1 Dói-me lembrar-te, Mãe, cansada e desvalida
Triste, vendo meu pai morrendo na bigorna,
Teu coração ferido, a lágrima se entorna,
Mas queres sustentar-me o pão, a escola e a vida.
2 Lavadeira a servir suando em noite morna,
Desmaias-te no chão da choça hoje esquecida,
E ao lembrar-te a busca e ansiosa despedida,
A dor se me refaz na angústia que retorna.
3 Chorei, sofri, cresci… Fui rico joalheiro,
Doente, enlouqueci atrelado ao dinheiro,
Mendigo, achei a morte falando-me em diamantes.
4 Agora, eis-me a pedir teus braços de amor puro,
Sei, porém, que é preciso esperar o futuro,
Quero ser teu menino pobre como dantes!…
Júlio Monteiro
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