MENSAGEM
1 Queridas filhas, Deus nos abençoe a todos.
2 Estou presente. Decerto pelas mãos dedicadas de nossa querida Pia e de outros corações amigos da Vida Maior.
3 Um ano para um pai que se ausenta da família querida será feito de doze ansiedades, cada ansiedade com trinta inquietações e cada inquietação valendo saudades e mais saudades. Digo isso sem o propósito de afligi-las.
4 Tenho todas as minhas preocupações amenizadas por nossa Pia, por minha mãe que me esperava com o carinho invariável de sempre e pelo amparo valioso de afeições outras que me escoram nos dias de insegurança.
5 Conquanto a ideia espírita nos acalente, antes da vinda para cá, iluminando-nos os pensamentos e caminhos, a desencarnação, mesmo para um homem de minha experiência, não é uma ocorrência que se transponha sem dificuldade. É um despojamento de tal natureza aquele que experimentamos que a palavra humana, tabelada para assuntos conhecidos e mecanizados, não consegue expressar.
6 É a desistência compulsória de tudo o que se fez no mundo, a separação da família, a mudança dos hábitos e a surpresa de se deixar tudo de vez para nos retomarmos em outro nível.
7 Compreendo que havia atingido uma condição de sobrevivência difícil no corpo terrestre. A esclerose me invadia os domínios do pensamento, que eu já não articulava com a serenidade e o discernimento precisos.
8 Ainda assim, me apegava de tal modo ao trabalho, que, de momento, em me observando conduzido à Vida Espiritual, teria desejado ficar…
9 Vocês todas, filhas do coração, estavam em mim, da mesma forma pela qual sempre as trouxe na memória. Acácia, Lucy, Nair, Darci e Ariela, os genros e os netos…
10 Via-me confinado no círculo doméstico, à maneira de uma planta no vaso em que me demorava, sentindo nisso a felicidade perfeita. 11 Quando notei que não mais conseguia manejar o cérebro com a facilidade possível, a princípio, o receio do desconhecido me tomou o espírito inteiramente.
12 Sabia que vocês ambas se achavam ausentes e, embora isso, buscava selecionar as vozes que ouvia, para tentar encontrá-las nos que me cercavam…
13 A luta em mim, comigo mesmo, perdurou por tempo estreito.
Um desmaio suave me levou a perder a consciência própria e dormi por algum tempo…
14 Quantas horas?
Não sei ainda precisar.
Despertei, porém, ao lado de nossa querida Pia e de minha mãe Acácia que para logo me fizeram sentir a renovação que eu deveria esperar e não queria estar esperando…
15 O reencontro foi uma espécie de sol derretendo o gelo de uma saudade que o tempo já me cristalizara no coração.
16 O que chorei de alegria não posso efetivamente enumerar por falta de expressões adequadas. Bastará dizer-lhes que me sentia junto da mamãe e da companheira querida, qual se houvesse regressado aos meus dias da infância.
17 O contentamento de uma criança numa festa de amor e luz seria, a meu ver, muito menor do que aquele júbilo que me tomava de assalto as forças do sentimento. Os dias novos começaram na sucessão dos momentos, dentro dos quais Deus nos traça a vida…
18 Amigos me retomavam nos braços e me falavam da continuidade de nossas tarefas e lutas. Lameira de Andrade, Romeu Camargo, Militão Pacheco, Cairbar Schutel, Patrício Miranda e tantos outros me induziam a ver os horizontes renovados que me aguardavam…
Tudo tão enternecedor, tudo tão belo!…
19 O corpo era agora leve, a cabeça parecia haver sido arejada por energias inexplicáveis, de vez que voltava a pensar com desenvoltura e a discernir com rapidez… 20 Compreendi que a verdade cultivada na fé que me clareava os caminhos da Terra, me dominava o campo íntimo e pressenti a felicidade de prosseguir trabalhando…
21 Mas a lembrança da família se interpôs em meus pensamentos transformados. Tive a ideia de que estava sendo pesado na balança do tempo, a fim de ver para que lado pendiam os pratos da vida que mais me fixassem o coração nessa ou naquela faixa de experiência.
E a concha em que situava os meus laços da família surgiu mais volumosa, inclinando-me para a Terra que deixara à retaguarda…
22 O amor por vocês, filhas queridas, me absorveu todas as energias, embora recebesse de todas as filhas queridas mensagens e preces de paz e de esperança… O que fazer, porém, se as amo tanto ainda? Nossa Carminha, das primeiras dedicações que me abraçaram aqui, em vão me pedia desprendimento…
23 Nossa Pia me afirmava que não me seria mais possível mobilizar o corpo enfermo e que ela própria pedira em orações a Jesus para que eu lhes viesse partilhar o Natal passado, no entanto, vocês e os netos queridos estavam profundamente em minh’alma…
24 Não conseguiria dizer se eu lhes pertencia ou se os entes amados se me erguiam na estrada do coração, como sendo propriedade minha…
25 O que sei é que o amor possessivo me compeliu a rogar serviço na companhia de vocês, conquanto em ligação com a esposa querida, e vou, gradativamente, me instalando nas obras do nosso Lar do Amor Cristão.
