Casado com D. Maria de Lourdes Basílio Van Erven, pai do médico psiquiatra Marco Aurélio Van Erven, o Dr. Orlando Van Erven, médico diplomado no Rio de Janeiro, nasceu na cidade de Cordeiro, Estado do Rio, no dia 28 de junho de 1910 e faleceu em São José do Rio Preto, a 18 de abril de 1976.
Radicado em Votuporanga desde 1941, dedicou-se integralmente ao socorro do próximo, salientando-se na condição de grande missionário de Jesus, a serviço da Medicina.
Participou de inúmeras atividades beneficentes, sendo figura obrigatória nos eventos assistenciais de Votuporanga e Rio Preto.
Médico Psiquiatra, em 1958 mudou-se para São José do Rio Preto onde residiu até a desencarnação, tendo sido, desde 1959, Diretor Clínico do Hospital Psiquiátrico Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, hospital espírita de cunho eminentemente filantrópico.
Certamente pelo seu espírito elevado, pela sólida cultura que o caracterizava, foi possível ao Dr. Orlando, 6 meses após a morte, regressar até nós com a bela mensagem que particularmente lhe destaca o espírito evangelizado e a firmeza de caráter com que abraça as suas responsabilidades espirituais.
Diz o Dr. Orlando à sua esposa querida, que “logo a veja mais tranquila, pretende consagrar-se aos irmãos doentes do campo mental”, em clara demonstração de que após tão curta permanência no Plano Espiritual, já se assenhoreou dos compromissos que lhe dizem respeito, reconhecendo a necessidade de continuar o trabalho em favor do próximo.
A propósito do Dr. Orlando, sua vida e obra, lembra-nos o inconfundível Victor Hugo: em sua existência, o nobre médico de Rio Preto “colheu algumas rosas na Terra, mas todas as estrelas no Céu”.
Recebida por Francisco Cândido Xavier, na noite de 02.10.1976, em Uberaba — MG.
1 Querida Lourdes.
Deus nos abençoe.
Estou presente.
2 Creio que você adivinhava isto. Entretanto, não é fácil magnetizar o lápis com a emoção que me assalta.
3 Não suponha viesse até aqui na condição em que me vejo. Espírito corporificado de outro modo. O mesmo homem com aparências a que me ajusto devagar. Não que haja perdido a imagem do habitual. É o estudo de mim próprio. É o senso crítico a penetrar-me para saber com segurança o que sou, com mais propriedade, agora que laboratórios e pesquisas são claramente outros.
4 Ainda assim, deixo de lado tudo o que me surpreende por hora para dizer a você que o amor e a gratidão do companheiro não experimentaram qualquer mudança.
5 Vejo-a no lado físico, acompanhada por amigos queridos nossos: o Romeu e Hilda, a nossa Olga, o Carmelo, o Alceu, o Jaime, n tanta gente boa e aqui do meu lado espiritual, tenho comigo o Hilário, a Irmã Elvira, o Lidaí, o Monsenhor Gonçalves, tantos outros companheiros de Rio Preto e Votuporanga a cercarem-me de atenções, mas, no íntimo, você e o nosso Marco Aurélio são meus temas centrais de saudade e carinho, conquanto os laços de amizade que me reúnem a todos os companheiros.
6 Não fosse a falta que se registra e a mudança compulsória dos hábitos e diria a você que vou muito bem; contudo, de abril para cá, as surpresas foram muitas. E os engramas na memória são telas vivas que se misturam, obrigando-me a pensar lentamente, a fim de identificar-me e dominar as ideias.
7 Lembrar-se-á você de que, várias vezes, conversamos, quase a medo, sobre os assuntos da morte. Sabia de minha parte que as coronárias caminhavam para transformações inevitáveis e a circulação para o médico tem o seu alfabeto infalível. Compreendia, e, creia minha querida, que esperava orando. Não sentia vontade alguma de deixá-la assim tão cedo para nós, apesar dos meus 66 janeiros laboriosamente vividos.
8 Entretanto, parece-me que a lista de chamados funciona igualmente aqui com a força das conscrições militares.
9 O comando da morte é irresistível. Quando assinalei a dor característica, entendi o que me aguardava em momentos rápidos, mas uma sensação de sono me invadia totalmente. 10 Dormi ao modo da criatura anestesiada para cirurgia de alto curso e tão somente acordei com amigos do “Bezerra de Menezes” n que me amparavam.
11 Em criança, muitas vezes, recebi preces de uma senhora, irmã dos espíritas de então, dona Hortência Gripp, amiga de nossa família em Recanto de Nova Friburgo, e com lágrimas de agradecimento recebi dela e do nosso caro Dr. Bezerra de Menezes os primeiros cuidados. 12 Entretanto, aos poucos, Monsenhor Gonçalves ao lado dos amigos espíritas, me trazia antigos companheiros de Rio Preto, que sinceramente eu não conhecia. Recebi gentilezas de amigos médicos, do Dr. Justino de Carvalho, do Dr. Taufik Rahd e do Dr. José Mendes Pereira n que não saberia, de modo algum, retribuir.
13 Amigos que nos seguiam de perto, no Hospital e no “Grupo do Consolador”, n os irmãos Ezequiel e Lindolfo Guimarães Correa n se aliavam a Sacerdotes amigos, Antônio Purita e José Rocha, n para me auxiliarem e vou compreendendo, agora, como nunca, que somos uma só família, buscando a união com Deus.
