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1 Bastas vezes, perguntas, alma boa,
Qual a razão do sofrimento…
2 Porque a treva da angústia na pessoa…
3 E também vezes muitas
A recear a justa explicação,
Foges de coração cansado e desatento…
4 Enquanto podes fazer isso,
Satisfazendo a impulso vão,
Ausentas-te dos quadros de amargura,
Como quem busca o reboliço
Para esquecer o assombro e a inquietação
Que observas nos outros
De alma triste e insegura
Quando colhidos pela provação…
5 Mas se um dia chegar em que não possas
Distanciar-te do recanto,
Em que a tristeza se conhece
Por neblina de pranto,
Por maiores as dores e os problemas,
Acende a luz da prece
E, esperando por Deus,
Não te aflijas, nem temas…
6 Ora, detém-te, anota, pensa e escuta
Sob as tribulações em que a sombra domina,
Quando estamos a sós, dentro da própria luta,
Rodeados, ao longe,
De constrangidos cireneus
É que achamos na vida
Os minutos de Deus,
Nos quais se pode registrar
A palavra divina.
7 Nas estações difíceis do caminho,
Que todos conhecemos
Por solidão, angústia, desengano,
À distância de todo burburinho
Em que o prazer humano
Lembra incêndio de sons que explode e estala,
Nessas pausas de dor do pensamento,
Em que o tempo parece amargo e lento
É que o verbo de Deus nos envolve e nos fala…
Mesmo sem qualquer força a que te arrimes,
Presta a própria atenção
A voz que te procura o coração
Nessas horas sublimes.
8 Entretanto, não creias,
Perante a aceitação a que te levas
Que Deus te reterá na mágoa que te invade,
Nas teias abismais da crueldade
Ou no bojo das trevas…
Logo após o celeste entendimento
Em que a bênção do Céu se te anuncia,
Ressurgirás em novo nascimento,
A dentro de ti mesmo,
Como quem se revê ao sol de novo dia…
9 Lembra o próprio Jesus,
Se consegues cismar, em torno disso;
Do berço em louvações
À última páscoa em festa, brilho e luz,
A vida do Senhor
Foi um hino de júbilo e de amor
Em música de paz e de serviço…
Mas chegando ao Jardim das Oliveiras,
Ei-lo escutando o Pai, horas inteiras…
10 E, através do diálogo divino,
Colocado em si mesmo, solitário,
Encontra o sacrifício por destino,
Desde a prisão injusta às pedras do Calvário…
Entretanto, depois
Da renúncia suprema,
Qual se guardasse em si o fel da humana escória,
No suplício final, perante a multidão,
Fez-se o Cristo Imortal do Amor e da Vitória,
Na luz divina da ressurreição.
Maria Dolores
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