O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Vitória — Familiares diversos


16

Votos de paz e coragem

Paulo Borges Silva


1 Querida mamãe Norma, receba com meu pai e com os meus irmãos os meus votos de paz e coragem a fim de vencermos todos juntos os obstáculos do caminho.

2 Então, é verdade, Dona Norma, que você passou o dia, recordando a necessidade de promover um bolo que me alegrasse os vinte e dois anos?

3 Passei horas em casa, e notei a nuvem de saudade que lhe cobria o coração. Nuvem que se desfazia em chuva de pranto, que o seu carinho procurava esconder para não afligir a ninguém.

4 Agradeço, mamãe, as suas lembranças. Também eu me afundava nas recordações dos aniversários passados, mas, de repente, me lembrava de que precisava cooperar na paz da família, e voltava à fona da realidade para assumir a vida.

5 Perdoem-me se lhes dei tanto trabalho com a queda que me cortou o fio da existência no corpo físico.

6 O choque foi muito grande e, conquanto me desse a ideia de que me achava sem sentidos, pela incapacidade de me movimentar, tive, ainda em meu favor, alguns minutos para pensar.

7 Realmente a sua ternura de mãe e a bondade de meu pai estavam comigo, qual se por um fenômeno desconhecido para mim, eu estivesse misturando Brasília e Uberaba numa faixa única de apego afetuoso, mas atribulava-me a ideia de que daria muito trabalho à nossa Lívia…

8 Não consegui, porém, mobilizar o meu corpo como desejava, e então, chorando à feição de uma criança acidentada, entrei num desmaio, que somente depois vim a saber que se tratava da desencarnação.

9 Isso, no entanto, quando já me achava em casa, quando despertei com a cabeça mergulhada num círculo enorme de perturbações.

10 Não me sentia muito lúcido, quando uma senhora se abeirou de mim e me perguntou se não a conhecia…

11 Respondi negativamente, entretanto, com indizível bondade, ela me recomendou chamá-la por avó Maria Fernandes, enquanto um senhor me surgiu à frente, informando-me que ele viera colaborar em meu auxílio, em nome do Dr. Bezerra de Menezes. Recordei as conversações de meu pai e agradeci.

12 Outro amigo me abraçou, declarando-me ser o Dr. Odilon Fernandes, que vinha ao meu encontro por lembrança de meu pai.

13 Querida mãezinha Norma, entendi tudo quanto ocorrera, porque eu guardava os conhecimentos de nossas impressões do Mundo Espiritual, que em nossa casa eram frequentes.

14 A senhora me afagou com muito carinho, alegando que eu precisava descansar, e, sentindo-me tão menino como no tempo em que me acomodava em seu colo, dormi profundamente, amparado por aquela criatura dedicada e afetuosa, que se dizia minha avó.

15 Despertei em outro local, onde fui tratado convenientemente, porque ainda registrava muita dor na cabeça.

16 Entrei nos diálogos com os amigos daqui, de minha vida nova, sem dificuldade para compreender o que me explicavam.

17 Lembrei-me com tristeza de que o papai, embora não me contrariasse, no ínfimo parecia desejoso de que eu permanecesse nos estudos em Uberlândia, e senti pesar por haver insistido em procurar maiores contatos com a música em Brasília, tomando uma estrada diferente daquela em que me iniciara.

18 Lutei comigo mesmo para não cair de desapontamento e remorso, mas o meu avô José, que passou também a me auxiliar, me reconfortou dizendo que o meu tempo na experiência terrestre seria curto, e que se estivesse estudando em Uberlândia, teria sofrido a queda de que fui vítima.

19 Desse modo, mamãe Norma, peço ao seu coração e a meu pai receberem estes informes, com os quais procuro dar um esclarecimento sobre o que me aconteceu.

20 Ainda me vejo algo difícil, sem muita segurança para falar de meu próprio caso, mas saibam que estou envolvido em saudades muito grandes de nossa casa feliz.

21 Mãe, a pessoa não se desvincula do amor à família, assim qual muita gente acredita.

22 O Antônio, meu irmão, e a Lívia, o André, o Áulus, Stella, o Eduardo, estão todos em minhas saudades grandes. Estimaria tanto ter demorado em nossa casa, a fim de ser útil a meu pai, de algum modo, pois sempre o vi trabalhando e lutando para garantir o nosso reconforto; 23 no entanto, os Desígnios do Céu eram diferentes dos meus desejos, e me sinto quase frustrado por não ter usufruído mais tempo, de modo a cooperar com meu pai. Ainda assim, não me faltam a esperança e a fé em Deus.

24 Dona Norma, agora, conquanto as lágrimas de saudade que me ficam por dentro do coração, é hora de dizer que volto novamente com o meu avô José para o meu novo clima de moradia, mas não posso fazer isso sem repetir lhe os agradecimentos pelo grande bolo, enfeitado e lindo, que, em pensamento, recebi de suas queridas mãos.

25 Aos irmãos a minha grande saudade e, reunindo o seu coração e o coração de meu pai num grande abraço, beija-lhe os cabelos e as mãos queridas o seu filho que muito lhes deve e que lhes será sempre grato,


Paulo Borges Silva


Em lúcido artigo — “A Volta de Paulinho” —, publicado em A Flama Espírita de 21 de setembro de 1985 (Ano XXXIX, Segunda fase, Nº 2.536), eis o que diz Roberto Mendes Juliano (1963-1986), sobre Paulo Borges Silva e a consoladora mensagem que transmitiu através do médium Xavier:

“Decorridos 147 dias desde a desencarnação de Paulo Borges Silva, na data de seu aniversário natalício, quando completaria 22 anos, tiveram seus pais e demais familiares queridos a incomparável alegria de receber dele mensagem psicografada através da mediunidade abençoada de Francisco Cândido Xavier, em 29-03-1985, no final da reunião do Grupo Espírita da Prece, em Uberaba-MG.

