MENSAGEM
1 Querida mãezinha, este é um momento difícil em que novamente lhe peço para que me abençoe.
2 Ignoro como escrever esta carta.
Tenho o pensamento ainda traumatizado pela ocorrência de dezembro. Se falharem os meus recursos para escrever ao seu carinho, como é de meu desejo, rogo me desculpe, consertando minhas expressões. 3 Suas lágrimas, com os pensamentos de meus irmãos, são orações que me despertam devagar.
4 Aquele choque de veículos, entre Bulhões e Bonfinópolis, ainda me ressoa no cérebro qual se fosse uma bomba a me estourar nos ouvidos.
5 Lembro-me: um caminhão desgovernado atirou-nos o carro para uma frente que não sei descrever. A batida foi violenta, de tal modo que o tio Gomes e eu nos sentimos projetados para fora sem saber como se verificou o acontecido.
6 A princípio, em minha cabeça tudo era sonolência com a esperança de acordar em algum lugar de socorro; 7 mas, da sonolência passei a um sono profundo de que somente voltei com o seu pranto e o pranto de nossa querida Ilma a chamar-me.
8 Julguei houvesse sido instalado em algum pronto-socorro, no entanto, em tempo breve, tudo ficou muito claro. Meu avô Armando Cavalcanti e o meu tio Joaquim se deram a conhecer e pude receber a verdade com o assombro de um menino que se vê, repentinamente, arrebatado de casa para o desconhecido.
9 Não posso recusar à senhora a verdade de que não me foi fácil aceitar a nova situação. A senhora, com meus irmãos, a Ilma, o Carlos, a Nélia Carla e a Luciene estavam em meu pensamento agitado e chorei imitando as crianças que se desconsolam com as realidades da vida.
10 Compreendi, porém, que era preciso levantar-me por dentro, forrar o coração com a força da fé em Deus e entender que as Leis de Deus não sofrem qualquer engano…
11 Agora estou mais sereno, conquanto o anseio de resolver todos os nossos problemas de uma só vez, me aflija o coração.
A senhora pode, no entanto, ficar certa de que estou melhorando.
12 O tio Gomes, que faria cinquenta e nove janeiros anteontem, está mais abatido do que eu mesmo. Mas a vida continua e, com a vida, Deus prossegue amparando-nos a vida e o caminho.
13 Venho pedir-lhe conformação e coragem. Rogue à Ilma reconfortar-se na confiança em Jesus, porque estou a me esforçar por melhoria, a fim de auxiliá-la no apoio às crianças.
14 Peço para que ninguém se preocupe em buscar supostos culpados em nosso processo de desencarnação.
15 Mamãe, as leis de Deus são justas. Se o seu filho deveria terminar a experiência física na estrada, isso deve ter sucedido para meu benefício próprio. A injustiça não faz parte dos princípios que nos governam.
16 Tenhamos confiança. Por enquanto, o pensamento ainda amarrado ao lar e à família não me permitem angariar definições referentes ao destino, mas no futuro saberemos o porquê das provações do presente, cujas raízes se ocultam no passado.
17 A hora me pede resolução e energia para não me curvar às sugestões do desânimo.
18 O trabalho está neste meu mundo novo, da mesma sorte que aí no Plano físico e empenharei minhas possibilidades na adaptação ao novo modo de ser para conseguir meios de ser útil à senhora e a todos os nossos.
19 Lembre-se, querida mamãe, que se falo em caminhão não menciono o motorista. Quem teria prazer em provocar o mal? Quem faria um acidente por gosto ou capricho próprio?
20 Não cogitem de identificar autor ou autores imaginários do desastre que me abriu as portas da espiritualidade. Admita que a máquina que se atirou contra a nossa estava conduzida por alguém de nome “DESTINO”. Com isso, não quero dizer que há destinação para o mal, e sim que na região de meus débitos o encontro daquela noite de dezembro era inevitável.
21 Confiemos a Deus todas as fases do problema que já foi solucionado com a nova situação em que nos achamos e marchemos com fé em Deus para adiante.
22 Não consegui que o tio Gomes viesse em minha companhia, entretanto, asseguro-lhe que estamos com o melhor que poderíamos receber no Banco da Providência Divina.
23 Mamãe, a todos os nossos, com a nossa Ilma em meu lugar ao seu lado, por filha do coração, agradeço e agradeço ainda os pensamentos de meu pai de quem venho recebendo tanto amor com a assistência espiritual, dos protetores, da vovó Clarinda e, com o meu beijo de reconhecimento e carinho em suas mãos, sou o filho reconhecido aprendendo de novo a orar a Deus, rogando aos Céus por paz e por nossa felicidade.
24 Sempre o seu filho reconhecido,
Antônio n
COMENTÁRIOS
Trazendo a verdade consoladora, nas palavras descritas com carinho e de maneira a não agredir o coração de quem as ouve ou lê; o valor da explicação na consciência do trabalho e a valorização de Deus; a desincumbência de sua mãe e da família na procura dos supostos culpados pelo acidente que o acometera, Antônio Carlos retrata com clareza e segurança o seu pensamento: “A injustiça não faz parte dos princípios que nos governam.”
PESSOAS E FATOS
Antônio Carlos Mundim.
Nascimento: 7.11.1946.
Desencarnação: 5.12.1977.
Pais: Antônio Cavalcanti Mundim, (desencarnado) Maria Ferreira Mundim. Rua Três, 340 - São Fidelis, Goiânia - GO.
Irmãos: Dailton Cavalcanti Mundim e Dinair Cavalcanti Mundim.
Esposa: Ilma Gomes Mundim.
Filhos: Carlos, Nélia Carla e Luciene.
Avós: Armando Cavalcanti e Clarinda Augusta Mundim, paternos.
Tios: Gomes da Costa Ferreira, desencarnado no mesmo acidente. Joaquim Gomes Pinto, materno.
Rubens S. Germinhasi