O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão | Estudos Espíritas

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EADE — Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita — Religião à luz do Espiritismo

TOMO II — ENSINOS E PARÁBOLAS DE JESUS — PARTE I
Módulo V — Aprendendo com fatos cotidianos

Roteiro 5


A caminho de Emaús


 

Objetivo: Analisar os ensinamentos contidos na passagem “Os dois discípulos a caminho de Emaús” (Lc 24.13-35), à luz da Doutrina Espírita.



IDEIAS PRINCIPAIS

  • Todos os evangelistas narram as aparições de Jesus, após sua morte, com circunstanciados pormenores que não permitem se duvide da realidade do fato. Elas, aliás, se explicam perfeitamente pelas leis fluídicas e pelas propriedades do perispírito e nada de anômalo apresentam em face dos fenômenos do mesmo gênero, cuja história, antiga e contemporânea, oferece numerosos exemplos, sem lhes faltar sequer a tangibilidade. Allan Kardec: A gênese. Capítulo 15, item 61.

  • Os acontecimentos ocorridos na estrada de Emaús não se resumem a mais uma aparição do Cristo após a sua crucificação. Suscitam valiosos aprendizados a respeito de uma série de fenômenos psíquicos: a imortalidade do Espírito após a morte do corpo, a comunicação mediúnica, a materialização de Espíritos, etc. Há, porém, profundas lições relativas à fé, ao entendimento da vida espiritual e, sobretudo, ao amor irrestrito de Jesus para com todos nós, habitantes do Planeta.

  • Ainda existem aprendizes na “estrada simbólica de Emaús”, todos os dias. Atingem o Evangelho e espantam-se em face dos sacrifícios necessários à eterna iluminação espiritual. Não entendem o ambiente divino da cruz e procuram “paisagens mentais” distantes… Entretanto, chega sempre um desconhecido que caminha ao lado dos que vacilam e fogem. […] Sua voz é diferente das outras, seus esclarecimentos mais firmes, seus apelos mais doces. Emmanuel: Caminho, verdade e vida. Capítulo 95.



 

SUBSÍDIOS


1. Texto evangélico

  • E eis que, no mesmo dia, iam dois deles para uma aldeia que distava de Jerusalém sessenta estádios, cujo nome era Emaús. E iam falando entre si de tudo aquilo que havia sucedido. E aconteceu que, indo eles falando entre si e fazendo perguntas um ao outro, o mesmo Jesus se aproximou e ia com eles. Mas os olhos deles estavam como que fechados, para que o não conhecessem.

    E ele lhes disse: que palavras são essas que, caminhando, trocais entre vós e por que estais tristes? E, respondendo um, cujo nome era Cleopas, disse-lhe: És tu só peregrino em Jerusalém, e não sabes as coisas que nela têm sucedido nestes dias? E ele lhes perguntou: Quais? E eles lhe disseram: As que dizem respeito a Jesus, o Nazareno, que foi um profeta poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo. E como os principais dos sacerdotes e os nossos príncipes o entregaram à condenação de morte e o crucificaram.

    E nós esperávamos que fosse ele o que remisse Israel; mas, agora, com tudo isso, é já hoje o terceiro dia desde que essas coisas aconteceram. É verdade que também algumas mulheres dentre nós nos maravilharam, as quais de madrugada foram ao sepulcro; e, não achando o seu corpo, voltaram, dizendo que tinham visto uma visão de anjos, que dizem que ele vive. E alguns dos que estavam conosco foram ao sepulcro e acharam ser assim como as mulheres haviam dito, porém, não o viram.

    E ele lhes disse: Ó néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram! Porventura, não convinha que o Cristo padecesse essas coisas e entrasse na sua glória? E começando por Moisés e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras.

    E chegaram à aldeia para onde iam, e ele fez como quem ia para mais longe. E eles o constrangeram, dizendo: Fica conosco, porque já é tarde, e já declinou o dia. E entrou para ficar com eles. E aconteceu que, estando com eles à mesa, tomando o pão, o abençoou e partiu-o e lho deu. Abriram-se-lhes, então, os olhos, e o conheceram, e ele desapareceu-lhes. E disseram um para o outro: Porventura, não ardia em nós o nosso coração quando, pelo caminho, nos falava e quando nos abria as Escrituras? E, na mesma hora, levantando-se, voltaram para Jerusalém e acharam congregados os onze, e os que estavam com eles, os quais diziam: Ressuscitou, verdadeiramente, o Senhor, e já apareceu a Simão. E eles lhes contaram o que lhes acontecera no caminho, e como deles foi conhecido no partir do pão. Lucas, 24.13-35.

