O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Claramente vivos — Familiares diversos


12

Pedaço de terra para cultivar esperanças

1 Querida mãezinha, abençoe seu filho, antes de conversarmos.

2 A relação das saudações está feita num abraço à Júlia n e a todos os corações que nos compartilham a felicidade do reencontro marcado em lápis e papel.

3 Comigo estão a vovó Laudelina, a tia Nenê, n a irmã Sílvia, n o nosso amigo Henrique n e outros muitos que saúdam a todos.

4 Creia, mamãe, que seu filho está quase confundido. Parece-me estão fazendo exame no Educandário Goiás ou no colégio Dom Bosco, n de ânimo desafiado pelo olhar benevolente de muitos amigos que me observam; naquelas casas de ensino, era avaliado pelo grande aproveitamento nos estudos.

5 Aqui, certamente, sou eu quem pede aos meus examinadores para me conferirem apenas os sentimentos.
Lá em Goiás, era eu o aluno, precisando demonstrar habilitação; aqui, sou o filho querendo colo para contar o que me vai no coração.

6 No meu caso, seriam maroteiras de rapaz ainda imaturo, mas sei que os amigos sabem que as mães e os filhos conversam numa língua diferente e, por isso creio ser perdoado por todos, se disser que venho ao encontro de sua saudade para fazermos da nossa carência de alegria pela ausência compulsória a que fomos submetidos pela morte do corpo, em serviço cada vez mais ativo.

7 Por isso, querida mãezinha, aqui está me parecendo mesmo é um pedaço da fazenda Redenção, n que pensei poder desfrutar e que cheguei a ver uma vez para cultivar esperanças que vinham desabrochar em outro mundo.

8 Era um rapaz como tantos, que anseiam estudar e compreender a vida para se tornarem mais úteis, e é justamente isso que nós havemos de fazer com que ele compreenda.

9 Ninguém pode avaliar a importância de uma bolsa de estudo para um jovem ou para uma jovem que acham as dificuldades financeiras por pedras quase insuperáveis no caminho, como poucos refletem no valor de uma xícara de leite para uma criança de estômago vazio, que vê a chegada da noite sem qualquer esperança.

10 A morte ensinou muita coisa a seu filho, como a separação nos fez recordar os que andam sem apoio de alguém.

11 Para sorrirmos um pouco, lembro-me de que me achava certa vez em Buriti Alegre, num dia de festas, quando um cantador da roça expôs na praça uns versos, que não mais esqueci. Disse ele, na viola:


12 “Eu já fiz muita tenção
Que nunca pude realizá;
Agora, fiz juramento,
Que já não posso quebrá;
Pois já tenho visto coisas
Que não posso acompanhá.”


13 Lembro-me de que era um homem de Jaraguá enfeitando a festa, mas a verdade é que essas palavras estão agora no coração de seu filho, sem que as consiga apagar.

14 Já não posso acompanhar as corridas e disputar os prêmios de outro tempo.
Tanto corri, que parei para pensar e, pensando estou até hoje, mas pensando, com a sua cabeça de mãe, embora amarrado ao coração de meu pai, cujo carinho para comigo não poderei esquecer.

15 Desejo unicamente reafirmar ao seu devotamento que a senhora acertou com a loteria da vida. A sorte grande é trabalhar e servir aos que precisam mais que nós mesmos.

16 Quando a senhora consegue mais dinheiro de meu pai a fim de acrescentar essa ou aquela compra, dê mais recursos para os nossos irmãos que contam com Deus e conosco; não sei de que tamanho fica o meu sorriso rasgado na boca.

17 Trabalhemos sim, mãezinha, para que o frio diminua nos lares em que o fogo desapareceu; para que a criançada veja pães à mesa para que as mães menos felizes reencontrem a satisfação de viver, e para que o bem se faça mais amplo, retirando das cabeças alheias as ideias do mal.

18 A bondade com que me suportam escrevendo e o carinho com que todos me esperam o ponto final nesta carta do coração, fazem-me lembrar as ramarias verdes e as flores, que vi lá naquele abençoado recanto de terra paraense.

19 Sinto-me assim mais à vontade, para transmitir ao papel os meus pensamentos escritos, pedindo-lhe aquele arrimo de sempre para meu pai.

