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EADE — Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita — Religião à luz do Espiritismo

TOMO II — ENSINOS E PARÁBOLAS DE JESUS — PARTE II
Módulo IV — Aprendendo com as curas

Roteiro 1


A cura da mulher que sangrava


 

Objetivos: Explicar como se realizou a cura da mulher com hemorragia. — Analisar as finalidades da curas operadas por Jesus.



IDEIAS PRINCIPAIS

  • As curas operadas por Jesus testemunham a grandiosidade do seu Espírito. Queria ele provar dessa forma que o verdadeiro poder é o daquele que faz o bem; que o seu objetivo era ser útil e não satisfazer à curiosidade dos indiferentes, por meio de coisas extraordinárias. Allan Kardec: A gênese, Capítulo 15, item 27.

  • Na mulher que sangrava é […] de notar-se que o efeito não foi provocado por nenhum ato da vontade de Jesus; não houve magnetização, nem imposição das mãos. Bastou a irradiação fluídica normal para realizar a cura. Allan Kardec: A gênese, Capítulo 15, item 11.



 

SUBSÍDIOS


1. Texto evangélico

  • E certa mulher, que havia doze anos tinha um fluxo de sangue, e que havia padecido muito com muitos médicos, e despendido tudo quanto tinha, nada de aproveitando isso, antes indo a pior, ouvindo falar de Jesus, veio por detrás, entre a multidão, e tocou na sua vestimenta. Porque dizia: Se tão somente tocar nas suas vestes, sararei. E logo se lhe secou a fonte do seu sangue, e sentiu no seu corpo estar já curada daquele mal. E logo Jesus, conhecendo que a virtude de si mesmo saíra, voltou-se para a multidão e disse: Quem tocou nas minhas vestes? E disseram-lhe os seus discípulos: Vês que a multidão te aperta, e dizes: Quem me tocou? E ele olhava em redor, para ver a que isso fizera. Então, a mulher, que sabia o que lhe tinha acontecido, temendo e tremendo, aproximou-se, e prostrou-se diante dele, e disse-lhe toda a verdade. E ele lhe disse: Filha, a tua fé te salvou; vai em paz e sê curada deste teu mal. Marcos, 5.25-34.

O texto evangélico destaca a cura de uma enfermidade crônica que acometia a mulher durante doze anos. Uma doença debilitante, cuja cura partiu da iniciativa da própria enferma quando viu Jesus caminhar no meio da multidão. Movida de poderosa fé acreditou que, bastasse tocar a túnica do Mestre que ela se veria livre do mal que a atingia, como de fato, assim aconteceu.


De todos os fatos que dão testemunho do poder de Jesus, os mais numerosos são, não há contestar, as curas. Queria ele provar dessa forma que o verdadeiro poder é o daquele que faz o bem; que o seu objetivo era ser útil e não satisfazer à curiosidade dos indiferentes, por meio de coisas extraordinárias. Aliviando os sofrimentos, prendia a si as criaturas pelo coração e fazia prosélitos mais numerosos e sinceros, do que se apenas os maravilhasse com espetáculos para os olhos. Daquele modo, fazia-se amado, ao passo que se se limitasse a produzir surpreendentes fatos materiais, conforme os fariseus reclamavam, a maioria das pessoas não teria visto nele senão um feiticeiro, ou um mágico hábil, que os desocupados iriam apreciar para se distraírem. (4)


O Espiritismo explica de que forma o poder da fé pode produzir curas de doenças, geralmente classificadas como “milagrosas” por se desconhecer as leis que regem o fenômeno.