Os acontecimentos ocorridos na estrada de Emaús dizem respeito à aparição de Jesus a dois discípulos, após a sua crucificação, atestando, dessa forma, a sobrevivência do Espírito.

Jesus apareceu aos seus discípulos, apóstolos e ou seguidores, em quatro diferentes ocasiões depois da crucificação, aparições que são denominadas ressurreição.

Voltando no tempo, um pouco antes da ressurreição, sabemos que Jesus foi sepultado no dia do martírio na cruz, possivelmente no final da noite de sexta-feira (Lc 23.54), dia conhecido como da “Preparação” para a Páscoa judaica (Mc 15.42), por José, rico judeu da cidade de Arimateia (Mt 27.57-61; Mc 15.42-47; Lc 23.50-55 e Jo 19.38-42), auxiliado por Nicodemos (Jo 19.39,40) e observados por Maria de Magdala e outra Maria, possivelmente mãe de Tiago, filho de Alfeu (Mt 27.61).

No dia seguinte ao da “Preparação”, no sábado, um grupo de sacerdotes e fariseus procuraram Pilatos e solicitaram uma guarda para vigiar o sepulcro, justificando que Jesus afirmara que iria ressuscitar no domingo de Páscoa, três dias após a crucificação (Mt 27.62-64). Pilatos ordenou que a pedra do sepulcro fosse selada e que uma guarda ali permanecesse, ininterruptamente (Mt 27.65,66).

Todo esse controle se revelou inútil porque, no raiar do dia de domingo, Jesus apareceu a Maria Madalena, a Salomé (esposa de Zebedeu), e a Maria (mãe de Tiago Menor) (Mc 16.1. Veja também nota de rodapé “c”, da Bíblia de Jerusalém referente à identidade das mulheres, citadas em Mc 15.40 e outros evangelistas). Lucas fala também da presença de uma certa Joana (Lc 24.9,10).

Mais tarde, no mesmo dia, Jesus apareceu a dois discípulos na estrada para Emaús (Lc 24.13-35). Manifestou-se também aos apóstolos quando esses se encontravam à mesa (Mc 16.14), censurando-lhes a incredulidade a respeito da sua ressurreição. Tornou-se visível a Pedro, Tomé, Natanael, aos filhos de Zebedeu e a mais dois discípulos não identificados no Evangelho (Jo 21.1-17), junto ao lago de Tiberíades. A última aparição de Jesus, e a sua ascensão ao céu, aconteceu em Betânia. (Lc 24.50-53)


2. Interpretação do texto evangélico

  • E eis que, no mesmo dia, iam dois deles para uma aldeia que distava de Jerusalém sessenta estádios, cujo nome era Emaús. E iam falando entre si de tudo aquilo que havia sucedido. E aconteceu que, indo eles falando entre si e fazendo perguntas um ao outro, o mesmo Jesus se aproximou e ia com eles. Mas os olhos deles estavam como que fechados, para que o não conhecessem. E ele lhes disse: Que palavras são essas que, caminhando, trocais entre vós e por que estais tristes? E, respondendo um, cujo nome era Cleopas, disse-lhe: És tu só peregrino em Jerusalém e não sabes as coisas que nela têm sucedido nestes dias? E ele lhes perguntou: Quais? E eles lhe disseram: As que dizem respeito a Jesus, o Nazareno, que foi um profeta poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo; e como os principais dos sacerdotes e os nossos príncipes o entregaram à condenação de morte e o crucificaram. (Lc 24.13-20)

Segundo o registro de Lucas, dois discípulos, Cleopas (Kleopatros, do grego: “pai famoso”) e outro desconhecido, caminhavam de Jerusalém para Emaús (nome que literalmente significa “águas quentes”), uma cidade situada 12 km para o norte, no dia da Páscoa.