14 Tenho escutado seus pedidos de reconforto e acompanhado as suas lágrimas. Sei quanto dói em você a nossa separação, mas peço-lhe coragem. Você, querida, sempre foi meu sustentáculo e minha inspiração. Preciso ainda de você, de seus pensamentos, de seu clima de paz e das suas atitudes que sempre me ensinaram desprendimento do egoísmo e valorização do bem.
15 Trate-se. Peça ao nosso Marco nos auxilie nesse sentido.
O corpo é um patrimônio de Deus ao nosso dispor. À medida que nos asserenarmos, estaremos mais juntos. E você sabe que a minha calma reflete a sua. 16 Não desejo e nem posso interferir em suas decisões, mas, quanto possível, conserve a sua independência, para ser útil aos familiares. 17 Não rogo a você que se incline para esse ou aquele sistema de fé, no entanto, quero afirmar-lhe que sou feliz com a base dos conhecimentos que o Senhor me permitiu sedimentar.
18 Logo a veja mais tranquila, pretendo consagrar-me aos irmãos doentes no campo mental. A Psiquiatria onde estou não atua sem religião ou sem Deus. E os que procedem diariamente da Terra, alucinados e infelizes, são em número incalculável.
19 Ajude-me a melhorar da saudade para que eu possa começar a servir, porquanto desejo servir mais e melhor. Sinto-me à frente de um vasto mundo de necessidades e alegrias, de oportunidades e bênçãos.
20 Ainda assim, me reconheço algo preso ao seu carinho e ao carinho do filho inesquecível, com as lembranças dos amigos a me permearem as novas impressões. Realmente, não posso ser livre, porque o amor que nos reúne é um laço invisível, tecido pela Bondade de Deus, mas em me equilibrando nas emoções, conseguirei ser mais útil.
21 Nosso amigo Schamall n está presente. Ele espera que a nossa Olga seja mobilizada nas tarefas mediúnicas, nem sempre fáceis de aceitar.
22 Nosso Hilário beija as mãos de nossa estimada irmã D. Maria Sestini e os quadros afetivos em que me vejo nos falam da imortalidade com uma eloquência que não posso definir.
23 Querida, minha querida, perdoe ao velho companheiro, se numa carta assim tão longa não consegui trazer a você nem mesmo uma partícula do imenso amor que você possui por dentro de minha alma.
24 Creio hoje que o amor no espírito é semelhante ao coração no corpo. Vibram incessantemente os dois sem que sejam examinados ao vivo.
25 Minhas lembranças aos companheiros que a trouxeram com tanta bondade para que você me sentisse as letras no lápis, ainda inseguras, porque não alcancei ainda a minha estabilidade total.
26 Peço a Deus abençoe o filho querido e entrego em suas mãos o coração dedicado e fiel do esposo, sempre seu,
Orlando
NOTAS E INFORMAÇÕES
Estudo da mensagem do Dr. Orlando Van Erven Filho, recebida 6 meses após sua morte.
Além dos nomes de familiares e de outros amigos já identificados nas demais páginas deste livro, salientamos pela ordem de aparecimento no texto:
1 — Olga, Alceu e Jaime — Olga Faria Basílio Schamall, cunhada do Dr. Orlando, atualmente residente em Santos — SP. Carmelo Grisi, Alceu Sestini e Jaime Peres, amigos de Rio Preto.
2 — “Bezerra de Menezes” — Hospital Psiquiátrico de que o Dr. Orlando foi Diretor Clínico nos últimos tempos, em São José do Rio Preto.
3 — Monsenhor Gonçalves, n Justino de Carvalho, n Taufik Rahd n e José Mendes Pereira n. (ver as mensagens de Hilário Sestini e Germano Sestini).
4 — Grupo do Consolador — Grupo Espírita de Rio Preto, a que o Dr. Orlando era ligado.
5 — Ezequiel e Lindolfo Guimarães Correa — Juízes de Paz em Rio Preto, no início do século.
6 — Antônio Purita e José Rocha — sacerdotes que viveram em Rio Preto.
7 — Schamall — cunhado do Dr. Orlando, Gunther Schamall, era antigo morador de Votuporanga — SP. Desencarnou em 1979, na cidade de Santos.
COMENTÁRIOS
Além de alguns nomes desconhecidos do médium e também dos familiares e amigos do Dr. Orlando, quando do recebimento da mensagem, como os irmãos Ezequiel e Lindolfo Guimarães Correa e os sacerdotes Antônio Purita e José Rocha, cuja identificação posterior não foi fácil, a atestar ainda uma vez a autenticidade mediúnica, destacamos uma expressão utilizada pelo Dr. Orlando no início da mensagem e que fica bem ao gosto dos psiquiatras. Trata-se do vocábulo “engrama” que a Psiquiatria conceitua com o traçado duradouro deixado na mente por uma experiência emotiva. Assim, entendemos que as vivências afetivas permanecem indelevelmente gravadas em nosso campo mental, quais telas que guardamos no escrínio das melhores recordações e que desarquivamos sempre que as circunstâncias nos reavivem as lembranças ali depositadas.
Caio Ramacciotti