Servílio Marrone
1 Meu caro Durval, Deus nos guarde e ilumine.
2 Se pudesse, materializaria meu próprio coração, diante de vocês, os irmãos de Campinas, para dizer-lhes o amor e a fé viva em que todos nos reunimos. Devo, porém, conformar-me ao lápis singelo e dele me valho para saudar a vocês todos.
3 Sim, é o trabalho no bem a única diretriz! Sigamos, desse modo, sem vacilar, para a frente, consagrando a melhor atenção à nossa sementeira de luz.
4 Doutrina Espírita não é uma legenda de simples convicção. É apelo ao serviço de nosso próprio burilamento, escala de perfeição, oficina de luta, campo de bênção…
5 E esses dons de Deus, meus amigos, devem ser traduzidos em nós como atividades edificantes.
6 Não aguardem a morte para verificar, porque a morte é exame, conta, acerto, renovação…
7 Todos os nossos companheiros de construção, no Mundo Espiritual, acusam balanço deficitário. Todos se queixam de tempo perdido.
8 Isso, porque, de todos os ricos da fé, somos realmente os mais ricos, porquanto os esclarecimentos da Vida Eterna e da Eterna Justiça permanecem conosco.
9 Atendamos, pois, meus irmãos, às tarefas que a Esfera maior nos concedeu, na atualidade. Sigamos agora no rumo da plantação valiosa do livro espírita.
10 Não esmoreçam. Doemos à mensagem dos nossos princípios um lar, ainda que humilde, no coração da nossa cidade. E sirvamo-lo.
11 Uma página espírita é luz no caminho. Façamos essa claridade sublime, na senda de nossos irmãos em necessidade maiores que as nossas.
12 Mas façamos a obra com humildade e renúncia. Se ataques surgirem, saibamos perdoar e compreender. Se escárnio e perseguição aparecerem dentro do nosso esforço evangélico, procuremos abençoar.
13 E que a união verdadeira seja o nosso clima de cada dia, na certeza de que a bênção do Mestre nos acompanha, toda vez que nos convertamos em fiéis instrumentos de seu infinito amor.
14 Sobretudo, na hora presente, ajudemos nosso irmão Benedito na obra assistencial, incentivando-lhe a fibra de lutador pela vitória do bem. A realização nos pertence.
15 Onde esteja a Doutrina Espírita, aí permanece a mão de Jesus chamando-nos ao trabalho.
16 Nesse sentido, rogo a vocês todos auxiliarem aos nossos jovens que se preparam, atualmente, para a grande reunião de fraternidade. São eles nossos filhos do coração. Amparemos a iniciativa em que procuram fazer o melhor.
17 Se possível, cooperem com a nossa irmã Therezinha, sobrecarregada de responsabilidades para atender ao movimento, ao lado dos companheiros da juventude.
18 Saibamos expressar a nossa confiança espírita em nossa ação incessante pelo triunfo esperado de nossa causa, que, em tudo, é a causa do Evangelho Renovador. Guardemos, assim, esperança e lealdade, serviço e contentamento.
19 Não se creiam sozinhos. Conosco, antigos pioneiros de Campinas oram nesta noite, rogando a Jesus nos ampare. Nossos irmãos Alfaia e Sousa Ribeiro estão comigo e estendem-lhes as mãos.
20 Meus amigos, meus amigos, trabalhemos e trabalhemos. Hoje, vocês desfrutam a possibilidade de semear. Amanhã, como nós, estarão na hora de recolher.
21 Lembrem-se de que o velho amigo, que lhes endereça estas palavras, voltou quando menos esperava o regresso!…
22 E que a lembrança de nossos compromissos palpite em nossa memória, sempre mais pura.
23 Recebam, portanto, com esta carta despretensiosa, nascida em meu coração, o abraço do servidor e amigo de sempre,
Servílio Marrone
Por permanecer inédita em livro a belíssima página acima, de Servílio Marrone, dirigida aos espíritas de Campinas, Estado de São Paulo, que na noite de 18 de janeiro de 1960, em caravana, visitavam o médium Chico Xavier, em Uberaba, concitando-os a permanecerem em constante trabalho de renovação espiritual, humildade e renúncia, em prol dos irmãos em provações maiores do que as nossas, motivo por que resolvemos incluí-la neste volume, servindo-nos dos mesmos dados de que nos valemos na organização de Gabriel, n graças à gentileza do Sr. Gabriel Espejo Martinez, residente naquela progressista e culta cidade paulista.
Nasceu Servílio Marrone em Campinas, a 26 de abril de 1912, aí desencarnando, a 4 de janeiro de 1955.
Um dos baluartes do Espiritismo, na terra de Carlos Gomes, ministrava aulas de Evangelho aos jovens da Mocidade Espírita Allan Kardec, tomando-se um dos mais dedicados médiuns passistas, procurando, com desvelo, atender os enfermos incapacitados de se dirigirem ao Centro Espírita, em suas próprias casas.
Juntamente com Gustavo Zanardine Marcondes (1900-1968), um dos fundadores do Centro Espírita Allan Kardec, de que foi Secretário até o dia de seu retorno à Espiritualidade, tendo colaborado na construção do prédio próprio do referido Centro Espírita, sito à Rua Irmã Serafina, nº 674.
Afirmando-nos que o trabalho no bem é a nossa única diretriz; de que a Doutrina Espírita não é legenda de simples convicção, mas apelo ao serviço de nosso próprio burilamento, escola de perfeição, oficina de luta, campo de bênção; de que a maioria dos espíritas desencarnados, acusando balanço deficitário, se queixam de tempo perdido, roga aos companheiros de ideal de Campinas e a todos nós, a divulgação da Doutrina, de ânimo forte, ajudando os jovens espíritas “nosso filhos do coração” —, os futuros dirigentes das Casas Espíritas, deixando claro que o triunfo de nossa causa, em tudo, “é a causa do Evangelho Renovadora.
Que possamos repetir-lhe estas palavras de incentivo, pelo menos mentalmente, às pessoas que partilham conosco a Seara de Luz do Espiritismo:
— Meus amigos, meus amigos, trabalhemos e trabalhemos.
Elias Barbosa
[18] Francisco Cândido Xavier, Elias Barbosa, Gabriel Casemiro Espejo (Espírito), Gabriel, IDE, Araras, SP, 1ª edição, 1982, pp. 41 e 96.