20 Nosso querido amigo, o seu Cacildo e meu pai muito abençoado, ainda não se refez daquele choque de 19 de fevereiro, depois da minha volta de Hidrolândia; n ele, o papai, de quando em quando, está parado, a fim de pensar, e, de outras vezes, se associa a muitos amigos para distrações, com o fim de esquecer.

21 Há momentos em que ele aceita a lei da vida que conhecemos como sendo a Vontade de Deus.

22 Ele se recorda com irritação daquela corrida final em que terminei no Hospital Ortopédico, n e lamenta o dia em que fiz amizade com o pobre do José Fortuoso Sobrinho, o nosso caro Zé da Brahma. n

23 Sei que os desígnios da vida se cumpriram e que nada tenho a reclamar; no entanto, a verdade é que quem fez a disparada do velocímetro, fui eu mesmo. Pé nos instrumentos, mão firme no volante, estrada aberta e aquele sonho de campos verdes.

24 Mamãe, creio que me supus, por um momento, devorando distância num cavalo de asas, cheirando o mato e vendo o céu azul da campina, que se me perdia à frente dos olhos, e desarticulei meu corpo com esta visão.

25 A saudade e a aflição de deixá-los veio depois, quando a equipe de médicos amigos conversava em voz muito baixa, para que eu não me percebesse no fim… Mas o fim era somente do corpo, o Espírito que sou eu mesmo, estou cada vez mais vivo que nunca, e agora apaixonei-me pelo esporte a que seu coração me conduziu o esporte da beneficência.

26 Ganhei tantas palmas repassando carros em corridas sem sentido, e hoje, mamãe, tenho ânsia de correr para ajudar nas casas desprotegidas.

27 Sei que a senhora com as meninas, Urquiza, D. Raquel, com Augustinha, com Da. Lélia, com D. Nenzinha n e tantas outras irmãs, se desdobram no serviço que renda cobertores e roupas, remédios e alimentos para os nossos companheiros desvalidos, que são nossos irmãos — mas irmãos mesmo, de alma e coração.

28 Papai fala muitas vezes em filho único, quando junto de minhas irmãs eu nada tinha de único.
Agradeça por mim ao papai tudo que ele fez por nós, auxiliando-nos a cumprir os nossos novos encargos, e peço a ele, por seu intermédio, para que não deixe a tristeza arruinar a nossa casa e nem os nossos negócios.

29 O amigo Geraldo n veio também abraçar a nossa amiga D. Nenzinha, e pede a ela conformação. Nossa bondosa amiga tem estado mais angustiada, à medida que o tempo contado sobre a morte vai se ampliando, como se ampliará sempre até o momento de nosso reencontro.

30 Mamãe, a questão da alegria é a gente deixar de carregar a si mesmo, aliviando os outros.
Hoje, creio que o fardo mais pesado a transportar na Terra é a carga de nós mesmos com os nossos pensamentos condensados.

31 A senhora pode observar: um dia gasto no trabalho com amor, nos faz mais leves.

32 O sono vem depressa abençoar as pálpebras da gente, quando ainda se está na Terra, e a alegria que as nossas modestas atividades terão distribuído, reduziram o peso das preocupações que estávamos carregando; 33 mas se despendemos o dia, carregando apenas a nós mesmos, suportando a massa de nossas ideias tristes, terminamos as horas marcadas para a luz como se estivéssemos depondo no leito um fardo de chumbo, e que se tome tranquilizantes e que se devorem pílulas diversas para esfriar o crânio, senão o sono passa a ser o amigo ilustre que não vem.

34 Sigamos em nossos caminhos novos.
Estou vendo nossa irmã Elba n e outras afeições de Goiânia, dedicadas ao trabalho do bem, e peço a Deus para que estejamos todos unidos.

35 Sei que a senhora estima que seu filho envie lembranças para todos de casa.
Vamos ver se a memória está funcionando. O primeiro abraço é para meu pai, a quem peço me abençoe. Em outro, procuro reunir a nossa Júlia, a nossa Lau, a nossa Blanche e filhos, a nossa Leilah n e a nossa Urquiza com os nossos queridos Carlos, Flávio e Nilson, n que são parte da família.

