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EADE — Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita — Religião à luz do Espiritismo

TOMO II — ENSINOS E PARÁBOLAS DE JESUS — PARTE I
Módulo VI — Aprendendo com fatos extraordinários

Roteiro 1


A pesca maravilhosa


 

Objetivo: Explicar o significado da pesca maravilhosa à luz do conhecimento espírita.



IDEIAS PRINCIPAIS

  • Nada existe de surpreendente na pesca maravilhosa quando se conhece as causas que a originaram. A prodigiosa força espiritual de Jesus, sua grande autoridade, os seus inúmeros auxiliares que no Invisível punham em ação a sua Palavra, todos esses elementos, sós ou reunidos explicam muito bem a reunião dos peixes em determinado lugar, para que as redes se enchessem, e o efeito desse fenômeno calasse no ânimo de seus discípulos. Cairbar Schutel: O espírito do Cristianismo. Capítulo 6.

  • O […] Espírito humano é um “pescador”dos valores evolutivos, na escola regeneradora da Terra. A posição de cada qual é o “barco”. Em cada novo dia, o homem se levanta com a sua “rede” de interesses. Emmanuel: Caminho, verdade e vida. Capítulo 21.



 

SUBSÍDIOS


1. Texto evangélico

  • E, entrando num dos barcos, que era o de Simão, pediu-lhe que o afastasse um pouco da terra; e, assentando-se, ensinava do barco à multidão. E, quando acabou de falar, disse a Simão: faze-te ao mar alto, e lançai as vossas redes para pescar. E, respondendo Simão, disse-lhe: Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos; mas, porque mandas, lançarei a rede. E, fazendo assim, colheram uma grande quantidade de peixes, e rompia-se-lhes a rede. E fizeram sinais aos companheiros que estavam no outro barco, para que os fossem ajudar. E foram e encheram ambos os barcos, de maneira tal que quase iam a pique. E, vendo isso Simão Pedro, prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Senhor, ausenta-te de mim, por que sou um homem pecador. Pois que o espanto se apoderara dele e de todos os que com ele estavam, por causa da pesca que haviam feito. Lucas, 5.3-9.

Os fatos narrados nesse texto evangélico aconteceram pouco tempo depois da morte de João Batista.


E Jesus começa a trabalhar. Antes de tudo, cerca-se de cooperadores. Devemos admirar nesta passagem a humildade de Jesus: ele, o Espírito Excelso, convida modestos colaboradores para a sua obra grandiosa. Assim nos adverte que, em quaisquer setores de atividades, todo trabalho exige cooperação. Os apóstolos eram elevados Espíritos encarnados com a missão de ajudarem Jesus. Por conseguinte, estavam em condições de compreenderem o trabalho que Jesus lhes confiaria. Esses missionários, escolhidos por Jesus quando ainda estavam no mundo espiritual, seriam os primeiros depositários do Evangelho. E quando Jesus partisse, deles se irradiaria o movimento de evangelização da Humanidade. (2)


2. Interpretação do texto evangélico

  • E entrando num dos barcos, que era o de Simão, pediu-lhe que o afastasse um pouco da terra; e, assentando-se, ensinava do barco à multidão. E, quando acabou de falar, disse a Simão: Faze-te ao mar alto, e lançai as vossas redes para pescar. E, respondendo Simão, disse-lhe: Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos; mas, porque mandas, lançarei a rede. E, fazendo assim, colheram uma grande quantidade de peixes, e rompia-se-lhes a rede. E fizeram sinais aos companheiros que estavam no outro barco, para que os fossem ajudar. E foram e encheram ambos os barcos, de maneira tal que quase iam a pique. (Lc 5. 3-7).

O povo cercava Jesus, atraído pelo magnetismo do seu verbo e cativado pelas amorosas vibrações da sua personalidade iluminada.