Estavam abatidos e desiludidos e discutiam os acontecimentos terríveis de alguns dias antes. Quando um estranho juntou-se a eles manifestando ignorância da história que tanto os comovera, eles explicaram sobre o Jesus crucificado e como “nós esperávamos que fosse ele quem iria redimir Israel” (Lc 24.21). Convidado para participar da ceia com Cleopas e o seu companheiro, o estranho revelou ser Jesus ao benzer o pão e parti-lo; imediatamente depois, desapareceu. Os dois voltaram com pressa para Jerusalém para levar a notícia aos outros discípulos e, enquanto isso, Jesus aparecia a todos eles. (7)


Apesar do sofrimento que traziam na alma, os discípulos seguiam adiante trocando, entre si, ideias a respeito do martírio do seu Messias. Traziam os olhos fechados, como assinala o texto evangélico, possivelmente para qualquer tipo de percepção, decorrente da desarmonia íntima produzida pelo trauma emocional da crucificação. Entretanto, não estavam abandonados pelo Senhor.


Jesus seguira-os, qual amigo oculto, fixando-lhes a verdade no coração com as fórmulas verbais, carinhosas e doces. Grande parte do caminho foi atravessada em companhia daquele homem, amoroso e sábio, que ambos interpretaram por generoso e simpático desconhecido e, somente ao partir do pão, reconhecem o Mestre muito amado. Os dois aprendizes não conseguiram a identificação nem pelas palavras, nem pelo gesto afetuoso; contudo, tão logo surgiu o pão materializado, dissiparam todas as dúvidas e creram. Não será o mesmo que vem ocorrendo no mundo há milênios? (12)


Os ensinamentos espíritas demonstram que a aparição de Jesus aos discípulos, mesmo sob a aparência de um simples viajante, nada teve de surpreendente quando se conhece os mecanismos que produzem o fenômeno. Na verdade, as “[…] manifestações mais comuns se dão durante o sono, por meio dos sonhos: são as visões.” (4)

Os Espíritos bem intencionados aparecem para consolar “[…] as pessoas que deles guardam saudades, provar-lhes que existem e estão perto delas; dar conselhos e, algumas vezes, pedir para si mesmos assistência.” (1) Evidentemente, Jesus, diretor Espiritual do Orbe, tornou-se visível para prestar amparo, revelando a imortalidade do seu Espírito.

A despeito das aparições espirituais serem consideradas fatos naturais, não acontecem permanentemente. O motivo básico é que estando “[…] o homem cercado de Espíritos, o vê-los a todos os instante o perturbaria, embaraçar-lhe-ia os atos e tirar-lhe-ia a iniciativa na maioria dos casos, ao passo que, julgando-se só, ele age mais livremente.” (2)

O princípio das aparições de Espíritos “[…] é o mesmo de todas as manifestações, reside nas propriedades do perispírito, que pode sofrer diversas modificações, ao sabor do Espírito. (3)

Devemos, entretanto, considerar os seguintes esclarecimentos prestados por Allan Kardec:


As aparições propriamente ditas se dão quando o vidente se acha em estado de vigília e no gozo da plena e inteira liberdade das suas faculdades. Apresentam-se, em geral, sob a forma vaporosa e diáfana, às vezes vaga e imprecisa. […] Doutras vezes, as formas se mostram nitidamente acentuadas, distinguindo-se os menores traços da fisionomia, a ponto de se tornar possível fazer-se da aparição uma descrição completa. […] Podendo tomar todas as aparências, o Espírito se apresenta sob a que melhor o taça reconhecível, se tal é o seu desejo.[…] Os Espíritos superiores têm uma figura bela, nobre e serena; os mais inferiores denotam alguma coisa de feroz e bestial, não sendo raro revelarem ainda vestígios dos crimes que praticaram, ou dos suplícios que padeceram. (5)


Continuemos, um pouco mais, com as elucidações do Codificador do Espiritismo a respeito das materializações de Espíritos.


O Espírito, que quer ou pode fazer-se visível, reveste às vezes uma forma ainda mais precisa, com todas as aparências de um corpo sólido, ao ponto de causar completa ilusão e dar a crer, aos que observam a aparição, que têm diante de si um ser corpóreo. Em alguns casos, finalmente, e sob o império de certas circunstâncias, a tangibilidade se pode tornar real, isto é, possível se torna ao observador tocar, palpar, sentir, na aparição, a mesma resistência, o mesmo calor que num corpo vivo, o que não impede que a tangibilidade se desvaneça com a rapidez do relâmpago. Nesses casos, já não é somente com o olhar que se nota a presença do Espírito, mas também pelo sentido tátil. (6)


São essas as explicações espíritas relativas à aparição de Jesus aos seus discípulos, sua tangibilidade e o seu desaparecimento, ocorrido durante a refeição, no momento em que foi reconhecido por seus companheiros de viagem.

