1 O Senhor carregava a cruz dificilmente…
A sentença cruel, afinal, se cumpria.
Liberto Barrabás, Jesus no mesmo dia,
Era levado à morte, ante a ironia
Do fanatismo deprimente…
2 Brados, altercações, zombaria, algazarra…
O Excelso Benfeitor, no lenho a que se agarra,
Curva-se de fadiga, arrasta-se, tressua,
Escutando em silêncio os palavrões da rua.
3 O cortejo prossegue… O Cristo, passo em passo,
Por um momento só, exânime fraqueja;
Ajoelha-se e cai, vencido de cansaço.
O povo exige a marcha, excede-se, pragueja…
4 Nisso, um campônio vem da gleba com que lida.
É Simão de Cirene, homem simples e forte.
Um meirinho lhe pede apoio na subida,
Deve prestar auxílio ao condenado à morte…
5 — “Como, senhor? não posso !…” — exclama o interpelado —,
“Tenho pressa!…” No entanto, o funcionário insano
Grita-lhe em rosto: — “Cão, obedece ao chamado!…”
E mostra-lhe o rebenque a gesto desumano…
6 Calado, o lavrador atende e silencia,
Toma parte da cruz sobre o ombro robusto,
Fita o Mestre cansado e o suor que o cobria…
A turba escala o monte e alcança o topo a custo.
7 Contemplando Jesus, por fim, deposto o lenho,
Diz-lhe Simão: — “Senhor, achava-me apressado…
A filha cega e muda é o tesouro que eu tenho,
Não queria ferir-te o peito atribulado.
8 “Perdoa, se aleguei a urgência em que me via…
É o coração de pai que falava a chorar…
Sei que estás inocente, ampara-me, alivia
A dor que me avassala e me atormenta o lar…”
9 Jesus endereçou-lhe um aceno de ternura,
Em meio à multidão, apupado, sozinho
E acentuou: — “Simão, guarda a fé que te apura,
Todo o bem que se faz é uma luz no caminho.”
10 O cireneu, de volta, acha a enorme surpresa…
Fala-lhe a filha: — “Oh, pai, uma luz veio a mim
Agora vejo e falo, acabou-se a tristeza,
Tenho a impressão que a Terra é um formoso jardim!…”
11 Simão chora, lembrando a cruz que traz na mente
E reconhece o bem por divino troféu,
Que mesmo praticado involuntariamente
É uma força atraindo a intercessão do Céu!…
Maria Dolores
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