O poder da fé se demonstra, de modo direto e especial, na ação magnética; por seu intermédio, o homem atua sobre o fluido, agente universal, modifica-lhe as qualidades e lhe dá uma impulsão por assim dizer irresistível. Daí decorre que aquele que a um grande poder fluídico normal, junta ardente fé, pode, só pela força da sua vontade dirigida para o bem, operar esses singulares fenômenos de cura e outros, tidos antigamente por prodígios, mas que não passam de efeito de uma lei natural. Tal o motivo por que Jesus disse a seus apóstolos: se não o curastes, foi porque não tínheis fé. (1)


2. Interpretação do texto evangélico

  • E certa mulher, que havia doze anos tinha um fluxo de sangue, e que havia padecido muito com muitas médicos, e despendido tudo quanto tinha, nada de aproveitando isso, antes indo a pior, ouvindo falar de Jesus, veio por detrás, entre a multidão, e tocou na sua vestimenta. Porque dizia: Se tão somente tocar nas suas vestes, sararei. E logo se lhe secou a fonte do seu sangue, e sentiu no seu corpo estar já curada daquele mal. (Mc 5.25-30).

Estas palavras: conhecendo em si mesmo a virtude que dele saíra, são significativas. Exprimem o movimento fluídico que se operara de Jesus para a doente; ambos experimentaram a ação que acabara de produzir-se. É de notar-se que o efeito não foi provocado por nenhum ato da vontade de Jesus; não houve magnetização, nem imposição das mãos. Bastou a irradiação fluídica normal para realizara cura. (3)


Nunca é demais destacar o poder da fé, sobretudo nos mecanismos de cura de doenças. Há no Evangelho e na literatura espírita, inúmeros relatos sobre os prodígios da fé. Em mensagem existente no Evangelho segundo o Espiritismo, recomenda José, Espírito protetor: “Crede e esperai sem desfalecimento: os milagres são obras da fé.” (2)


Razão, pois, tinha Jesus para dizer: Tua fé te salvou. Compreende-se que a fé a que ele se referia não é uma virtude mística, qual a entendem muitas pessoas, mas uma verdadeira força atrativa, de sorte que aquele que não a possui opõe à corrente fluídica uma força repulsiva, ou, pelo menos, uma força de inércia, que paralisa a ação. Assim sendo, também, se compreende que, apresentando-se ao curador dois doentes da mesma enfermidade, possa um ser curado e outro não. (3)


Não podemos desconhecer, todavia, que toda enfermidade tem raízes nas ações do Espírito. Possivelmente, a hemorragia citada no texto evangélico, estava associada a um processo de vampirização. Não se pode marginalizar o fato de que a situação tangia outros ângulos terapêuticos que, efetivamente, fugiam à ação dos médicos. Apesar do processo hemorrágico caracterizar um problema físico, havia uma ascendência de ordem espiritual.


A doença sempre constitui fantasma temível no campo humano, qual se a carne fosse tocada de maldição; entretanto, podemos afiançar que o número de enfermidades, essencialmente orgânicas, sem interferências psíquicas, é positivamente diminuto. A maioria das moléstias procede da alma, das profundezas do ser. […] Quantas enfermidades pomposamente batizadas pela ciência médica não passam de estados vibratórios da mente em desequilíbrio? Qualquer desarmonia interior atacará naturalmente o organismo em sua zona vulnerável. Um experimentar-lhe-á os efeitos no fígado, outro, nos rins e, ainda outro, no próprio sangue. Em tese, todas as manifestações mórbidas se reduzem a desequilíbrio, desequilíbrio esse cuja causa repousa no mundo mental. […] A cura jamais chegará sem o reajustamento íntimo necessário, e quem deseje melhoras positivas, na senda de elevação, aplique o conselho de Tiago [“Confessai as vossas culpas uns aos outros e orai uns pelos outros para que sareis.” — Tiago, 5.16]; nele, possuímos remédio salutar para que saremos na qualidade de enfermos encarnados ou desencarnados. (8)


O importante não é apenas a restauração da saúde do paciente, em termos físicos, o que muitos podem operar pelo magnetismo. O segredo das curas, conduzidas por Jesus, era o fim a que visavam: reestruturação moral da alma, fortificando-a e preparando-a para os embates da edificação espiritual, agora sob novas bases, com a estrutura orgânica sadia.


