1 Enquanto no corpo, não formulamos a ideia exata do que seja a realidade, além da morte. Ainda mesmo quando o Espiritismo nos ajuda a pensar seriamente no assunto, debalde tentaremos calcular relativamente ao futuro, depois do sepulcro.
2 Os quadros sublimes ou terríveis no plano externo correspondem, de alguma sorte, à nossa expectativa; contudo, os fenômenos morais, dentro de nós, são sempre fortes e inesperados.
3 Antes da passagem, tudo me parecia infinitamente simples!
4 Não passaria a morte de mera libertação do Espírito e mais nada. Seguiria nossa alma para Esferas de julgamento, de onde voltaria a reencarnar, caso não se transferisse aos Mundos Felizes.
5 Compreendo hoje que aceitar esta fórmula, seria o mesmo que menoscabar a existência humana, declarando-se que o homem apenas renascerá na Terra, respirará entre as criaturas e, em seguida, se libertará do corpo de baixa condensação fluídica. 6 Quantos conflitos, porém, entre o aparecimento e a desagregação do veículo carnal? Quantas lições entre a infância e o declínio das forças físicas?
7 Reconheço, presentemente, que as dificuldades não são menores para a alma liberta dos mais pesados impedimentos do Plano material. Entre o ato de perder a carcaça de ossos e a iniciativa de reencarnação ou de elevação, temos o tempo, e o conteúdo desse tempo reside em nós mesmos. Quantos óbices a vencer, quantos enigmas a solucionar?
8 Acreditei que o fim das limitações corporais trouxesse inalterável paz ao coração, mas não é bem assim.
9 No fundo, em nossas organizações religiosas, somos uma espécie de combatentes prontos a batalhar a distância de nossa moradia e, quando nos julgamos de posse da vitória final, tornamos ao círculo doméstico para enfrentar, individualmente, a mesma guerra, dentro de casa. 10 Vestimos a roupa de carne, a fim de lutar e aprender e, se muitas vezes sorvemos o desencanto da derrota, em muitas ocasiões nos sentimos triunfadores. Somos, então, filhos da turba distraída, companheiros de mil companheiros, cooperadores de mil cooperadores.
11 Chega, no entanto, o momento em que a morte nos reconduz à intimidade do lar interior. E se não houve de nossa parte a preocupação de construir, aí dentro, um santuário para as determinações divinas, quantos dias gastamos na limpeza, no reajustamento e na iluminação?
12 Oh! Meus amigos do Espiritismo, que amamos tanto!
É para vocês, — membros da grande família que tanto desejei servir, — que grafei estas páginas, sem a presunção de convencer! Não se acreditem quitados com a Lei, por haverem atendido a pequeninos deveres de solidariedade humana, nem se suponham habilitados ao paraíso, por receberem a manifesta proteção de um amigo espiritual! Ajudem a si mesmos, no desempenho das obrigações evangélicas! Espiritismo não é somente a graça recebida, é também a necessidade de nos espiritualizarmos para as Esferas superiores.
13 Falo-lhes hoje com experiência mais dilatada.
Depois de muitos anos, nas lides da Doutrina, estou recompondo a aprendizagem, a fim de não ser o companheiro inadequado ou o servo inútil. Guardem a certeza de que o Evangelho de Nosso Senhor Jesus-Cristo não é apenas um conjunto brilhante de ensinamentos sublimes para ser comentado em nossas doutrinações, — é Código da Sabedoria Celestial, cujos dispositivos não podemos confundir.
14 Agradeço, sensibilizado, a colaboração de Emmanuel e de André Luiz, nos registos humildes de meu refazimento espiritual, nestas páginas que endereço aos irmãos de ideal e serviço.
15 E pedindo a Jesus nos fortaleça a todos, no trabalho a que fomos conduzidos, de modo a estendermos, além de nós, as bênçãos que nos felicitam, rogo também ajuda para mim mesmo, a fim de que a Luz Divina me esclareça e auxilie, dentro do novo caminho de trabalho e elevação, porque, se a experiência carnal amadurece e passa, a vida prossegue e a luta continua.
Irmão Jacob
Pedro Leopoldo, 19 de fevereiro de 1948.