Paulo era natural de Uberaba, nascido em 29-03-1963. Jovem muito alegre, dinâmico e inteligente, graças a esses verdadeiros dotes pessoais, desfrutava da amizade e consideração de incontável número de amigos e colegas. Por muito tempo, participou da Mocidade Espírita “Henrique Krugger”, nesta cidade, onde sempre demonstrou exemplares interesse e conhecimento de nossa Doutrina. Fez, no Colégio N. S. das Graças, seus estudos de 1º e 2º Graus, sendo marcante o fato de haver prestado, para experiência, ao meio da 3ª Série (final), os Vestibulares de Odontologia à FIUBE e sido aprovado. Ao terminar o 2º Grau, foi aprovado nos Vestibulares de Engenharia Civil da Universidade Federal de Uberlândia, curso este que frequentou até ao 5.º Período. Na mesma UFU, participava do Coral, cantando entre os baixos, tendo destacada e aplaudida atuação na ópera “Cavalleria Rusticana”, de Pietro Mascagni.

Em 1984, prestou Vestibulares de Música, resultando aprovação e ingresso na Escola de Música de Percussão do Distrito Federal. Trabalhava, inclusive, no Banco Nacional de Brasília.

No dia 27 de outubro do mesmo ano, após participar dos ensaios da Banda Sinfônica de Brasília, ao dirigir se ao Teatro Nacional, onde assistiria à ópera “Porgy and Bess”, de George Gershwin, na Sala “Villa Lobos”, sofreu acidente de tal gravidade, que lhe roubaria a vida, ao cair num fosso do Teatro, conforme noticiou o “Correio Braziliense”, em 6 do mês seguinte.

Na mensagem de Paulinho, podemos entrever a notável evolução espiritual do comunicante, assim como os dados e a linguagem que a enriquecem e lhe conferem maior autenticidade, provando, também, uma vez mais, a imortalidade da alma.”


ESCLARECIMENTOS


Paulo Borges Silva nasceu em Uberaba, Minas, a 29 de março de 1963, desencarnando em Brasília, Distrito Federal, a 2 de novembro de 1984, tendo o seu corpo sido sepultado em Uberaba Filho de nossos confrades, Sr. Antônio Borges da Silva e D. Norma Borges da Silva, residentes na Av. Alberto Martins Fontoura Borges, 397 — Apt.º 106 —, Tel. 3332-4558.

Maria Fernandes de Oliveira: Bisavó materna do comunicante, nascida em Morrinhos, Estado de Goiás, a 6 de janeiro de 1884, e desencarnada no Rio de Janeiro, RJ, a 5 de março de 1957.

José de Carvalho: Avô paterno, nascido em Brodósqui, Estado de São Paulo, a 26 de abril de 1896, e desencarnado em Uberaba, a 4 de junho de 1963.

Lívia, Antônio, André, Stella, Áulus, Eduardo e Renata: Irmãos do comunicante.


Na segunda entrevista, que fizemos com os senhores pais de Paulinho, a 29 de setembro de 1985, mostraram-nos eles uma página manuscrita, a lápis, do inesquecível filho, escrita pouco tempo antes da desencarnação, e que se encontrava entre os seus guardados.

Comprovando a tese de que temos, inconscientemente, conhecimento de tudo que poderá ocorrer conosco, a qualquer momento, ei-la, com toda a sua beleza:


“Acho que devemos nos cuidar.

E viver a vida com mais intensidade.

Pois, se pensarmos bem, ao mesmo tempo que estamos vendo a notícia do último avião que caiu, poderemos, de repente, passar a ser manchete:

— é só o teto da sua casa cair sobre você.

— Por isso, devemos, antes de tudo, viver.

— VIVER, é lógico, não significa apenas viver.

— Vem sempre ao lado, por exemplo, do amor.

— Desde o amor mais puro e singelo, até o amor mais ardente e apaixonante. E que também não deixa de ser puro.

— Quem sabe, também, não é hora de nos darmos mais.

— Sim, porque estamos, pouco a pouco, nos distanciando, mais e mais.

— Não nos damos ao vizinho, ao irmão, às pessoas e, assim, não nos damos ao mundo.

— Muitas vezes (ou quase sempre?), não sabemos, e nem procuramos saber, a verdadeira dimensão de nossas vidas.

— E o belo, temos visto?

— Quanto da vida nos passa despercebido!

— Mil e uma vezes, não distinguimos o que realmente de belo existe com o que achamos existir (e não existe).

— Nem tudo é uma simples questão de gosto individual.

— No entanto, e o que realmente é triste, não conseguimos, frequentemente, encontrar a essência de nossas vidas: nós mesmos.

— Pois não: quantas vezes, nos perguntamos quem somos e, em todas elas, não sabemos responder.

— Por isso, precisamos, antes de mais nada, “nos viver” para, a seguir, poder viver o mundo.

— Não há razão para continuarmos a vida toda nesta rotina e, no final dela, fazermos a patética pergunta: “quem sou eu?”. DESCUBRA-SE.

— Ah! Antes que me esqueça, meu nome é Paulo.

— Me registro bem rápido, pois, de repente, a manchete poderá ser eu. Sic.

Paulo.”


Elias Barbosa


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