreiros, os servos úteis, sabem que é preciso cultivar a fé. Daí o apóstolo Tiago ter afirmado com convicção: “Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.” (Tg 2.18)
Em todos os lugares, vemos o obreiro sem fé, espalhando inquietação e desânimo. […] E transita de situação em situação, entre a lamúria e a indisciplina, com largo tempo para sentir-se perseguido e desconsiderado. Em toda parte, é o trabalhador que não termina o serviço por que se responsabilizou ou o aluno que estuda continuadamente, sem jamais aprender a lição. Não te concentres na fé sem obras, que constitui embriaguez perigosa da alma, todavia, não te consagres à ação, sem fé no Poder Divino e em teu próprio esforço. O servidor que confia na Lei da Vida reconhece que todos os patrimônios e glórias do Universo pertencem a Deus. Em vista disso, passa no mundo, sob a luz do entusiasmo e da ação no bem incessante, completando as pequenas e grandes tarefas que lhe competem, sem enamorar-se de si mesmo na vaidade e sem escravizar-se ás criações de que terá sido venturoso instrumento. Revelemos a nossa fé, através das nossas obras na felicidade comum e o Senhor conferirá à nossa vida o indefinível acréscimo de amor e sabedoria, de beleza e poder. (8)
ANEXO I
(Humberto de Campos)
ANEXO II
ORIENTAÇÕES AO MONITOR: Projetar o texto evangélico (Lucas, 17.5-10), objeto do estudo deste Roteiro. Em seguida, analisar em conjunto com a turma, de forma dinâmica e objetiva, a explicação que a Doutrina Espírita dá sobre a importância da fé e de como desenvolver esta virtude. Terminada esta etapa, pedir aos participantes que leiam, silenciosamente, o texto A Crente Interessada, de autoria do Espírito Humberto de Campos (veja anexo). Após a leitura, promover um debate, correlacionando os assuntos estudados com as ideias desenvolvidas pelo autor do texto.
Referências:
1. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 127. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 19, item 2, p. 340.
2. Idem - Item 3, p. 340.
3. Idem - Item 4, p. 341 .
4. Idem - Item 6, p.341-342.
5. Idem - Item 7, p. 342.
6. Idem - Item 7, p. 343.
7. CALLIGARIS, Rodolfo. Parábolas evangélicas. 9. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Item: Parábola dos servos inúteis, p. 114.
8. XAVIER, Francisco Cândido. Fonte viva. Pelo Espírito Emmanuel. 36. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Capítulo 26 (Obreiro sem fé), p. 69-70.
9. Idem - Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. 26. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Capítulo 40 (Fé), p. 99-100.
10. Idem, ibidem - p. 100.
11. Idem - Capítulo 131 (Consciência), p. 293-294.