26 Quanto se me faz possível, abeiro-me dos netos, tentando inspirá-los. E o nosso André Luiz, a nossa Stella, a nossa Célia, o nosso caro José Pedro, a nossa Eliane e os genros amigos…
27 Não sei explicar o porquê de tanto amor, entretanto, os Amigos de minha vida nova me falam que posso atuar à vontade, no desdobramento das atividades a que se dedicam, desde que me prenda unicamente ao bem. E essa lição tradicional da nossa casa de caridade cristã nunca me saiu da vida espiritual.
28 Prossigo, desse modo, junto de todos, mas, especialmente, ao lado de nossa Acácia, em vista de me achar presentemente em serviço de apoio fraternal aos que se valem de nossa instituição para o encontro de consolo e renovação.
29 Agradeço quanto fizeram e quanto fazem em meu benefício e agradeço as providências assumidas para que as nossas queridas Ariela e Darci se colocassem num campo de ação em que a responsabilidade lhes venha favorecer a vida.
30 Filhas queridas, aqui ninguém nos pergunta pelo que fomos no mundo e sim pelo que fazíamos entre as criaturas.
Rogo-lhes a sustentação da fidelidade precisa à execução dos nossos ideais de servir.
31 Entendo as dificuldades de ordem material que se avolumaram para o Celso e para o Billy, ainda assim, peço-lhes confiança em Deus e coragem. Muitas vezes aproximo-me de nossa Stella procurando escrever, mas ainda não consegui que ela confiasse inteiramente em minha presença, no entanto, espero esse entrelaçamento de nossas forças para breve, quando me possa exprimir, por ela, com mais facilidade.
32 Rogo ao nosso André Luiz, presente à nossa reunião, confiança em Deus e nele mesmo. O querido neto, em algumas ocasiões, se supõe quase que desamparado de apoio espiritual, no entanto, isso não acontece.
33 Guardemos a convicção de que tudo acontece para que venhamos a desfrutar o melhor e com essa atitude mental de renovação permanente, saberemos vencer.
34 Acompanhamos o esforço que desenvolveram com a nossa irmã Yolanda, que está na orientação desse formoso movimento de amor ao próximo, considerando o Natal nos dias vindouros e estamos felizes com a felicidade de vocês, fazendo outros felizes.
35 Essa é a única felicidade que existe: a que criamos para os outros, sem cogitar da nossa própria alegria. 36 Deus abençoe a todas as companheiras de Jesus que pensam em Jesus na pessoa humana, envolvida em penúria e sofrimento. O Senhor saberá recompensar a todos os corações queridos dessa campanha de beneficência e paz, alegria e luz.
37 Filhas queridas, perdoem a carta longa.
Saudade é a inspiração das cartas longas de quem ama falando à distância.
Nossas duas mãezinhas me compreendem. Sabem que as valorizo e venero cada vez mais, no entanto, não desconhecem que o coração de pai não esmoreceu.
38 Nossas vibrações de carinho para Nair e todos os nossos ausentes de nossa reunião, mas presentes, a cada momento, em nossa memória e coração.
39 E, desejando-lhes a todos um Natal repleto das Bênçãos de Deus, deixa-lhes aqui todo amor que um pai é capaz de sentir e o coração de quem sendo tutor paternal da Terra, onde todos somos filhos de Deus, e que é hoje, acima de tudo, o irmão e servidor do caminho espiritual sempre mais reconhecido.
40 Para Cy e Acacinha todo o amor do papai muito grato.
Cássio
COMENTÁRIOS
Pais e filhos de consciência cristã, elevam a vida existencial ao Supremo Poder, canalizando os corações de boa vontade a conceituarem no relacionamento humano a certiva de que “Fora da Caridade não há Salvação”.
É na família terrena e, na família espiritual, que está o verdadeiro sentido de vida comunitária cristã.
Nascer para si, para o semelhante, é nascer para Deus. A reencarnação é o renascimento constante.
Cássio aponta em sua nova experiência espiritual, no reencontro com os familiares, a existência dessa verdade, renascer na Terra é renascer para a Pátria Espiritual.
PESSOAS E FATOS
Cássio Leme Maciel.
Nascimento: 23.08.1904.
Desencarnação: 12.12.1977.
Esposa: Pia Passini Maciel, desencarnada em 23.7.1975.
Mãe: Acácia Leme Maciel, desencarnada em 20.01.1922.
Filhas: [Acácia Maciel Cassanha. Rua 2 de Julho, 390. São Paulo - SP.] Nair, Lucy, Darci, Ariela, irmãs de Acácia.
Netos: Stella Maria, André Luiz, Célia Maria, Eliane, José Pedro.
Genros: Celso Cassanha, Benedito (Billy) Pedro dos Santos.
Irmã Carminha, uma das fundadoras do Lar do Amor Cristão, desencarnada em 31.07.1976.
Amiga da Família: Yolanda Cezar, Vice-Presidente do Lar do Amor Cristão.
Cy - Forma carinhosa de chamar a filha Lucy na intimidade.
Romeu de Camargo, autor de várias obras espíritas, Presidente da União Federativa Espírita Paulista e fundador da Rádio Piratininga, a primeira estação de rádio espírita. Desencarnou em 10.12.1948.
Dr. Augusto Militão Pacheco, médico homeopata, uma das mais destacadas figuras do Espiritismo em São Paulo. Desencarnou em 7.7.1954.
Cairbar Schutel, um dos maiores vultos do Espiritismo brasileiro, autor de várias obras espíritas, desencarnou em 30.01.1938.
Patrício Miranda, foi o primeiro Presidente da Federação Espírita do Estado de São Paulo.
Rubens S. Germinhasi