José. [Ele pode adicionar]. †
O décimo primeiro dos doze filhos de Jacob, e o filho mais velho de Rachel, que, quando ela lhe deu nascimento, disse: “O Senhor me dê ainda outro filho” e portanto chamou-lhe pelo nome de José (Gn 30.22-24). Estava em Padã-Harã, aproximadamente seis anos antes do retorno de Jacob a Canaã (25; cp. 31.41), quando Jacob tinha 90 ou 91 anos de idade. Era a criança favorita de seu pai, porque era o filho da sua velhice e filho de Rachel; e ele fez-lhe um casaco tal como era usado pelos jovens da melhor classe (37.3). O favoritismo do pai despertou a inveja dos irmãos mais velhos; e sua animosidade foi aumentada por dois sonhos que José teve, e que pressagiou o tempo quando seu pai, sua mãe e seus irmãos deviam curvar-se subalternos e presta-lhe obediência. Quando José tinha dezessete anos de idade (37.2), Jacob enviou-o a Siquém, onde seus irmãos alimentavam seu rebanho para perguntar se estavam bem. Alcançando Siquém soube que tinham ido a Dothan e para lá ele se dirigiu. Quando seus irmãos viram-no aproximar propuseram matá-lo e relatar a seu pai que uma besta selvagem havia lhe devorado. Rúben, porém, persuadiu-os a não tirar a vida de José, mas lançá-lo vivo num fosso, para que eventualmente tirassem-no de lá remetendo-o a seu pai. Na ausência de Rúben uma caravana de Ismaelitas, viajando na grande estrada que leva ao baixo Egito aproximou-se, e José foi vendido a uns negociantes Midianitas da companhia. Uma cabritinha foi morta e tendo sido seu casaco mergulhado em seu sangue enviaram a peça de roupa assim tingida a Jacob, que concluiu que seu filho havia sido despedaçado por alguma besta selvagem (Gn 37.1-35). Entrementes os negociantes de escravos levaram José ao Egito e venderam-no a Potifar, o capitão da guarda do Faraó. As habilidades do jovem escravo foram logo descobertas e Potifar deu-lhe a intendência de toda sua casa. Mas por falsas acusações ele foi metido na prisão onde ficou confinado por anos. Lá ganhou assim a confiança do carcereiro que entregou-lhe todos os prisioneiros aos seus cuidados. Deus capacitou-o interpretar os sonhos proféticos do mordomo-mor e do padeiro-mestre do Faraó, que estavam confinados com ele na prisão, e a interpretação que lhes dera foi confirmada. Dois anos mais tarde o Faraó teve dois sonhos proféticos que ninguém podia interpretar, e o mordomo-mor que havia recuperado seus favores como mestre real lembrou-se de José e contou as ocorrências da prisão. José foi imediatamente enviado e interpretou os sonhos, tendo ambos o mesmo significado. Sete anos de grande abundância deviam ser sucedidos por sete anos de penosa fome. Ele aventurou-se em recomendar que alguém devia ser designado para colecionar o produto de sobra durante os sete anos de abastança, e armazená-lo às expensas dos sete anos de fome. O faraó aprovou o plano; e, tendo a evidência da sabedoria de José (41.9-13; 25-36), designou-o superintendente dos granéis reais e como tal, cabeça do departamento estatal e dos oficiais, logo abaixo do rei (41.39-44). José contava agora com trinta anos de idade (41.46). Ele tinha sido castigado e humilhado pelos padecimentos de treze anos. O faraó deu-lhe para esposa Asenath, filha de uma família sacerdotal de Om; e antes que a fome começasse nasceram-lhe dois filhos, Manassés e Efraim (41.50-52). A fome veio como predito, e afetou todo o mundo conhecido, especialmente a parte ocidental dele em torno do mediterrâneo (41.54, 56, 57). No Egito, porém, havia um armazém de alimento, e os irmãos de José foram para lá para comprar grão. Eles não reconheceram José, mas ele sim; e como lhe prestassem obediência, ele viu que os sonhos que revelaram tal conjuntura haviam sidos verificados. Depois de testar seu caráter de várias maneiras, em sua segunda visita ele revelou-se a eles, perdoou o erro que tinham feito, e os convenceu e a seu pai a estabelecerem-se no Egito. O faraó deu-lhes boas-vindas calorosamente. O rei que agiu assim bondosamente, acreditasse, há muito, ter sido Apepi II, ou Apophis (Eusébio). Em todo o caso, ele era sem dúvida da dinastia dos Pastores, dos Hicsos, e sendo ele mesmo um Semita, prontamente deu boas-vindas aos homens de uma raça idêntica à sua. José morreu aos 110 anos de idade, e o seu corpo foi embalsamado e sepultado no Egito; mas deixou ordens expressas para quando houvesse o êxodo seus restos deviam ser removidos a Canaã (Gn caps. 42 a 50; Hb 11.22). Seus desejos foram realizados; e seus restos finalmente foram enterrados próximo a Siquém, bem no centro da terra prometida (Ex 13.19; Js 24.32).
