Roteiro 5
Um rebanho e um pastor
Objetivos: Explicar a sentença do Cristo de que “haverá um rebanho e um pastor” (Jo 10.16). — Identificar condições favoráveis para o cumprimento desta profecia. — Destacar a contribuição do Espiritismo no contexto da previsão.
IDEIAS PRINCIPAIS
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Com a profecia de que na Terra haverá “um rebanho e um pastor”, […] Jesus claramente anuncia que os homens um dia se unirão por uma crença única […], Allan Kardec: A gênese, Capítulo 17, item 32.
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A fim de que os homens se unam por meio de uma única crença é necessário que […] as religiões se encontrem num terreno neutro, se bem que comum a todas; para isso todas terão que fazer concessões e sacrifícios mais ou menos importantes, conformemente à multiplicidade dos seus dogmas particulares. Allan Kardec: A gênese, Capítulo 17, item 32.
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Por meio do Espiritismo, a Humanidade tem que entrar numa nova fase, a do progresso moral que lhe é consequência inevitável. […] Allan Kardec: O Livro dos Espíritos. Conclusão V.
SUBSÍDIOS
1. Texto evangélico
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Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido. Assim como o Pai me conhece a mim, também eu conheço o Pai e dou a minha vida pelas ovelhas. Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor. João, 10.14-16.
Em algumas regiões do Planeta existem, atualmente, acordos comerciais, econômicos, políticos e sociais coordenados, na sua maioria, por respeitáveis organizações internacionais, públicas ou privadas. São iniciativas que visam à aproximação e a integração de diferentes nacionalidades. A Comunidade Econômica Europeia (CEE) é um exemplo desse tipo de união.
As palavras do Cristo, contudo, extrapolam essas ligações sócio-político-econômicas. Indicam que acontecerá também uma integração religiosa entre os diferentes povos que compõem a Humanidade planetária. É uma profecia que não deixa de representar um grande desafio, sobretudo se analisarmos a situação atual, onde predominam o separatismo, o fundamentalismo e os extremismos religiosos. Entretanto, se foi profetizado por Jesus, tal acontecimento ocorrerá, cedo ou tarde. Mas, como será possível efetuar essa união?
Difícil parecerá isso, tendo-se em vista as diferenças que existem entre as religiões, o antagonismo que elas alimentam entre os seus adeptos, a obstinação que manifestam em se acreditarem na posse exclusiva da verdade. Todas querem a unidade, mas cada uma se lisonjeia de que essa unidade se fará em seu proveito e nenhuma admite a possibilidade de fazer qualquer concessão, no que respeita às suas crenças. […] Ela se fará pela força das coisas, porque há de tornar-se uma necessidade, para que se estreitem os laços da fraternidade entre as nações; far-se-á pelo desenvolvimento da razão humana, que se tornará apta a compreender a puerilidade de todas as dissidências; pelo progresso das ciências, a demonstrar cada dia mais os erros materiais sobre que tais dissidências assentam […]. (1)
2. Interpretação do texto evangélico
A palavra pastor (do hebraico ro’eh e do grego poimen) apresenta diferentes significados nos textos bíblicos. Pastor ou guardador de gado é o mais conhecido: identifica as pessoas que cuidam de um rebanho, especialmente o de ovelhas. Exemplo: “E todas as nações serão reunidas diante dele e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas” (Mt 25.32). Pode referir-se a ministro de uma igreja. Exemplo: “Obedecei a vossos pastores e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossa alma, como aqueles que hão de dar conta delas.” (Hb 13.17) Indica também governante espiritual ou guia de um povo, nação ou Humanidade. Ismael é considerado pelos espíritas como o guia espiritual do Brasil. Jesus é o governante ou governador da Humanidade terrestre. Exemplo: “Ora, o Deus de paz, que pelo sangue do concerto eterno tornou a trazer dos mortos a nosso Senhor Jesus Cristo, grande Pastor das ovelhas”. (Hb 13.20) Encontramos, ainda, o significado de pastor como indicativo de Deus, o Criador Supremo, sobretudo nos textos do Velho Testamento: Exemplo: “ O Senhor é o meu Pastor; nada me faltará”. (Sl 23.1)