Diz Lucas que, assediado pelas multidões que pretendiam detê-lo para que não as deixasse, mostrou-lhes a necessidade que tinha de pregar o Evangelho do Reino de Deus também em outras cidades; mas, oprimido por essa multidão, quando se achava na praia do Lago de Genesaré, provavelmente o Tiberíades, que era atravessado pelo Rio Jordão, entrou na barca de Simão e pediu a este humilde pescador que a afastasse um pouco da terra. Então, mais livre do povo, dali ensinava a multidão. […] Pedro, bem como seus sócios Tiago e João, […] não eram capazes de imaginar que, sob as ordens daquele moço, fosse possível, após insana lida, durante uma noite inteira de atirar redes, sem colherem peixe algum, essas redes encheram-se por encanto, a ponto de ser preciso chamar outros companheiros que estavam em outra barca para auxiliá-los a puxá-las para terra, pois se rompiam ao peso de tantos peixes. […] A prodigiosa força espiritual de Jesus, sua grande autoridade, os seus inúmeros auxiliares que no invisível punham em ação a sua Palavra, todos esses elementos, sós ou reunidos, explicam muito bem a reunião dos peixes em determinado lugar, para que as redes se enchessem, e o efeito desse fenômeno calasse no ânimo de seus discípulos. (3)


A pesca maravilhosa nada tem de surpreendente nem de miraculoso, “[…] desde que se conheça o poder da dupla vista e a causa, muito natural, dessa faculdade. Jesus a possuía em grau elevado e pode dizer-se que ela constituía o seu estado normal, conforme o atesta grande número de atos da sua vida […]” (1)

Examinando, de perto, esse texto evangélico percebe-se que, num primeiro momento, o apóstolo Pedro se revelou descrente quanto à possibilidade de encontrar peixes, uma vez que ele e os seus companheiros passaram a noite trabalhando e nada obtiveram. Mas em razão da confiança depositada no Mestre, atende-lhe a orientação e lança as redes no local indicado, obtendo surpreendente êxito. A atitude de Pedro revela características marcantes de sua personalidade: trata-se de um trabalhador incansável, que não teme assinalar as dificuldades enfrentadas (informa ao Mestre que passara toda a noite trabalhando no mar e nada pescara), mas que se revela extremamente obediente, pronto para cumprir instruções, vindas de uma autoridade superior. Na verdade, percebe-se que no íntimo do seu coração, o venerável servidor aguardava o auxílio de Deus.

As orientações precisas de Jesus ao apóstolo foram: “faze-te ao mar alto, e lançai as vossas redes para pescar.” São instruções que nos conduzem a outras reflexões, conforme assinala o benfeitor Emmanuel:


Este versículo nos leva a meditar nos companheiros de luta que se sentem abandonados na experiência humana. […] Em surgindo, pois, a tua época de dificuldade, convence-te de que chegaram para tua alma os dias de serviço em “mar alto”, o tempo de procurar os valores justos, sem o incentivo de certas ilusões da experiência material. Se te encontras sozinho, se te sentes ao abandono, lembra-te de que, além do túmulo, há companheiros que te assistem e esperam carinhosamente. O Pai nunca deixa os filhos desamparados, assim, se te vês presentemente sem laços domésticos, sem amigos certos na paisagem transitória do Planeta, é que Jesus te enviou a pleno mar da experiência, a fim de provares tuas conquistas em supremas lições. (7)


Há um outro ponto que merece destaque: é comum encontrarmos referências à pesca, ao mar e a barcos em alguns textos evangélicos. Representam simbolismos, assim interpretados pelo Espírito Emmanuel:


Figuradamente, o Espírito humano é um “pescador” dos valores evolutivos, na escola regeneradora da Terra. A posição de cada qual é o “barco”. Em cada novo dia, o homem se levanta com a sua “rede” de interesses. (6)


Da nossa parte, vemos que o tempo passa e continuamos em nossos “barcos”, operando “no mar da vida” com maior ou menor sucesso, segundo a posição a que nos ajustamos no contexto evolutivo. No entanto, é bom não esquecer que a qualquer momento Jesus pode requisitar o nosso barco, tal como faz ao de Simão, e nos conduzir ao mar alto para, ali, realizarmos a pescaria de valores eternos.

Nos “barcos” que nos situamos estão depositados os recursos que dispomos para a realização da nossa transformação espiritual. O cristão sincero, o espírita dedicado, se esforça para, todos os dias, lançar as “redes” de interesses renovados no bem no imenso mar da existência. Dessa forma, é necessário enriquecê-los, entre outros, com os valores da inteligência, da família, das amizades, das relações sociais, dos recursos profissionais.

