MENSAGEM
1 Querida mãezinha Odette, abençoa-me.
Estou aqui para agradecer.
2 Quase dois anos.
O coração parece saltar do meu peito para desfazer-me todo num abraço de carinho e reconhecimento.
Estou agradecido com teu sacrifício de vir até aqui, como quem deixa a cidade para buscar teu filho numa campanha remota.
O amor de mãe faz milagres assim.
3 Abraço-te com o meu pai na lembrança, com a nossa Marlene e com o nosso Ernesto, igualmente no coração, com o nosso Ruben, sempre companheiro e sempre amigo, e a nossa querida Maria, todos juntos.
4 Penso, querida mamãe, e penso com os pareceres do meu avô Eduardo que me trouxe até aqui, que já teremos chorado o suficiente nesse tempo todo em que nos vimos dentro dessa transformação; que nomeamos como sendo a morte e que, no fundo, é a continuação da vida de outra maneira.
5 Não sei como explicar o que me aconteceu. Guardava, porém, o pressentimento de que era alguém com passagem comprada para o ônibus da morte, ignorando para que lugar esse veículo me levaria.
6 No íntimo queria viver, acompanhar os passos e o progresso de meu pai, viver para alegrá-los e para erguer o meu próprio lar com a nossa querida Cristina que me percebe a presença, no entanto, bem no fundo de meus pensamentos, estava a ideia de que meu tempo seria curto.
7 Nossa querida Cristina, muitas vezes me ouviu acerca de meus pensamentos ocultos.
Não era medo, nem aflição.
Era uma espécie de aviso flutuando em minha cabeça a dizer-me que me preparasse.
8 A moto não foi a causa.
Todos estão certos que eu sabia agir com prudência.
9 O fato é que meu encontro com a estaca final de tempo terrestre estava ali, naquele abalroamento que não me impôs sofrimento algum. 10 Para mim, querida mãezinha, foi apenas um choque, um desmaio, um lapso de tempo e, depois, um acordar que não esperava, embora pressentisse.
11 A verdade é que as lágrimas de casa foram também as minhas, até que meu avô Eduardo e outros amigos me restabelecessem a tranquilidade.
12 Quero dizer que as preces do Ateneu Espírita, com o nosso pessoal pensando em mim, realmente me auxiliaram bastante e agradeço por tudo.
13 Se pudesse pedir alguma coisa à família querida, rogaria conformação para todos nós.
14 Quando a mãezinha ou meu pai com algum dos nossos me lembram, qual se fôssemos impulsionados de novo ao pânico da separação, sinto-me derrotado, pessimista, triste e vencido. Conservemos a nossa alegria e a nossa esperança sem alteração.
15 Noto que o nosso grupo ainda não se reajustou. Até mesmo o nosso querido Ruben ficou nervoso, traumatizado e estimaria ver o irmão mais forte à frente da vida.
16 Nossa Cristina não tem razão para deixar-se arrasar de sofrimento.
Rogo a ela renascimento e bom ânimo.
Um namorado e noivo pelo coração não pode ser egoísta quando ama realmente.
17 Os problemas vão passando e desejo vê-la contente e brilhante como sempre, na expectativa de uma felicidade que, pertencendo a ela, me pertencerá igualmente.
18 O amor não desaparece, ganha novas formas de expressão sempre que a distância lhe impossibilite as manifestações mais concretas.
19 Em nosso caso, não há distância porque pelos fios do pensamento nosso intercâmbio é incessante.
Com estas notas, não desejo dizer que a esqueci e sim que a compreendo agora muito mais que antes.
Poderei ser o irmão a velar por suas alegrias e amigo fiel que lhe compartilhará das esperanças e experiências de menina e moça.
E tudo seguirá bem se colocarmos Deus no comando de nossa vidas.
20 Mãe querida, muito grato pelas preces e pelo amor com que me segues. Estou bem e se não posso dizer que estou perfeitamente bem é que as saudades na soma geral, as daí com as minhas, ainda não dão para comprar a felicidade, mas, com o apoio da fé em Deus, conseguiremos adquirir a esperança e com a esperança saberemos todos trabalhar para o reencontro mais tarde.
21 Marlene, peço-te abraçar por mim ao nosso Rodrigues.
22 Meu pai está em todas as palavras desta carta e rogo-te, mãezinha, receber com os irmãos todos e com a filha Maria Cristina que é também tua filha no coração, o carinho imenso e as esperanças orvalhadas de lágrimas da alegria que me invadem os olhos, ao pensar na Bondade Divina que me permite escrever-te, com todo o amor e toda a gratidão do teu filho, sempre teu filho, cada vez mais teu.
Eduardo n
Um abraço para tia Dalva, tia Dulce e tia Nancy.
COMENTÁRIOS
Os pressentimentos, os avisos que muitas vezes norteiam a existência de alguém, relembram episódios de outras vidas. Um dia voltaremos à origem.
No fundo da alma, algo parece antecipar notícias no tempo. A liberalidade divina doa o direito de escolha; o caminho como que se desenha, à frente de cada um.
A presença de Eduardo, grafada em suas palavras, lhe esclarece a ligeira permanência no mundo, o que se comprova quando diz:
“… Bem no fundo de meus pensamentos, estava a ideia de que meu tempo seria curto… O fato é que meu encontro com a estaca final de tempo terrestre estava ali, naquele abalroamento que não me impôs sofrimento algum…”
PESSOAS E FATOS
Eduardo Budaszewski.
Nascimento: 10.6.1955.
Desencarnação: 29.9.1976.
Pais: Helio S. Budaszewski e Odette Budaszewski. Av. Guaíba, 684, Ipanema, Porto Alegre - RS.
Irmãos: Marlene e Ruben.
Avô: Eduardo Budaszewski, paterno, desencarnado.
Cunhado: Ernesto Rodrigues.
Namorada: Maria Cristina.
Rubens S. Germinhasi