Uma das maiores preocupações do Cristo foi alijar os fantasmas do medo das estradas dos discípulos. A aquisição da fé não constitui fenômeno comum nas sendas da vida. Traduz confiança plena. […] Não temamos, pois, o que possamos vir a sofrer. Deus é o Pai magnânimo e justo. Um pai não distribui padecimentos. Dá corrigendas e toda corrigenda aperfeiçoa. (5)


Sendo assim, é imperioso assimilarmos as bênçãos recebidas do Cristo, esforçando para nos transformar em pessoas de bem. “Não basta fazer do Cristo Jesus o benfeitor que cura e protege. É indispensável transformá-lo em padrão permanente da vida, por exemplo e modelo de cada dia.” (7)

A cura da mulher com fluxo sanguíneo foi catalogada, por algumas interpretações cristãs, como milagrosa. No entanto, pelos ensinos espiritistas sabemos que nada mais houve do que uma emanação de fluidos terapêuticos de Jesus, com a consequente apropriação por parte daquela paciente.


Mas, por que essa irradiação se dirigiu para aquela mulher e não para outras pessoas, uma vez que Jesus não pensava nela e tinha a cercá-lo a multidão? É bem simples a razão. Considerado como matéria terapêutica, o fluido tem que atingir a matéria orgânica, a fim de repará-la; pode então ser dirigido sobre o mal pela vontade do curador, ou atraído pelo desejo ardente, pela confiança, numa palavra: pela fé do doente. Com relação à corrente fluídica, o primeiro age como uma bomba calcante e o segundo como uma bomba aspirante. Algumas vezes, é necessária a simultaneidade das duas ações; doutras, basta uma só. O segundo caso foi o que ocorreu na circunstância de que tratamos. (3)

  • E logo Jesus, conhecendo que a virtude de si mesmo saíra, voltou-se para a multidão e disse: Quem tocou nas minhas vestes? E disseram-lhe os seus discípulos: Vês que a multidão te aperta, e dizes: Quem me tocou? E ele olhava em redor, para ver a que isso fizera. Então, a mulher, que sabia o que lhe tinha acontecido, temendo e tremendo, aproximou-se, e prostrou-se diante dele, e disse-lhe toda a verdade. E ele lhe disse: Filha, a tua fé te salvou; vai em paz e sê curada deste teu mal. (Mc 5.30-34).

Consideremos o seguinte trecho: “E disse Jesus: Quem tocou nas minhas vestes? E disseram-lhe os seus discípulos: Vês que a multidão te aperta, e dizes: Quem me tocou? E ele olhava em redor, para ver a que isso fizera.” Sabia Jesus que dele irradiara-se uma virtude. De igual modo, assim também acontece no movimento de auxílio ao próximo. São processos universais definidos pela Lei Divina: os valores sublimados que circulam pelo Universo, na forma de bênçãos, são sempre recolhidos por alguém, em algum lugar e em momento específico.

Depois de Jesus localizar a mulher que fora beneficiada pela sua poderosa irradiação magnética, e ouvir a sua história, acrescenta, complementando o auxílio prestado: “Filha, a tua fé te salvou; vai em paz e sê curada deste teu mal.”

Emmanuel esclarece, com propriedade, a respeito desse procedimento de Jesus:


É importante observar que o Divino Mestre, após o benefício dispensado, sempre se reporta ao prodígio da fé, patrimônio sublime daqueles que O procuram. Diversas vezes, ouvimo-lo na expressiva afirmação: — “A tua fé te salvou.” Doentes do corpo e da alma, depois do alívio ou da cura, escutam a frase generosa. É que a vontade e a confiança do homem são poderosos fatores no desenvolvimento e iluminação da vida. O navegante sem rumo e que em nada confia, somente poderá atingir algum porto em virtude do jogo das forças sobre as quais se equilibra, desconhecendo, porém, de maneira absoluta, o que lhe possa ocorrer. O enfermo, descrente da ação de todos os remédios, é o primeiro a trabalhar contra a própria segurança. O homem que se mostra desalentado em todas as coisas, não deverá aguardar a cooperação útil de coisa alguma. As almas vazias embalde reclamam o quinhão de felicidade que o mundo lhes deve. As negações, em que perambulam, transformam-nas, perante a vida, em zonas de amortecimento, quais isoladores em eletricidade. Passa corrente vitalizante, mas permanecem insensíveis. Nos empreendimentos e necessidades de teu caminho, não te isoles nas posições negativas. Jesus pode tudo, teus amigos verdadeiros farão o possível por ti; contudo, nem o Mestre e nem os companheiros realizarão em sentido integral a felicidade que ambicionas, sem o concurso de tua fé, porque também tu és filho do mesmo Deus, com as mesmas possibilidades de elevação. (6)


A cura dos males espirituais traduz-se como grande desafio para todos nós. Ainda que abençoados pela cura de enfermidades que atingem a organização física, poderão ocorrer recidivas, se não existir ajustamento espiritual aos ditames das leis divinas que regem a vida.


No que se refere aos poderes curativos, temo-los em Jesus nas mais altas afirmações de grandeza. Cercam-no doentes de variada expressão. Paralíticos estendem-lhe membros mirrados, obtendo socorro. Cegos recuperam a visão. Ulcerados mostram-se limpos. Alienados mentais, notadamente obsidiados diversos, recobram equilíbrio. É importante considerar, porém, que o Grande Benfeitor a todos convida para a valorização das próprias energias. Reajustando as células enfermas da mulher hemorroíssa, diz-lhe, convincente: — “Filha, tem bom ânimo! Atua fé te curou.” […] Não salienta a confiança por simples ingrediente de natureza mística, mas sim por recurso de ajustamento dos princípios mentais, na direção da cura. E encarecendo o imperativo do pensamento reto para a harmonia do binômio mente-corpo, por várias vezes o vemos impelir os sofredores aliviados à vida nobre, como no caso do paralítico de Betesda, que, devidamente refeito, ao reencontrá-lo no templo, dele ouviu a advertência inesquecível: “Eis que já estás são. Não peques mais, para que te não suceda coisa pior.” [João, 5.14] (9)



 

ANEXO I


CURA ESPIRITUAL

(André Luiz)



 

ANEXO II


Citação de Marcos 5.34



ORIENTAÇÕES AO MONITOR: Organizar os participantes em pequenos grupos para o estudo das ideias desenvolvidas neste Roteiro. Após ouvir os relatos dos grupos, realizar um roteiro direcionado para a cura espiritual, em conjunto com a turma. Ao final, projetar as orientações do Espírito André Luiz sobre o assunto (veja anexo), comparando-as com o roteiro realizado.



Referências:

1. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 127. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 19, item 5, p. 341.

2. Idem - Item 11, p. 347.

3. Idem - A gênese. Tradução de Guillon Ribeiro. 52. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Capítulo 15, item 11, p. 361-362.

4. Idem - Item 27, p. 372-373.

5. XAVIER, Francisco Cândido. Caminho, verdade e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Capítulo 26 (Padecer), p. 67-68.

6. Idem - Pão nosso. Pelo Espírito Emmanuel. 29. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Capítulo 113 (Tua fé), p. 241-242.

7.  Idem - Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. 26. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Capítulo 100 (Que fazemos do mestre?), p. 227.

8. Idem - Capítulo 157 (O remédio salutar), p. 351-352.

9. XAVIER, Francisco Cândido e VIEIRA, Waldo. Mecanismos da mediunidade. Pelo Espírito André Luiz. 26. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 26 (Jesus e mediunidade), item: Mediunidade curativa, p. 204-205.


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