1 Mamãe Sylvia, meu pai, n estou aqui, pedindo lhes para que me abençoem, perdoando o desgosto que lhes dei.
2 Sou amparado pelo tio Antônio Bernardino n e por minha avó Nelly n para dizer lhes que estou melhorando, mas ainda me sinto vago, entontecido…
3 Não julguem que tivesse usado minhas mãos no suicídio.
Havia tido contratempos de namoro, mas isso não era bastante para que me arrojasse a esse gesto infeliz.
4 Sentira, na antevéspera do dia 4, uma grande dor de cabeça e quis afogar em alívio o meu pensamento com alguns comprimidos, n que não mais me lembro quanto ao nome.
5 Minhas ideias estavam embaralhadas… Parecia estar numa nuvem que me transportava para lugar nenhum… 6 Não sei como foram alteradas as minhas ideias… No quarto, li cadernos ou tentei ler alguma coisa de que não sabia o sentido…
7 As horas estavam diferentes para mim…
Um impulso, que não compreendo até hoje, me levou a encontrar a arma, n com a qual fiquei refletindo na vida e na morte… 8 Seria aquele objeto um portador da morte em si? Perguntava a mim mesmo…
9 Sem avaliar o perigo em que me achava, recordei os casos das roletas russas assim chamadas…
10 Haveria uma bala determinada para cada pessoa em casos desses?
11 Desconheço porque levei a arma a altura da cabeça, sem qualquer ideia de fugir da vida…
12 Os pensamentos faziam um turbilhão no meu cérebro…
Sentia-me tonto, descontrolado…
13 Não tenho a ideia de haver puxado o gatilho, mas a verdade é que caí desamparado, acometido me absorvi de todo, e quando acordei, foi aquele mesmo choro que, soube, de pronto, num espanto de que não conseguia sair… 14 Um sono mais esquisito de que fora estar em nossa casa… Vi meu avô Sinhozinho, n meu tio Humberto, n perto de mim.
15 O assombro foi tão grande, que não tive outro recurso senão estirar-me no leito a que me haviam conduzido e no qual havia despertado.
16 Minha avó Nelly não crê que eu possa escrever muito, mas desejo pedir-lhes perdão pela minha falta que não nasceu de minha própria vontade, e pedir para pensarmos que precisamos cuidar com muito amor do Álvaro e de Nelly, n pois não desejo ver meus pais queridos desanimados.
17 Estou ainda sem forças… Caindo facilmente.
18 Escrevo com as mãos do tio Antônio Bernardino firmando o meu pulso.
Um dia em que eu puder, voltarei às notícias.
19 Perdoem-me, peço-lhes.
Vou melhorar e ser mais cauteloso para conseguir auxiliá-los.
20 Rogo a Deus nos proteja a todos, e peço para que me lembrem nas orações para que me sinta abençoado, e mais corajoso, para sustentar as dificuldades que devo por fim vencer em mim mesmo.
21 Um abraço de respeitoso amor e de muita gratidão do filho doente, mas sempre agradecido,
Lincoln
Lincoln Prata Lóes n
De duas entrevistas com os genitores de Lincoln Prata Lóes, a 10 e a 30 de dezembro de 1978, respectivamente, na residência do autor destes apontamentos e na dos distintos entrevistados, conseguimos apurar o seguinte:
1 — A mensagem a que demos o título de “Não julguem que tivesse usado minhas mãos no suicídio”, foi recebida pelo médium Xavier, ao final da reunião do Grupo Espírita da Prece, em Uberaba, na noite de 22 de setembro de 1978.
2 — Filiação do comunicante: Sr. Lauro Escobar Lóes, distinto economista e funcionário do Banco do Brasil, e Sra. Sylvia Nelly Prata Lóes, ambos católicos.
3 — Lincoln nasceu em Uberaba, Minas Gerais, a 14 de outubro de 1961, e desencarnou em São Paulo, Capital, antes de se submeter a uma segunda intervenção cirúrgica, a 4 de agosto de 1978. Fez o curso primário no Grupo Escolar (hoje, Escola Estadual Minas Gerais, e o secundário, na Escola Estadual Marechal Humberto Alencar Castelo Branco, não chegando a concluir o segundo ano do Curso Científico. Tinha inclinação acentuada para trabalhar, chegando a reunir esforços para a fundação de uma revista. Era grande desportista, e caloroso defensor das cores do Jockey Club de Uberaba.
4 — Tio Antônio Bernardino: Trata-se do padrinho da Sra. Mãe de Lincoln — Sr. Antônio Prata da Costa, desencarnado em Uberaba, a 5 de novembro de 1968. Com efeito, era conhecido por Antônio Bernardino, por causa do genitor que tinha esse sobrenome. Não tendo filhos, ajudou a criar os onze irmãos, e considerava Lincoln como se fosse um neto querido. A nosso ver, este é um detalhe importante, uma vez que o médium desconhecia por completo o sobrenome do pai — Bernardino — do tio do Espírito comunicante, tanto quanto os demais pontos relevantes da mensagem.
5 — Avó Nelly: D. Nelly dos Santos Prata, desencarnada em Uberaba, a 27 de maio de 1957. Avó materna.
6 — Comprimidos: Trata-se de suave ansiolítico, um produto comercial do grupo dos chamados antidistônicos.
7 — Arma: Encontrava-se dentro de uma pasta, no carro do pai, que havia chegado do sítio. Lincoln pegara a chave do veículo, disposto a ouvir músicas. Minutos depois, entre 20:30 e 20:50 horas de uma Terça-feira, 1º de agosto de 1978, Sr. Lauro e D. Nelly ouviram o estampido que deveria reconduzir o filho ao Plano Espiritual, dias depois.
8 — Avô Sinhozinho: Sr. Sylvio de Oliveira Prata, desencarnado em Uberaba, a 26 de fevereiro de 1977. Avô materno, que muito estimava o neto.
9 — Tio Humberto: Sr. Humberto Santos Prata, desencarnado em acidente automobilístico, a 11 de agosto de 1974, em Araçatuba, Estado de São Paulo.
10 — Álvaro e Nelly: Irmãos do comunicante, respectivamente, o primogênito e o caçula, atualmente, com 18 e 14 anos de idade. Era bom o relacionamento dos três irmãos, em casa.
Visando à nossa edificação doutrinária, tomamos a liberdade de remeter o leitor a apenas três livros de Allan Kardec, onde o suicídio é analisado com aquela clareza cristalina, que todos devemos imitar:
1 — O Livro dos Espíritos, Livro Quarto — “Esperanças e Consolações”, Capítulo Primeiro — “Penas e Gozos Terrestres” — n.os 943 a 957.
2 — O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. V — “Bem-aventurados os Aflitos”, — n.os 14 e seguintes; e Cap. XXVIII “Coletânea de Preces Espíritas”, — n.os 71 e 72.
3 — O Céu e o Inferno ou A Justiça Divina Segundo o Espiritismo, 2ª Parte — Capítulo V — Suicidas.
Que finalmente, todos possamos percorrer as páginas maciças da obra-prima, no gênero, — Memórias de Um Suicida, — de Yvonne A. Pereira, cuja primeira edição, da Federação Espírita Brasileira (Rio de Janeiro, RJ), data de 1957.