Jesus aplica a si mesmo o cognitivo “pastor” ou “porta”, no sentido de Governador ou Dirigente da Humanidade terrestre. “[…] O Cristo, porém, é a porta da Vida Abundante. Com ele, submetemo-nos aos desígnios do Pai Celestial e, nessa diretriz, aceitamos a existência como aprendizado e serviço, em favor de nosso próprio crescimento para a Imortalidade.” (11)
Fora dos textos bíblicos, “[…] Homero e outros escritores seculares frequentemente chamavam os reis e governadores de pastores” (Ilíada, I, 263). (8)
No contexto da citação de João, a afirmativa do Cristo “Eu sou o bom Pastor”, tem como significado expresso o de ser ele, Jesus, o Governador Espiritual do Orbe, o condutor dos nossos destinos, o Guia e Modelo da Humanidade. (7) Nenhum dos demais significados estudados anteriormente se aplicam ao Mestre: Jesus não deve ser confundido com guardador de ovelhas, com ministro ou chefe de igreja cristã, com governantes de províncias da Terra, e, especialmente, com Deus.
Cristo é a linha central de nossas cogitações. Ele é o Senhor único, depois de Deus, para os filhos da Terra, com direitos inalienáveis, porquanto é a nossa luz do primeiro dia evolutivo e adquiriu-nos para a redenção com sacrifícios de seu amor. Somos servos d’Ele. Precisamos atender-lhe aos interesses sublimes, com humildade. (10)
Emmanuel esclarece no seu livro A Caminho da Luz, a posição de Jesus como dirigente planetário:
Rezam as tradições do mundo espiritual que na direção de todos os fenômenos, do nosso sistema, existe uma Comunidade de Espíritos Puros e Eleitos pelo Senhor Supremo do Universo, em cujas mãos se conservam as rédeas diretoras da vida de todas as coletividades planetárias. Essa Comunidade de seres angélicos e perfeitos, da qual é Jesus um dos membros divinos, ao que nos foi dado saber, apenas já se reuniu, nas proximidades da Terra, para a solução de problemas decisivos da organização e da direção do nosso planeta, por duas vezes no curso dos milênios conhecidos. (9)
Neste sentido, Jesus não é apenas “o pastor”, mas “o bom pastor” porque conhece verdadeiramente as suas ovelhas, guiando-as com segurança e amor ao longo do processo ascensional.
Compadecendo-se de nossa ignorância, a Divina Providência deliberou enviar alguém que nos instruísse nos caminhos da elevação, e Jesus, o Sublime Governador do Planeta Terrestre, veio em pessoa explicar-nos que Deus não nos pede nem adulações e nem pompas, nem vitimas e nem holocaustos, e sim o coração inflamado de fraternidade, a serviço do bem, para que a Terra se abra, enfim, à glória e à felicidade do Seu Reino. (12)
O vocábulo ovelha, usualmente empregado nos textos religiosos, testamentais e não testamentais, apresenta três interpretações: a) a forma literal conhecida, de animal, fêmea do carneiro. Exemplo: “Que vos parece? Se algum homem tiver cem ovelhas, e uma delas se desgarrar, não irá pelos montes, deixando as noventa e nove, em busca da que se desgarrou?” (Mt 18.12) b) a que faz referência aos crentes, religiosos, adeptos ou seguidores de uma religião. Exemplo: “[…] mas ide, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel […]” (Mt 10.6). Neste aspecto, as ovelhas perdidas representam os judeus afastados da sinagoga ou desiludidos com o judaísmo; c) a que indica todos os Espíritos bons, justos ou benevolentes. Exemplo: “ E, quando o Filho do Homem vier em sua glória […]; e todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas. E porá as ovelhas à sua direita, mas os bodes à esquerda. Então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos do meu Pai, possuí por herança o Reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; porque tive fome, e deste-me de comer […]. Então, os justos lhes responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome e te demos de comer? […]” (Mt 25.31-37).