Não deixa de ser um fato curioso Jesus ter-se manifestado como simples viajante aos discípulos na estrada de Emaús, quando se revelou como o Cristo a Maria de Magdala, nas primeiras horas daquele dia, e aos apóstolos, durante a refeição do meio dia.

Algum motivo superior justificou essa atitude do Mestre. Podemos apenas levantar algumas conjecturas, sem que com isso encontremos a resposta concreta ou satisfatória: será que a sua aparição abrupta não iria assustar os discípulos, ainda bastante impressionados com os acontecimentos do calvário e da crucificação? Talvez a necessidade de ampará-los libertando-os da tristeza e da saudade fosse mais urgente? Quem sabe ocorreu ao Senhor a necessidade de, anonimamente, sondar-lhes as disposições íntimas relacionadas ao trabalho de cristianização do mundo, que lhes caberia no futuro?

  • E nós esperávamos que fosse ele o que remisse Israel mas, agora, com tudo isso, é já hoje o terceiro dia desde que essas coisas aconteceram. É verdade que também algumas mulheres dentre nós nos maravilharam, as quais de madrugada foram ao sepulcro; e, não achando o seu corpo, voltaram, dizendo que também tinham visto uma visão de anjos, que dizem que ele vive. E alguns dos que estavam conosco foram ao sepulcro e acharam ser assim como as mulheres haviam dito, porém, não o viram. E ele lhes disse: Ó néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram! Porventura, não convinha que o Cristo padecesse essas coisas e entrasse na sua glória? E, começando por Moisés e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras. (Lc 24.21-27).

Independentemente das motiva­ções de Jesus de manter-se em anonimato, o texto de Lucas registra algo efetivamente relevante: os sentimentos de afeto e ternura, atenção e cuidados do Mestre para com os dois viajantes, como bem nos esclarece Emmanuel.


Os discípulos, a caminho de Emaús, comentavam, amargurados, os acontecimentos terríveis do Calvário. Permaneciam sob a tormenta da angústia. A dúvida penetrava-lhes a alma, levando-os ao abatimento, à negação. Um homem desconhecido, porém, alcançou-os na estrada. Oferecia o aspecto de mísero peregrino. Sem identificar-se, esclareceu as verdades da Escritura, exaltou a cruz e o sofrimento. Ambos os companheiros, que se haviam emaranhado no cipoal de contradições ingratas, experimentaram agradável bem-estar, ouvindo a argumentação confortadora. Somente ao termo da viagem, em se sentindo fortalecidos no tépido ambiente da hospedaria, perceberam que o desconhecido era o Mestre.

Ainda existem aprendizes na “estrada simbólica de Emaús”, todos os dias. Atingem o Evangelho e espantam-se em face dos sacrifícios necessários à eterna iluminação espiritual. Não entendem o ambiente divino da cruz e procuram “paisagens mentais” distantes… Entretanto, chega sempre um desconhecido que caminha ao lado dos que vacilam e fogem. Tem a forma de um viandante incompreendido, de um companheiro inesperado, de um velho generoso, de uma criança tímida. Sua voz é diferente das outras, seus esclarecimentos mais firmes, seus apelos mais doces. Quem partilha, por um momento, do banquete da cruz, jamais poderá olvidá-la. Muitas vezes, partirá mundo afora, demorando-se nos trilhos escuros; no entanto, minuto virá em que Jesus, de maneira imprevista, busca esses viajores transviados e não os desampara enquanto não os contempla, seguros e livres, na hospedaria da confiança. (9)


O diálogo ocorrido durante a viagem para Emaús apresenta pontos que merecem ser destacados. O primeiro diz respeito ao entendimento de Cleopas e do seu companheiro de viagem sobre Jesus: “[…] foi um profeta, poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo” (versículo 19); o segundo retrata a triste constatação do que fizeram ao Senhor: “E como os principais dos sacerdotes e os nossos príncipes o entregaram à condenação de morte e o crucificaram.” (versículo 20); o terceiro indica a decepção, ou amargura, pela crucificação: “E nós esperávamos que fosse ele o que remisse Israel […]” (versículo 21); o quarto demonstra o sentimento de incerteza, comum nos que ainda não possuem fé sólida, acreditando ou desacreditando: “É verdade que também algumas mulheres dentre nós nos maravilharam, as quais de madrugada foram ao sepulcro; e, não achando o seu corpo, voltaram, dizendo que também tinham visto uma visão de anjos, que dizem que ele vive. E alguns dos que estavam conosco foram ao sepulcro e acharam ser assim como as mulheres haviam dito, porém, não o viram.” (versículos 22, 23 e 24).

