O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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A Vida Conta — Maria Dolores


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Experiências

1 Uma história de culpa e redenção
Que só pude entender
Fitando a vida na reencarnação:


2 Há mais de um século passado,
Jovem senhora de fortuna imensa
Desfez-se do homem bom que havia desposado,
Propinando-lhe a morte
Aproveitando antiga desavença.


3 O marido morreu, sem saber que a consorte
Era a autora do crime…
Sob o açoite invisível de veneno,
Desligou-se do corpo, acreditando
Ter sido vítima de um bando
De conhecidos salteadores,
Que lhe haviam furtado extensa faixa
De lavoura e terreno…


4 Ela fingiu sofrer, chorou a lamentar-se
Resguardando a frieza em pomposo disfarce:
Depois, armou-se de brazão e herança,
Em seguida a mais ouro, ei-la que avança
No rumo do prazer, unicamente…
Borboleta das noites de aventura,
Converteu-se em esfinge de loucura
E espalhava paixões, assassinatos,
Suicídios e duelos insensatos,
Até que, um dia, a morte
Surgiu numa doença e abateu-a de todo…
A fidalga saiu de túmulo dourado,
Abominando o corpo aniquilado
Como quem deixa um cárcere de lodo.


5 Atônita, encontrou na própria mente
As sombras que largara para trás…
Via os homens que amara, odiando-lhe o nome
E os lares que ela mesma havia destruído
Sem alento e sem paz,
Padecendo viuvez, necessidade e fome,
Em razão dos seus gestos sem sentido…


6 Ao fim de tempo longo em suplício e cansaço,
Vendo em si própria a culpa e a punição reunidas,
Rogou regresso ao mundo em lágrimas doridas;
Queria renascer, desprezada e doente,
De maneira a expiar os erros que fizera…
Foi assim que a fidalga ressurgiu
Na penúria de humílima tapera.
Ninguém lhe conhecia a genitora…
A pequenina fora
Simplesmente enjeitada
Sobre o lodoso vão de uma velha calçada…


7 Recolhida num lar de gente boa,
Cedo mostrou-se como viveria,
Débil mental, vagando à-toa,
Muda e louca, chamavam-na Maria;
E porque andasse, ao léu, de porta em porta,
Fosse onde fosse, se chorava ou ria,
Populares gritavam: “Sai, Maria!…
Não te queremos… Sai, Maria Torta!…”
E a pobre em se sentindo injuriada
Pelo cruel pejorativo,
Buscava defender-se a rugido e pedrada,
Ferindo o próprio peito morto-vivo…


8 Sessenta anos viveu à noite e ao vento,
Sem pouso certo, atada ao sofrimento…


9 Dias atrás, fui vê-la… Achei Maria
Num recanto de pobre enfermaria…
Era um farrapo humano, uma sombra de gente
Que a moléstia arrasava, asperamente…


10 Dera-lhe a caridade um colchão por guarida
E a morte lhe traria o apoio de outra vida…


11 Agonizou, por fim, a nobre companheira
Que varara; gemendo, uma existência inteira.


12 Nós, — a equipe de simples servidores, —
Expressando-lhe amor em visita singela,
Orávamos em grupo, junto dela,
Suplicando a Jesus lhe amenizasse as dores…


13 Quando o corpo cansado demonstrou
Que não mais lhe servia,
Mensageiros da Altura, com cuidado,
Libertaram Maria…


14 Foi um deslumbramento inesperado.
A sala estreita e pobre iluminou-se,
Ramalhetes lembrando estranhas primaveras
Chegavam pelas mãos de amigos de outras eras…


15 Jubilosa e espantada, vi Maria
Deixar o corpo em pranto de alegria…
Seres angelicais cantavam em surdina
Doces evocações da Morada Divina…
A pobre soluçava ao tentar entendê-las…


16 Logo após, envolvida em flores luminosas,
Numa sege de luz, enfeitada de rosas,
Maria se elevou para além das estrelas…


Maria Dolores


Texto extraído da 2ª edição desse livro.

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