Fica claro que Jesus considera como “ovelhas” o sentido expresso nos itens “ b” e “c”.
Jesus anuncia, com essas palavras, a diversidade religiosa que existia na sua época, em todas as partes do mundo, cuja maioria abraçava a crença em vários deuses. Mesmo entre os judeus, monoteístas por natureza, existiam divisões quanto à interpretação da revelação de Moisés. Em Jerusalém, a sede do monoteísmo hebreu, conviviam diversas seitas do Judaísmo: dos fariseus e saduceus; dos nazarenos e essênios; dos samaritanos e terapeutas etc. Os judeus que nasceram e viveram fora de Jerusalém sofreram, especialmente, forte influência dos povos gentílicos. Um exemplo que se destaca diz respeito aos chamados “judeus helênicos” envolvidos, em geral, com as ideias dos filósofos gregos, sobretudo os da famosa Escola de Alexandria.
Nos dias atuais, percebemos que o politeísmo não é tão expressivo como era na Antiguidade, em razão da existência das três grandes revelações monoteístas, firmemente estabelecidas: Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. Contudo, a mensagem cristã não é crença universal. Daí Jesus anunciar a conveniência de agregar ao seu aprisco outras ovelhas, as que ainda não aceitam ou desconhecem a sua mensagem de amor. A profecia do Cristo se aplica tanto à Humanidade daquela época quanto a da atualidade.
Trata-se de uma profecia que será cumprida, possivelmente, durante o período de regeneração, quando a Humanidade terrestre estará mais unida em torno de ideias comuns, sobretudo no campo da fé:
A fraternidade será a pedra angular da nova ordem social; mas, não há fraternidade real, sólida, efetiva, senão assente em base inabalável e essa base é a fé, não a fé em tais ou tais dogmas particulares, que mudam com os tempos e os povos e que mutuamente se apedrejam, porquanto, anatematizando-se uns aos outros, alimentam o antagonismo, mas a fé nos princípios fundamentais que toda a gente pode aceitar e aceitará: Deus, a alma, o futuro, o progresso individual indefinito, a perpetuidade das relações entre os seres. Quando todos os homens estiverem convencidos de que Deus é o mesmo para todos; de que esse Deus, soberanamente justo e bom, nada de injusto pode querer; que não dele, porém dos homens vem o mal, todos se considerarão filhos do mesmo Pai e se estenderão as mãos uns aos outros. Essa a fé que o Espiritismo faculta e que doravante será o eixo em torno do qual girará o gênero humano, quaisquer que sejam os cultos e as crenças particulares. (2)
É equívoco supor que a união dos homens em torno de uma única crença eliminará a diversidade religiosa existente no Planeta. As pessoas se manterão unidas pela crença em princípios espirituais universais e por um laço de fraternidade. Compreenderão, às duras penas, que somente “[…] o progresso moral pode assegurar aos homens a felicidade na Terra, refreando as paixões más; somente esse progresso pode fazer que entre os homens reinem a concórdia, a paz, a fraternidade.” (3)
Será ele [o progresso moral] que deitará por terra as barreiras que separam os povos, que fará caiam os preconceitos de casta e se calem os antagonismos de seitas, ensinando os homens a se considerarem irmãos que têm por dever auxiliarem-se mutuamente e não destinados a viver à custa uns dos outros. Será ainda o progresso moral que, secundado então pelo da inteligência, confundirá os homens numa mesma crença fundada nas verdades eternas, não sujeitas a controvérsias e, em consequência, aceitáveis por todos. (3)
Os livros sagrados das religiões e as características culturais de cada movimento religioso serão mantidos, pois representam o patrimônio cultural da Humanidade. Ocorrerá, porém, uma espécie de diversidade religiosa que se apoiará na unidade de certas ideias fundamentais. Quer isto dizer que continuarão existindo judeus, católicos, islâmicos, protestantes, espíritas etc. Somente assim podemos compreender a afirmativa de Jesus de que “haverá um rebanho e um Pastor”.
