1 Inda vejo, Senhor, de alma oprimida,
A Trácia devastada, a ânsia de Atenas,
Constantinopla em lágrimas e penas
E Roma flagelada e envilecida…
2 Vejo a conquistadora e horrenda lida,
O gozo, o saque e a morte, em velhas cenas,
E o fausto senhoril que trouxe apenas
Desilusão e horror à nossa vida.
3 E ouço-Te a voz, Jesus, dizendo — Basta!
De um rei fizeste um verme que se arrasta
E abriste-me o caminho da aflição!…
4 Anos correram como sombras vagas,
Mas, depois de vestir-me em lepra e chagas,
Achei-Te, Excelso, no meu coração!
II
1 Hoje, Senhor, não peço o vão tributo
Das multidões famélicas, vencidas,
Que humilhei, no transcurso de outras vidas,
Semeando miséria, pranto e luto…
2 Das rosas que me deste por feridas
Recolhi muita graça e muito fruto.
Passageiras vitórias não disputo,
Nem procuro vanglórias esquecidas.
3 Perdoa-me, Senhor, se agora venho,
Recordando-Te as úlceras no Lenho,
Rogar-Te algo das bênçãos que entesouras!
4 E que eu possa, feliz com o dom divino,
Socorrer os irmãos do meu destino
No turbilhão das chagas redentoras!
Jesus Gonçalves
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