O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Voltei — Irmão Jacob


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Excursão confortadora

(Sumário)

1. Quantas vezes invocamos a luz nos círculos da fé religiosa! Despreocupados, aconselhamos amigos que a procurem e, em muitas ocasiões, inadvertidamente, receitamo-la para os irmãos que consideramos nas sombras. Através de conversações ociosas, indicamos criaturas que não a possuem e, sempre que tomamos a palavra em público, suplicamo-la para o mundo em altos brados.

2 Em verdade, semelhante cooperação é oportuna e salutar, quando baseada na sinceridade e na reta intenção; todavia, frequentemente olvidamos a palavra do Senhor que nos recomendou aproveitar as oportunidades da experiência humana na iluminação de nós mesmos, através do devotamento ao próximo.

3 O problema avultava em minhas cogitações.

Os amigos nada me sugeriam, nada reclamavam. Amparavam-me sorridentes e felizes; no entanto, as irradiações brilhantes de que se faziam acompanhar constituíam silenciosa advertência.

4 Eu não providenciara luz para mim mesmo. Conduzira muitos desencarnados à fonte sublime das claridades evangélicas, mas esquecera as próprias necessidades. 5 Doutrinara muita gente ou pretendia haver doutrinado e, em todo o meu movimento verbal da pregação cristã, salientara o imperativo da luz para os corações humanos. 6 Contudo, agora, que participava de uma sociedade espiritual, reconhecia a opacidade de minha alma. Mantinha-se-me o perispírito no mesmo aspecto em que se caracterizava na experiência física.

7 Oh! Senhor, por que não fazemos bastante silêncio, dentro de nós, para ouvir-te os ensinos, enquanto nos demoramos nos atritos do mundo?


AMPARO FILIAL


2. A sós com Marta, de vez que o Irmão Andrade retomara as obrigações que lhe eram habituais a fim de reencontrar-me à noite, não dissimulei a tristeza que me asfixiava.

2 Encontrando-me em lágrimas, a filhinha esforçou-se por reconfortar-me. Estava amargurado, vencido, expliquei-lhe. Albergado num campo tranquilo, onde todas as bênçãos da amizade me sorriam, sentia-me indigno de tanto auxílio e ternura…

3 Não acendera a própria lâmpada à frente do futuro.

Ali, ninguém me acusava, ninguém me proclamava as deficiências; todavia, eu próprio não era estranho à minha posição…

4 Não lhe falava com a expressão caprichosa da zanga juvenil, mas com o profundo sentimento do homem que se vê desencantado, de momento para outro, enganado nas melhores intenções.

5 Marta, porém, pediu-me serenidade e reflexão. Asseverou que inúmeras pessoas desencarnam em minhas condições e que, naquele núcleo de trabalhadores, ninguém se julgava maior. 6 Muitos companheiros traziam densa obscuridade consigo e nem por isso deixavam de operar, contentes e serviçais, na conquista de mais nobres expressões da personalidade. 7 Não era lícito entregar-me, daquele modo, ao desânimo. Ainda que houvesse perdido o tempo, de todo, não me cabia supor que as lágrimas bastassem ao trabalho reparador. Competia-me o trabalho de renovação incessante para o bem.


VIAGEM FELIZ


3. Reparando-me o sincero propósito de reajustamento, Marta, bondosa, naturalmente interessada em consolar-me, propôs uma excursão rápida. Dispunha das horas para auxiliar-me. Ela sabia de meu íntimo desejo de visitar a Califórnia, atendendo aos apelos do coração. Por lá, alguns laços queridos me aguardavam o espírito.

2 Acariciei o projeto com alegria quase infantil. A inquietação e a curiosidade que me marcaram os passos na jornada terrestre estavam inteiras, dentro de mim. Além disso, a excursão teria maravilhoso caráter, sob o esplendor solar.

3 Abafei as preocupações que me torturavam e aprestei-me.

A breve tempo, achávamo-nos fora do abençoado pouso de serviço e refazimento.

