O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Viagem sem adeus — Mensagens familiares de Cláudio R. A. Nascimento


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Com carinho

1 Querida mãezinha Therezinha e meu querido papai Raimundo, n peço me abençoem.

2 A saudade rompe as sombras, quando nasce da luz do amor que Deus acende em nossos corações.

3 Sou trazido a notícias. Sinto, quase espantado, lutando comigo mesmo a fim de me adaptar ao ambiente de modo a escrever-lhes com a possível clareza. Sinceramente, por mim próprio seria difícil empreender a presente iniciativa, no entanto, a vovó Maria julgou conveniente lhes viesse ao encontro, no objetivo de tranquilizá-los.

4 Mãe querida, não me lembre com amargura. Tudo se harmoniza com as leis que nos regem. Agradeço todo o esforço de seu carinho, procurando resignar-se com a ocorrência que me separou do corpo físico e estou realmente muito grato a meu pai pela segurança com que buscou aceitar a minha partida.

5 Realmente, a nossa provação foi muito difícil para ser contornada, entretanto, podemos observar que todos os fatores desencadeantes do acidente de que fui vítima, se entrelaçaram nas raízes da lógica. 6 De tanto ler o noticiário acerca de violência e de tanto anotar os assaltos que se ampliam por tantas maneiras diferentes, veio-me a ideia de entrar na posse de arma em que baseasse a minha defesa pessoal, em circunstâncias perigosas e inesperadas.

7 Comprei o revolver que mais se parecia a uma peça de museu, à vista de minha inexperiência no assunto. Coloquei a peça em minha pasta de serviço, mais no propósito de recuperá-la, através de rigorosa limpeza, que de usá-la por mim mesmo.

8 A aquisição me passou pela cabeça por assunto banal que não me pedia qualquer consideração especial. Longe me achava de pensar que o apetrecho se voltaria contra mim, sem o concurso de minhas próprias mãos.

9 Era sexta-feira e imaginava como seria o repouso domingueiro, quando busquei a companhia do nosso Luiz Antônio, n a fim de trocarmos opiniões sobre negócios habituais.

10 Tudo seguia com espontaneidade em nosso encontro de escritório, quando a pasta caiu no piso da sala e a disparada se processou, fatal.

11 Lembro-me apenas de que fui atingido pelo projétil que rompera o próprio revestimento da bolsa para alcançar-me e coloquei a mão no peito, experimentando uma dor aguda que, sem demora, se converteu em mim, no assombro que me prostrou. 12 Quis reagir, falar, perguntar, observar com mais clareza o que se passava, no entanto, creio que perdia sangue à medida que adquiria o torpor que me pôs em branco as menores linhas do pensamento…

13 Só mais tarde, entendi que uma força divina me propiciara a bênção do sono que me dominou por vários dias…
Quantos, ainda não sei…

14 Recordo-me, porém, de que despertei na ideia de que seria recuperado. Tudo à frente se revestia de tanta identificação com o que via na Terra que, de imediato, me supus num hospital de socorro urgente, mas, a pouco e pouco, os enfermeiros que me acompanhavam me deram a entender que tudo era diferente…

15 Meu corpo era o mesmo, aos meus olhos, e a região do ferimento trazia tampões adequados, induzindo-me a crer que me achava em nosso Plano de experiências físicas.

16 Tão logo melhorei, trouxeram-me vovó Maria de Freitas para o diálogo. Não a conheci, de pronto, no entanto, com a paciência que somente as mães conseguem acumular, notificou-me o ocorrido… Senti-me desorientado, aflito… Bastou que a verdade me invadisse a mente, para que me abrisse aos sentimentos do lar e, então, qual se eu trouxesse um vídeo por dentro de mim, passei a vê-los orando e chorando por minha causa…

17 Mamãe Therezinha, o que sofri, não sei descrever. Foi aquele anseio de regresso que não conseguia coibir…
Entretanto, fui obrigado a vê-los reclamando em pranto a minha ausência e, debalde, buscava eu fazer-me entendido, explicando-lhes que eu vivia.

18 Sei que a vovó Antonia veio igualmente em meu socorro e, amparado por vários amigos, comecei a retomar-me… Compreendi, afinal, que para mim o período de obrigações no mundo havia terminado e busquei revisar as lições de coragem e as preces de amor a Deus que eu trazia de casa.