Os pormenores da vida de José, que envolvem costumes egípcios, são revelados pelos monumentos e papiros. Sabe-se, por exemplo, da pedra de Roseta que era hábito do rei liberar prisioneiros em sua festa de aniversário e em outras grandes ocasiões. As referências a mágicos e adivinhos são frequentes, e grande atenção é dada aos sonhos como mensagens dos deuses. Quando mandaram buscar a José na prisão, embora há menção expressa da urgência, ele barbeou-se e pôs roupas limpas (Gn 41.14). Entre os sacerdotes, barbear-se era comumente praticado, era um rito religioso. O termo “Senhor sobre a terra inteira” foi achado mas uma vez (num monumento no museu de Turin), mas a investidura de um oficial de alta condição é frequentemente retratado e concorda com a descrição em Gênesis, o anel com sinete, a vestimenta de linho, e a corrente sobre o pescoço são proeminentes. A frase, também, “de acordo com a palavra da vossa [boca] todo meu povo há de ser governado” é enfatizado pelo fato de que o hieroglifo para governador é uma boca. Uma mudança econômica, pelo que a terra veio ser possuída inteiramente pelo rei e pelos sacerdotes, aconteceu algum tempo antes da ascensão do Novo Império.
Há referências às concepções egípcias de adequação ao cenário separado de pão para José, para seus irmãos, e para os egípcios presentes (Gn 43.32). José comia separadamente, porque era homem de posto mais alto e membro da classe sacerdotal, que se mantinha à parte da laicidade. Os egípcios comiam à distância dos estrangeiros; os sacerdotes não comiam nem bebiam nada que fosse importado (Porfírio 4.7), e as pessoas geralmente consideraram uma abominação usar os utensílios de comer dos gregos (Heródoto 2.41), e afastavam-se de pastores e criadores de porcos e gado, ainda mesmo quando egípcios nativos, porque a ocupação de cuidar do gado era incompatível com o refinamento e a limpeza exigida pelos padrões egípcios (Gn 46.34; Heród. 2.47; cp. 164). Esta objeção a pastores foi provavelmente a causa de José assentar seus parentes na terra de Gósen, onde eles não entrariam em contato com os nativos do país.
Os nomes Jacob-el e Joseph-el são de lugares na Palestina conquistados por Totmés III, o guerreiro-rei egípcio, logo após da descida de Jacob e seus filhos ao Egito e um século ou dois antes do Êxodo. É duvidoso se têm qualquer relação ao patriarca Jacob e a seu filho José. São nomes como Jiphthah-el ou Iphtah-el, que são vales nos territórios de Zebulom (Js 19.14), podem querer dizer “Deus dá e Deus tira”, e eles estiveram em uso na Babilônia como nomes.
Uma história egípcia, conhecida como o Conto dos Dois Irmãos, relata a tentação de um jovem no lar do seu irmão mais velho, semelhante à experiência de José na casa de Potifar (Gn 39). O irmão mais jovem é poupado da ira do ancião pela interposição do deus-sol, que fez um rio cheio de crocodilos para fluir como uma barreira entre os dois. As posteriores aventuras do par que demoraram-se a se reconciliar, são igualmente fabulosas. A história foi transcrita no reinado de Seti II, da décima nona dinastia, séculos depois do tempo de José; mas quando o conto foi escrito não se sabe. Tais incidentes não eram incomuns, e foram introduzidos na história (Homero, Ilíada 6.155 e seg.).
As duas tribos de Manassés e Efraim descenderam dos dois filhos de José. As bênçãos pronunciadas a José por seu pai Jacob moribundo estenderam-se a estas duas tribos como também para o próprio José (Gn 48.8-22; 49.22-26). José é uma designação poética das tribos de Manassés e Efraim no salmo 80.1-3. — (Dicionário da Bíblia de John D. Davis) ©