4 À claridade do dia as vizinhanças não apresentavam senão o aspecto de longa massa de matéria opaca. Nas cercanias, não cheguei a vislumbrar nem mesmo a ponte que reconhecera na noite da véspera e, distanciando-nos do burgo venturoso, notei que atravessávamos outras colônias espirituais, cheias de vegetação e casario, embora menos ricas de beleza. 5 Respondendo-me às interpelações, informou-me a filha de que sempre nos é dado visitar os Planos inferiores e consultá-los, não se verificando o mesmo quanto às Esferas superiores, relativamente às quais precisamos satisfazer à necessária preparação.

6 Penso que estacionaria longo tempo nas paisagens sob os meus olhos, se Marta, docemente, não me chamasse a atenção para os objetivos que nos conduziam.

— Nestes Planos, — disse-me a filha, — a ligação mental com a Terra ainda é enorme. Muita gente que “matou o tempo” vive por aí com sede de reavê-lo. São saudosistas da experiência na carne que estimam viver, por enquanto, quase que exclusivamente do passado. Não praticaram males graves, porém, não se aplicaram ao bem, tanto quanto deviam. Queixam-se de mil infortúnios, mas recusam qualquer norma regenerativa.

7 Graciosamente, acentuou:

— É o “pessoal da omissão”.

Supunha-nos muito longe de atingir a estação de destino, quando a ternura filial me indicou a linda paisagem da Califórnia. Julguei fosse descortinar, antes, os formosos panoramas da Serra Nevada, contrastando com as águas soberbas do Pacífico. Entretanto, já pisávamos o chão norte-americano.

8 Como descrever a maravilhosa viagem para o leitor faminto de informações? Não guardo a presunção de fazê-lo.

Temos aqui, em jogo, forças e elementos inapreciáveis ao senso contemporâneo e seria tão difícil explicar minha rápida jornada ao oeste dos Estados Unidos, quanto seria impraticável qualquer narrativa, por parte de um homem comum, aos seus vizinhos, depois de haver viajado no espaço, com velocidade mais ou menos semelhante à da luz ou à do som.

9 Se um europeu culto precisa cuidado ao comunicar-se com um esquimó, de modo a não ferir-lhe a posição mental e a fim de não ser tomado por mentiroso, que dizer das medidas que um Espírito desencarnado deverá adotar em face de um amigo ainda enclausurado num corpo terrestre?


VISITA SIGNIFICATIVA


4. Após saciar a sede afetiva, junto de corações particularmente queridos à minh’alma, surgiu-me certo propósito invencível.

Recordando minha passagem pelas terras abençoadas da América, lembrei alguém a cuja inteligência e bondade nunca dispensara suficiente admiração.

2 Fitou-me a filha, como a adivinhar-me os pensamentos. Antes, porém, que me dirigisse a palavra, consultei, de improviso:

— Marta, não seria possível avistar-nos com Thomas Edison?  † 

3 Ela sorriu, compreensiva, deu-me o braço generoso e tomamos a direção Norte.

Decorridos alguns minutos, alcançávamos sublime paisagem, além…

Nós, que defrontáramos extensas comunidades, evidentemente ligadas à herança espanhola, aportávamos, agora, em vasto círculo de educação anglo-saxônia.

4 Passei a usar o inglês, para melhor entender-me.

Conduziu-me Marta a nobre edifício, onde expôs o propósito que nos movia a um cavalheiro de respeitável figura, mas, surpreendido, ouvi o interpelado anunciar que o grande benfeitor já fora avisado quanto à nossa visita e aprestava-se para o encontro. 5 Habitava ele, — esclareceu o informante, — Esfera muito elevada, mas viria imediatamente receber-nos por quinze minutos. Não dispunha de mais tempo.

6 Acostumado no Brasil às longas conversações, embora jamais desprezasse o valor das horas, tentei, acanhado, renunciar à satisfação que pedira. Contudo, o prestimoso irmão que nos atendia esclareceu que durante o ano de 1947, o grande inventor destacou maior percentagem de tempo para rever amigos de outra época.