A unidade de crença será o laço mais forte, o fundamento mais sólido da fraternidade universal, obstada, desde todos os tempos pelos antagonismos religiosos que dividem os povos e as famílias, que fazem sejam uns, os dissidentes, vistos, pelos outros, como inimigos a serem evitados, combatidos, exterminados, em vez de irmãos a serem amados. (4)
O Espiritismo, na sua missão de Cristianismo Redivivo, mostra que durante o período de transição moral, a “[…] geração que desaparece levará consigo seus erros e prejuízos; a geração que surge, retemperada em fonte mais pura, imbuída de ideias mais sãs, imprimirá ao mundo ascensional movimento, no sentido de progresso moral que assinalará a nova fase da evolução humana.” (5)
“Um rebanho e um Pastor” representa a idade de maturidade espiritual da Humanidade. Indica o surgimento de uma geração nova, solidária e fraterna, que caminhará unida em busca da felicidade espiritual.
A nova geração marchará, pois, para a realização de todas as ideias humanitárias compatíveis com o grau de adiantamento a que houver chegado. Avançando para o mesmo alvo e realizando seus objetivos, o Espiritismo se encontrará com ela no mesmo terreno. Aos homens progressistas se deparará nas ideias espíritas poderosa alavanca e o Espiritismo achará, nos novos homens, espíritos inteiramente dispostos a acolhê-lo. Dado esse estado de coisas, que poderão fazer os que entendam de opor-se-lhe? (6)
ORIENTAÇÃO AO MONITOR: Sugerimos que o estudo siga, criteriosamente, os objetivos definidos na página inicial deste Roteiro, independentemente dos recursos audiovisuais e técnicas didáticas selecionados.
OBSERVAÇÃO: Ao término da aula, o monitor solicita aos participantes a realização de uma pesquisa sobre as expressões “jugo” e “autoridade”, tanto no sentido indicado por Jesus quanto no que é, usualmente, utilizado nas relações sociais e profissionais (sentidos filosófico, científico, político, religioso e espiritual). Esta pesquisa servirá de base para o estudo previsto para as próximas reuniões (módulo II).
Referências:
1. KARDEC, Allan. A gênese. Tradução de Guillon Ribeiro. 51. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Capítulo 17, item 32, p. 436-437.
2. Idem - Capítulo 18, item 17, p. 470-471.
3. Idem - Item 19, p. 471.
4. Idem, ibidem - p. 471-472.
5. Idem - Item 20, p. 472.
6. Idem - Item 24, p. 474.
7. Idem - O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 89. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007, questão 625, p. 346.
8. DOUGLAS, J. D. BRUCE, F. F. [et cols.]. O novo dicionário da bíblia. Tradução de João Bentes. 3. ed. rev. São Paulo: Vida Nova, 2006, p.1004.
9. XAVIER, Francisco Cândido. A caminho da luz. Pelo Espírito Emmanuel. 34. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 1 (A gênese planetária), item: A Comunidade dos Espíritos Puros, p. 17-18.
10. Idem - Caminho, verdade e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 27. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 142 (Um só senhor), p. 299-300.
11. Idem - Fonte viva. Pelo Espírito Emmanuel. 35. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 172 (Ante o Cristo libertador), p. 416.
12. XAVIER, Francisco Cândido e VIEIRA, Waldo. Estude e viva. Pelos Espíritos Emmanuel e André Luiz. 12. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 24, item: Deus e caridade (mensagem de Emmanuel), p. 141 [Obs. O livro impresso traz duas mensagens por capítulo, nesse livro eletrônico elas foram separadas, ocupando uma por capítulo; assim, a mensagem citada está no Capítulo 47].