  • E, vendo isso Simão Pedro, prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Senhor, ausenta-te de mim, porque sou um homem pecador. Pois que o espanto se apoderara dele e de todos os que com ele estavam, por causa da pesca que haviam feito. (Lc 5.8,9)

Se Pedro não tivesse atendido à orientação do Mestre, possivelmente não teria acontecido a pesca que passou à posteridade como maravilhosa. Da mesma forma, sabendo aproveitar as inúmeras oportunidades que nos são cotidianamente concedidas pelo Alto, evitamos o curso de acontecimentos nefastos que poderiam nos assaltar a existência. Neste sentido, conforme o trabalho que devemos realizar, ora buscamos as águas rasas e calmas da praia ora as mais profundas e agitadas do mar alto.

Destaca o texto, o gesto de gratidão de Pedro. Reconhecido pelas bênçãos recebidas, prostra-se aos pés de Jesus, humilde, reconhecendo-se como criatura pecadora. São outras facetas da personalidade do apóstolo que se revelam naturalmente: gratidão e humildade. Não foi por acaso que ele se transformou na pedra angular da Doutrina Cristã. Assim, é oportuno destacar, o conselho que Jesus transmitiu a Zebedeu, pai de Tiago e João:


— Em verdade — replicou o Mestre — , a mensagem da Boa Nova é excelente para todos; contudo, nem todos os homens são ainda bons e justos para com ela. É por isso que o Evangelho traz consigo o fermento da renovação e é ainda por isso que deixarei o júbilo e a energia como as melhores armas aos meus discípulos. Exterminando o mal e cultivando o bem, a Terra será para nós um glorioso campo de batalha. Se um companheiro cair na luta, foi o mal que tombou, nunca o irmão que, para nós outros, estará sempre de pé. (5)


É importante desenvolvermos a capacidade de discernimento, tal como aconteceu ao apóstolo Pedro, não se deixando sucumbir pelos insucessos que ocorrem na nossa existência. Imaginamos como foi grande o desapontamento quando, após uma noite de intenso labor, nada pescou que pudesse garantir a subsistência própria e a dos familiares e amigos. Supomos também o quanto a sua alma se encheu de júbilo, após seguiras instruções de Jesus, e obter tão rica pescaria.


Quantas vezes, procuramos a paz, experimentando a tortura do sedento que anseia pela gloria. Em momentos assim, o passo mais expressivo será sempre a nossa incondicional rendição a Deus, cuja sabedoria nos guiará no rumo da tranquilidade operosa e tonificante. Imperioso pensar nisso, porque frequentemente surgem no cotidiano crises inesperadas que se nos envolvem na vida mental, à feição de problemas classificados por insolúveis no quadro das providências divinas. […] Todos nós, os Espíritos em evolução no Planeta, somos ainda humanos e, nessa condição, nem sempre conseguimos em nós mesmos a energia suficiente para a superação de nossas deficiências… […] Nenhum de nós está órfão de amparo e socorro, luz e bênção, porque ainda mesmo fracassem todas as nossas forças, na direção do bem para o desempenho de nossas obrigações, muito acima de nós e muito acima de nossos recursos limitados e frágeis, temos Deus. (4)



ORIENTAÇÃO AO MONITOR: Analisar o texto evangélico por meio de uma discussão circular, destacando, ao final, o significado espírita da “pesca maravilhosa”.



Referências:

1. KARDEC, Allan. A gênese. Tradução de Guillon Ribeiro. 48. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Capítulo15, item 9, p. 314.

2. RIGONATTI, Elizeu. O Evangelho dos humildes. 16. ed. São Paulo: Pensamento, 2004, Capítulo4 (A tentação de Jesus), p. 25.

3. SCHUTEL, CAIRBAR. O espírito do Cristianismo. 8. ed. Matão: O Clarim, 2001. Capítulo 6 (a pesca maravilhosa), p. 63-64.

4.  XAVIER, Francisco Cândido. Alma e coração. Pelo Espírito Emmanuel. São Paulo: Pensamento, 2006. Capítulo20 (Acima de nós), p. 49-50.

5. Idem - Boa nova. Pelo espírito Humberto de Campos (Irmão X). 35. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 4 (A família Zebedeu), p. 35-36.

6. Idem - Caminho, verdade e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 26. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 21 (Caminhos retos), p. 58.

7. Idem - Pão nosso. Pelo Espírito Emmanuel. 27. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 21 (Mar alto), p. 57-58.


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