1 Meus irmãos, filhos de Deus
Não pensem que sou maluco,
Sou apenas cantador
Do sertão de Pernambuco.
2 Convidado por amigos,
Minha voz se desemperra
No sentido de exaltar
A evolução que há na Terra.
3 O que eu devia falar
Usando de garbo e gosto
É que o mundo de hoje em dia
Subiu de rumo e de posto.
4 Mas já fui de meu recanto
A todos os continentes,
Não achei progresso algum
Só vi cousas diferentes.
5 Não sei se depois da morte
Sou mais burro por aqui,
Mas vou falar com franqueza
Do que eu via e do que eu vi.
6 Em minha casa de taipa
Levantada sobre o chão,
O teto tremia ao vento
Mas não se via ladrão.
7 O pessoal no roçado
Rezava e dormia cedo,
Agora, a noite do povo
É rua, polícia e enredo.
8 Qualquer palavra era dada
Com segurança e raiz,
Hoje, a dívida é cobrada
Com sentença de juiz.
9 Vestida dos pés ao coco
Era a pessoa de outrora,
Vê-se hoje muita gente
Com muitas peças de fora.
10 Nas praias então o assunto
Já se tornou cousa feia,
Encontra-se em qualquer parte
Gente pelada na areia.
11 Uns falam que é por moléstia
Que estão assim, a contendo,
E a gente lhes vê na cara
O riso do assanhamento.
12 Na capa dos semanários,
Vinha a flor, vinha a charrua,
Agora, em qualquer revista,
Aparece gente nua.
13 Hoje, muita mulher mãe
Mudou por fora e por dentro,
Se há promessa de criança,
Que vá baixar noutro centro.
14 Muitos Espíritos lindos,
Querem corpo no planeta,
Mas já vivem perguntando
Como nascer de proveta.
15 Os meninos do passado,
Tinham vida e mocotó,
Agora penso nos filhos
Das latas de leite em pó.
16 A carroça, algumas vezes,
Matava um nos gerais,
Hoje, a queda de avião
Mata cem e, às vezes, mais.
17 Alguém aprendia o mal
Quando estivesse em prisão,
Agora, o assunto está livre
Na luz da televisão.
18 Em verdade a Medicina
Progrediu muito no efeito;
Doentes são bem tratados,
Mas morrem do mesmo jeito.
19 Há tantos remédios novos!…
Não há lista que os resuma
E o livro nos cemitérios
Não aponta baixa alguma.
20 Grandeza dos tempos novos?
Procuro e não sei qual é,
Tempo antigo era mais duro
Mas contava com mais fé.
21 Progresso humano? Não sei
Se o mundo anda muito exato,
Tenho saudades do campo
De minha choça no mato.
22 Respeito a Terra de agora
E a evolução dos ateus,
Tudo existe para o bem
Pela Vontade de Deus.
23 Sei que de tantos empeços
Nos quais agora me movo,
Deus em tudo está criando
O brilho de um mundo novo.
24 Mas sou sincero. Se agora
Renascer é minha sina,
Quero um mundo sem motores,
Sem guerra e sem gasolina.
Leandro Gomes de Barros
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