O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Viajaram mais cedo — Familiares diversos


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Renato José Sorrentino

São Paulo (SP), 25 de setembro de 1962.
São Paulo (SP), 05 de junho de 1984.

Filho de José Sorrentino e de Wilma Sorrentino, Renato trazia consigo invejável bagagem: cursava o 4.º ano da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo e era Analista de Sistemas da Bolsa de Valores de São Paulo. Desprendido dos bens materiais, afável, filho amoroso e dedicado aos pais e irmãos, Luiz Carlos e Márcia Regina, cultivava o gosto pela música, dedicando-se ao estudo de violão clássico e piano.




DEPOIMENTO


Dizer de minha emoção, dos amigos e parentes, é quase impossível, pois tudo o que Renato disse na mensagem realmente ocorrera daquela forma.

Posso dizer que a carta de nosso querido filho mudou a cabeça de muita gente que passou a crer na sobrevivência do Espírito.

O reconforto que sentimos ao saber que Renato estava bem deu-nos novo alento e muita vontade de trabalhar pelos companheiros necessitados.

Sentimos cada vez mais que somos todos irmãos e que devemos dar-nos as mãos para amenizar, com o pouco que podemos fazer, o sofrimento alheio.


Wilma Sorrentino




MENSAGEM


1 Querida mãezinha Wilma e papai Sorrentino, abençoem-me.

2 Lembro-me da última frase que o jovem desconhecido me endereçou com a voz suplicante: — “Oi, companheiro, dê-me por favor uma carona. Sou seu colega sem nica no bolso…”

3 O pedido me alcançou o coração e parei a moto. Estava de saída da USP  n e devia a meu ver prestar um gesto de solidariedade ao amigo anônimo.

4 Coloquei-lhe a garupa ao dispor e seguimos juntos. Não houve tempo para muito diálogo. Passados alguns minutos, o rapaz pediu parada e deixou o pedal que eu lhe havia cedido.

5 Mal nos defrontamos e ele sacou um revólver e os projéteis me atingiram com violência.

6 Compreendi que era o fim. Fixei o infeliz que me prostrara sem comiseração e roguei a Deus em silêncio que me fizesse entender aquele estranho assalto, em que os meus melhores sentimentos haviam sido cruelmente explorados…

7 O desventurado amigo ou inimigo (ainda não sei bem) procurou ganhar distância, mas foi reconhecido.

8 A sangria desatada não me permitia qualquer movimento.
Recordo-me de que alguns desconhecidos se abeiraram de mim, no entanto, meu cérebro como que se apagara.

9 Nada mais vi nem ouvi, porque um torpor, que nunca imaginei pudesse ser assim tão forte, se me apoderou do corpo e da mente.

10 Quanto tempo permaneci naquele desmaio sofrido de profunda inconsciência, ainda não sei. Acordei num aposento confortável, assistido por uma senhora em cuja presença adivinhava uma enfermeira prestimosa.

11 Não pude articular a palavra logo após retomar a própria consciência, abrindo os olhos. Notei que uma grande dificuldade me tomara a garganta e, entre pensamentos enfileirando orações, esperei o momento no qual me foi permitido falar.

12 Então, perguntei à protetora diligente sobre o meu próprio destino, já que a minha triste cena final me voltava à memória. Estaria em algum recanto de tratamento na Terra mesmo ou me achava em algum lugar fora do Plano físico?

13 O corpo estava quebrado, dolorido…
A senhora me informou que a minha presença, fosse onde fosse, lhe seria muito grata ao coração e me recomendou chamá-la por vovó Josefina.  n

14 Vovó Josefina era um nome que, muitas vezes, ouvi como sendo alguém de nossa família que a morte arrebatara, e ainda estávamos naquele início de conversação, que me espantava, quando outra senhora veio até nós, abraçou-me afetuosamente e me solicitou nomeá-la por vovó Benedita.  n

15 Então, não tive mais dúvida. Chorei ali mesmo, refletindo em meus queridos pais, em meus irmãos e em nossa querida Sílvia, a quem prometera casamento.