Após ouvi-los, captando-lhes as dúvidas e a frágil confiança, Jesus lhes restaura o bom ânimo, conduzindo-os à nova posição vibracional quando lhes afirma com energia: “[…] Ó néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram! Porventura, não convinha que o Cristo padecesse essas coisas e entrasse na sua glória? E, começando por Moisés e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras.” (versículos 25 a 27).


O Cristianismo é uma doutrina que precisa ser aprendida e sentida. […] Aquele que não sente em si mesmo a influência da moral cristã, desconhece o que ela é, embora tenha perfeito conhecimento teórico de todos os seus preceitos e postulados. […] Na fé em Jesus-Cristo não há confusão. Sua doutrina é integral; e s6 podemos conhecê-la seguindo as pegadas do Senhor, que é a sua personificação. Jesus é um mestre cuja escola é ele mesmo. […] O Cristianismo não se reduz a teorias: é luz, é verdade, é vida. (8)


Por outro lado, o Mestre também percebeu que os discípulos tinham pouco esclarecimento a respeito da vida após a morte do corpo, daí terem sido assaltados pelo desânimo e pelas dúvidas. Esta postura, aliás, é comum em todos nós, Espíritos imperfeitos: emitimos opiniões superficiais, às vezes irresponsáveis, sobre aconte­cimentos e pessoas, por falta de esclarecimento ou por espírito de intolerância para com as ações dos que conosco convivem.

Foi necessário, pois, que Jesus falasse de forma incisiva aos seus interlocutores, convocando-os a se libertarem daquela postura mental cristalizada. Por esse motivo, Jesus lhes indaga com veemência: “Porventura não convinha que o Cristo padecesse estas coisas e entrasse na sua glória?”

Ante o silêncio dos discípulos, passa então a explicar-lhes o significado do seu sofrimento, realizando um retrospecto histórico que começa com Moisés e todos os profetas.

  • E chegaram à aldeia para onde iam, e ele fez como quem ia para mais longe. E eles o constrangeram, dizendo: Fica conosco, porque já é tarde, e já declinou o dia. E entrou para ficar com eles. E aconteceu que, estando com eles à mesa, tomando o pão, o abençoou e partiu-o e lho deu. Abriram-se-lhes então os olhos, e o conheceram, e ele desapareceu-lhes. E disseram um para o outro: Porventura não ardia em nós o nosso coração quando, pelo caminho, nos falava, e quando nos abria as Escrituras? E, na mesma hora, levantando-se, tornaram para Jerusalém, e acharam congregados os onze, e os que estavam com eles, os quais diziam: Ressuscitou verdadeiramente o Senhor, e já apareceu a Simão. E eles lhes contaram o que lhes acontecera no caminho, e como deles foi conhecido no partir do pão. (Lc 24.28-35)

Quando aprendemos exercitar a observação, percebemos que há um sentido maior nas coisas mais simples que fazem parte do cotidiano. Entendemos, assim, que uma sabedoria divina rege todas manifestações relacionadas à existência do ser humano. Neste sentido, após ouvir o Senhor, criar com ele um elo de vibrações simpáticas e harmônicas, os dois discípulos chegam à aldeia, ao final do dia. Estando em paz, insistem ao viajante desconhecido para permanecerem juntos, comparti­lhando a refeição.

Outra lição valiosa diz respeito à necessidade gregária inerente ao ser humano, sobretudo quando o gregarismo resulta da livre escolha. A atmosfera espiritual reinante ao final da jornada era completamente diferente de quando esta foi iniciada. Envolvidos, assim, numa vibração de paz, o Senhor senta com eles à mesa, aceitando e compreendendo a extensão do convite que lhe era feito. Chegara, pois, o momento de sair do anonimato e revelar-se aos discípulos. Dessa forma, utiliza um gesto bastante conhecido, assim expresso por Lucas: “Tomando o pão, o abençoou e partiu-o, e lho deu.” Não se tratava, evidentemente de uma gesticulação mecânica, sem propósito, mas de uma marca capaz de identificar o Cristo: a bênção do pão. Retirando o bloqueio mental que os impedia de ver com lucidez, reconheceram que Jesus estivera com eles o tempo todo. Essa situação se repete conosco, Espíritos em processo evolutivo: nem sempre reconhecemos a presença do Senhor ao nosso lado, nem sempre entendemos a sua mensagem.


