Muitas vezes temos asseverado, e não é ocioso repetir, que o alto progresso material dos povos terrestres foi muito além da sua evolução espiritual.
Todo o desenvolvimento da tecnologia da atualidade é apresentado como recurso de destruição.
O rádio não encontrou a fraternidade universal, para alargar as possibilidades infinitas da sua ação sobre as almas. Cada nova expressão evolutiva encontra a reação mais forte, criando barreiras e impondo condições absurdas à sua expansão para o benefício geral do espírito coletivo das nações.
E é ainda por isso que todos os que falam da missão de Jesus, e se apegam à promessa do Mestre Divino, são criaturas inaturais, falta de compreensão dos tempos modernos.
Os próprios espíritas, cuja elevada missão deveria se efetivar com a maior simplicidade possível, sofrem a influência desses antagonismos irreconciliáveis.
[A falsa acusação de que os seus núcleos se constituam em redutos de conspiração contra a ordem social veio encarecer aos olhos de todos a necessidade de sentimentos cristãos no setor da serenidade e da temperança, dentro dos quais possam manter os compromissos em que se acham empenhados.]
O Espiritismo vem justamente coordenar os elementos dispersos pela desorganização da ciência social, conduzindo as [criaturas em] suas atividades para o equilíbrio e para a ordem.
Todavia, em razão da necessidade do fechamento das portas de suas associações, e os problemas da prática, foi considerado agora uma organização de reuniões secretas, sofrendo os seus prosélitos a acusação de elementos de subversão e de desordem.
Nenhuma doutrina oferece dados mais exatos para a construção da harmonia possível, como a consoladora doutrina dos Espíritos.
Aí dentro, [das suas atividades,] sabe cada um o absurdo das teorias igualitárias absolutas, considerada, [no seu justo sentido,] a necessidade do esforço individual para a catalogação dos valores de cada personalidade no instituto das provas [ purificadoras].
A própria reencarnação, na sua verdade confortadora, conhece o impossível da igualdade irrestrita, no caminho das lutas, a caminho das aquisições pessoais, necessárias à “construção” de si mesmo.
Vê-se, portanto, o absurdo do conceito de subversores da ordem, quando somente do Espiritismo pode nascer a orientação nova para a organização social que sofre as mais profundas transições nos aparelhos estatais.
Somente as suas verdades podem encaminhar as criaturas para a reforma precisa.
[Solidariedade e tolerância, a caminho da paz e da fraternidade universais, não constituem elementos de subversão ou de desordem, mesmo porque somente no Cristianismo Redivivo, tal qual no-lo apresenta o Espiritismo, em sua feição pura e simples, pode orientar as novas filosofias sociais dentro das organizações coletivas que hoje sofrem as mais amplas renovações, filhas das intenções generosas e puras, conhecendo, desse modo, a necessidade de caminharmos, assim mesmo, vagarosamente, para a uniformidade das interpretações, na observância d’Aquele que é a luz da humanidade.]
Entretanto, é justo que o espiritista venha a campo, nas estradas das reinvindicações?
Do ponto de vista mantido perante as expressões sociais e políticas do mundo semelhante iniciativa está certa; mas, em nossa visão espiritual, consideramos que os cristãos sinceros não podem esperar uma compreensão perfeita dos tempos que correm.
Eles têm de penetrar nestes tempos, purificando-lhes o ambiente, conhecendo que a atuação dos elementos da atualidade não pode mais penetrar neles próprios.
Não é lícito que a verdade peça socorro às convenções transitórias.
De posse dela, a criatura sabe sofrer, aprender, consolar e esperar.
Com ela guardamos uma apreciação mais justa com respeito aos dois infinitos que constituem o espaço e o tempo.
A função do Espiritismo está adstrita à grande obra da educação e de consolação, no plano da reforma de cada qual com o Divino Modelo.
Atravesse o orbe os períodos mais dolorosos e mais críticos. Organizem-se os estados mais fortes. A sua missão é reformar as cousas e os indivíduos para o bem.
Fora daí o labora pode ser muito grande e a intenção muito nobre, mas há grande percentagem de atividades mundanas em si mesma.
A hipertrofia da liberdade é talvez o maior coeficiente de incompreensão e dissidência. Mas, o que fazer se a Doutrina é a Liberdade Suprema na busca dos Esclarecimentos Supremos e do Conhecimento Superior?
Na sua feição liberal existe lugar para todas as opiniões e para todas as vozes, e temos de caminhar, assim mesmo, paulatinamente, para o conhecimento e observância dos exemplos d’Aquele que é a Luz de todos os tempos e de todas as almas.
Requisitar [o apoio da] justiça do mundo para a garantia da Verdade Cristã? Bem reconhecemos quão precária é essa mesma justiça na Terra.
Mirem-se os espiritistas em Jesus.
A grandeza [do Mestre] da condenação no pretório e das humilhações no Calvário não reside tão somente na fortaleza da Divina Vítima. Reside muito mais na Sua Humildade que, confiando no Pai Celestial, prescindiu de todo o socorro da justiça dos homens.
Jesus na epopeia gloriosa do sofrimento, poderia ter solicitado a colaboração dos direitos humanos; poderia evocar a Sua inocência; poderia provocar a organização de um processo, onde fosse especificada a procedência da calúnia que O levou aos julgamentos cegos de Pilatos e do Sinédrio.
Entretanto, os Seus lábios estiveram mudos, e foi nessa certeza de que a justiça [em si mesma] não se encontra no mundo, nesse desprendimento das glórias de um reconhecimento pueril, sobre o mundo que não O compreendia, na renúncia de tudo, que residiu a Luz Misteriosa [e infinita] que iluminou o Calvário, atravessando os séculos até os nossos dias.
Emmanuel
(22/12/1937)
[1] O título da mensagem original é o que se encontra (entre parêntesis). Diferindo nas palavras marcadas e [entre colchetes] ela foi publicada na íntegra em 2007 pela editora VL, e é a 400ª lição do livro: “Deus conosco”. — Esse capítulo foi restaurado: Texto restaurado.