16 Vovó Josefina consolou-me e, qual se fizesse de mim um menino de volta à infância, me fez rememorar preces do tempo de criança que eu desde muito havia esquecido…

17 Entendi, no entanto, que não estava numa universidade e sim num santuário. O santuário do lar em cujo clima de amor formara o coração.

18 Minhas avós me recomendaram pedir à Divina Providência bastante força para perdoar ao jovem que me despojara da vida física.

19 E quando fiz isso, com todo o meu coração, pois, repeti as petições por vários dias consecutivos até que conseguisse repeti-las com sinceridade, pensei no infeliz companheiro qual se fosse ele meu próprio irmão do lar e, desde essa hora, um calor diferente me animou por dentro da própria alma.

20 Quem seria ele, o amigo da carona solicitada?
Imaginei-o como sendo o meu próprio irmão que houvesse enlouquecido e, desde esse instante, as minhas energias íntimas se renovaram.

21 Pude voltar à nossa casa e abraçar os pais queridos e os irmãos inolvidáveis, detendo-me a trocar pensamentos com a Márcia, que se mostrava mais acessível à minha influência, e depois fui ao encontro de Sílvia  n que se mergulhava nos estudos. Bastou que eu lhe envolvesse com os meus pensamentos e vi-lhe os olhos brilhando com as lágrimas a cair…

22 Pedi-lhe coragem, falei do futuro em que ela conseguirá um companheiro digno do seu carinho e, em companhia da vovó Josefina, voltei à nova morada.

23 O meu reencontro mais difícil foi com o rapaz que me alvejara.
Fiquei ciente do seu nome, Marcelo, e compreendi que o tóxico lhe impregnava o hálito em qualquer direção.

24 Reconhecendo-o nessa condição, mais se me acentuou a piedade por ele e abracei-o sem esforço a desejar-lhe paz e recuperação.

25 Aí está, mãezinha Wilma, o relato dos meus primeiros dias de vida nova.
Peço-lhe, tanto quanto ao meu pai e a meus irmãos, não se esquecerem de mim nas orações e, também, do Marcelo, para quem peço à querida família não conservar qualquer ressentimento.

26 Decerto, o ocorrido terá raízes em outros lugares e em outros tempos, o que me será permitido redescobrir quando estiver mais apto para essa espécie de curta análise, mas posso asseverar-lhes que me sinto mais tranquilo, após haver considerado o meu improvisado agressor por irmão doente e começo a trabalhar, embora deficitariamente, sob a assistência dos nossos novos amigos, entre os quais me encontro.

27 Rogo à Sílvia desculpar-me, se não pude cumprir as promessas que repetia sempre no sentido de faze-la feliz. Menina correta e nobre, com o amparo de Deus ela encontrará um companheiro que a proteja e ame, com a mesma afeição que lhe dediquei.

28 E, conquanto possa fazer ainda tão pouco, no que se me faça possível, cooperarei a fim de que a nossa querida Sílvia seja feliz.

29 O amor é sempre o amor e estaremos unidos ao modo de dois irmãos que se entreajudarão nos caminhos da vida.

30 Peço aos pais queridos me façam lembrado a ela na condição de amigo fiel que não a esquecerá.

31 Neste ponto, a vovó Josefina me aconselha o ponto final, por haver trazido as minhas notícias, consideradas por ela as mais necessárias, e, com pesar me despeço, com meus votos a Deus pela paz e felicidade de todos os familiares queridos.

32 Ao papai querido e aos irmãos inesquecíveis, as minhas carinhosas lembranças, e para a querida mãezinha Wilma aqui ficará palpitando, mais junto do seu, todo o coração de seu filho, sempre mais seu,


Renato

Renato José Sorrentino

09.11.1984.    


Caio Ramacciotti

Paulo de Tarso Ramacciotti



[1] USP - Universidade de São Paulo, onde Renato estudava.

[2] Josefina Papalardo Cascapera, bisavó materna, já desencarnada.

[3] Benedita Monteiro Cesar, bisavó [paterna], já desencarnada.

[4] Silvia Helena Ferreira de Souza, sua noiva.


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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