A linguagem do Cristo sempre se afigurou a muitos aprendizes, indecifrável e estranha. […] Isso ocorre a muitos seguidores do Evangelho, porque se utilizam da força mental em outros setores. Creem vagamente no socorro celeste, nas horas de amargura, mostrando, porém, absoluto desinteresse ante o estudo e ante a aplicação das leis divinas. […] Registram os chamamentos do Cristo, todavia, algemam furiosamente a atenção aos apelos da vida primária. Percebem, mas não ouvem. Informam-se, mas não entendem. Nesse campo de contradições, temos sempre respeitáveis personalidades humanas e, por vezes, admiráveis amigos. Conservam no coração enormes potenciais de bondade, contudo, a mente deles vive empenhada no jogo das formas perecíveis. São preciosas estações de serviço aproveitáveis com o equipamento, porém, ocupado em atividades mais ou menos inúteis. Não nos esqueçamos, pois, de que é sempre fácil assinalar a linguagem do Senhor, mas é preciso apresentar-lhe o coração vazio de resíduos da Terra, para receber-lhe, em espírito e verdade, a palavra divina. (10)


Somente após a bênção do pão, foi que “abriram-se-lhes então os olhos. E o conheceram, e ele desapareceu-lhes.”

É surpreendente o fato de Jesus desaparecer no momento em que é identificado pelos companheiros de viagem. Entendemos, porém, que Jesus agiu assim porque o seu trabalho de auxílio junto aos peregrinos da estrada de Emaús tinha sido concluído. “Desapareceu-lhes” porque o momento não era mais de instrução, de orientação, de estímulo e de apaziguamento.

Felizes e abençoados pelo encontro com o Mestre, retornam, de imediato, a Jerusalém para testemunharem aos demais cristãos a ressurreição de Jesus.


Por onde formos, Jesus, Mestre Silencioso, nos chama ao testemunho da lição que aprendemos. Nas menores experiências, no trabalho ou no lazer, no lar ou na via pública, eis que nos convida ao exercício incessante do bem. Nesse sentido, o discípulo do Evangelho encontra no mundo o santuário de sua fé e na Humanidade a sua própria família. Assinalando, pois, a norma cristã, como inspiração para todas as lides cotidianas, ouçamos a palavra do Senhor em todos os ângulos do caminho, procurando segui-lo com invariável fidelidade, hoje e sempre. (11)



ORIENTAÇÃO AO MONITOR: O estudo deve ser conduzido de tal forma que possibilite, aos participantes, realizarem análises espíritas reflexivas sobre: ressurreição, aparições de Jesus, após a sua crucificação, acontecimentos ocorridos na estrada de Emaús, etc.



Referências:

1. KARDEC. Allan. O livro dos médiuns. Tradução de Guillon Ribeiro. 76 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Segunda parte, Capítulo 6, item 100/6ª, letra “a”, p. 131.

2. Idem - Item 100/7ª, p. 131-132.

3. Idem - Item 100/21ª, p. 136.

4.  Idem - Item 101, p. 139.

5. Idem - Item 102, p. 139-140.

6. Idem - Item 104, p. 141-142.

7. READER’DIGEST. Quem é quem na Bíblia — Enciclopédia biográfica ilustrada. Tradução de Jaime Clasen… [et al]. Rio de Janeiro: 2005, p. 65 (verbete Cléofas).

8. VINÍCIUS (Pedro de Camargo). Em torno do mestre. 8. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002. Item: Crer e crer, p. 207-208.

9. XAVIER, Francisco Cândido. Caminho, verdade e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 26. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 95 (O amigo oculto), p. 205-206.

10. Idem - Fonte viva. Pelo Espírito Emmanuel. 34. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 48 (Diante do Senhor), p. 117-118.

11. Idem - Capítulo 153 (Ouçamos), p. 376.

12. Idem - Pão nosso. Pelo Espírito Emmanuel. 27. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 129 (Ao partir do pão), p. 273.


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