7 Enquanto aguardávamos, indaguei de minha filha sobre a barreira das formas de expressão verbal. Continuaríamos, além da morte, assim isolados uns dos outros pelas fronteiras linguísticas? Os desencarnados no Brasil não poderiam penetrar os tesouros da civilização de outros povos, em razão do idioma, convertido, desse modo, num cárcere?

8 Marta explicou-me com paciência que o espírito dos lares nacionais domina nos Círculos mais imediatos à mente encarnada e que, à medida de nossa elevação, encontraremos mais largas demonstrações de entendimento coletivo, até conseguirmos recursos de acesso à perfeita comunhão espiritual, absolutamente libertados de qualquer inibição decorrente das dificuldades de intercâmbio. 9 Acentuou que dos agrupamentos temporários em que estacionávamos, os Espíritos em maioria são obrigados ao retorno à carne, a fim de prosseguirem no aprendizado e que toda libertação e toda sublimação têm o seu preço correspondente em esforço próprio. Se nos encontramos na realização A, por mais desejemos a realização B, não lhe atingiremos as vantagens sem preparo, serviço e aplicação.


A PALAVRA DE UM GRANDE BENFEITOR


5. Demorávamo-nos entretidos na palestra reconfortante, quando vi Edison em pessoa. Tamanha luminosidade lhe coroava a cabeça veneranda, que tive ímpetos de ajoelhar-me. Avancei para ele, perturbado de júbilo, e quis beijar-lhe as mãos.  2 O inolvidável benfeitor abraçou-me, de encontro ao peito e, esquivando-se às minhas homenagens, recordou os últimos anos do século passado, reportando-se ao fonógrafo, cuja vulgarização tive o prazer de acompanhar.

3 Rememorei o centenário de seu nascimento, e o admirável cientista declarou que não obstante desencarnado continua trabalhando sem descanso, à frente dos perigos que ameaçam a atualidade terrestre. 4 Mergulhado nos estudos e realizações da Física no Plano espiritual, não é infenso ao serviço glorioso que o Espiritismo vem efetuando em benefício do mundo, aduzindo, porém, que não basta provarmos a sobrevivência individual depois da morte, nem colocar novos patrimônios da Natureza à disposição da inteligência do homem e, sim, promover imediatos recursos de dignificação da personalidade. 5 Alongando-se no assunto, comentou, categórico, a necessidade de ajustamento da razão aos fundamentos divinos da vida, a fim de que os processos educativos no mundo observem o imprescindível respeito à Fonte da Criação Eterna. 6 Declarou que a desintegração atômica, praticada na América, é seguida com indizíveis preocupações pelas Forças Tutelares do Planeta, afirmando que a Humanidade vive, no momento, aflitivo período de transição, sem a menor perspectiva de paz duradoura, em virtude dos sentimentos belicosos que orientam os corações. 7 Em tempo algum, — asseverou sem afetação, — houve tão grande impositivo de entendimento e aplicação dos ensinos de Jesus, mas, até que os princípios do Cristianismo governem as criaturas, de maneira geral, reinarão entre elas fome e sede, guerra e enfermidade, injustiça e medo, destruição e ruína, periodicamente.

8 Sentindo que o tempo se esgotava, indaguei se não voltaria a reencarnar, ao que ele replicou afirmativamente. Num sorriso, porém, acentuou que esperaria o instante oportuno. 9 Perguntei, ainda, pela continuidade dos seus inventos maravilhosos, com especial menção à luz elétrica, ao que me respondeu, sorrindo:

— O Criador é Deus, Nosso Pai. Somos simples instrumentos dos desígnios sábios e justos d’Ele. As invenções continuam na Esfera passada e no Círculo em que respiramos presentemente. Agora, porém, meu caro Jacob, não será a ocasião de inventarmos uma lâmpada divina e eterna que funcione, para sempre, dentro de nós mesmos?

10 Com a observação delicada e construtiva, veio o abraço final, constrangendo-nos às despedidas.


Irmão Jacob


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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