19 A coragem está voltando e a fé está renascendo em mim, mas apresso-me a pedir-lhes paciência e tranquilidade, em auxílio a nós todos.

20 Mãezinha, prossiga valorosa e calma.
O filho não morreu. Estou em outras condições de existência e encontrarei meios de lhes ser útil. 21 Rogo a ambos, pais queridos, conservarem a nossa fé na Bondade de Deus que unicamente nos oferece o melhor. Não permitam que a dor assuma caráter mais grave em nossos pensamentos.

22 Recordem o Carlos Ronaldo, a Carmem, o Raimundinho e a Patrícia n que necessitam de vocês para vencerem a luta.
Os irmãos e nós precisamos do amparo com que nos estimulam a trabalhar e a viver…

23 Tenhamos a certeza de que ninguém teve culpa na ocorrência. Um tiro desferido de uma pasta de serviço!

24 Eis o quadro em que o Senhor permitiu que eu viesse a sofrer, decerto resgatando dívidas que tenho para trás.
Todos estamos enlaçados em processos de contas que não devem se eternizar e, na essência, cabe-nos render graças a Deus por havermos encontrado o ensejo de renovação e melhoria para nós mesmos.

25 Querida mamãe, nada posso pedir em casa, porque recebi dos pais e dos irmãos queridos as melhores demonstrações de carinho, mas se julgarem que ainda posso rogar algum favor, peço à nossa Carmem Radige nos ajude, renunciando ao desquite em formação.

26 O nosso Luiz Antônio n é um homem nobre e digno. E a filhinha reclama segurança para o amanhã. Que a nossa querida Radige reconsidere a sua própria atitude. O cunhado é meu verdadeiro irmão e nutre pela irmã tanto amor que não me pejo de solicitar a ela nos auxilie, na sustentação de nossa paz, encerrando uma questão que nasceu sem que nenhum de nós a justifique.

27 Que a nossa querida Carmem possa me escutar, não que eu mereça atenção alguma, no entanto, fui eu aquele irmão que a morte do corpo transformou de tal modo que não tenho outro recurso se não este, de rogar à irmãzinha permaneça calma e otimista em seus encargos de esposa e mãe. Luiz Antônio entenderá.

28 Ele tem estado sob enorme fadiga…
Pensa em nossa estimada dona Ana, em seu papai Agostinho, em sua prima que me antecedeu na mudança em que me vejo e precisa tanto de nossa Radige que, com a Bênção de Jesus, permanecerá em seus compromissos.

29 Envio meu grande abraço a todos, entretanto, peço ao Raimundinho tomar-me o lugar de colaborador do papai, a fim de que me asserene, pois ainda me reconheço em desajuste psicológico, embora o auxílio constante que recebo.

30 Mãezinha Therezinha e querido papai Raimundo, não posso continuar. A emoção me sufoca a fonte dos pensamentos e me cria impedimentos que não sei descrever.

31 Termino aqui esta carta, rogando-lhes amparo, o amparo da fortaleza de ânimo que me podem efetivamente doar. Não chorem tanto, refletindo em mim, e sim meditemos nas bênçãos de Deus que recebemos, todos os dias.

32 Papai Raimundo, Deus o abençoe junto da mamãe Therezinha, infundindo-lhes energias novas para vencermos as atuais tribulações. Com muito carinho aos irmãos queridos, entrega-lhes o coração saudoso, o filho que lhes pertence com o favor de Deus.

33 Sempre o filho reconhecido


Cláudio n

17.05.1980.    


MÃEZINHA, PROSSIGA VALOROSA E CALMA. O FILHO NÃO MORREU.


[1] Para facilitar o reconhecimento das mensagens neste volume impressas, a família achou por bem apresentá-las com títulos que as identifiquem no índice. Aproveita, também para agradecer aos que de algum modo puderam colaborar na feitura desta edição, rogando a Deus que os abençoe e gratifiquem com a paz em seus corações. — Nota do organizador.


Essa mensagem foi publicada originalmente em 07-09-1981 pela editora IDEAL e é a 14ª lição do livro: “Vivendo sempre.”


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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