36 Terei lembrado a todos? Não. Envio um beijo para o anjo que apareceu com a Leilah n e outro para o nosso Carlos Júnior com a nossa Leandra, n que tem andado doente. Não dou palpite porque não tenho conhecimento médico, mas espero em Deus que a nossa garota fique plenamente restabelecida.

37 Mãezinha, parece que chega, senão entorno as medidas da paciência de nossos amigos.

38 Henrique abraça a nossa irmã Augustinha, e eu peço ao seu coração guardar em sua alma querida o coração inteirinho do seu filho, sempre seu,

Izídio


O ESPORTE DA BENEFICÊNCIA


Nasceu Izídio Inácio da Silva em Buriti Alegre, Estado de Goiás, a 21 de março de 1955, e desencarnou em Goiânia, a 26 de fevereiro de 1974, em consequência de acidente automobilístico.

Filho do Sr. Cacildo Inácio da Silva e de D. Leila Sahb Inácio da Silva, residentes na Capital de Goiás.

Esperando que o leitor consulte a obra Enxugando Lágrimas (páginas 137-153), a fim de se inteirar de todos os detalhes biográficos de Izídio, apontemos, aqui, apenas o essencial da mensagem psicografada pelo médium Xavier, ao final da reunião pública do Grupo Espírita da Prece, na noite de 20 de agosto de 1977, e que constitui o capítulo anterior.


1 — Júlia: Irmã de Izídio.


2 — Vovó Laudelina, tia Nenê: Respectivamente, avó paterna e tia paterna, ambas desencarnadas.


3 — Irmã Sílvia: Amiga de D. Leila, desencarnada em 1975, que colaborou na confecção de enxovais para gestantes mais necessitadas, todas as segundas-feiras, em intenção do Espírito de Izídio.


4 — Amigo Henrique: Nosso conhecido do Capítulos 11 a 14 [no livro impresso], acima.


5 — Educandário Goiás e Ateneu Dom Bosco: Estabelecimentos de ensino, onde Izídio estudou.


6 — Fazenda Redenção: Situada no Estado do Pará, foi adquirida pelo comunicante, um mês antes de retornar à Vida Espiritual.


7 — “Depois de minha volta de Hidrolândia”: Com efeito, o acidente ocorreu, depois que Izídio retornara daquela cidade goiana.


8 — Hospital Ortopédico: Local onde o jovem fazendeiro permaneceu por seis dias, em estado de coma.


9 — José Fortuoso Sobrinho, o nosso caro Zé da Brahma: Dono do carro sinistrado e que não se encontrava ao volante no momento do acidente, segundo constatou a Perícia um ano depois. Mais uma vez, o Espírito de Izídio vem assumir a responsabilidade da “disparada do velocímetro”, inocentando, por conseguinte, o amigo, que também desencarnou no acidente.


10 — Urquiza, Augustinha, D. Raquel, D. Lélia e D. Nenzinha: Amigas da família, e colaboradoras de D. Leila nas obras assistenciais.


11 — Amigo Geraldo: Trata-se do esposo de D. Nenzinha, pai de Nilson, desencarnado em janeiro de 1976.


12 — Irmã Elba: Esposa do Professor Múcio Melo Álvares e amiga da família.


13 — Lau, Blanche e Leilah: Irmãs de Izídio, além de Júlia.


14 — Carlos, Flávio e Nilson: Cunhados do comunicante.


15 — Carlos Júnior e Leandra: Sobrinhos de Izídio, respectivamente, filhos de Lau e de Carlos.


16 — “Anjo que apareceu com a Leilah”: O Espírito se refere à pequena Sheilla, filha de Nilson e de D. Leila, nascida a 7 de julho de 1977.


Comovedor, sem dúvida, verificarmos que o Espírito de Izídio, confessando-se apaixonado pelo novo esporte — o da beneficência; — lembrando-nos o que seja realmente a loteria da vida — trabalhar e servir aos que precisam mais que nós mesmos; — e que o fardo mais pesado a transportar na Terra é a carga, de nós mesmos com os nossos pensamentos condensados, emociona-nos quando, “para sorrirmos um pouco”, rememora versos nostálgicos de velho cantador da roça, em sua terra natal, para depois nos conduzir juntos, devorando a distância, num cavalo de asas, cheirando o mato e vendo o azul da campina, para a certeza da Vida Imortal.


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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